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domingo, 15 de janeiro de 2012

O PARNASIANISMO

Introdução 
     Parnasse (em português, Parnaso e daí Parnasianismo) origina-se de Parnassus (região montanhosa da Grécia). Segundo a lenda, aí morava os poetas. O Parnasianismo é uma estética literária de caráter exclusivamente poético. A poesia parnasiana volta-se para um mundo onde há o ideal da perfeição estética e a sublimação da “arte pela arte”. 

Origem 
     Os franceses, primeiros parnasianos, buscaram o ideal da perfeição clássica na Grécia antiga. A revista Parnasse Contemporain foi publicada numa época em que a revolução industrial e o crescimento urbano haviam superado as revoluções liberais da fase romântica. A França teve quatro grandes poetas parnasianos: Théofile Gautier, o “poeta de cores e contornos”, preocupa-se em praticar a arte pela arte; Théodore de Banville, em seu Tratado de Poesia Francesa, apresenta alguns ritmos da poesia francesa; Charles Baudelaire, escreve Flores do Mal (1857), onde repudia tudo que seja vulgar; Leconte de Lisle, para quem a poesia foi uma espécie de religião; fez poesia erudita, épica e filosófica. 

Características 
     Retorno a tradição clássica; Poemas descritivos; Reação contra o ultra-romantismo muito em voga em meados do século XIX; abandono do sentimentalismo romântico; preferência por temas universais; Tom comedido na descrição de sentimentos pessoais; Temas objetivos baseados na natureza e na história; ânsia por tudo aquilo que é exterior e particularizado: vasos gregos, orgias gregas, bacanais latinos, velhos alfarrábios, cenas de batalhas, etc. Os parnasianos revelam em seus poemas o gosto pelo exótico, pela raridade; observa-se o uso de rimas ricas e raras, métrica rigorosa e preferência pelas formas fixas; a poesia é como um trabalho de ourives. O Parnasianismo tem como principal objetivo a elaboração de textos bem burilados que levem à beleza absoluta, à perfeição formal.  A arte pela arte, isto é, a poesia volta-se para o belo; há acentuado desprezo por temas vulgares. 
O PARNASIANISMO NO BRASIL 
Panorama histórico 
     Grandes acontecimentos históricos marcam a geração do parnasianos brasileiros. A abolição da escravatura (1888) coincide com a estréia literária de Olavo Bilac. No ano seguinte, houve a queda do regime imperial com a Proclamação da República. A transição do século XIX para o século XX representou para o Brasil: um período de consolidação das novas instituições republicanas; fim do regime militar e desenvolvimento dos governos civis; restauração das finanças; impulso ao progresso material. 
     Depois das agitações do início da República, o Brasil atravessou um período de paz política e de prosperidade econômica. Um ano após a Proclamação da República, instalou-se a primeira Constituição e, em fins de 1891, Marechal Deodoro dissolve o Congresso e renuncia ao poder, sendo substituído pelo “Marechal de Ferro”, Floriano Peixoto. Precursores Floresceu o Parnasianismo no Brasil entre 1870 e 1880, sob a influência da poesia francesa e sob a influência da Questão Coimbrã. Foram precursores do Parnasianismo brasileiro: Luís Guimarães Júnior: Sonetos e Rimas (1880); Afonso Celso: Telas Sonantes (1876); Sílvio Romero: Cantos do Fim do Século (1878); Martins Júnior: Estilhaços (1879), Visões de Hoje (1881); Machado de Assis: Ocidentais (1880); Teófilo Dias: Fanfarras (1882). 


POETAS DO PARNASIANISMO BRASILEIRO 

     Olavo Bilac (Rio de Janeiro- RJ, 1865-1918) Olavo Bilac publica, em 1888, Poesias, quando o Parnasianismo brasileiro já estava definido como um novo estilo, graças ao trabalho de Raimundo Correia e de Adalberto de Oliveira. Olavo Bilac, o mais talentoso dos três, no prefácio de seu livro de estréia, sintetiza os princípios da “nova escola” no poema Profissão de fé. Olavo Bilac dedica-se à poesia e ao jornalismo, contra a vontade do pai que o queria médico. Rompe definitivamente com seu pai por ter um espírito boêmio e inconstante. Foi jornalista, poeta, crítico, orador.
     Fez inúmeras viagens e, estando em Paris, a revista Fon-Fon cognominou-o “príncipe dos poetas brasileiros”. O presidente Wenceslau Brás, preocupado com a Primeira Grande Guerra, na Europa, em 1914, conta com o prestígio de Bilac junto à mocidade brasileira, na propaganda da obrigatoriedade do serviço militar. Bilac faz, então, conferências, pregando o patriotismo. Foi o autor da letra do Hino à Bandeira, musicada pelo maestro Francisco Braga. O seu livro Poesias contém três partes distintas:
_ Panóplias: poemas onde há:
a) predomínio das descrições ornamentais;
b) referência à cultura greco-latina; Via-láctea: trinta e cinco sonetos impregnados de um lirismo amoroso platônico; Sarças de fogo: poemas eróticos e satíricos.
    Tarde, seu livro póstumo, contém admiráveis sonetos, diferentes dos de Via-láctea; comparáveis aos de Camões e de Antero de Quental, quer pela beleza formal, quer pelo conteúdo.

Características da obra de Olavo Bilac

     Sensualidade e platonismo alternam-se em seus poemas líricos; Formalismo; Utilização de temas greco-romanos, principalmente da mitologia; Uso freqüente da natureza; Exaltação da pátria; Didatismo sobre temas como trabalho, pátria, família, etc.

