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sexta-feira, 12 de julho de 2013

ANTONIE LAVOISIER


Antoine Lavoisier

    Lavoisier nasceu a 26 de Agosto de 1743 em Paris e faleceu em 8 de Maio 1794, também em Paris. Teve uma excelente educação, era católico e formou-se em direito. Nunca chegou a ser um advogado, pois optou pela ciência.
    Fundador da química moderna, autor da conhecida Lei de Lavoisier, enunciada de forma simplificada: "Na natureza nada se perde, nada se cria; tudo se transforma".
    Nasce em Paris e estuda matemática, astronomia, química, física, botânica e geologia. Aos 23 anos é premiado pela Academia de Ciências da França por seu Relatório sobre o Melhor Sistema de Iluminação de Paris. Em 1768 ingressa na academia como coletor de impostos e inspetor-geral das pólvoras e salitres. Entre 1785 e 1787, participa da comissão de agricultura governamental. Apresenta no Tratado Elementar de Química (1789) os fundamentos da nova nomenclatura, criada com o químico Berthollet com base no conceito de elemento químico.
    É famosa sua lei da conservação das massas, a Lei de Lavoisier, acima citada. Com a Revolução Francesa, elege-se deputado suplente dos Estados Gerais. Em 1790 participa da comissão de estudos sobre o novo sistema de medidas e, no ano seguinte, torna-se secretário do Tesouro francês.
    Uma das principais características do trabalho de pesquisa de Lavoisier era a freqüente utilização da balança: ele pesava tudo, todo o tempo. Isso o levou à descoberta da importância fundamental da massa da matéria em estudos químicos. Ao concluir que a soma das massas dos reagentes é igual à soma das massas dos produtos de uma reação, o cientista estabeleceu a Lei de Conservação das Massas.
    Por volta de 1774, o químico francês realizava experiências sobre a combustão e a calcinação de substâncias. E observava que, dessas reações, sempre resultavam óxidos cujo peso era maior que o das substâncias originalmente usadas. Informado sobre as características do gás que ativava a queima de outras substâncias, passou a fazer experiências com o mesmo e acabou por deduzir que a combustão e a calcinação nada mais eram que o resultado da combinação do gás com as outras substâncias. E que o peso aumentado dos compostos resultantes correspondia ao peso da substância inicialmente empregada, mais o do gás a ela incorporado através da reação.
    É preso em 1793, no chamado Período do Terror, em que a Convenção persegue os coletores de impostos e fecha as academias de ciências, consideradas reacionárias. Condenado à morte na guilhotina, é executado no ano seguinte em Paris.

  Dessa constatação, Lavoisier extraiu o seu princípio, hoje muito conhecido: "Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma" e deu ao elemento o nome de oxigênio, ou seja, gerador de ácidos.
    O sentido mais comum de combustão é o da queima de uma substância com desenvolvimento de luz e calor. Antes de Lavoisier, a mais satisfatória explicação sobre a natureza dos fenômenos de combustão foi dada pela teoria do flogístico, estabelecida em 1697 pelo químico alemão Georg Ernst Stahl (1660-1734). Segundo essa teoria, toda substância combustível possuiria dentro de si um constituinte invisível chamado flogístico, capaz de se desprender com produção de luz e deixando como resíduo a cinza. Quanto menor a quantidade de cinza deixada pelo combustível, tanto maior seria seu teor do fantasmagórico flogístico.

Hidrogênio
    Conhecido desde o século XVI - era o "ar inflamável" obtido quando se jogava limalha de ferro sobre ácido sulfúrico - foi alvo de diversos estudos dos quais resultou seu nome. Em fins de 1700, o químico inglês Cavendish observou que da chama azul do gás pareciam se formar gotículas de água e Lavoisier, em 1783, se baseava nisso para sugerir o nome hidrogênio, do grego "gerador de água". Simplesmente, durante a combustão o hidrogênio se combina com oxigênio, dando água.

Nitrogênio
    Azoto quer dizer "sem vida". Este nome, sugerido por Lavoisier, designava um novo elemento, até então conhecido como "ar mefítico". O ar mefítico havia sido descoberto em 1722, quando Priestley, queimando corpos em vasos fechados, verificou que, exaurido o oxigênio do ar, restava ainda um gás inerte junto ao gás carbônico. O gás recém descoberto não ativava a combustão e não podia ser respirado; era, portanto, "alheio à vida".
    Como o azoto era componente dos nitratos, recebeu mais tarde o nome de nitrogênio (isto é, gerador de nitro). É um dos elementos mais difundidos, encontrado no ar em estado livre, na proporção de 78,03%, e combinado nos nitratos, como o salitre do Chile.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

JOSÉ BENTO MONTEIRO LOBATO


José Bento Monteiro Lobato 

    Contista, ensaísta e tradutor, o maior escritor infantil brasileiro de todos os tempos, nasceu em Taubaté, Estado de São Paulo, em 18 de abril de 1882 e faleceu em São Paulo, 4 de julho de 1948.
Filho do fazendeiro José Bento Marcondes Lobato e de dona Olímpia Augusta Monteiro Lobato, ele foi, além de inventor e maior escritor da literatura infanto-juvenil brasileira, um dos personagens mais interessantes da história recente desse país.
    Suas personagens mais conhecidas são: Emília, uma boneca de pano com sentimento e idéias independentes; Pedrinho, personagem que o autor se identifica quando criança; Visconde de Sabugosa, a sabia espiga de milho que tem atitudes de adulto, Cuca, vilã que aterroriza a todos do sítio, Saci Pererê e outras personagens que fazem parte da inesquecível obra: O Sítio do Pica-Pau Amarelo, que até hoje encanta muitas crianças e adultos.  
    Escreveu ainda outras incríveis obras infantis, como: A Menina do Nariz Arrebitado, O Saci, Fábulas do Marquês de Rabicó, Aventuras do Príncipe, Noivado de Narizinho, O Pó de Pirlimpimpim, Reinações de Narizinho, As Caçadas de Pedrinho, Emília no País da Gramática, Memórias da Emília, O Poço do Visconde, O Pica-Pau Amarelo e A Chave do Tamanho.  
    Fora os livros infantis, este escritor brasileiro escreveu outras obras literárias, tais como: O Choque das Raças, Urupês, A Barca de Gleyre e o Escândalo do Petróleo. Neste último livro, demonstra todo seu nacionalismo, posicionando-se totalmente favorável a exploração do petróleo apenas por empresas brasileiras. 
    Nos anos seguintes, Lobato publicou seus primeiros livros: "Urupês", "Cidades Mortas" e "Negrinha". Segundo Marisa Lajolo, Lobato nestes livros traz o melhor de sua literatura, principalmente em "Urupês'' e "Negrinha'', nos quais, segundo ela, "comparecem os diferentes brasis que até hoje, sob diferentes formas, assombram as esquinas da nossa história. Os contos contam do trabalho do menor, do parasitismo da burocracia, da violência contra negros, imigrantes e mulheres, da empáfia dos que mandam, do crescimento desordenado das cidades, da degradação progressiva da vida interiorana; enfim, os contos contam do preço alto do surto de modernidade autofágica que desemboca na crise de 30."
    Os dois livros mostram a "aguda sintonia de Lobato com um tempo que reclamava novas linguagens" e marcam a vigorosa entrada no mundo literário brasileiro de um grande escritor que, segundo ele mesmo disse, "talento não pede passagem, impõe-se ao mundo".

    Logo depois ao glorioso início da carreira literária, Lobato viajou para os Estados Unidos, voltando somente em 1931. Lá enfrentou sérios problemas. Seu livro "O Presidente Negro e o Choque de Raças" —uma história que narra a vitória de um candidato negro à Presidência dos EUA— não foi muito aceito e acabou por custar-lhe grandes desgostos, mas aqui, sempre foi um ardoroso defensor daquele país, chegando a afirmar, em carta enviada a Érico Veríssimo, que considerava os "Estados Unidos como uma dessas famosas composições musicais que são impostas a todos os grandes executantes a fim de tirar a prova dos noves fora do seu valor real, a rapsódia húngara de Lizt (sic), certas fugas de Bach".
    Nessa mesma carta, ao comentar o novo livro de Érico, Lobato afirmou: "Escrever bem é mijar. É deixar que o pensamento flua com o à vontade da mijada feliz."
     A obra lobatiana é composta por 30 volumes. Tem um lugar indisputável na literatura brasileira como o Andersen brasileiro, autor dos primeiros livros brasileiros para crianças, e também como revelador de Jeca Tatu, o homem do interior brasileiro.
    Apesar de ter sido, em muitos pontos, o precursor do Modernismo, a ele nunca aderiu. Ficou conhecida a sua querela com modernistas por causa do artigo "A propósito da exposição Malfatti". Ali critica a mostra de pintura moderna da artista, que caracterizava de não nacional.
    Monteiro Lobato morreu, vitimado por um derrame, às 4 horas da madrugada do dia 4 de julho de 1948, deixando um legado de personagens que ficarão para sempre impregnados nas retinas de todos aqueles que tiveram e que terão contato com as histórias do Jeca Tatu, do Saci, da Cuca, da boneca Emília, do Visconde de Sabugosa, da Narizinho, do Pedrinho, da Tia Nastácia, da Dona Benta, entre outros tantos que habitam as obras deste que foi conhecido como "O Furacão da Botocúndia".




CLÁUDIO MONET


CLÁUDIO MONET 

     Na Paris do Segundo Império, lá por 1865, o Café Guerbois, na Avenida Clichy, é o centro de jovens intelectuais; escritores, literatos, músicos e artistas. Na saleta enfumaçada, entre uma xícara de café e um cálice de absinto, discute-se acaloradamente, anunciam-se idéias, revelam-se talentos, destroem-se ídolos do passado. O mais animado é o grupo dos jovens pintores: Degas, Renoir, Monet, Pissarro, Manet, que, por mais que sejam um diferente do outro, na expressão pictórica, acham-se todos acomunados em sustentar um novo gênero de pintura: o Impressionismo, a primeira e mais violenta revolução no campo artístico, contra os cânones tradicionais aprovados desde séculos. 
     O Impressionismo destes pintores não é, como se poderia pensar, uma forma de pintura esboçada em poucos traços, incompleta, que sugira, mais do que represente, uma idéia. Este gênero de impressionismo tem origens muito antigas, e já o praticavam os Gregos, no período helenista, pois deve seu encanto justamente à sua incompletidão, ao relampaguear de uma imagem que, retocada, perderia seu frescor de inspiração e se tornaria um rígido academicismo, por excessiva perfeição formal. 
     O Impressionismo francês, ao invés, é, antes de tudo, uma técnica. Adota-se o uso de cores puras e solares, tonalidades de rosa e azul, de verde brilhante, e não se emprega o preto, que obscurecia e empoeirava as obras do passado. É, além de uma técnica, uma concepção diferente da pintura: é a pintura em plein-air, ao ar livre, fora dos atelieres, à luz do sol, onde todo contorno é preciso e vibra com uma intensidade toda especial. 
     Os pintores dessa técnica deixam a cidade, procuram o verde dos prados, as águas lentas dos rios. Nasce, assim, a típica figura do artista que, com o cavalete de campo, o guarda-sol ou um chapéu de palha, para resguardar-se do sol, permanece horas e horas na contemplação da natureza e busca efeitos de luz insólitos para recriá-los, em sua tela, em pinceladas amplas e vivas, toda iluminada de céu e fulgurante vida. 
     O nome “Impressionismo” tem origem de um quadro de Monet, em 1872, intitulado justamente Impressão – Sol nascente. Na aurora ainda enfumaçada de nevoeiro, o disco solar, de um amarelo intenso, reflete-se nas águas do Sena e os poucos barcos aparecem negros, contra-luz. É um quadro sugestivo e quase ingênuo, em sua sumária representação, mas, observando-se seus contornos, à primeira vista indistintos, vêem-se os objetos tomarem formas e cores, a princípio apenas sugeridas e, depois, revelados pelo sol nascente. 
     Cláudio Monet é exatamente um dos chefes-escola do Impressionismo, ao qual permaneceu fiel durante toda sua vida, sem jamais desviar-se do caminho que se propunha prosseguir, amargurado, mas não vencido, pelas críticas acerbas, pela incompreensão, e muitas vezes, pela zombaria dos contemporâneos.
     Monet é um artista puro, um verdadeiro Impressionista, um incansável pesquisador de efeitos de luz, de ondulações de ramos, sobretudo de reflexos de água. Nascido em 1840, em Paris, de uma família de comerciantes de Lê Havre, Cláudio Monet começou desde menino a desenhar caricaturas, que expunha na vitrina de um livreiro de Le Havre, junto ao qual ficava horas inteiras, observando certas gravuras japonesas de cores; aquelas estampas japonesas ficariam para sempre como uma de suas paixões, e delas ele faria, em seguida, uma coletânea de grande valor. 
     O pintor Boudin viu, um dia, as caricaturas, encorajou-o a continuar e levou-o consigo para pintar ao ar livre. Um mundo de luz, que, variando continuadamente, muda de hora em hora, uma folha, um tronco, um espelho de água, revela-se, então, aos olhos do entusiasta aluno. À voz pacata de Boudin, torna-se intérprete da natureza, com observações e conselhos que mais o aproximam do encanto dessa perene mudança; a sua já vigilante sensibilidade artística, e a intuição, o socorrem onde falta a técnica. Em 1857, com apenas dezesseis anos, Monet expõe, com Boudin, seu primeiro quadro, em Ruão: uma paisagem que, ainda que inobservada, é já uma etapa e ao mesmo tempo o ponto de partida para tentar novas descobertas pictóricas. 
     A família, porém, está descontente com esta vocação pela arte e desejaria que o filho único seguisse uma carreira mais interessante e lucrativa, tanto que, no momento de partir para o serviço militar, o pais oferece-se, como então se usava, para encontrar-lhe um substituto, desde que renuncie à pintura. Cláudio recusa e parte regularmente; é enviado para a Argélia, num batalhão de Caçadores da África, mas, antes de vencer os dois anos, deve regressar à pátria, porque sua saúde não agüentava o clima nem a vida militar. 
     A família permite-lhe, então, ir a Paris, desde que freqüente uma regular escola de pintura. Vemo-lo, assim, em 1862, no atelier de Gleyre, onde seu espírito rebelde não resiste muito; ale se faz uma imitação da verdade, isto é, limitam-se a copiar, formalmente, o modelo, e Monet já progredira bastante por conta própria, para continuar preso a Gleyre. É deste período a amizade com Renoir, Bazille e Sisley, os futuros Impressionistas, aos quais mais tarde se juntaria também Degas. 
     No ano seguinte, em 1863, Monet vê uma exposição de catorze telas de Manet, pintor de vanguarda, e por elas fica encantado; encontrara, realizados, os problemas de luz que o atormentavam, e proclama a grandeza de Manet, de quem se tornará, a seguir, fraterno amigo. 
     Em 1865, duas marinhas de Monet são aceitas no “Salon” e, no ano seguinte, o nome do pintor é citado nas revistas de crítica, quando expõe, ainda no “Salon”, sua Camilla (A dama do vestido verde), o retrato daquela que se tornará, depois, sua esposa. Contemporânea Camilla é a celebérrima Almoço na selva, uma tela que custou ao pintor trabalhos e incertezas, porque, no momento de expô-la, desorientado por algumas críticas do pintor Coubert, não mais lhe agradou e deixou-a enrolada, em um sótão. 
     Olhando-a de novo, meses após, achou-a deteriorada nas partes laterais, mas o centro conservava uma frescura de cores inigualáveis: em um grande prado, após o almoço ao ar livre, um grupo de senhoras e cavalheiros conversam despreocupadamente. Os trajes das mulheres, o verde das árvores, a luz difusa, formam uma composição excepcional, que provocou, no público, impressões opostas de espanto, de admiração, de zombaria, porque fugia a todos os cânones tradicionais da pintura. 
     Os anos seguintes seriam, para Monet, um doloroso tributo à arte. Atravessaria penosas alternativas de recusas e admissões ao “Salon”, mas seu nome, mesmo na brejeira ironia de certos críticos, já não é mais o de um desconhecido. Dinâmico, e impelido sempre pelo desejo de novos assuntos para conhecer e retrata, Monet movimenta-se de país em país. 
     Durante a guerra franco-prussiana, em 1870, para fugir à invasão tudesca, abriga-se na Holanda, onde esquece os horrores do conflito, encontrando, nas extensões floridas de tulipas, as cores de suas prediletas gravuras japonesas, e os quadros desse período, coloridíssimos, deslumbrantes de luz, relembram as primeiras exóticas fontes de sua inspiração. 
     Da Holanda à Inglaterra, as lentas águas do Tamisa recordam-lhe, talvez, o Sena, e Monet não se cansa de retratar as pontes de Londres, as embarcações que desfilam preguiçosos, no leve nevoeiro: a série das paisagens londrinas está toda em cores tênues e pastosas, penetradas de melancolia, e diferencia-se algo de sua pintura luminosa e serena, mesmo assinalando o mais alto grau de fluidez impressionística.