Antonio Mariano Alberto de Oliveira (Saquarema – RJ, 1859 – Niterói – RJ, 1937) Diploma-se em farmácia; inicia, mas não conclui o curso de Medicina. Ao lado de Machado de Assis, faz parte ativa na Fundação da Academia Brasileira de Letras. Foi doutor honoris causa pela Universidade de Buenos Aires. Elegem-no “príncipe dos poetas brasileiros” num concurso promovido pela revista Fon-Fon, para substituir o lugar deixado por Olavo Bilac. Alberto de Oliveira foi coerente aos princípios formais da nova corrente literária. Seu livro de estréia, Canções Românticas (1878), já apresenta características renovadoras.
     Publica, em 1885, Sonetos e Poemas. Publica, ainda, Meridionais (1884), que, segundo Péricles Eugênio, é “o livro mais equilibrado do mestre parnasiano”. Características da poesia de Alberto de Oliveira Objetividade; Impassibilidade e correção técnica; Excessiva preocupação formal; Sintaxe rebuscada; Fuga ao sentimental e ao piegas; apreciador da leitura clássica, conhecedor da língua e da versificação, é considerado por muitos como o mais perfeito dos parnasianos.

Raimundo da Mota de Azevedo Correia (Costas do Maranhão – MA, 1859 – Paris-França, 1911) Poeta e diplomata brasileiro, foi considerado um dos inovadores da poesia brasileira. Quando secretário da legação diplomática brasileira em Portugal, publica aí uma coletânea de seus livros na obra Poesia (1898). De volta ao Brasil, assume a direção do Ginásio Fluminense de Petrópolis. Com a saúde bastante abalada, Raimundo Correia retorna à Europa, vindo a falecer em Paris. Raimundo Correia publica Primeiros Sonhos, com vinte anos de idade. 
     Nessa época, os ânimos de poetas vinculados ao Romantismo e adeptos da “poesia nova” mostram-se acesos na chamada Batalha do Parnaso, reflexo da Questão Coimbrã. Raimundo Correia, aluno da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, empolga-se pela vida acadêmica, surgindo nele um ardente sentimento de liberalismo a ponto de declamar em praça pública poemas de Antero de Quental. Entusiasmado pelas novas idéias, escreve Sinfonias (1883) – obra de considerável importância para a cristalização da estética parnasiana na literatura brasileira. Em 1887, escreve Versos e Versões e, em 1891, publica Aleluias, poesia com tons levemente religiosos e metafísicos. 
 
Vicente Augusto de Carvalho (Santos – SP, 1866 – São Paulo – SP, 1924) Poeta e magistrado brasileiro, formou-se, em 1886, pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Nessa época era um ardente abolicionista e republicano. Publicou: Ardentias (1885) – primeira coletânea de versos; Relicário (1888) – poemas líricos. Sua melhor obra foi Poemas e Canções (1908), prefaciada por Euclides da Cunha - coleção de poesias esparsas, compostas ao longo de vinte anos, inclusive Rosa, Rosa de Amor, um dos mais inspirados poemas líricos. Vicente de Carvalho é parnasiano pela escolha de temas objetivos, entre eles um épico: Fugindo ao Cativeiro. Em 1909 foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras. Escreveu ainda: Páginas Soltas (1911) – prosas literárias; Luizinha (1918) – peça teatral. Deixou fragmentos do poema Fausto.

sábado, 24 de dezembro de 2011

ARCADISMO

 
     O Arcadismo (termo derivado de Arcádia – região da Grécia onde pastores e poetas se dedicavam ao pastoreio e à poesia; viviam em perfeita harmonia com a natureza), também chamado de Neoclassicismo ou Setecentrismo, foi o estilo de época que sucedeu ao Barroco, nos fins do século XVIII. Por extensão, o Arcadismo passou a designar espécies de academias onde se reuniam poetas, estudantes e eruditos. A primeira Arcádia de que se tem notícia foi fundada em 1690, na Itália, por amigos da rainha Cristina, ex-soberana da Suécia.
Essa rainha, que abdicara do trono sueco, costumava reunir seus amigos para discutir problemas ou ler trabalhos literários e científicos. Após sua morte, os freqüentadores de seus salões decidem fundar uma Arcádia, para manterem as reuniões. Os integrantes da agremiação, denominados pastores, adotavam pseudônimos de origem grega ou latina.

Panomara histórico europeu
     No século XVIII, o povo europeu encontra, na França, o modelo de renovação cultural. O Iluminismo francês espalha-se por toda a Europa e atinge Portugal, transformando o século XVIII no Século das Luzes (período histórico-filosófico, nitidamente racionalista). O Iluminismo caracteriza-se pela confiança no poder da razão e na possibilidade de se reorganizar radicalmente a sociedade.
     As idéias religiosas são combatidas por essa onda de racionalismo. O Marquês de Pombal, ministro de D. José I, leva o bom termo a renovação cultural e o progresso de Portugal. São expulsos do país os jesuítas, e o ensino, até então religioso, passa a ser leigo. A cultura jesuítica dá lugar ao Neoclassicismo.