     A saudade da cidade de sua infância o leva de novo para Le Havre. Os recifes a pique, sobre um mar de chumbo perenemente enfurecido, oferecem-lhe novos temas para pintar vastas marinhas, dramáticas, fervilhantes de espumas. Em 1884, encontramos Cláudio Monet em Bordighera; para o pintor, o Mar Mediterrâneo possui um aspecto encantado: as luzes difundem-se violentas, sem meias tintas, exaltam-no e o esgotam ao mesmo tempo, porque lhe parece impossível levar de novo às telas tanta refulgência de cores. 
     Em 1883, Monet tinha adquirido uma casa de campo, com um amplo jardim, em Giverny, perto de Vernon, no vale do Sena, e ali se estabelece, todo só, dedicando-se exclusivamente à pintura. O primeiro pensamento do artista é mandar construir amplas e moderníssimas estufas para suas flores prediletas. Desse eremitério mergulhado no verde, o pintor não mais se afastará, a não ser por breves viagens, isto é, quando o invade a saudade do Mediterrâneo, ou de Paris, dos amigos dos velhos tempos. 
     Ali, em uma imensa paz, ele inicia a série das produções diversas, sobre um único tema: a catedral de Ruão, vista sob todas as mutações possíveis de luz e de perspectivas, os choupos do Sena, compridos, prateados, sob um céu altíssimo, e, última tarefa, as ninféias. No jardim de Giverny, há uma lagoa circundada de árvores: sobre a água, macias e cândidas, flutuam as ninféias, que pela suas tintas branco-rosadas, refletidas na água escura, sugerem a Monet, sempre, novas composições, que foram o último motivo de sua inspiração. Delas fez doze grandes telas, fluidas, vivas, que encantam pela sua carnosa beleza de flor. 
     No silêncio de Giverny, o pintor revive todas as etapas de sua longa vida, os lampejos e as intuições da juventude, as amarguras e seu progressivo sucesso. Sente-se, ainda, a bordo de seu barco-atelier, enquanto desliza pelas águas mansas do Sena, ou, fustigado pelo vento, nos escolhos de Belle-Île. A glória chegara, finalmente, mas que desgaste, que incessante esforço de uma vida inteira! Agora, ele se encontra solitário e cansado. Seus olhos, tão vigilantes para colher toda mudança de luz, apagam-se a pouco e pouco, em uma cegueira quase total, até que a morte, benévola, o surpreende em 5 de dezembro de 1926. 

sábado, 28 de janeiro de 2012

SÓCRATES

     Sócrates foi um dos filósofos mais importante da antiguidade. Nasceu na Atenas, Grécia (470 a.C.?-399 a.C.). É considerado um dos fundadores da filosofia ocidental. Nasce em Atenas e inicia os estudos sobre a natureza da alma humana e a busca do conhecimento influenciado por Anaxágoras. Tido em sua época como o mais sábio dos homens, julga-se imbuído da missão divina de converter os cidadãos de Atenas à sabedoria e à virtude.
    Usa o diálogo como método para levar as pessoas a reconhecer a própria ignorância. Não deixa obra escrita. Seu pensamento só pode ser conhecido por meio das obras de Platão e Xenofonte, seus discípulos. Platão idealiza o mestre, enquanto Xenofonte aborda as teorias socráticas de forma mais realista.
    Sócrates questiona as tradições gregas, entre elas costumes dos cidadãos e suas crenças, inclusive nos deuses. A inteligência para pensar e o talento para a oratória o tornam popular entre os jovens atenienses, o que desperta a atenção dos cidadãos poderosos e conservadores da cidade.
    Em função de suas idéias inovadoras para a sociedade, começa a atrair a atenção de muitos jovens atenienses. Suas qualidades de orador e sua inteligência, também colaboraram para o aumento de sua popularidade. Temendo algum tipo de mudança na sociedade, a elite mais conservadora de Atenas começa a encarar Sócrates como um inimigo público e um agitador em potencial.
    Denunciado como subversivo por não acreditar nos deuses gregos, por introduzir novos deuses e por corromper a juventude, é condenado a suicidar-se com cicuta, sentença cumprida em Atenas.
 
Ideias filosóficas
    As crenças de Sócrates, em comparação às de Platão, são difíceis de discernir. Há poucas diferenças entre as duas idéias filosóficas. Conseqüentemente, diferenciar as crenças filosóficas de Sócrates, Platão e Xenofonte é uma tarefa difícil e deve-se sempre lembrar que o que é atribuído a Sócrates pode refletir o pensamento dos outros autores.
    Se algo pode ser dito sobre as idéias de Sócrates, é que ele foi moralmente, intelectualmente e filosoficamente diferente de seus contemporâneos atenienses. Quando estava sendo julgado por heresia e por corromper a juventude, usou seu método de elenchos para demonstrar as crenças errôneas de seus julgadores. Sócrates acredita na imortalidade da alma e que teria recebido, em um certo momento de sua vida, uma missão especial do deus Apolo Apologia, a defesa do logos apolíneo "conhece-te a ti mesmo".
Sócrates também duvidava da idéia sofista de que a arete (virtude) podia ser ensinada. Acreditava que a excelência moral é uma questão de inspiração e não de parentesco, pois pais moralmente perfeitos não tinham filhos semelhantes a eles. Isso talvez tenha sido a causa de não ter se importado muito com o futuro de seus próprios filhos. Sócrates freqüentemente diz que suas idéias não são próprias, mas de seus mestres, entre eles Pródico e Anaxágoras de Clazômenas .
 
Amor
    No Simpósio, de Platão, Sócrates revela que foi a sacerdotisa Diotima de Mantinea que o iniciou nos conhecimentos e na genealogia do amor. As idéias de Diotima estão na origem do conceito socrático-platônico do amor.

Conhecimento
    Sócrates sempre dizia que sua sabedoria era limitada à sua própria ignorância (Só sei que nada sei.). Ele acreditava que os atos errados eram consequências da própria ignorância. Nunca proclamou ser sábio. A intenção de Sócrates era levar as pessoas a se sentirem ignorantes de tanto perguntar, problematização sobre conceitos que as pessoas tinham dogmas, verdades. De tanto questionar, principalmente os sábios, começou a arrebanhar inimigos.

Virtude
    Sócrates acreditava que o melhor modo para as pessoas viverem era se concentrando no próprio desenvolvimento ao invés de buscar a riqueza material. Convidava outros a se concentrarem na amizade e em um sentido de comunidade, pois acreditava que esse era o melhor modo de se crescer como uma população. Suas ações são provas disso: ao fim de sua vida, aceitou sua sentença de morte quando todos acreditavam que fugiria de Atenas, pois acreditava que não podia fugir de sua comunidade. Acreditava que os seres humanos possuíam certas virtudes, tanto filosóficas quanto intelectuais. Dizia que a virtude era a mais importante de todas as coisas.

Política
    Diz-se que Sócrates acreditava que as idéias pertenciam a um mundo que somente os sábios conseguiam entender, fazendo com que o filósofo se tornasse o perfeito governante para um Estado. Se opunha à democracia aristocrática que era praticada em Atenas durante sua época,essa mesma idéia surge nas Leis,de Platão seu discípulo.Sócrates acreditava que ao se relacionar com os membros de um parlamento a propria pessoa estaria-se fazendo de hipocrita.

Algumas frases e pensamentos atribuídos ao filósofo Sócrates:
- A vida que não passamos em revista não vale a pena viver.
- A palavra é o fio de ouro do pensamento.
- Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância.
- É melhor fazer pouco e bem, do que muito e mal.
- Alcançar o sucesso pelos próprios méritos. Vitoriosos os que assim procedem.
- O início da sabedoria é a admissão da própria ignorância.
- Chamo de preguiçoso o homem que podia estar melhor empregado.
- Há sabedoria em não crer saber aquilo que tu não sabes.
- Quatro características deve ter um juiz: ouvir cortesmente, responder sabiamente, ponderar prudentemente e decidir imparcialmente.
- Sob a direção de um forte general, não haverá jamais soldados fracos.
- Todo o meu saber consiste em saber que nada sei.
- Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo de Deus.

ALEXANDRE HERCULANO e ANTÔNIO FELICIANO DE CASTILHO

ALEXANDRE HERCULANO DE CARVALHO E ARAÚJO (Lisboa-Portugal, 1810 – Val-de-Lobos-Portugal, 1877) 
     De origem humilde, não chega a fazer curso universitário; dedica-se, entretanto, aos estudos clássicos e filológicos, formando sua vasta cultura em moldes rígidos. Torna-se um modelo de correção vernacular. É tido como o maior nome das letras de Portugal, somente equiparado a Camões. Em 1831, Alexandre Herculano, por ser avesso ao absolutismo miguelista, é exilado. De volta a Portugal, no ano seguinte, escreve alguns poemas: A Harpa do Crente, A Voz do Profeta. 
     Deixa, mais tarde, esse gênero, dedicando-se inteiramente à ficção. É o iniciador do romance histórico em Portugal; consegue harmonizar a imaginação com a história. Em 1833, é nomeado bibliotecário da Biblioteca Municipal do Porto. Em 1836, funda a revista Panorama, onde publica algumas de suas obras como Lendas e Narrativas (contos e novelas), O Bobo, Eurico, o Presbítero, O Monge de Cister. As duas últimas obras fazem parte de um volume intitulado Monasticon, que trata do problema do celibato clerical.
     Dentre as composições poéticas de Herculano, destacamos A cruz mutilada. A inspiração cristã, a religiosidade – características marcantes no Romantismo – é uma constante nesta poesia. 
ANTÔNIO FELICIANO DE CASTILHO (Lisboa-Portugal, 1800-1975) 
     Apesar de ser considerado um dos introdutores do Romantismo em Portugal, sua obra sofre, contudo, a influência dos moldes arcádicos. Traduz Horácio, Goethe e Molière. Deixa-nos várias obras em verso (Cartas de Eco a Narciso, Amor e Melancolia, Ciúmes do Bardo, A Noite do Castelo) e em prosa (Quadros Históricos de Portugal). 
     Embora cego, Castilho consegue descrever com uma fidelidade incrível a natureza, isto porque as recordações do período em que tinha visão não se apagaram por completo. Seu estilo e sua linguagem são admiráveis pela musicalidade, precisão e fluência.

RAUL POMPÉIA E ALUÍSIO DE AZEVEDO

RAUL D''ÁVILA POMPÉIA (Angra dos Reis-RJ, 1863 – Rio de Janeiro-RJ, 1895) 
     Estudou Direito, em São Paulo, na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, concluindo seu curso em Recife. Colaborou em vários órgãos da Imprensa Nacional de Belas Artes, do Departamento de Estatística do Rio de Janeiro, do Diário Oficial. Aos dezessete anos já revelara qualidades de bom escritor. Seu livro de estréia foi Uma Tragédia no Amazonas. 
     Sua maior obra, O Ateneu (1888), revela a expressão de seu talento; nesse livro, extravasa uma série de complexos e recalques que sentia. Nesse romance, o autor observa e analisa a infância e a adolescência, dando o seu depoimento pessoal. Em O Ateneu, o narrador-personagem Sérgio conta a história de sua vida, quando esteve no internato. Há, nessa obra, uma forte influência do meio sobre o comportamento de Sérgio. 
     O ambiente é contagiado pela corrupção, pelo egoísmo, pelo homossexualismo, pela promiscuidade de adolescentes. O livro é uma crítica ao sistema educativo da época. Sérgio, à porta do colégio, ouve de seu pai: “Vais encontrar o mundo. Coragem para lutar.” Esta passagem ilustra toda a ironia da obra. O menino, inocente, acostumado aos afagos domésticos, vai a partir daí conviver com o diretor Aristarco e sua mulher D. Ema, a criada sensual e brejeira e os colegas, uma legião de criaturas hipócritas e corruptas. O Ateneu é uma obra que deixa transparecer marcas do Naturalismo: a influência do meio sobre a formação dos caracteres. É um romance introspectivo; um livro de memórias, ironicamente chamado Crônica de Saudades. 

ALUÍSIO TANCREDO GONÇALVES DE AZEVEDO (São Luís-MA, 1857 – Buenos Aires-Argentina, 1913) 
     Depois dos primeiros estudos em sua terra natal, veio para o Rio de Janeiro estudar pintura, isso antes de se dedicar à vida literária. Matriculou-se na Academia de Belas Artes e dedicou-se a caricatura. Ingressou, em 1895, na carreira diplomática, exercendo as funções de cônsul em Vigo, Japão, Nápoles e Buenos Aires e abandonando a literatura. Aluísio Azevedo cultiva vários gêneros literários: o romance, o conto, a crônica. Estréia na carreira literária em 1880, com o livro Uma Lágrima de Mulher. No ano seguinte, publica O Mulato, romance naturalista. Sua obra, composta de catorze volumes, divide-se em duas facetas: romântica: Uma lágrima de Mulher (1880) A condessa Vésper (1882) Girândola de Amores ou Mistérios da Tijuca (1883) Filomena Borges (1884) O Esqueleto (1890) A Mortalha de Alzira (1893) naturalista: O Mulato (1881) Casa de Pensão (1884) O Homem (1887) O Coruja (1889) O Cortiço (1890) Livro de uma Sogra (1895). O Mulato é considerado o romance iniciador do Naturalismo no Brasil.
     Conta a história do jovem mulato Raimundo e de sua noiva Ana Rosa. Serve de cenário a sociedade burguesa do Maranhão, em fins do século XIX. Desenrola-se aí a trágica luta de um mulato contra o hostil meio conservador. Dois aspectos destacam-se no romance: o anticlericalismo, sob o influxo da obra de Eça de Queirós, e o problema do preconceito de cor. Aluísio Azevedo escreve ainda os contos Demônios (1893) e as crônicas O Touro Negro (1938). Como vemos, pelas datas de publicação, essas facetas de sua obra são simultâneas. Foram fatores de ordem econômica que levaram esse escritor a proceder dessa forma. 
     Aluísio Azevedo escreve para sobreviver, para agradar ao público leitor. Daí sua obra ressentir de acabamento, de densidade artística, de apuro estilístico. Aluísio Azevedo cultiva o romance de intriga que termina por um desenlace feliz ou patético. A intriga envolve problemas amorosos da burguesia. O enredo novelesco vem pontilhado de mistério, sangue e amores clandestinos e trágicos. A obra naturalista de Aluísio Azevedo é até certo ponto um reflexo da influência de Émile Zola e Eça de Queirós. São romances de tese, onde o autor interpreta a realidade brasileira do século XIX. 
     O Cortiço tem como cenário uma comunidade fluminense, onde fervilham seres humanos bestializados pelos sentidos. Aluísio Azevedo comunica ao leitor seu extraordinário poder de observação das reações e emoções das pessoas que povoam o cortiço, realçando o comportamento desses tipos que vivem numa moradia coletiva. o autor de O Cortiço analisa e descreve com precisão conglomerados de pessoas de origem diversa, mas iguais na miséria, na promiscuidade, na ignorância. O meio exerce sobre as criaturas uma forte influência. O dinheiro e o sexo são as molas propulsoras dessa sociedade. A ambição desmedida e a riqueza do comerciante João Romão e de seu vizinho Miranda contrapõem-se à miséria da escrava Bertoleza (amante de Romão e cinicamente explorada por ele) e dos moradores do cortiço.

sábado, 21 de janeiro de 2012

HENRY FORD

     Mesmo para quem não se interessa ou não entende de motores e de máquinas, o nome de Henry Ford é sinônimo de automóvel, porque, na verdade, a vida deste homem se identifica com a história da grande indústria automobilística de que ele foi o grande criador. Em nossa época, em que a velocidade dos meios de transportes anulou as distâncias, é difícil convencer-nos de que, em apenas cinqüenta anos, o Homem venceu a batalha contra o tempo e a distância. 
     As estradas, os veículos, as velocidades dos primeiros anos deste século já nos parecem bastante remotas, coisas longínquas. Este extraordinário e rápido progresso tem sido possível porque homens audazes aplicaram engenho, experiência e esforços, com o objetivo de permitir uma permuta sempre mais rápida de mercadorias, de relações e, portanto, de conhecimentos. 
     Entre esses pioneiros, Henry Ford é, por certo, uma das figuras de maior relevo. Ele nasceu em 30 de julho de 1863, perto de Dearborn, em Michigan. O pai, William Ford, tinha chegado à América, vindo da nativa Irlanda, dezesseis anos antes, para ir ter com outros parentes, que se haviam estabelecido na região, onde, poucos anos antes, a floresta cedera terreno aos campos cultivados. Além da propriedade paterna, William trabalhara como carpinteiro junto a outros sitiantes. 
     Era inteligente, ativo, e logo estava em condições de adquirir um terreno por conta própria e constituir bem cedo uma família. Realmente, desposou uma jovem órfã, que tinha sido adotada por uma abastada família de imigrantes irlandeses, mas que, infelizmente, morreu muito moça. Mas sua lembrança e os seus ensinamentos deixaram traços bem profundos no caráter do filho. Henry cresceu no sereno e ativo ambiente campestre, junto a cinco irmãos e, desde criança, demonstrou grande interesse por tudo quanto era mecânico. Em verdade, o pai não era muito entusiasta por essa sua paixão, pois teria preferido que ele fosse um fazendeiro, mas não quis contrariar as tendências do filho. 
     Em sua autobiografia, Henry Ford contou-nos que dois foram os acontecimentos mais importantes dos seu primeiros anos: receber como presente um relógio e encontrar um carro não puxado a cavalos, mas movido a vapor. Enquanto ia para Detroit, com o pai, encontrou-se com aquele veículo. O cocheiro parou para deixar passar o carro e o rapaz encetou, imediatamente, uma animada conversa com o maquinista, bombardeando-o com perguntas sobre o funcionamento do engenho.
     Quanto aos relógios, tinha um fraco por eles. Quando, terminado seu curso, trabalhou,m como aprendiz, em várias oficinas mecânicas de Detroit, transcorreu o tempo livre em consertar relógios na loja de um relojoeiro. Terminado o período de aprendizado em Detroit, Henry Ford trabalhou em montar e desmontar máquinas agrícolas para a Companhia Westinghouse. Estas máquinas eram usadas como tratores, para transportar enormes pesos e para levar de uma fazenda a outra as debulhadoras. 
     O jovem Ford, já desde aquele tempo, notara que, nos campos, era necessário um excessivo trabalho, em um excessivo trabalho, em proporção dos resultados. E mais do que numa carroça sem cavalos, ele pensava, então, num meio para tornar menos penoso o insano trabalho dos camponeses, substituindo à dura fadiga do Homem o aço e os motores. Mais tarde, as circunstâncias levaram-no à construção de um veículo para viajar nas estradas. Já desde muitos anos falava-se em carros sem cavalos. 
      Na Europa, já haviam construído tais meios de transporte, acionados a princípio a vapor e depois a gás, e até em várias partes dos Estados Unidos outros moços faziam estudos e tentativas a esse respeito. Henry Ford estava convicto, através das próprias experiências, de que o vapor devia ser excluído como força motriz para a máquina que ele projetava construir. Por acaso, ele foi chamado a Detroit, para consertar uma das novas máquinas acionadas por gás de benzina, de fabricação alemã. Pôde, assim, estudar-lhe o funcionamento, e resolveuconstruir uma por conta própria. Ele voltara à fazenda paterna, onde podia dispor de uma oficina aparelhada para ali efetuar novas experiências, mas, durante alguns anos, sua carreira de mecânico ficou em suspenso, porque se verificara um fato novo, em sua vida. Ele conhecera a jovem filha do proprietário de uma vizinha fazenda, Clara Bryant, e agora pretendia desposá-la.
     Aceitou, por isso, a proposta do pai, que lhe oferecia dezesseis hectares de bosque, porque pensava que o corte da madeira lhe daria os meios suficientes para constituir família. Organizou, então, uma simples serraria e, com parte daquela madeira, construiu uma casa bem modesta. Ao lado da habitação, não faltava, naturalmente, uma oficina, onde Ford não se cansava de experimentar novos motores, encorajado, nas suas tentativas, pela mulher. Mas ele não nascera para a vida rústica e aceitou um lugar de engenheiro mecânico na Detroit Edison Company, transferindo-se, assim, novamente, de cidade. 
     Todo seu tempo livre era dedicado a desenhar e a elaborar os pormenores do carro que ele desejava construir, e, de fato, na primavera de 1893, a máquina estava pronta, mas faltavam ainda alguns dispositivos. Naqueles anos de expansão e de desenvolvimento das indústrias de toda espécie, também Detroit se tornara um importante centro industrial, onde Ford encontrou o ambiente encorajador para seu trabalho, e também os homens que se juntariam a ele numa ativa colaboração. Estava-se, então, na véspera da era do automóvel, que se achava destinada a transformar completamente, profundamente, a indústria e a vida social, especialmente nos Estados Unidos, onde as grandes distâncias entre os centros habitados e a falta de uma eficiente rede rodoviária faziam fortemente sentir a necessidade de um meio de transporte rápido e independente de fios e trilhos. 
     Em França, em 1894, realizou-se a primeira competição entre “carros sem cavalos” e, no ano seguinte, uma competição idêntica foi efetuada também na América. Dessa maneira, inventores e técnicos tiveram oportunidade de encontrar-se e constatar quanto já tinha sido feito nesse campo. Ford seguia, com o máximo interesse, todos os progressos realizados na indústria automobilística, porque tinha idéia das possibilidades de aperfeiçoamento e do desenvolvimento do novo meio de locomoção. Tendo vendido seu primeiro automóvel, começou a construir outro, mirando, acima de tudo, obter maior velocidade. 
     Desde essa época, ele pensava na produção em larga escala, e quando alguns financiadores se demonstraram dispostos a ajudá-lo, deixou a Companhia de Eletricidade para dedicar-se completamente à construção dos seus modelos. Foi constituída uma primeira Sociedade, da qual Ford era o engenheiro-chefe, gozando de uma modesta participação nos lucros. Mas os critérios de negócios dos financiadores não satisfaziam ao jovem construtor, que pretendia basear sua indústria sobre sistemas de todo novos. Desligou-se, então, da Sociedade, alugou um barracão de tijolos e ali continuou seus estudos e aperfeiçoamento do motor e dos métodos de construção de um novo carro, que apresentou, depois, com êxito, numa corrida. 
     Logo após, foi fundada a Ford Motor, em 1903, o primeiro núcleo daquela que iria ser a maior fábrica de automóveis do mundo. A nova Sociedade iniciou logo boas vendas, que lhe permitiram progredir sem recorrer aos bancos. Mas, no início, teve que enfrentar as ameaças de uma associação de fabricantes de automóveis, que pretendiam ter assegurado para si a patente especial da fabricação de todos os tipos de automóveis.
     Henry Ford lutou com sucesso contra essa tentativa de monopólio, que faliu depois de um processo que se arrastou por anos. Entrementes, o número de fábricas de automóveis tinha aumentado bastante, e Detroit tornara-se um centro dominante da nova indústria, mas nenhuma fábrica estava então em condições de construir um carro inteiro, pois devia recorrer a firmas especializadas para a construção de várias partes do motor, rodas e carroçaria. A idéia de Ford era a de produzir um carro leve, simples e de baixo custo, porque agora, já, o automóvel não mais era considerado um capricho de ricos, mas uma necessidade para homens de negócios e profissionais. Resolveu, pois, construir ele próprio as peças para os seus carros, imitado nisto por outros fabricantes. 
     A medida que a empresa se desenvolvia, apresentavam-se problemas sempre mais complexos de produção e de organização, que Ford soube resolver, adotando um serviço que se tornou famoso e representou, realmente, um conceito novo no mundo da indústria. A produção em massa, a que soubera chegar, significava simplificar o desenho, uniformizar as peças de que a máquina é composta, estudar com a máxima precisão a velocidade do trabalho em conjunto, enfim, criar a produção em série, baseada em critérios científicos. Esse aspecto da atividade de Henry Ford fez dele um pioneiro dos modernos conceitos de produtividade. Uma outra grande inovação que se deve a Ford é a de ter levado o automóvel ao alcance de todos os bolsos, criando uma verdadeira revolução na vida econômica e social. 
     Antes de todos, Henry Ford adotou, em 1914, a jornada de 8 horas de trabalho e estabeleceu o salário mínimo, com a participação, porém, dos trabalhadores nos lucros da empresa, tornando-se, assim, uma espécie de herói popular para milhões de operários do mundo todo. Naturalmente, Ford foi coadjuvado, na criação de uma organização industrial tão complexa, por hábeis colaboradores, no campo organizativo e técnico. Entre eles, seu filho Edsel e, depois de sua morte, pelo neto, Henry Ford II. 
     Henry Ford morreu em Detroit, em 1947. Foi homem de inteligência original e poderosa, impulsivo, generoso, mas também alvo voluntarioso, especialmente nos últimos anos de sua vida. Granjeou lucros enormes, mas investiu-os quase todos na potencialidade de suas fábricas. Com o desenvolvimento da indústria automobilística no Brasil, sua companhia inverteu, em São Paulo, principalmente, grandes somas, estabelecendo poderosas oficinas em nossa terra, fabricando motores e tratores, que tem sido de grande proveito para a lavoura.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