Panorama histórico brasileiro
     A sociedade brasileira passa por grandes mudanças. Com a crise da lavoura açucareira (no Nordeste) e com a descoberta de minas de ouro e pedras preciosas, a economia do Brasil centraliza-se na região de Minas Gerais (onde há a extração do minério) e no Rio de Janeiro, capital da Colônia.
     É em Vila Rica que ocorrem acontecimentos de significativa importância: a mineração, a Inconfidência Mineira. Por ocasião, forma-se um grupo de escritores na região (o chamado grupo mineiro).
     Os poetas, como Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga participam da Conjuração Mineira. Circulam, por essa época, manuscritos anônimos das Cartas Chilenas – sátira violenta contra os desmandos e prepotência da administração portuguesa no Brasil. Cada lugar possui uma maneira particular de sentir e expressar a realidade.
     A literatura é a manifestação real da cultura de um povo. A simplicidade natural da poesia árcade européia encontra, no Brasil, ambiente propício à exteriorização do sentimento do poeta: apego aos valores nacionais. O nativismo é o nome dado a esse sentimento. O poeta árcade encontra no tipo de vida em contato com natureza o ideal: a vida pastorial. Por isso, os escritores têm pseudônimos: Cláudio Manuel da Costa é o Glauceste Satúrnio, Tomás Antônio Gonzaga é o Dirceu. O “fingimento poético” é que dá verossimilhança às poesias bucólicas dos árcades. Embora conservem as características do Arcadismo europeu, os árcades mineiros utilizam aspectos da natureza brasileira como tema de suas poesias.

 
CARACTERÍSTICAS DO ARCADISMO


      O Arcadismo é um movimento de reação ao exagero barroco, que havia alcançado um ponto de saturação. Racionalmente, influenciados pelas idéias iluministas francesas, os poetas buscam a retomada da simplicidade e resgatam alguns princípios da Antiguidade, por considerarem ser este o período de maior equilíbrio e pureza.

     Há três princípios latinos básicos para a compreensão desse estilo de época: a) Carpe diem (aproveita o dia): máxima proposta pelo poeta latino Horácio. Significa viver o presente, aproveitando-o ao extremo, visto que o tempo passa rapidamente.
b) Inutilia truncat (cortar o inútil): desejo de retirar dos textos tudo o que for excessivo, exagerado ou redundante.
c) Fugere urbem (fugir da cidade): princípios de valorização da natureza, vista como lugar de perfeição e pureza, em oposição à cidade, onde tudo é conflito.
A partir destes três princípios fundamentais o Arcadismo, é possível compreender as demais características do período:

1 – retomada da teoria aristotélica da arte como imitação da natureza, usando a razão. O poeta apreende o sentido de perfeição expresso pela natureza e tenta reproduzi-lo ao escrever;
2 – respeito às teorias literárias dos antigos, utilizando as normas poéticas da Antiguidade;
3 – simplicidade na forma e no conteúdo dos poemas; versos curtos; ausência de rimas em alguns versos;
4 – bucolismo (exaltação da vida do campo, uso de cenários pastoris);
5 – presença da mitologia, num retorno aos valores clássicos;
6 – equilíbrio entre a razão e a fantasia, através de uma “disciplina literária” a ser estabelecida pelas Arcádias e seguida por seus membros;
7 – uso de palavras simples, de fácil entendimento, sem serem vulgares;
8 – desejo de dar à literatura uma função social, de caráter didático e doutrinário. A literatura deve ser acessível a todos;
9 – preocupação com a finalidade moral da literatura;
10 – desejo de mostrar uma realidade onde nada seja feio, idealizando-a.


O ARCADISMO EM PORTUGAL – BOCAGE

     O Arcadismo português vai desde 1756 (fundação da Arcádia Lusitana) até 1825, data da publicação do poema Camões, de Almeida Garrett, que marca o início do estilo de época seguinte – o Romantismo. O principal autor do Arcadismo em Portugal é Bocage, que apresenta também uma fase mais próxima do Romantismo.
     Manuel Maria Barbosa du Bocage, de origem francesa pelo lado materno, nasce em Setúbal, 1765, e falece em Lisboa, 1805. Muito cedo começa a escrever versos. Ingressa, em 1783, na Academia da Marinha, onde mantém contato com poetas e boêmios da época. Fixou-se em Lisboa, em 1790, ano que marca o início de sua atividade literária. Consegue renome, compondo uma elegia sobre a morte do filho do Marquês de Marialba. Nos últimos meses de sua vida, reconcilia-se com a religião e escreve os célebres sonetos: Meu ser evaporei na lida insana e Já Bocage não sou.
     Deixou-nos uma vasta obra – Rimas (1791 – 1804). Bocage é considerado o maior e o melhor poeta árcade da literatura portuguesa. Cultivou a poesia satírica, mas revelou-se um dos grandes sonetistas portugueses em suas composições líricas. Bocage adotou o pseudônimo de Elmano Sadino. Note que Elmano é o próprio nome Manuel, em forma de anagrama, e Sadino refere-se ao rio Sado, da cidade de Setúbal, onde nasceu o poeta.