JULIO DINIS

     JULIO DINIS (Pseudônimo de Joaquim Guilherme Gomes Coelho) (Porto-Portugal, 1839-1871) Júlio Dinis foi escritor e médico. Nasceu no Porto em 1839 e aí faleceu em 1871, vítima da tuberculose. Passa os últimos anos de sua vida ora no campo, para tratar da saúde, ora na cidade, desenvolvendo suas atividades. Na curta existência de trinta e dois anos, produz muitas obras de gêneros diversos: teatro, poesia, contos e romances. 
     Seus romances constituem um valioso documento sobre Portugal, numa fase em que esse país sofre transições políticas e econômicas, promovidas pelo regime neoliberal. Registra em sua obra os resultados positivos das reformas econômicas e o estilo de vida da burguesia triunfante. A obra mais famosa de Júlio Dinis é As Pupilas do Senhor Reitor (1867). 
     Escreveu ainda: Os Fidalgos da Casa Mourisca (1872), A Morgadinha dos Canaviais (1868), Uma Família Inglesa (1868) e Serões da Província (1870), coletânea de contos. Júlio Dinis é um romancista de um período de transição entre o Romantismo e o Realismo. Filiado ao movimento romântico, mas realista pela preocupação da verdade em suas descrições, nos caracteres e na evolução da intriga, utiliza processos do romance realista inglês. Em As Pupilas do Senhor Reitor, Júlio Dinis preocupa-se com os aspectos morais na caracterização das personagens, como vemos no trecho a seguir: O reitor Ao deixar José das Dornas, na tenda do seu vizinho da esquina, o reitor, apoiado na grossa bengala de cana, companheira fiel das fadigas de muitos anos, foi seguindo pelos caminhos poucos cômodos da sua paróquia, e entrando nas casas mais pobres, onde levava a esmola e o conforto de doutrinas evangélicas que tão singelamente sabia pregar. Era esta, para ele, tarefa habitual.
     Sentava-se com familiaridade à cabeceira do jornaleiro doente, ele próprio lhe arrefecia os caldos, lhe temperava os remédios e lhos ajudava a tomar; guiava com os conselhos e ensinava com o exemplo dos enfermeiros que, entre a gente pobre dos campos, são quase sempre os mais pequenos da família, aqueles que, pela idade, representam ainda uma parte pouco produtiva de receita; porque os outros reclamam-nos as exigências imperiosas do trabalho. 
     No cumprimento desta obra de misericórdia, atravessou o reitor quase toda a aldeia, e com o coração apertado pelos infortúnios que vira, e desafogada a consciência pelo bem que fizera, continuava placidamente a sua tarefa abençoada. Depois de muito andar e de muito consolar misérias, parou algum tempo por debaixo das faias, que assombravam um largo terreiro, e sentou-se com o fim de ganhar forças para prosseguir. 
     Enquanto descansava foi dar balanço às algibeiras, que trouxera bem providas de casa. Este balanço foi desanimador para os projetos ulteriores do velho. A esmola, essa sublime gastadora, que nunca abandonava a direito do pároco nestas visitas pastorais, havia-lhe esgotado o capital, sem que ele desse por isso. O reitor mostrou-se mortificado; não que lamentasse o dinheiro gasto assim, mas porque estava longe de casa, e tinha ainda mais infelizes a socorrer. (DINIS, Júlio, As Pupilas do Senhor Reitor. 4ª ed. São Paulo, 1977, p, 69-70)


ALMEIDA GARRET

     JOÃO BATISTA DA SILVA LEITÃO DE ALMEIDA GARRET (Porto-Portugal, 1799 – Lisboa-Portugal, 1854) Em 1822, com a vitória dos liberais, Portugal adota a forma constitucional de governo. Mas, no ano seguinte, com um golpe de Estado – a Vilafrancada – a Constituição é abolida e Almeida Garrett é, então, exilado. Vai para a Inglaterra e depois para a França. As suas convicções liberais e constitucionalistas são reforçadas. Nesses países, entra em contato com líderes do movimento romântico e escreve Camões (1825) e Dona Branca (1826). A publicação do poema Camões, em Paris, como vimos anteriormente, assinala o início do Romantismo em Portugal. 
     Segundo Fidelino de Figueiredo, a carreira literária de Garrett, como lírico, abrange três épocas distintas: 
_ a anterior ao exílio;
_ a fase da renovação romântica; 
_ a fase da plena maturidade artística. 
     Garrett é, indiscutivelmente, uma das mais notáveis figuras do Romantismo português. Poeta, dramaturgo, romancista e orador, deixou-nos uma vasta obra, na qual se revela o mais delicado nacionalismo. Garrett nunca se libertou totalmente das normas neoclássicas. Fazem parte de sua primeira fase literária: O Retrato de Vênus (1821), Lírica de João Mínimo (1829), Odes Anacreônticas e as tragédias.
     Na fase seguinte, Garrett dedica-se ao teatro e escreve: Um Auto de Gil Vicente (1838), Dona Felipa de Vilhena (1840), O Alfagema de Santarém – representado e publicado em 1842 – e o drama Frei Luís de Souza, considerado a obra-prima do teatro português, representado e publicado em 1843. 
     Garret deixa-nos ainda Romanceiro, Folhas Caídas e Flores sem Fruto. Em prosa, escreveu Viagens na Minha Terra e O Arco de Sant'Anna. Folhas Caídas: é uma coletânea onde se encontra o melhor da lírica de Garrett. Há leitores que estabelecem nexos entre os poemas de confidência com episódios e personagens da vida real. A ligação do poeta com Rosa Montufar, Viscondessa da Luz, foi muito comentada. A leitura de Folhas Caídas e Flores sem Fruto causou profunda impressão em Fernando Pessoa (poeta modernista português).

FERNÃO LOPES

     Fernão Lopes (1380 — 1459) foi funcionário do paço e notário, nomeado cronista pelo rei D. Duarte, e redigiu uma história de Portugal desde as origens, até, provavelmente à época em que viveu. Do ponto de vista da forma, o seu estilo representa uma literatura de expressão oral e de raiz popular. Ele próprio diz que nas suas páginas não se encontra a formosura das palavras, mas a nudez da verdade. Era um autodidacta. Foi um dos últimos representantes do saber popular, pois já no seu tempo um novo tipo de saber começava a surgir: alatinado, imitador de clássicos. 

Biografia 
     Ocupa, entre a série dos cronistas gerais do Reino, um lugar de destaque, quer como artista quer pela sua maneira de interpretar os factos sociais. Fernão Lopes deve ter nascido entre 1380 e 1390, aproximadamente, visto que em 1418 já ocupava funções públicas de responsabilidade. Pertencia portanto à geração seguinte à que se bateu no cerco de Lisboa e na batalha de Aljubarrota. 
     A guerra com Castela acabou em 1411, pelo que Fernão Lopes pôde ainda acompanhar a sua fase, e conhecer pessoalmente alguns dos seus protagonistas, como D. João I, Nuno Álvares Pereira, os cidadãos de Lisboa que se rebeliaram contra D. Leonor Teles e elegeram o Mestre de Avis seu defensor em comício popular, alguns dos procuradores às Cortes de Coimbra de 1385 que, apoiando o dr. João das Regras declararam o trono vago e, chamando a si a soberania, elegeram um novo rei e fundaram uma nova dinastia. 
     Profissionalmente, Fernão Lopes era um tabelião, provavelmente de origem viloa, mesteiral, porque contava um sapateiro na família de sua mulher. Foi empregado da família real e da corte, escrivão de D. Duarte, ainda infante, do rei D. João I, e do infante D. Fernando, em cuja casa ocupou o importante posto de «escrivão da puridade». 
     A partir de 1418 aparece a desempenhar as funções de guarda-mor da Torre do Tombo, ou seja de chefe dos arquivos do Estado, lugar de confiança da corte. Como prémio dos seus serviços recebeu o título de «vassalo de El-rei», carta de nobreza atribuída então com certa liberalidade a membros das classes não nobres. Em 1454 foi reformado do cargo de guarda-mor da Torre do Tombo devido à sua idade. Ainda vivia em 1459. Durante este longo período de actividade, Fernão Lopes atravessou os reinados de D. João I, D. Duarte, o governo de D. Pedro, e parte do reinado de D. Afonso V. Conheceu muitas alterações políticas e sociais. 
      Ao rei eleito e popular, D. João I, viu suceder um rei mais dominado pela aristocracia, D. Duarte; viu crescer o poder feudal dos filhos de D. João I, e com ele o predomínio da nobreza, que saíra gravemente abalada da crise da independência. Assistiu à guerra civil subsequente à morte de D. Duarte, à insurreição de Lisboa contra a rainha viúva D. Leonor, e à eleição do infante D. Pedro por esta cidade, e em seguida pelas cortes, para o cargo de Defensor e Regedor do Reino, em circunstâncias muito parecidas com as que tinham levado o mestre de Avis ao mesmo cargo e seguidamente ao trono. 
     Assistiu depois à reacção do partida da nobreza, à queda do infante D. Pedro, à sua morte na sangrenta batalha de Alfarrobeira, à perseguição e dispersão dos seus partidários, ao triunfo definitivo da nobreza, no reinado. Foi testemunha do início da expansão ultramarina e teve a sua quota parte no desastre militar de Tânger, por causa da morte de seu filho médico do infante D. Fernando que veio a morrer em cativeiro, em Marrocos. 
     Fernão Lopes viveu uma das épocas mais perturbadas da história de Portugal, cheia de ensinamentos para o historiador. A carreira de Fernão Lopes como historiador é provavelmente a mais longa do que há pouco se supôs, pois é provavél que já em 1419 realizasse por encargo do então infante D. Duarte a compilação e redacção de uma crónica geral do reino de Portugal. Só em 1434, porém, aparece oficialmente encarregadopelo rei D. Duarte de relatar as histórias dos reis anteriores e os feitos do rei D. João I, pelo qual seria remunerado com uma pagamento anual. 
     Após a morte deste rei o Regente D. Pedro, em nome de D. Afonso V, confirma Fernão Lopes na mesma incumbência mantendo-lhe o salário. Em 1449, pouco antes da batalha de Alfarrobeira, ainda recebe um pagamento de D. Afonso V pelos seus trabalhos literários, mas já nessa época entrara em actividade um outro cronista, Gomes Eanes de Zurara. A última obra em que Fernão Lopes trabalhou, a Crónica de D. João I, ficou incompleta e foi continuada por Zurara. 

Crónicas 
     Crónica de el-rei D. Pedro Crónica de el-rei D. Fernando Crónica de el-rei D. João I, 1ª e 2ª partes. Crónicas dos reis de Portuga.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Ruth Rocha

        Escritora paulista, nascida em 2 de março de 1931. Filha dos cariocas Álvaro de Faria Machado, médico, e Esther de Sampaio Machado, tem quatro irmãos, Rilda, Álvaro, Eliana e Alexandre.
        Durante 15 anos (de 1956 a 1972) foi orientadora educacional do Colégio Rio Branco, onde pôde conviver com os conflitos e as difíceis vivências infantis e com as mudanças do seu tempo. A liberação da mulher, as questões afetivas e de auto-estima foram sedimentando-se em sua formação.
        Uma das maiores escritoras de literatura infantil do país, com 130 livros publicados e 10 milhões de exemplares vendidos, sendo 2 milhões no exterior. Ruth Machado Louzada Rocha nasce na capital paulista em uma família de classe média, forma-se na Escola de Sociologia e Política de São Paulo em 1953 e começa a trabalhar como orientadora educacional no Colégio Rio Branco.
        Em 1965 escreve artigos sobre educação para a revista Claudia. Dois anos depois assume a orientação pedagógica da revista Recreio, na qual publica seu primeiro conto, Romeu e Julieta, em 1969.        
        Deixa a Editora Abril no mesmo ano e inicia prolífera produção literária, inspirada na filha, Mariana. Marcelo, Marmelo, Martelo (1976) vende 1 milhão de exemplares.
        De 1973 a 1981, volta a dirigir publicações infantis da Editora Abril, participa das coleções Conte um Conto, Beija-Flor e Histórias de Recreio e lança O Reizinho Mandão (1978). Em 1989 é escolhida pela ONU (Organização das Nações Unidas) para assinar a versão infantil da Declaração Universal dos Direitos Humanos, intitulada Iguais e Livres, publicada em nove línguas. 
     Em 1990 assina a declaração da ONU sobre ecologia para crianças, Azul e Lindo - Planeta Terra, Nossa Casa. Em 1995 lança o Dicionário Ruth Rocha. É autora da série didática Escrever e Criar... É Só Começar, prêmio Jabuti de melhor obra didática em 1997. Em 1999 finaliza a versão infanto-juvenil de Odisséia, de Homero.
        Em 2002 ganhou o prêmio Moinho Santista de Literatura Infantil, da Fundação Bunge. Também nesse ano foi escolhida como membro do PEN CLUB – Associação Mundial de Escritores no Rio de Janeiro.
        É membro da Academia Paulista de Letras desde 25 de outubro de 2007, ocupando a cadeira 38.
        Seu livro mais conhecido é “Marcelo, Marmelo, Martelo”, que já vendeu mais de 1 milhão de cópias.