O ARCADISMO NO BRASIL 

     Dentre os autores que se dedicaram ao Arcadismo no Brasil, podemos citar Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Silva Alvarenga, Frei José de Santa Rita Durão, Basílio da Gama, entre outros. Vejamos os principais: 
_ Cláudio Manuel da Costa (Mariana-MG, 1729 – Vila Rica-MG, 1789) Adotou o pseudônimo de Glauco Satúrnio. Formado em Direito pela Faculdade de Coimbra, foi um dos participantes da Inconfidência Mineira e condenado à forca, em 1789. Foi um dos fundadores da Arcádia Ultramarina e publicou o livro Obras, que reúne suas poesias líricas. A forma preferida por ele, em seus poemas, era o soneto. Escreveu também um poema épico – Vila Rica – de grande valor histórico por relatar a vida gerada em torno da atividade da mineração. 
_ Tomás Antônio Gonzaga (Porto-Portugal, 1744 – Moçambique, 1810) Sob o pseudônimo de Dirceu, escreveu poesias líricas, nas quais fala de seus sentimentos amorosos por Marília – pseudônimo de Maria Dorotéia deSeixas. Também envolveu-se na conspiração mineira e, por isso, foi exilado; em Moçambique, casou-se com outra mulher. 
_ Basílio da Gama (Tiradentes-MG, 1741 – Lisboa-Portugal, 1795) Basílio da Gama compôs poemas líricos, mas tornou-se famoso por O Uruguai, poema épico em cinco cantos. Nele encontramos as mesmas partes de Os Lusíadas, de Camões: proposição, invocação, dedicação, narração e epílogo, embora não haja uma seqüência rígida. Em O Uruguai, Basílio da Gama retrata a luta travada entre portugueses e espanhóis contra indígenas das missões dos Sete Povos do Uruguai, instigados pelos jesuítas. 
     Nesse poema, percebe-se que a intenção do poeta é política; Basílio da Gama pretende criticar a ação dos jesuítas, elevar o aspecto humano dos silvícolas e agradar ao Marquês de Pombal. Entre os guerreiros indígenas estão Cepé e Cacambo, a feiticeira Tanajura e Lindóia. No cenário, destaca-se a paisagem brasileira. O episódio mais conhecido de O Uruguai é o que a heroína Lindóia, sabendo da morte de seu marido Cacambo e, para fugir à desonra de ter de casar-se com um inimigo, suicida-se, deixando-se picar por uma serpente venenosa.
_ Santa Rita Durão (Cata-Preta-MG, 1722 – Lisboa-Portugal, 1784) Frei José de Santa Rita Durão segue fielmente o modelo camoniano. Seu poema épico Caramuru, em dez cantos, apresenta as cinco partes da epopéia tradicional: proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo. Caramuru é publicado em 1781, na cidade de Lisboa. O assunto do poema gira em torno da lenda do náufrago português Diogo Álvares Correia, no Recôncavo baiano. Santa Rida Durão, tanto quanto Basílio da Gama, expressa no seu poema Caramuru apego à terra brasileira, simpatia pelo povo nativo. Moema morre por amor, como Lindóia.

terça-feira, 21 de junho de 2011

LUÍS VAZ DE CAMÕES

     (1524? - 1580) Luís de Camões é considerado o poeta máximo da língua portuguesa (épico e lírico). Desde muito cedo ganha fama de conquistador. Apaixona-se por Catarina de Ataíde, cujo nome é celebrado no poema Natércia. Fica cego da vista direita, quando luta pelas tropas portuguesas, na África.
     É preso por envolver-se em uma rixa durante uma procissão de Corpus Christi. No cárcere, inicia o poema épico Os Lusíadas. Livre, embarca para as Índias, onde exerce o cargo de Provedor dos Ausentes e Defuntos. Nas Índias, escreve mais seis cantos de sua obra. De volta à terra natal, é vitíma de um naufrágio; salva-se a nado com o seu manuscrito. Na cidade do Porto conclui Os Lusíadas. 
     Dedica-se a obra a D. Sebastião, que lhe concede uma pensão de quinze mil réis anuais. Camões escreve ainda: Anfitriões, El-Rei Seleuco e Filodemo; 286 sonetos, 122 elegias, algumas sátiras e poesias bucólicas. 
     A obra de Camões pode ser subdividida em dois gêneros: Lírico e Épico. 

     Camões Lírico 

     A lírica camoniana é bastante variada quanto à forma dos poemas, que foram produzidos tanto na medida velha quanto na nova. É importante notar que isso ocorreu simultaneamente, e não em fases sucessivas. Camões escreveu:
_ redondilhas (antigamente estrofes de quatro versos; mais tarde, passa a ser a composição de cinco ou sete sílabas (redondilha menor e maior)); 
_ sonetos; 
_ éclogas (poesia pastoril, em geral dialogada); 
_ odes (palavra grega que significa canto; composição lírica composta de estrofes simétricas); 
_ elegias (poema lírico cujo tom é quase sempre terno e triste, uma espécie de lamentação fúnebre); 
_ canções; 
_ vilancetes. 

     Destaca-se dos demais poetas lusos pela profundidade do pensamento e pela qualidade da linguagem, especialmente nas redondilhas e nas éclogas. Sem dúvida nenhuma, é no soneto que Camões atinge o máximo do lirismo português. Seus sonetos serviram, posteriormente, de inspiração a Bocage, a Olavo Bilac e a Vicente de Carvalho. 

Camões Épico 

     A obra épica de Camões é o poema Os Lusíadas, inspirado nas epopéias clássicas (Íliada, Odisséia, Eneida). Tendo como porta-voz o navegador Vasco da Gama, na realidade Os Lusíadas tem como personagem principal o próprio povo lusitano, cujos feitos corajosos são exaltados. Portugal, que atingira o máximo de glória durante o período das grandes navegações, começa a entrar em decadência e Camões tenta, com sua obra, reerguer o espírito português. A obra conta a viagem de Vasco da Gama às Índias, ressaltando a coragem dos portugueses e contando vários episódios da história de Portugal. Dividido em 10 cantos, este poema épico possui 1102 estrofes, num total de 8816 versos, todos decassílabos. Essa disposição das rimas recebe o nome de oitava rima ou oitava real. 