JOSÉ DE ALENCAR

     O escritor brasileiro José de Alencar nasceu no Ceará, região nordeste do Brasil, no ano de 1829. Antes de iniciar sua vida literária, atuou como advogado, jornalista, deputado e ministro da justiça. Aos 26 anos publicou sua primeira obra: “Cinco Minutos”. Podemos considerar Alencar como o precursor do romantismo no Brasil dentro das quatro características: indianista, psicológico, regional e histórico. 
     Este autor brasileiro utilizou como tema o índio e o sertão do Brasil e, ao contrário de outros romancistas de sua época que escreviam com se vivessem em Portugal, Alencar valorizava a língua falada no Brasil. Escritor de obras com estilos variados, este escritor cearense criou romances que abordam o cotidiano. Deste estilo literário, também conhecido como romance de costumes, destacam-se os livros: Diva, Lucíola e A Viuvinha. Foram também de sua autoria os romances regionalistas: O Sertanejo, O Tronco do Ipê, O Gaúcho e Til. 
     Dos romances históricos fazem parte: As Minas de Prata e A Guerra dos Mascates. No romance indianista de José de Alencar, o índio é visto em três etapas diferentes: antes de ter contato com o branco, em Ubirajara; um branco convivendo no meio indígena, em Iracema e o índio no cotidiano do homem branco, em O Guarani. É dentro do estilo indianista do escritor José de Alencar que está sua obra mais importante: Iracema. 
     Outra obra também considerada de grande valor literário é O Guarani, pois aborda os aspectos da formação nacional brasileira. Apesar de ser mais conhecido por suas obras literárias, o escritor brasileiro José de Alencar fez também algumas peças de teatro: Nas Asas de um Anjo, Mãe, O Demônio Familiar. Faleceu aos 48 anos, em 1877, deixando inúmeras obras que fazem sucesso até os dias atuais.


JOAQUIM MANUEL DE MACEDO

     Joaquim Manuel de Macedo, jornalista, professor, romancista, poeta, teatrólogo e memorialista, nasceu em Itaboraí, RJ, em 24 de junho de 1820, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 11 de abril de 1882. É o patrono da Cadeira n. 20, por escolha do fundador Salvador de Mendonça. Era filho do casal Severino de Macedo Carvalho e Benigna Catarina da Conceição. Formado em Medicina pela Faculdade do Rio de Janeiro, clinicou algum tempo no interior do estado do Rio. 
     No mesmo ano da formatura (1844), publicou A Moreninha, que lhe deu fama instantânea e constituiu uma pequena revolução literária, inaugurando a voga do romance nacional. Alguns estudiosos consideram que a heroína do livro é uma clara transposição da sua namorada, e futura mulher, Maria Catarina de Abreu Sodré, prima-irmã de Álvares de Azevedo. 
     Em 1849, fundou com Araújo Porto-Alegre e Gonçalves Dias a revista Guanabara, onde apareceu grande parte do seu poema-romance A Nebulosa, que alguns críticos consideram um dos melhores do Romantismo. Voltou ao Rio, abandonou a medicina e foi professor de História e Geografia do Brasil no Colégio Pedro II. Era muito ligado à Família Imperial, tendo sido professor dos filhos da princesa Isabel. Militou no Partido Liberal, servindo-o com lealdade e firmeza de princípios, como o provam seus discursos parlamentares. Foi deputado provincial (1850, 1853, 1854-59) e deputado geral (1864-68 e 1873-81). Membro muito ativo do Instituto Histórico (desde 1845) e do Conselho Diretor da Instrução Pública da Corte (1866).
      Nos últimos anos, sofreu de decadência das faculdades mentais, falecendo antes de completar 62 anos. Foi ativa e fecunda a sua carreira intelectual nas várias atividades que exerceu. Um dos fundadores do romance brasileiro, foi considerado em vida uma das maiores figuras da literatura contemporânea e, até o êxito de José de Alencar, o principal romancista. O memorialista ainda é lido com interesse nas Memórias da rua do Ouvidor e Um passeio pela cidade do Rio de Janeiro. 
     Foi no romance, entretanto, que Macedo conseguiu perdurar. Suas histórias evocam aspectos da vida carioca na segunda metade do século XIX, com simplicidade de estilo, senso de observação dos costumes e da vida familiar. Algumas obras: A Moreninha (1884); O moço louro (1845); Os dois amores (1848); Rosa (1849); Vicentina (1853); O forasteiro (1855); duas sátiras político-sociais: A carteira de meu tio (1855) e Memórias do sobrinho do meu tio (1867-68); As mulheres de mantilha (1870) e vários outros romances. Para o teatro, escreveu 16 peças, das quais 14 foram à cena em vida do autor, com aplauso da platéia. E a crítica, tanto a atual como a do século passado, é quase unânime em reconhecer que no teatro está a melhor parte de sua obra.

MACHADO DE ASSIS

     (Rio de Janeiro – RJ, 1839 – 1908) Joaquim Maria Machado de Assis, nasceu no Rio de Janeiro a 21 de junho de 1839 e aí morreu a 29 de setembro de 1908. Começa a vida como sacristão, aprendendo as primeiras letras com um padre. É obrigado a trabalhar desde a infância, como aprendiz de tipógrafo e mais tarde como revisor. Torna-se, mais tarde, ajudante de direção do Diário Oficial. Em 1873, entra para o Ministério da Agricultura, onde trabalha até a aposentadoria, poucos anos antes de sua morte. 
     Machado de Assis, descendente de família humilde, foi um autodidata, isto é, tudo o que aprendeu foi por si mesmo e pelo seu próprio esforço. Viveu numa época em que o Brasil estava sob o regime monárquico escravocrata. D. Pedro II era, então, o imperador do nosso país. Por esse monarca ser grande apreciador da arte literária e por reconhecer o valor intelectual do escritor, Machado de Assis consegue uma privilegiada posição social. Torna-se um grande e renomado romancista: pela originalidade e agudeza na concepção da vida; pela profunda análise dos sentimentos; pela extraordinária capacidade em caracterizar as personagens; pelo estilo sóbrio e conciso; pela linguagem adequada a cada gênero literário. 
     Machado de Assis, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras (1897), foi aclamado seu primeiro presidente, posição que ocupou até sua morte(1908). Cultivou quase todos os gêneros literários, mas destacou-se como ficcionista. Inicia sua fase realista, demonstrando um estilo perfeito, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Esse romance apareceu, inicialmente, em folhetins, na Revista Brasileira do Rio de Janeiro, em 1880. Didaticamente falando, essa obra é considerada o marco inicial do Realismo no Brasil. 

A poesia machadiana 
     A obra poética de Machado de Assis divide-se em duas fases: a romântica, que sofre forte influência de Gonçalves Dias, e a mais próxima ao Parnasianismo, que apresenta temas semelhantes aos de Raimundo Correia e Olavo Bilac. Na primeira fase, as poesias de Machado de Assis apresentam as seguintes características: subjetividade, emoção, lirismo, forte sentimento nacionalista. Pertencem a esta fase as seguintes obras: Crisálidas (1864), Falenas (1870) e Americanas (1875). 
     Na segunda fase, as poesias machadianas apresentam as seguintes tendências: a) preocupação formal com a métrica e a rima e apuro na linguagem; b) exaltação ao conceito de “arte pela arte”; Os temas são semelhantes aos de Raimundo Correia e Olavo Bilac: pessimismo e reflexão filosófica. Seu último livro de poesia, Ocidentais (1901), reúne alguns dos seus melhores poemas: Círculo vicioso, Mundo interior, Soneto de Natal, Uma criatura, Perguntas sem respostas. 

A prosa machadiana 
     Está dividida também em duas fases: 
1ª fase: Nesta primeira fase, Ressurreição, A Mão e a Luva, Helena, Iaiá Garcia são romances que ainda revelam características românticas, embora apresentem traços de estudo de caracteres. Machado de Assis coloca-se entre os romancistas que se preocuparam com o modus vivendi do carioca e com o cenário do Rio de Janeiro. É um mestre na arte de analisar profundamente o ser humano.

2ª fase: Pertencem à fase realista as obras Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó, Memorial de Aires. Estes romances têm as seguintes características: 
a) acentuada preocupação com o estudo dos caracteres; o gosto pela análise e investigação dos motivos do comportamento humano; suas fraquezas: egoísmo, falsidade, luxúria, vaidade, hipocrisia, orgulho; 
b) visão profunda da realidade interior e do seu aspecto moral; 
c) nessas obras, o autor deixa transparecer seu pessimismo, sua ironia amarga, certo humorismo; 
d) percebem-se algumas interrupções na ordem linear das narrativas. Nesta fase, acentua-se o gosto pelos monólogos interiores. 

Principais obras da prosa realista machadiana
     Memórias Póstumas de Brás Cuba, obra inaugural do Realismo no Brasil, revolucionara a literatura da época por dois motivos básicos: quanto ao conteúdo, analisa o ser humano de forma profunda, mostrando-o em todos os seus aspectos, de forma real e crua; quanto à forma, rompe com a ordem cronológica tradicional, abandonando a linearidade. Nesta obra, Machado de Assis mostra a autobiografia de Brás Cuba, um “defunto-autor”, que evoca e repensa sua existência de além-túmulo, seus amores, seu egoísmo e suas ambições. 
     Outra obra-prima do romance realista é Dom Casmurro. Esta narrativa em primeira pessoa propõe-se a “atar as duas pontas da vida” de Bentinho, que é o próprio narrador. Retomando os fatos de sua vida, Bentinho analisa seu casamento com Capitu e a dúvida que corroeu o relacionamento: sua esposa tê-lo-ia traído com seu melhor amigo? 
     O romance Quincas Borbas, narrado em terceira pessoa, mostra a trajetória de Rubião, um professor mineiro que recebe uma herança, devendo, em troca, cuidar de um cão chamado Quincas Borba. Com o dinheiro, Rubião vai para o Rio de Janeiro, onde pensa ter ascendido socialmente, mas na verdade é aceito pela sociedade carioca com restrições e sarcasmo, apenas por causa de sua riqueza. Descontrolado, acaba gastando toda a fortuna, enlouquece e volta para sua terra, onde morre. Nesta obra, Machado de Assis expõe a teoria filosófica do Humanitismo, segundo a qual a guerra é um mecanismo de sobrevivência da raça humana. 
     Memorial de Aires é uma espécie de romance-diário, narrado em primeira pessoa. Nele, o autor relata fatos ligados à vida de pessoas de sua relação: o casal de velhos, Aguiar e Dona Carmo, Tristão, a viúva Fidélia e a mana Rita. A velhice é um dos temas desse romance; o autor sonda a alma dos velhos, no intuito de ver como encaram a vida e o casamento. 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O TEATRO ROMÂNTICO

Introdução 
     Além da poesia e da ficção, obras do gênero dramático também foram produzidas no Romantismo. O teatro romântico define-se apoiado na tradição clássica do teatro de Shakespeare, no drama burguês e no teatro tradicional de algumas literaturas. No Romantismo, há o rompimento da lei das três unidades do teatro clássico (tempo, espaço, ação); passa-se do verso à prosa. Com a transformação do teatro clássico, concebe-se um teatro moderno para os problemas humanos, morais, sociais da época. As peças apresentam multiplicidade de circunstâncias e de personagens. Com a vinda da família real para o Brasil (1808) é que nasce rigorosamente o teatro nacional. 
     Gonçalves de Magalhães e o ato João Caetano dos Santos são considerados os introdutores do teatro brasileiro. Gonçalves de Magalhães escreve, em 1838, a primeira peça romântica no Brasil: Antonio José ou o Poeta e a Inquisição. A peça Leonor de Mendonça, em três atos, escrita em prosa por Gonçalves Dias, revela a consciência do drama moderno. José de Alencar e Joaquim Manuel de Macedo são exemplos significativos da missão reformadora do teatro romântico. 
     Em 1855, o teatro brasileiro passa por uma renovação: “os dramalhões e as comédias são substituídos pelos chamados dramas de casaca, teatro da atualidade, de tese social e de análise psicológica, transição para o teatro realista”, conforme diz Soares Amora.

 
Principais Autores do Teatro Românticos 
 
LUÍS CARLOS MARTINS PENA (Rio de Janeiro-RJ, 1815 – Lisboa-Portugal, 1848) Martins Pena estuda comércio e artes, pintura e música. Dedica-se mais tarde, com êxito, ao estudo das línguas européias. Ingressa na carreira diplomática, indo servir junto à legação brasileira em Londres. Com a saúde abalada, tenta voltar para o Brasil, mas falece repentinamente em Lisboa com apenas trinta e três anos. 
     Martins Pena escreve apenas teatro, sua verdadeira paixão, deixando-nos vinte e oito peças; nem todas, porém, impressas durante a vida do autor. É o expoente máximo do teatro romântico brasileiro, o mais importante comediógrafo da época. Deixa várias comédias de costumes. Sua linguagem é simples; utiliza disfarces e caricaturas, retratando a sociedade brasileira dos meados do século XIX. A sua estréia se dá em 1838 com a peça O Juiz de Paz da Roça. Escreve ainda outras peças: A Família e a Festa da Roça (1842); O Judas em Sábado de Aleluia (1846); O Caixeiro da Taverna (1847); Quem Casa Quer Casa (1847); O Noviço (1853).


segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O ROMANTISMO NO BRASIL

      No Romantismo, o narrador-personagem expressa seu desejo, seu sonho; idealiza para si mesmo um comportamento com base na simplicidade; supervaloriza os bens adquiridos através de uma vida simples, longe dos vícios da sociedade urbana. Essa fuga da realidade para um mundo de sonhos, esse modo de ver e sentir o mundo exterior, esse modo de agir, atendendo às solicitações de seu espírito, tudo isso são características de um comportamento romântico. 
     Os sonhos, o amor à natureza, o saudosismo, as emoções em geral sempre existiram em qualquer época. Se voltarmos ao período anterior a este, vamos observar que nas composições poéticas de Tomás Antônio Gonzaga e Gregório de Matos encontramos a mesma nota sentimental e subjetivista dos românticos. Mas, em dado momento, esse estado de espírito, esse temperamento romântico acentuou-se, manifestando-se de forma mais exaltada, apaixonada, emocional, vigorosa, configurando-se num estilo de época: o Romantismo. 

Origem e panorama histórico 
     Como vimos anteriormente, o Arcadismo ou Neoclassicismo representou, literariamente, um retorno aos ideais grego-latinos de beleza, equilíbrio e perfeição. Foi um movimento estético em que a razão predominou, subjugando o sentimento, visto que o século XVIII foi denominado o “Século das Luzes”, por orientar-se primordialmente pelo uso da capacidade racional do homem. A partir da segunda metade do século XVIII, porém, o panorama histórico começa a sofrer modificações marcantes que influenciam, de forma decisiva, a produção literária da época. Com a Revolução Industrial e conseqüente alteração no modo de produção, a sociedade divide-se em duas classes distintas: a burguesia capitalista e o proletariado. Politicamente, o absolutismo monárquico dá lugar ao liberalismo, através de movimentos que refletem a ascensão da burguesia, como a Revolução Francesa (1789). 
     Os processos de independência do Brasil e dos Estados Unidos geram lutas civis entre liberais e conservadores, numa tentativa de consolidar as novas forças. Com a industrialização, formam-se as grandes massas urbanas. O mercado literário, antes restrito aos salões da aristocracia, amplia-se e diversifica-se, atendendo aos interesses da nova classe dominante: a burguesia, que passa a ser grande apreciadora dessa arte literária. Os ideais de liberdade acentuam-se, politicamente, e é possível notar seus reflexos na literatura, na frase do escritor francês Victor Hugo: “Nada de regras, nem de modelos”. Como os movimentos literários se formam em diversas regiões simultaneamente, não se pode fixar com precisão o lugar onde o Romantismo surgiu pela primeira vez.
     Na Alemanha, Goethe publica, em 1774, Werther, e Schiller, em 1781, publica Os Salteadores, lançando as bases do sentimentalismo romântico. Na Inglaterra, nos primeiros anos do século XIX, o Romantismo se manifesta através da poesia ultra-romântica de Byron e do romance histórico de Walter Scott intitulado Ivanhoé. Desde 1724, na Escócia, Allan Ramsay, numa forma de reação contra a poesia clássica, cultiva a poesia espontânea, natural e de cor local (conjunto de circunstâncias que caracterizam, numa obra de arte, com maior ou menor fidelidade, um lugar, um ambiente ou uma época). Esta reação anticlássica é mais tarde reforçada e divulgada na França. 
     O Romantismo francês foi fortemente influenciado pelas idéias do filósofo Jean Jacques Rousseau que expôs a teoria de que o homem nasce puro e que a vida em sociedade o corrompe. Segundo Rosseau, só em contato com a natureza é que o homem retorna ao seu estado de pureza original; neste sentido, enfatiza-se a figura do “bom selvagem”, ser humano que não foi corrompido pela civilização. A publicação do poema Camões, de Almeida Garrett, em 1825, é considerada o marco inicial do Romantismo em Portugal, que se consolida a partir de 1836, com a publicação da revista Panorama. Nessa revista aparecem textos literários de Alexandre Herculano e dramas deAlmeida Garret. 
     No Brasil, o movimento romântico iniciar-se em 1836 com a publicação, em Paris, da revista brasiliense Niterói. Um dos seus diretores – Gonçalves de Magalhães – lança, no mesmo ano, Suspiros Poéticos e Saudades – livro de poesias. O Romantismo no Brasil coincide com os movimentos políticos de independência. De fato, a literatura dos princípios do século XIX reflete um profundo sentimento nacionalista. A literatura romântica expressa uma ligação com o movimento libertador de 1822, um desejo de construir uma pátria nova, de criar uma literatura nacional. Segundo Karl Mannheim, “o Romantismo expressa os sentimentos dos descontentes com as novas estruturas: a nobreza decadente e a pequena burguesia em ascensão”. Daí as atitudes saudosistas ou reivindicatórias que caracterizam o Romantismo.


Características do Romantiso

     Entre a segunda metade do século XVIII e primeira do século XIX, com pequenas variações cronológicas de um país para outro, instala-se uma nova estética literária caracterizada basicamente por dois aspectos: a liberdade criadora do artista e a valorização de seu mundo pessoal, através do predomínio da emoção sobre a razão. Além de analisar estas duas características básicas, convém destacar, ainda, vários outros traços da obra romântica:

Anseio de liberdade criadora
     Opondo-se aos ideais clássicos, revividos pelo Arcadismo, o artista romântico nega o princípio de mimesis (imitação) e busca expressar sua realidade interior, sem se preocupar com a forma. Não segue modelos, abandona as rígidas regras de métrica e rima; busca exteriorizar livremente o que lhe vai na alma: liberta seu inconsciente, foge da realidade para um mundo por ele idealizado, de acordo com as suas próprias emoções e desejos. Este anseio de liberdade relaciona-se às teorias de liberdade econômica, visto que as realizações e empreendimentos da burguesia ascendente encontravam apoio no liberalismo. Assim, a arte literária, reflexo de sua época, busca também afirmar-se em sua busca da liberdade criadora.

Subjetivismo
     A realidade é vista através da atitude do escritor. Não existe a preocupação em fazer um retrato fiel e verídico da realidade, pois esta é oferecida ao leitor filtrada e mesmo distorcida pelas emoções do autor. O predomínio de verbos e pronomes possessivos em primeira pessoa ressalta o desejo de trazer à tona os sentimentos interiores, projetando-os sobre o mundo exterior.

Evasão ou escapismo
     A queda dos regimes absolutistas e a ascensão da burguesia provocam, inicialmente, uma fase de euforia, em que se acredita que os ideais de Liberdade – Igualdade – Fraternidade, pregados pela Revolução Francesa, irão se concretizar. Cedo, porém, percebe-se que nem todas as classes sociais terão o direito de atingir esses ideais, pois a distância entre a burguesia capitalista industrial e o proletariado se aprofunda cada vez mais. Assim, desiludidos com seu próprio tempo e insatisfeitos com a realidade que os cerca, muitos autores românticos mergulham no chamado “mal do século”, postura de frustração e imobilismo em face da realidade. Descontentes com a época em que vivem, buscam formas de fugir dela, através de evasões:
_ no tempo: voltando em pensamento a época de sua infância, em que se sentiam protegidos pela figura da mãe ou da irmã ou, ainda, escrevendo textos ambientados na Idade Média, em que a figura heróica dos cavaleiros permite sonhar com grandes feitos e atos marcados pela honra e pela nobreza. É o caso da obra Eurico, o Presbítero, de Alexandre Herculano, por exemplo.
_ na morte: que é vista como solução para as tristezas e a insatisfação. Neste sentido, convém destacar a obra Werther, de Goethe, na qual a idéia de suicídio aparece com intensidade, mostrando-o como a única possibilidade de escapar do sofrimento a que o ser humano se expõe a cada dia.

Senso de Mistério
     Sem conseguir adaptar-se a seu mundo, valorizando a morte como a única saída, o artísta romântico sente atração por ambientes noturnos, misteriosos, como cemitérios, ruas desertas, etc.

Culto a natureza
     Influenciados pelas idéias de Rousseau, os românticos vêem na natureza um refúgio seguro para sua dores, visto que os vícios da civilização não chegam até ela.
     Além disso, é importante lembrar que, no Arcadismo, a paisagem bucólica era utilizada como cenário para os amores do poeta, mais permanecia impassível, indiferente às emoções que ele sentia. No Romantismo, porém, a natureza compartilha o sofrimento do poeta, tornando-se reflexo de seu mundo interior. A natureza passa a ser uma extensão do eu do poeta, mostrando-se triste ou alegre como ele, dependendo de seu estado de espírito.

Reformismo
     Insatisfeitos com seu mundo, o poeta propõe-se a mudá-lo, influenciado pelas correntes libertárias da época.Ansiando por grandes feitos que lhe tragam a glória, o poeta romântico dedica-se a causa sociais, como a abolição da escravatura, a república, etc.


     Em oposição ao paganismo próprio do estilo de época anterior, os românticos cultivam a fé cristã e os ideais religiosos.

Idealização da mulher
     A mulher não é mais vista sob o prisma do platonismo. O artista romântico ressalta a figura da mulher angelical e inatingível para ele, que se julga indigno dela; além disso, a mulher surge como elemento capaz de alterar a vida do poeta, o qual, sem ela, só tera paz na morte.
     A figura materna aparece em destaque, representando o abrigo para o sofrimento e a dolorosa lembrança de um “paraíso perdido”.
     Vale lembrar que, no Romantismo, a sensualidade está presente nas descrições femininas, mas apenas em relação às mulheres por quem o poeta se apaixona e que são, muitas vezes, apresentadas como prostitutas. Assim, a figura feminina oscila entre a pureza e a ingenuidade de um anjo e a luxúria de uma prostituta.


Cronologia


     O Romantismo, no Brasil, configura-se da seguinte maneira:
de 1808 a 1836 – Pré-romantismo;
de 1836 a 1856 – o Romantismo propriamente dito;
de 1856 a 1870 – período de transição para o Realismo e o Parnasianismo


Primeiras manifestações


     A imprensa literária e política teve um papel importante na fase inicial do Romantismo brasileiro: O Correio Brasileiense (1808 – 1822); As Variedades e Ensaios de Literatura (1812) – primeira revista literária do Brasil, fundada na Bahia, por Diogo Soares; O Patriota (1813 – 1814) – jornal literário, político e mercantil, fundado no Rio de Janeiro. Foi por intermédio da imprensa que se divulgaram as primeiras manifestações reformadoras da época. O jornalismo contribuiu para a definição do ambiente propício ao desenvolvimento do Romantismo em nossas terras.
     O cultivo da poesia, em edições de autores portugueses e brasileiros, em traduções em prosa e em verso datam de 1810.
     Em 1836, Gonçalves de Magalhães publica, em Paris, a Niterói – Revista Brasiliense, dando o impulso inicial ao movimento romântico brasileiro.
     Nesse mesmo ano e local, Gonçalves de Magalhães publica Suspiros Poéticos e Saudades, livro de poesias românticas.


Panorama histórico e cultural


     Para se compreender bem o Romantismo no Brasil, é necessário não esquecer os movimentos políticos, que consolidaram a independência, que coincidiram com as manifestações românticas.


Fatos históricos


Revolução Industrial – Inglaterra (1760)
Revolução Francesa (1789)
A vinda da família real para o Brasil (1808)


Fatos literários
Movimento romântico



     O período histórico em que surge o Romantismo no Brasil é marcado pelo crescente sentimento de nacionalismo e pelo desejo de criar nossa independência política e econômica.
     Além disso, com a vinda da família real portuguesa, em 1808, o Rio de Janeiro destaca-se como centro urbano, para o qual convergem artistas e ao qual chegam as mais recentes tendências da Europa. Com a abertura dos portos e a criação de indústrias (até então proibidas) fortalece-se o comércio. O pólo de riquezas desloca-se de Minas Gerais, cujas cidades haviam florescido com a extração mineral, para o Rio de Janeiro e, posteriormente, para São Paulo, onde começa a se desenvolver a cultura cafeeira. O Romantismo brasileiro é um reflexo de outros fatos importantes:
     Em 1816, Jean Baptiste Debret bem para o Brasil com um grupo de artistas franceses, para formar aqui a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios. São apresentadas cerca de cinqüenta telas da pintura francesa e italiana. Nessa época, destacam-se ainda, outros artistas: na pintura, Pedro Américo e Vítor Meireles; na música, Carlos Gomes e Alberto Nepomuceno.
     Em 1822, o Brasil alcança a sua autonomia política. Escritores de renome tomam consciência de sua função dentro do panorama cultural brasileiro.
     Em 1833, a Sociedade Filomática, da Faculdade de Direito de São Paulo, comemora a independência do Brasil em um manifesto nacionalista e romântico: o abandono dos temas clássicos; a busca de temas nacionais e de uma “língua brasileira”.
     Esse movimento, entretanto, não teve a repercussão conseguida pelo grupo da revista Niterói.
Em 1837, Gonçalves de Magalhães e Araújo Porto Alegre iniciam a campanha em prol da fundação de um teatro nacional. 