     A estrutura da obra é a seguinte, de acordo com o modelo clássico; 
a) proposição: o que o poeta pretende cantar; 
b) invocação: o poeta pede às Tágides (ninfas do Tejo) para ajudá-lo a compor num “estilo grandíloco e corrente”; 
c) dedicatória: o poeta oferece a obra ao rei D. Sebastião; 
d) narração: toma grande parte da obra: vai do verso 19 até o final do canto X. O poeta narra a viagem de Vasco da Gama às Índias, como pretexto para contar as peripécias dos lusos; 
e) epílogo: compreende um trecho do canto X. Nele, o poeta faz referência aos feitos futuros do povo português.

quarta-feira, 9 de março de 2011

HUMANISMO


Panorama histórico

Com o surgimento da burguesia e o enfraquecimento do poder dos senhores feudais, inicia-se um período em que as relações comerciais se avolumam: o mercantilismo. O poder passa a centralizar-se nas mãos do Rei, que procura atender aos interesses da classe emergente, pois é ela quem concentra agora as riquezas. Assim se expandem as fronteiras comerciais, através das navegações ultramarinas e Portugal faz sua primeira conquista em 1415, tomando a região de Ceuta.
Em 1348, a peste negra dizima um terço da população portuguesa gerando, nos anos seguintes, uma considerável escassez de mão-de-obra para as pequenas indústrias artesanais que surgem. As relações sociais se alteram. Os nobres empobrecem e as pessoas de classes sociais menos favorecidas começam a enriquecer, através do comércio. A Igreja vai, aos poucos, perdendo seu poder, agravado pelo surgimento de uma divisão interna que leva à existência de dois papas, um na França e outro na Itália.
Com isso, o teocentrismo e a religiosidade, marcantes na Idade Média, começam a decrescer. O progresso, as navegações e o predomínio do poder econômico sobre o status da nobreza fazem com que o homem se descubra como senhor de sua própria vida e não como mero reflexo de Deus. Esta visão antropocêntrica (o homem como centro do universo) culmina com o aparecimento do Renascimento, na busca dos ideais clássicos como forma de recuperar a independência do espírito humano.


Panorama Cultural

O Humanismo foi um movimento cultural que se definiu na Itália, no século XIV, período de transição entre a Idade Média e o Renascimento. Petrarca foi um dos precursores do Humanismo (1304-1374). De certo modo, Petraca representa um traço de união entre a vida intelectual moderna e a Idade Média.
As produções do Humanismo revelam a passagem do teocentrismo para o antropocentrismo. As pinturas não têm mais como tema único as cenas religiosas, passando a retratar também aspectos da vida mundana. A produção diminui e verificam-se períodos de tendência medieval alternando-se com fases nitidamente humanistas.




Humanismo - Poesia e Teatro


A poesia do Humanismo português está reunida no Cancioneiro Geral, publicado em 1516. Essa coletânea deve-se ao poeta Garcia de Resende. Contém cerca de 1.000 poesias de vários autores. Diferenciando-se da poesia trovadoresca, a chamada poesia palaciana é feita para ser lida, e não mais cantada, como eram as cantigas medievais.
Além disso, apresenta uma visão menos idealista da mulher, visto que, sem a rígida divisão entre classes sociais na Idade Média, o amor torna-se possível entre pessoas de categorias sociais diferentes. Vejamos outras diferenças entre a poesia trovadoresca e a palaciana:

Poesia trovadoresca
_ a música é essencial para a expressão da poesia; os versos vêm com um acompanhamento musical.
_ a poesia expressa “grave e profundo sentimento”: de tristeza e saudosismo. _ a poesia é feita para ser cantada.
_ tema: o fingimento de amor e o amor-cortês – a vassalagem amorosa.
_ nem sempre a paixão se reveste de caráter pecaminoso, adúltero, mas o trovador consagra à sua dona um amor platônico, sem esperança, fingido, produto da imaginação.
_ rigidez de forma.
_ via de regra, o namorado é tímido; não ousa manifestar o seu amor.

Poesia palaciana
_ a música dissocia-se da palavra: há ausência de acompanhamento musical. A musicalidade é utilizada apenas como recurso de linguagem.
_ a poesia expressa “cousas de folgar e gentilezas”. (Garcia de Resende).
_ a poesia é feita para ser lida e declamada.
_ tema: amor-cortês, numa concepção diferente do Trovadorismo.
_ o amor platônico não é tão freqüente: os poetas palacianos são mais realistas.
_ maior artificialismo e opulência verbal na poesia palaciana.
_ são freqüentes as poesias de índole religiosa, especialmente as em louvor à Virgem Maria.
_ são muitas as formas usadas para o desenvolvimento dos mais variados temas.


Teatro

As representações teatrais sempre foram muito apreciadas nas cortes portuguesas. Nos palácios reais, os bobos e truões (atores cômicos) eram encarregados de distrair a nobreza, fazendo mímicas ou representando pequenas farsas, geralmente encerradas com um número musical. Além disso, eram freqüentes as dramatizações de caráter religioso, nas quais se representavam mistérios cristãos e cenas da vida dos santos. O objetivo dessas peças era instruir e ensinar preceitos morais à assistência.

Às vezes, essas representações eram ambulantes, com atores percorrendo as ruas das aldeias e cidades. Apesar disso, considera-se Gil Vicente o fundador do teatro português. Este autor soube aproveitar os elementos cênicos anteriores, de caráter profano ou religioso, dando-lhes forma dramática e utilizando seu estilo característico. Observador atento de seu tempo, Gil Vicente construiu uma verdadeira galeria de personagens típicos da época. Em suas peças, são comuns as figuras do fidalgo decadente, da moça que deseja se casar, da alcoviteira (espécie de agenciadora de casamentos), do padre pouco interessado nas coisas espirituais, etc.
Gil Vicente evidencia em sua obra o preconceito existente contra os judeus, por exemplo, vistos com desconfiança por representarem a burguesia em ascensão. A obra vicentina é um reflexo da sociedade portuguesa dos princípios do século XVI, com suas classes sociais, seus vícios, seus costumes religiosos e suas atividades culturais.



O Humanismo na Literatura Portuguesa



     O Humanismo português vai desde a nomeação de Fernão Lopes para o cargo de cronista-mor da Torre do Tombo, em 1434, até o retorno de Sá de Miranda da Itália, em 1527, quando começou a introduzir em Portugal a nova estética clássica.


     Torre do Tombo: arquivo do Reino, onde se guardavam os documentos oficiais. A Torre do Tombo foi destruída por um terremoto em 1755, mas o arquivo conservou sempre o mesmo nome.


     O termo Humanismo literário é usado comumente para designar o estudo das letras humanas em oposição à Teologia. Na Idade Média, predomina a concepção teocêntrica, em que tudo gira em torno dos valores religiosos. A partir do Humanismo desenvolve-se uma nova concepção de vida: os eruditos defendem a reforma total do homem; acentuam-se o valor do homem na terra, tudo o que possa tornar conhecido o ser humano; preocupam-se com o desenvolvimento da personalidade humana, das suas faculdades criadoras; têm como objetivo atualizar, dinamizar e dar uma nova vida aos estudos tradicionais; empenham-se em fazer a reforma educacional.


     Nesse período da história literária, são cada vez mais lidos e apreciados os autores gregos e latinos. A estética medieval – rude e grosseira – é substituída pela grego-latina – harmoniosa e culta. O latim passa a ser a língua de muitos humanistas, que se deixam tomar de grande entusiasmo pelo saber, pelas artes clássicas.
     A produção literária portuguesa desse período pode ser subdividida em:
_ Prosa: a) Crônicas de Fernão Lopes, b) Prosa doutrinária e c) Novela de cavalaria
_ Poesia: Poesia palaciana
_ Teatro: Obra de Gil Vicente


Prosa


     Conhecido como o “Pai da Historiografia portuguesa”, Fernão Lopes foi encarregado por D. Duarte de guardar os arquivos da Torre do Tombo, onde se achavam os principais documentos sobre Portugal. Incumbido de escrever relatos sobre os acontecimentos de diversos períodos históricos (as chamadas crônicas), Fernão Lopes destacou-se como um prosador dono de um estilo rico e movimentado. Não se limitando a tecer elogios a reis, como a outros cronistas da época; fez descrições detalhadas não só do ambiente da corte, mas também das aldeias, das festas populares e, principalmente, do papel do povo nas guerras e rebeliões.
     São de sua autoria:
_ A Crônica de El-Rei D. Pedro I: narrativa dos principais acontecimentos de seu reinado;
_ A Crônica de El-Rei D. Fernando: narrativa dos fatos que ocorreram desde o casamento de D. Fernando com Leonor Telles até o início da Revolução de Avis;
_ A Crônica de El-Rei D. João I: narrativa dos acontecimentos relativos a seu reinado (1385-1411), quando é assinado a paz com Castela.
     Fernão Lopes é reconhecido como historiador de inegável méritos e verdadeiro narrador-artista preocupado não apenas com a verdade do conteúdo de suas narrativas, mas também com a beleza da forma. É reconhecido também pela sua capacidade de observar e analisar personagens históricas.
     Fernão Lopes analisou com objetividade e justiça os documentos históricos: foi cauteloso em determinar a verdade histórica, ao confrontar textos e versões sobre um mesmo acontecimento.


Prosa Doutrinária


     Estas obras destinavam-se ao aprendizado de determinadas artes, muito em moda na época:
_ Livro da montaria;
_ Livro da falcoaria;
_ Leal conselheiro (um verdadeiro guia sobre sentimentos humanos).


Novela de Cavalaria


     Como já vimos no Trovadorismo, a novela de cavalaria relatava os feitos históricos de um corajoso cavaleiro, em alguma nobre missão. Neste período, é escrita a novela Amadis de Gaula, que conta a história do cavaleiro Amadis, apaixonado por Oriana, por que se lança em inúmeras aventuras.

TROVADORISMO

     As origens da literatura portuguesa remontam ao século XII, quando Portugal se constituiu como um país independente. Nessa época, com a unificação da linguagem de Portugal e Galiza, passou-se a utilizar a língua galego-portuguesa. Dois traços marcantes devem ser lembrados para uma visão da sociedade da época: o teocentrismo, no plano religioso, e o feudalismo, no plano político-econômico.
     Com o teocentrismo, isto é, a centralização da vida humana em Deus, expressava-se a intensa religiosidade, que acompanhou toda a luta dos portugueses empenhados na expulsão dos mouros da Península Ibérica.
     Com o feudalismo, os nobres que possuíssem feudos exerciam os poderes do governo por meio de um sistema de vassalagem, que era baseado numa espécie de contrato que implicava obrigações mútuas entre o senhor e o vassalo. Os vassalos obedeciam ao senhor e o serviam pela proteção e ajuda econômica que dele recebiam. Esse sistema de vassalagem refletiu-se na poesia trovadoresca, principalmente nas cantigas de amor, em que o trovador se colocava normalmente na condição de vassalo diante da dama.
     É uma cantiga de amor o primeiro documento literário português, datado de 1189 (ou 1198). Trata-se da “Cantiga da Ribeirinha” (ou “da Guarvaia”), do poeta Paio Soares de Taveirós, dedicada a D. Maria Paes Ribeiro, a Ribeirinha. Esse poema assinala o início da época trovadoresca, que se estende até 1418, quando Fernão Lopes é nomeado arquivista oficial da Torre do Tombo. Os poetas dessa época eram chamados de trovadores.
     A palavra trovador vem do francês trouver, que significa “achar”, “encontrar”. Dizia-se que o poeta “achava” a música adequada ao poema e cantava acompanhado de instrumentos como a cítara, a viola, a lira ou a harpa. A poesia trovadoresca tem sua importância como documento da história de nossa língua, de costumes da época e como inspiradora do lirismo de poetas de escolas posteriores.
     As poesias trovadorescas estão reunidas em cancioneiros. Os mais importantes são:
_ O Cancioneiro da Ajuda, o mais antigo, com 310 cantigas;
_ O Cancioneiro da Vaticana, pertencente à Biblioteca do Vaticano, com 1205 cantigas;
_ O Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa, anteriormente chamado de Colocci-Brancutti, com 1647 cantigas.