A Prosa Romantica no Brasil


     Os jornais e a literatura O Romantismo é fruto de um complexo movimento de idéias políticas, sociais e artísticas. Esse movimento encontra, no Brasil, um clima propício ao seu desenvolvimento. O público leitor, representado por pessoas da aristocracia rural, encontra na literatura um meio de entretenimento.
     O objetivo dos primeiros jornais, no século XIX, é expandir a cultura entre os leitores médios.  O jornalismo literário conta com vários adeptos. Os romances de folhetim, de crítica literária, de crônicas passam, então, a ser cultivados. Surgem cronistas importantes, entre eles José de Alencar. Dos seus folhetins, Ao Correr da Pena (1851-1855), sairão mais tarde romances urbanos como Senhora, Sonhos D'ouro, pautados em observações do autor sobre a sociedade do tempo. França Junior – o mais prestigiado cronista da época – publica seus folhetins nos jornais O Globo Ilustrado, O País, O Correio Mercantil. É preciso frisar que a difusão, em livro ou em jornal, de traduções livres, resumos de romance e narrativas populares da cultura estrangeira contribuiu bastante para a divulgação e consolidação desse novo gênero literário.
     A prosa ficcional A ficção (romance, novela e contos) se inclui entre os gêneros literários preferidos pelo Romantismo. Com o estabelecimento da corte imperial no Brasil e com o crescente desenvolvimento de alguns núcleos urbanos, o público jovem começa a tomar um certo interesse pela literatura. É do agrado desse público leitor o romance que tenha uma história sentimental, com algum suspense e um desfecho feliz.
     O romance romântico no Brasil tem como características marcante o nacionalismo literário. Entende-se por nacionalismo a tendência em escrever sobre coisas locais: lugares, cenas, fotos, costumes brasileiros. Essa tendência contribuiu para a naturalização da literatura portuguesa no Brasil. O romance foi uma forma verdadeira de pesquisar, descobrir e valorizar um país novo.
     Nesse período do Romantismo brasileiro, a imaginação e a observação dos ficcionistas alargaram o horizonte da terra e do homem brasileiro. Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar, Visconde de Taunay, Bernardo Guimarães, Franklin Távora foram os expoentes máximos da ficção romântica no Brasil. A narrativa, no romance romântico, é feita em terceira pessoa. Tanto na poesia, como na ficção (exceto no teatro) a linguagem está impregnada de elementos plásticos e sonoros, de imagens e comparações; a linguagem é descritiva.
     O Romantismo no Brasil é considerado um marco importante na história da literatura brasileira, porque coincide com o momento decisivo de definição da nacionalidade, que visa a valorizar e reconhecer o passado histórico. Classificação do romance romântico brasileiro É possível agrupar os romances românticos do Brasil a partir da temática de cada um deles. Formam-se inicialmente dois grandes grupos, abordando diferentemente a corte e a província, a partir dos quais podem ser feitas algumas subdivisões:
a) Corte: urbano. Autores: Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar, Manuel Antônio de Almeida.
b) Província: Regionalista – autores: José de Alencar, Bernardo Guimarães, Visconde de Taunay, Franklin Távora. Histórico – autores: José de Alencar, Visconde de Taunay. Indianista – autores: José de Alencar.

Romance urbano

     Ambientado na corte, o romance urbano caracteriza-se pela crônica de costumes, retratando a vida social da época. A pequena burguesia é apresentada sem grande aprofundamento psicológico, visto que a sociedade brasileira, ainda pouco urbanizada, não propicia análises de suas relações sociais pouco variadas. Cenas de saraus, bailes, passeios ao campo, etc. alternam-se com complicações de caráter social e moral, como casamentos, namoros, bisbilhotices, etc.
     São romances urbanos: A Moreninha, O Moço Loiro, A Luneta Mágica, de Joaquim Manuel de Macedo; Memórias de umSargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida; Diva, Lucíola, Senhora, A Pata da Gazela, Cinco Minutos e A Viuvinha, de José de Alencar.

Romance regionalista

     O ambiente rústico, rural é focalizado. A atração pelo pitoresco leva o escrito romântico a pôr em evidência tipos humanos que vivem afastados do meio citadino. Isso observamos nos livros: O Cabeleira, de Franklin Távora; O Sertanejo, de José de Alencar; O Garimpeiro, A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães; Inocência, de Visconde de Taunay.

Romance histórico

     Está ligado, pelo assunto, ao romance de “capa e espada”; revela o gosto pelo suspense e a ênfase à vingança punitiva. Há uma volta ao passado histórico, medieval. Apesar da influência estrangeira, pouco a pouco o romancista volta-se para a reconstituição do clima nacional; procura ser fiel aos hábitos, instituições e modus vivendi.

Romance indianista

     O romancista procura valorizar as nossas origens. Há a transformação das personagens em heróis, que apresentam traços do caráter do bom selvagem: valentia, nobreza, brio. Essa tendência do romance romântico encontramos nas obras: O Guarani, Iracema e Ubirajara, de José de Alencar.


Divisão do Romantismo no Brasil 
     Em relação à poesia, podemos agrupar a obra romântica em três gerações:
_ 1ª Geração: temática – nacionalista / indianista; autores: Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias, Araújo Porto Alegre
_ 2ª Geração: temática – “mal-do-século” / ultra-romantismo; autores: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela, Junqueira Freire
_ 3ª Geração: temática – social e libertária; autores: Castro Alves, Tobias Barreto, Sousândrade

     Quanto à prosa romântica, os autores que se destacaram foram:
_ Joaquim Manuel de Macedo;
_ José de Alencar;
_ Bernardo Guimarães;
_ Franklin Távora;
_ Alfredo Taunay;
_ Manuel Antônio de Almeida.

Primeira Geração Romântica (indianista / nacionalista)
     Esta geração é marcada intensamente pela busca de uma identidade nacional. Voltados para a recuperação das tradições brasileiras, por influência de autores europeus, os poetas desta primeira geração tentam resgatar, através da figura do índio, do herói que, na Europa, foi encontrado na Idade Média. O cenário tropical, retratado em toda a sua exuberância, é usado como motivo de orgulho e patriotismo. O poeta desta fase exalta a natureza brasileira, inserindo nela um indígena idealizado, nobre como um cavaleiro das Cruzadas, cheio de fidalguia e honra, corajoso e belo. É ele quem vai simbolizar nossas raízes, ao mesmo tempo em que enaltece as características próprias do povo brasileiro e ressalta a importância da independência.

Segunda Geração Romântica (ultra-romântica) 
     É chamada de geração byroniana devido a influência de Byron e de Musset – românticos europeus que levaram ao extremo a exacerbação dos sentimentos e fantasias mórbidas. Os principais temas das composições poéticas desse período giram em torno de: egocentrismo, dúvidas, tristezas, pessimismo, desenganos, tédio, amor insatisfeito, depressão, auto-ironia masoquista, obsessão pela morte como solução para os problemas emocionais. O tema predileto dos poetas ultra-românticos é a fuga da realidade.
     Como conseqüência dessa total insatisfação perante a realidade, há a morte prematura de um grande número de jovens (entre 20 e 30 anos), constituindo-se num verdadeiro “mal do século”. Os poetas brasileiros dessa fase do Romantismo dão grande ênfase à vida sentimental. A poesia, desse modo, é intimista e egocêntrica. As figuras mais representativas da segunda geração romântica são: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire. A geração byroniana caracteriza-se por:
a) pessimismo: reflexo de uma atitude de insatisfação perante a vida. A angústia, a tristeza, o desespero e o tédio são temas constantes na poesia individualista e subjetivista da geração do chamado “mal do século”;
b) morbidez: a morte é vista como saída para as crises de depressão. Os poetas vêem nela o único momento de paz que terão, já que, vivos, sentem-se atormentados pelo desespero de viver em um mundo que não lhes satisfaz;
c) satanismo: a presença do demônio, as cerimônias demoníacas e o inferno visto como um prolongamento das dores e das orgias da terra são freqüentes nos poetas ultra-românticos;
d) mistério: preferência por ambientes fúnebres, escuros, misteriosos, apropriados aos rituais satânicos e à reflexão sobre a morte e a depressão.

Terceira geração romântica (condoreira / hugoana ou social) 
     Entre 1860 e 1870, o Brasil atravessa um período de agitação político-social em decorrência do enfraquecimento do regime monárquico. Idéias liberais e democráticas fervilham e difundem-se entre a população esclarecida. Formam-se grupos defensores dos ideais abolicionistas; realizam-se freqüentes assembléias e comícios públicos. Entre os estudantes, são constantes as discussões políticas; as novas idéias agitam as faculdades de Direito de São Paulo e de Olinda.
     Tornam-se conhecidos no Brasil os textos inflamados e eloqüentes do poeta francês Victor Hugo, que exerce forte influência sobre a juventude da época. Sua poesia fala de liberdade, de igualdade social, de reformas que tornem o mundo melhor. É a chamada poesia condoneira, que têm ideais elevados e tenta alcançar as alturas, como o condor, ave que voa acima das cordilheiras dos Andes. É neste panorama histórico e cultural que surge a terceira geração romântica brasileira. Veja algumas de suas características:
a) poesia de fundo social, defensora da República, das revoluções e do Abolicionismo;
b) ênfase na função apelativa, por ser um tipo de poesia própria para ser declamado em praça pública; o objetivo é empolgar os ouvintes;
c) uso de apóstrofes, de grande efeito retórico;
d) presença constante de antíteses, hipérboles, metáforas, dando maior colorido ao texto.



PRINCIPAIS AUTORES DA PROSA ROMÂNTICA BRASILEIRA

     José Martiniano de Alencar (Mecejana - CE, 1829 – Rio de Janeiro – RJ, 1877) Transfere-se com a família para o Rio de Janeiro, onde faz os primeiros estudos. Apaixona-se muito cedo pela literatura. Em 1843, leva para São Paulo esboços de romance. É nessa cidade que faz o curso de Direito. Fica conhecido sob o pseudônimo de Ig; critica o poema de Gonçalves de Magalhães, escrevendo, em 1856, Cartas sobre a Confederação dos Tamoios, o que motiva uma série polêmica. Esse fato desgosta o imperador D. Pedro II. Sofre terrível campanha da parte de José Feliciano de Castilho e de Franklin Távora, apoiados por D. Pedro II. Defendeu a autonomia do falar português no Brasil, e, por isso, foi acusado de fazer incorreções de linguagem.
     José de Alencar é o mais importante dos romancistas românticos, devido à diversidade e extensão de sua obra, à sua linguagem rica e poética, e aos temas de caráter nacional que utilizou. Segundo Raquel de Queirós, “Alencar é o verdadeiro pai do nosso romance”. O estilo alencariano é uma das grandes contribuições à literatura brasileira incipiente. Alencar preocupa-se com o problema da língua e do estilo. A sua obra traduz particularidades sintáticas e vocabulares do falar brasileiro. Enriquece a língua literária de inúmeros tupinismos e brasileirismos. Além disso, seu estilo é sonoro e brilhante, um tanto declamatório, ao gosto da época. Sua obra compreende romances urbanos, indianistas, regionalistas e históricos.
     Em seus Romances urbanos, Alencar retrata a vida do Rio de Janeiro, à época do Segundo Império, mostrando os costumes burgueses brasileiros. Seus romances revelam dramas sociais e morais como a hipocrisia, a corrupção da sociedade, o casamento por conveniência, o patriarcalismo. Defende os direitos da mulher ao amor e à liberdade, estudando perfis femininos complicados e profundos. São livros desta fase: A Viuvinha e Cinco Minutos, Diva, Senhora, A Pata da Gazela, Sonhos D'ouro, Lucíola, Encarnação.
     Os romances regionalistas de Alencar representam quadros de várias regiões brasileiras: o sul (O Gaúcho), a área rural fluminense (O Tronco do Ipê) e o nordeste (O Sertanejo). Através da exploração dessas características regionais do país, Alencar busca criar uma literatura verdadeiramente nacional, marcada pela exaltação dos diversos tipos e das diferentes paisagens brasileiras.
     Como criador de romances indianistas, Alencar tenta representar um selvagem que simbolize a autonomia americana e a afirmação nacional. Cria personagens indígenas marcados pelas qualidades morais, pela honra e pela pureza, influenciado pela teoria do “bom selvagem” de Rosseau. São índios, na verdade, que representam os valores da cristandade e da nobreza, idealizados ao extremo, muitas vezes perdendo, na obra de Alencar, as características próprias de sua cultura. Além disso, na tentativa de ressaltar valores nacionais, Alencar resvala no conflito simplista entre bem e mal, colonizador e colonizado, selvagem e civilizado. Suas principais obras são: O Guarani, Iracema e Ubirajara. Finalmente, os romances históricos de Alencar exploram as lutas pela posse da terra e pelas riquezas brasileiras, mostrando as aventuras dos bandeirantes, o povoamento dos sertões e os conflitos entre brasileiros e portugueses. Suas principais obras são: As Minas de Prata, O Garatuja e A Guerra dos Mascates.
     Joaquim Manuel de Macedo (Rio de Janeiro - RJ, 1820 – 1882) Médico, professor, deputado, historiógrafo, dramaturgo, poeta e romancista, Macedo foi uma figura popular de seu tempo. A literatura foi sua atividade principal. Foi freqüentador assíduo das rodas sociais e literárias do Rio de Janeiro, onde era conhecido como o Dr. Macedinho. Embora tivesse toda essa popularidade, morreu pobre e esquecido. 
     Foi membro do Instituto Histórico e patrono da cadeira número vinte da Academia Brasilea de Letras. Foi um dos iniciadores do romance brasileiro. Seu livro de estréia, A Moreninha, lhe deu grande sucesso e notável importância nacional. Escreveu, posteriormente, muitos outros livros, com temática parecida: histórias de amor, cheia de sentimentalismo e uma visão do mundo real e da vida familiar. 
     Macedo foi feliz na análise psicológica e moral de certos tipos humanos. Escreveu romances, novelas e contos: A Moreninha (1844), O Moço Loiro (1845), Os Dois Amores, Rosa, Vicentina, O Forasteiro, Os Romances da Semana, A Luneta Mágica, As Vítimas Algozes, As Mulheres de Mantilha, A Namoradeira, Um Noivo e Duas Noivas. Escreveu, ainda, peças de teatro: Cobé, O Cego, O Fantasma Branco, O Primo da Califórnia, Lusbela, Cincinato Quebra-louça, Vingança por Vingança e também o poema-romance: A Nebulosa (1857). 
     Visconde de Taunay (Rio de Janeiro - RJ, 1843 – 1899) Professor, engenheiro militar e político, pintor e romancista. Freqüentou o Colégio Pedro II onde se bacharelou em Letras, em 1858. Em 1862, iniciou o curso de engenharia militar. Participou da expedição enviada a Mato Grosso para invadir o Paraguai pelo norte. A coluna entrou em território paraguaio, mas foi forçada a empreender a Retirada da Laguna a Aquidauana. Narrou Taunay esse terrível fato no livro A Retirada da Laguna (1871). 
     O ambiente de Mato Grosso é retratado em Inocência – a obra mais importante de Taunay, considerado o melhor romance romântico regionalista. Esse romance tem valor: pelo estilo pitoresco; pelo emprego de termos e expressões típicas e regionais; pela descrição de aspectos da paisagem brasileira. Visconde de Taunay escreveu ainda: Lágrimas do Coração, Manuscrito de uma Mulher, No Declínio, Céus e Terras do Brasil e outras obras. No texto a seguir, o autor de Inocência descreve as impressões de Cirino quando, pela primeira vez, vê a moça.