Panorama Histórico

Na história da literatura portuguesa o Trovadorismo é a primeira escola literária. Esse movimento literário compreende o período que vai, aproximadamente, do século XII ao século XIV. A partir da segunda metade do século XII, Portugal começava a afirmar-se como reino independente, embora ainda mantivesse laços econômicos, sociais e culturais com o restante da Península Ibérica. Desses laços surgiu, próximo à Galícia (região do norte do rio Douro), uma língua particular, de traços próprios, chamada galego-português.
A produção literária dessa época foi feita nesta variação lingüística. A cultura trovadoresca refletia bem o panorama histórico desse período: as Cruzadas, a luta contra os mouros, o feudalismo, o poder espiritual do clero.
O período histórico em que surgiu o Trovadorismo foi marcado por um sistema econômico e político chamado feudalismo, que consistia numa hierarquia rígida entre senhores: um deles, o suserano, fazia a concessão de uma terra (feudo) a outro indivíduo, o vassalo. O suserano, no regime feudal, prometia proteção ao vassalo como recompensa por certos serviços prestados. Essa relação de dependência entre suserano e vassalo era chamada de vassalagem.
Assim, o senhor feudal ou suserano era quem detinha o poder, fazendo a concessão de uma porção de terra a um vassalo, encarregado de cultivá-la. Além da nobreza (classe a que pertenciam os senhores feudais) e a classe dos vassalos ou servos, havia ainda ‘outra classe social: o clero. Nessa época, o poder da Igreja era bastante forte, visto que o clero possuía grandes extensões de terra, além de dedicar-se também à política.
Os conventos eram verdadeiros centros difusores da cultura medieval, pois era neles que se escolhiam os textos filosóficos a serem divulgados, em função da moral cristã. A religiosidade foi um aspecto marcante da cultura medieval portuguesa. A vida do povo lusitano estava voltada para os valores espirituais e a salvação da alma.
Nessa época, eram freqüentes as procissões, as romarias, além das próprias Cruzadas – expedições realizadas durante a Idade Média, que tinham como principal objetivo a libertação dos lugares santos, situados na Palestina e venerados pelos cristãos. Essa época foi caracterizada por uma visão teocêntrica (Deus como o centro do Universo). Até mesmo as artes tiveram como tema motivos religiosos. Tanto a pintura quanta a escultura procurava retratar cenas da vida de santos ou episódios bíblicos. Quanto à arquitetura, o estilo gótico é o que predominava, através da construção de catedrais enormes e imponentes, projetadas para o alto, à semelhança de mãos em prece tentando tocar o céu.
Na literatura, desenvolveu-se em Portugal um movimento poético chamado Trovadorismo. Os poemas produzidos nessa época eram feitos para serem cantados por poetas e músicas (trovadores, menestréis, jograis e segréis). Recebiam o nome de cantigas, porque eram acompanhados por instrumentos de cora e de sopro. Mais tarde, essas cantigas foram reunidas em Cancioneiros: o da Ajuda, o da Biblioteca Nacional e o da Vaticana.
Trovador: poeta que compunha a letra e a música de canções; em geral era uma pessoa culta.
Jogral: cantor e tangedor ambulante, em geral de origem plebéia.
Menestrel: músico-poeta sedentário; vivia na casa de um fidalgo, enquanto o jogral andava de terra em terra.
Segrel: trovador profissional, fidalgo desqualificado que ia de corte em corte, acompanhado de um jogral. Continua...



A POESIA MEDIEVAL PORTUGUESA

A produção poética medieval portuguesa pode ser agrupada em dois gêneros:
_ gênero lírico: em que o amor é a temática predominante; são as cantigas de amor e as cantigas de amigo;
_ gênero satírico: em que o objetivo é criticar alguém, ridicularizando esta pessoa de forma sutil ou grosseira; a este gênero pertencem as cantigas de escárnio e as cantigas de maldizer.

Gênero Lírico

Dentro do gênero lírico, o texto que dá início à literatura portuguesa chama-se Canção da Ribeirinha, escrita possivelmente em 1189, por Paio Soares de Taveirós. Segundo Dona Carolina Michaëlis de Vasconcelos, essa cantiga foi dedicada à ribeirinha (Maria Pais Ribeiro), favorita de D. Sancho I, segundo rei de Portugual. Há dois tipos de poemas pertencentes ao gênero lírico, no Trovadorismo:

a) Cantiga de amor: a cantiga de amor é de influência provençal (Provença – região do sul da França). Esse tipo de cantiga mostra o amor cortês da época; o poeta fala em seu próprio nome, exprimindo seus sentimentos amorosos pela dama cortejada. É um amor de realização impossível, pois sua amada é casada ou pertence a uma classe social superior à sua. Por não ser correspondido, o homem sofre (coita d'amor), exterioriza suas queixas, humilha-se aos pés da amada, como um servo (vassalagem amorosa).
Sempre respeitoso, o eu-lírico masculino jamais revela o nome de sua amada, enfatizando sempre que ela é superior a ele. A mulher é chamada de mia senhor e o eu-lírico tece elogios à sua beleza, ao mesmo tempo em que sofre por saber que jamais poderá tocá-la. Influenciado pela moral cristã, o poeta se dispõe a um afastamento casto de sua amada, desejando-a, respeitosamente, a distância.