AUTORES DA PRIMEIRA GERAÇÃO 
     Manuel Antônio Álvares de Azevedo (São Paulo, 1831 – Rio de Janeiro – RJ, 1852) Aos dezesseis anos recebe o diploma de bacharel em Letras. Na Faculdade de Direito de São Paulo, Álvares de Azevedo deixa-se contagiar pelos ideais românticos ali existentes; participa,então, da “Sociedade Epicuréia”, cujos sócios têm o nome das principais personagens de Byron e os imitam. Dotado de uma extraordinária cultura literária, Álvares de Azevedo torna-se um poeta original, abrindo novos horizontes à poesia brasileira. Foi o primeiro poeta vítima do implacável “mal do século”. A sua obra reflete tédio, autodestruição. O poeta busca refúgio no álcool, na vida boêmia, na morte. São temas constantes em seus livros: a idéia de morte e a fuga da vida real para um mundo de sonhos e fantasias. Segundo Jung, “Álvares de Azevedo pode ser alojado na família de Prometeu, acorrentado em suas próprias e íntimas cadeias. Essas cadeias se foram enrodilhando em sua alma ao aproximar-se dos vinte anos”.
     Outros temas freqüentes na obra de Álvares de Azevedo: o satanismo, o anticlericalismo, a dúvida, a descrença, a devoção filial. O poeta deixa-nos os poemas: Meu Sonho, Se eu Morresse Amanhã!, Lembrança de Morrer, Um Canto do Século, Adeus, nos quais se evidencia a obsessão pela morte, causada pela ânsia do amor. Lira dos Vinte Anos é o seu livro mais importante. Nele o autor revela forte influência de Byron. Nele há excesso de subjetivismo, de imaginação, de erotismo e também a presença da morbidez, do amor dividido entre o espírito e a matéria, da dúvida, morte, solidão, auto-ironia. Álvares de Azevedo morre antes de ter completado vinte e um anos. Por essa razão, sua obra apresenta algumas imperfeições próprias da imaturidade do poeta, que as escreve dente os dezesseis e os vinte anos.
     No entanto, é justo reconhecer qualidades da obra de Álvares de Azevedo: simplicidade formal, emprego parcimonioso de metáforas e imagens, inovação na construção de seus versos. Segundo Manuel Bandeira, “Álvares de Azevedo, em verdade, rapaz morigerado e estudioso, viveu pela imaginação a experiência amarga dos seus modelos da Europa”.

     Casimiro José Marques de Abreu (São João da Barra-RJ, 1837 – Nova Friburgo-RJ, 1860) Poeta lírico e melancólico; seus versos impressionam pela espontaneidade e pela simplicidade. Era intenção de seu pai que Casimiro de Abreu se dedicasse ao comércio, mas, muito cedo, sente forte inclinação para a poesia. Aos catorze anos parte para a Europa, onde escreve boa parte de suas poesias. Longe da pátria e atormentado pela nostalgia, pouco a pouco vai definhando, acometido de tuberculose que o levou à morte aos vinte e três anos. É pequena a obra poética de Casimiro de Abreu. Este escritor nunca “viveu o amor-tragédia, de Gonçalves Dias nem o amor sensual de Álvares de Azevedo” (Soares Amora). Seu amor é simples, puro como nos poemas: Cena Íntima, A Valsa, O Baile.

     No final de sua vida é dominado por uma crise pessimismo, de tristeza e escreve Livro Negro. Casimiro de Abreu deixou-nos, de forma marcante, a poesia da saudade: Canção do Exílio, Meus Oito Anos, Minha Terra – poemas escritos em Portugal, onde adquiriu sua educação literária. Luís Nicolau Fagundes Varela (Rio Claro-SP, 1841 – Niterói-RJ, 1875) .
     Aos dezenove anos vem para São Paulo e matricula-se na Faculdade de Direito, abandonando o curso dois anos mais tarde. Com a morte de seu filho primogênito, passa a ter uma vida boêmia. Mais tarde, transfere-se para a Faculdade de Direito de Recife. Com a morte da esposa, volta para São Paulo. Vive inquieto e torturado, sempre procurando refúgio na natureza. Leva uma vida errante, mas continua escrevendo. 
     Poeta de grande cultura e sensibilidade, mas de pouca originalidade, Fagundes Varela continua a obra dos primeiros grandes poetas românticos brasileiros edeles herda certas características. Daí a razão da diversidade de tendências em sua poesia: o indianismo, segundo Gonçalves Dias, o subjetivismo e o byronismo de Álvares de Azevedo e de Casimiro de Abreu. 
     Fagundes Varela é também um poeta elegíaco: escreveu o poema Cântico do Calvário, em versos decassílabos brancos, em memória de seu filho, que morrera aos três meses de idade. Escreveu, ainda, poemas de cunho social e patriótico, sendo, por isso, considerado um poeta de transição entre a segunda e a terceira fase romântica. 
     Deixa-nos várias obras: _ Noturnas (1861); O Estandarte Auriverde (1863); Vozes d'América (1864); Cantos e Fantasias (1865); Cantos Meridionais (1869); Cantos do Ermo e da Cidade (1869); Anchieta ou o Evangelho das Selvas (1875); Cantos Religiosos (1878). Luís José Junqueira Freire (Salvador-BA, 1832 – 1855).
     Em princípios de 1851, ingressa no Mosteiro de São Bento, mas, por motivo de doença, teve de afastar-se da vida claustral. Sua obra poética apresenta três aspectos: o social, o lírico e o religioso. Este último é um reflexo de seus problemas espirituais, das incertezas que lhe atormentavam a consciência e a vida. 
     A poética de Junqueira Freire, segue, no seu conjunto, os preceitos do Romantismo; apresenta particularidades referentes ao ritmo do poema e a preferência ao verso branco. Junqueira Freire deixou-nos: Inspiração do Claustro e Contradições Poéticas.

     Visconde de Araguaia (Rio de Janeiro – RJ, 1811 – Roma-Itália, 1882) Domingos José Gonçalves de Magalhães (Visconde de Araguai) exerceu função diplomática, foi historiador, dramaturgo e poeta. Formou-se em Medicina, foi professor de Filosofia no Colégio Pedro II e ministro em Washington e em Roma, junto à Santa Sé. Fundou, em Paris, a revista Niterói – Revista Brasiliense, com o propósito de divulgar a reforma romântica de nossas letras; era intenção de Gonçalves de Magalhães reformar a vida literária em nosso país, de acordo com os ideais românticos.
     Gonçalves de Magalhães publica, em Paris, em 1836, Suspiros Poéticos e Saudades, considerado o primeiro livro romântico brasileiro. Essa obra tem valor histórico uma vez que é de grande importância para o estudo da introdução do Romantismo no Brasil e da reforma nacionalista da nossa literatura. Gonçalves de Magalhães era também um poeta épico. Escreveu, em 1856, A Confederação dos Tamoios, poema em dez cantos, versos decassílabos, estrofação livre. Nele o poeta trata das lutas dos tamoios contra o povo colonizador, nas quais Anchieta e Nóbrega assumem um papel de grande importância. Tentou o cultivo de todos os gêneros:
_ novela: Amãncia (1844);
_ poesia lírica: Suspiros Poéticos e Saudades (1836);
_ poesia épica: A Confederação dos Tamoios (1856);
_ teatro (em verso): Antônio José ou o Poeta e a Inquisição (1839).

     Antonio Gonçalves Dias (Caxias – MA, 1823 – São Luis – MA, 1864). Descendente de três raças, pois era filho de português e cafusa (mestiça de negro e índio), Gonçalves Dias transmite em sua obra a marca dessa origem. Estudou na Europa, em Coimbra, onde concluiu o curso de Humanidades e se diplomou em Direito. Aí viveu catorze anos de sua curta existência.
     Poeta de fértil imaginação e acentuada sensibilidade, lança, em 1846, seu livro da estréia: Primeiros Cantos. O indianismo é nota marcante na obra de Gonçalves Dias. Embora não tenha sido ele o introdutor deste tema na poesia brasileira, é considerado o maior autor indianista brasileiro. O índio em seus poemas é interpretado como um herói dentro de um cenário vivo e exuberante. Gonçalves Dias defende-o da dominação dos brancos invasores. Deixou o que há de melhor na poesia indianista brasileira: 
I-Juca Pirama. Escreveu também Os Timbiras, poemas incompletos em versos brancos . Parte dele se perdeu no naufrágio do navio Vile de Boulogne, que levou à morte o poeta quando voltada da Europa. 
     Ao lado da poesia indianista, Gonçalves Dias escreveu belas páginas líricas. Muitos temas e formas de sua poesia servirão de modelos para autores de períodos posteriores ao Romantismo. A temática de Gonçalves Dias Poesia indianista O indianismo expressava o tipo ideal do homem brasileiro. Uma vez que na literatura brasileira não apreciam os heróis típicos da Idade Média, nossos escritores românticos exaltavam em suas obras a figura do índio, cultivavam o mito do “bom selvagem”, segundo Jean Jacques Rousseau. Este tema do índio, na literatura brasileira, em várias fases: na barroca, em certos autos de Anchieta; na fase arcádica, o índio é valorizado nas obras Uraguai e Caramuru; na fase romântica, com Gonçalves Dias, no poema I-Juca Pirama.


AUTORES DA TERCEIRA GERAÇÃO 

     Antônio Frederico de Castro Alves (Curralinho-BA, 1847 – Salvador – BA, 1871) Castro Alves fez os primeiros estudos na Bahia. Em 1864, conheceu a atriz Eugênia Câmara, sua amante. É ela quem o estimula na carreira literária. Em 1868, Castro Alves vem para São Paulo, onde trava conhecimento com José de Alencar e Machado de Assis. Matricula-se na Faculdade de Direito do Largo São Francisco e, juntamente com seus colegas, participa do movimento abolicionista. Em 1870, seu pé esquerdo é amputado, em conseqüência de um tiro acidental, numa caçada. Muito fraco e tuberculoso, volta para a Bahia, onde morre com apenas vinte e quatro anos.
     Castro Alves – o expoente máximo da terceira geração romântica – dá a seus versos um caráter social e revolucionário. É ele um romântico que não segue a linha de seus predecessores, presos às sugestões do passado. O cantor dos escravos volta-se para o futuro. Com um entusiasmo fervoroso, defende a causa dos humildes, dos escravos. Castro Alves é o porta-voz de uma mensagem cristã e humanitária para redenção dos negros. Antes dele nenhum poeta apresentou a paisagem e o homem nacionais na forma poética de modo tão brasileiro. As poesias castroalvinas, pelos seus temas, enquadram o autor numa fase de transição entre o Romantismo e o Realismo. Uma boa parte de sua obra ficou inacabada, em virtude de sua morte prematura. O único livro de versos que publicou foi Espumas Flutuantes, em 1870, em Salvador.
     A poesia de Castro Alves caracteriza-se por: grandiloqüência dos versos, predominantemente oratórios; temas sociais e políticos; ideais de igualdade. Seus versos contribuem, de foram decisiva, para a formação de nossa consciência liberal, abolicionista e republicana. Alguns aspectos merecem ser destacados na produção literária de Castro Alves:
a) a poesia social, abolicionista (gênero épico): O poeta, neste tipo de poesia, vale-se de metáforas, antíteses, hipérboles e apóstrofes. Os poemas mais expressivos são: O Navio Negreiro, Vozes d'África, A Cruz na Estrada.
b) a poesia amorosa (gênero lírico): Motivos constantes em seus versos: o perfume, os cabelos femininos, os seios. Grande é a importância dada ao sexo;
c) a poesia patriótica: Ode ao Dois de Julho, recitada no teatro de São Paulo, e Pedro Ivo;
d) a poesia da natureza: Castro Alves é o pintor da natureza bravia, virgem e trágica. Explora os elementos: mar, infinito, vastidão, além do vôo do condor e do albatroz. A poesia abolicionista é a melhor de sua obra; nela o poeta denuncia as injustiças sociais, clama pela liberdade, repudia a escravatura.
     Escreveu: Os Escravos, A Cachoeira de Paulo Afonso, O Livro e a América, Deusa Incruenta, A Imprensa, Mocidade e Morte, Hinos do Equador.

Joaquim de Souza Andrade (Sousândrade) (Guimarães-MA, 1833 – São Luis – MA, 1902) Este autor, pouco conhecido, vem ganhando importância na atualidade, visto que sua obra é inovadora em relação à sua época. Seus escritos começaram a ser alva de estudos literários após 1960, quando se descobre que Sousândrade produziu obras em que a linguagem tem papel de destaque. Há, em suas obras, neologismos e palavras de origens diversas (do tupi-guarani, inglês, português arcaico), criando textos revolucionários para sua época.
     É considerado, inclusive, um dos precursores do Concretismo, corrente literária surgida por volta de 1960. De sua obra, é conveniente destacar o poema narrativo Guesa Errante, que funde uma lenda latino-americana com a visão capitalista de Wall Street, explorando de uma maneira crítica a oposição entre os indígenas e os colonizadores. O indígena mostrado na obra de Sousândrade opõe-se ao selvagem idealizado por Gonçalves Dias, pois simboliza o índio descaracterizado pelo contato com o branco. Sousândrade não foi assimilado por sua época, por apresentar uma obra vanguardista, está distante dos demais autores românticos, e só mereceu atenção dos críticos literários na atualidade.



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