b) Cantiga de Amigo: originou-se na Península Ibérica. Nas cantigas de amigo, o trovador expressa os sentimentos que ele supõe que a amada lhe dedique. A principal característica das cantigas de amigo é o sentimento do eu-lírico feminino, embora elas sejam escritas por um homem. A cantiga de amigo procura mostrar a mulher dialogando com sua mãe, com uma amiga ou com a natureza, sempre preocupada com sue amigo (namorado).
Outras vezes, o próprio amigo é o destinatário do texto, como se a mulher desejasse fazer-lhe confidências de seu amor. Mais populares, as cantigas de amigo não se ambientam em palácios, e sim em lugares mais simples, como o campo, as igrejas, etc. Mostram, muitas vezes, cenas do cotidiano, em que a moça vai lavar roupa, vai a uma romaria ou freqüenta uma festa.
As cantigas de amigo apresentam alguns aspectos que as diferenciam das cantigas de amor:
_ os temas são mais variados que nas cantigas de amor; _ por serem cantigas populares, a linguagem é menos rica e mais musical;
_ destinam-se ao canto e à dança;
_ nelas são configurados os problemas sociais e políticos.

Além disso, quanto à forma, é freqüente o uso do refrão (repetição de versos) e do paralelismo (construção que se repete com pequenas alterações a cada estrofe). Quando não apresenta refrão, a cantiga é considerada melhor elaborada, recebendo o nome de cantiga de maestria ou maestria.


OS CANCIONEIROS

Se hoje temos acesso a textos do trovadorismo é graças à compilação feita em três grandes cancioneiros:
a) Cancioneiro da Ajuda: assim designado por conservar-se na Biblioteca do Palácio da Ajuda, em Lisboa, no qual são agrupadas 310 cantigas de amor.
b) Cancioneiro da Vaticana: encontrado em Roma, na biblioteca do Vaticano, datado dos fins do século XV. Contém 1205 cantigas de todos os tipos.
c) Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa: o mais completo dos três, com 1647 poesias. Foi copiado na Itália, no século XVI; pertenceu a um humanista italiano, Ângelo Colocci, e, no século XIX, foi encontrado na biblioteca do Conde Brancutti. Por isso, às vezes, é também chamado de Cancioneiro Colocci-Brancutti.

TIPOS DE CANTIGA 
     Havia dois tipos de cantigas: 
1) a cantiga lírico-amorosa, que se subdividia em cantiga de amor e cantiga de amigo. 
2) a cantiga satírica, que podia ser de escárnio ou de maldizer. Veja, a seguir as principais características de cada uma.  

Cantigas de Amor 
     Quem fala no poema é um homem, que se dirige a uma mulher da nobreza, geralmente casada. Esse amor se torna impraticável pela situação da mulher. O homem sofre, coloca-se numa posição de vassalo, isto é, de servo da mulher amada. Ele cultiva esse amor sem segredo, sem revelar o nome da dama, que nem sabe dos sentimentos amorosos do trovador. Ele a coloca num plano elevadíssimo, ideal. Nesse tipo de cantiga há a presença de refrão que insiste na idéia central, exaltando um amor sem correspondência. Ex: A Ribeirinha, de Paio Soares de Taveirós.  

Cantiga de Amigo 
     O trovador coloca como personagem central uma mulher solteira, da classe popular. Pela boca do trovador, ela canta a ausência do amigo (amado, namorado) que está afastado a serviço do rei, em expedições ou em guerras. Nesse tipo de poema, a moça conversa e desabafa seus sentimentos de amor com a mãe, as amigas, as árvores, as fontes, o mar, os rios, etc. É de caráter narrativo e descritivo. 

Cantiga Satírica 
     Ora se chama cantiga de escárnio, ora de maldizer. Esse tipo de cantiga procurava satirizar (ridicularizar) pessoas e costumes da época. Alguns poetas, em seus ataques agressivos, chegavam a utilizar uma linguagem de baixo nível (chula).

GÊNEROS LITERÁRIOS

Gênero Lírico 

A poesia lírica nem sempre teve o mesmo sentido. Entre os gregos, essa composição poética era cantada e acompanhada pela lira (um dos instrumento s musicais mais antigos, muito estimada pelos gregos, tornou-se emblema de Apolo e dos poetas em geral), daí o seu nome. Posteriormente, a expressão poesia lírica generalizou-se e passou a ser toda a composição poética em que predominava o subjetivismo, que refletia o mundo interior do artista: os seus sentimentos e emoções, como o amor, a saudade, a tristeza, a melancolia, etc.      
O gênero lírico apresenta-se, de modo especial, em versos (soneto, ode, elegia, balada, madrigal, sátira, epitalâmio, etc). 
_ Ode: tem sua origem na poesia clássica grega. É uma poesia entusiástica, de exaltação. 
_ hino: ligada à estrutura da ode, é uma poesia de louvor à pátria ou às divindades. 
_ elegia: poema lírico de tom quase sempre terno e triste. 
_ madrigal: constitui um dos gêneros mais importantes da música profana italiana.
_ epitalâmio: canto ou poema nupcial. 


Gênero Épico 

A palavra epopéia vem do grego épos (verso) + poieô (faço). Constitui um dos grandes e mais antigos gêneros literários. Trata-se de uma narrativa feita, essencialmente, em versos; é sobretudo um canto, um poema de exaltação. A epopéia narra grandes feitos heróicos. Sua principal característica é ter um narrador que fala dos acontecimentos grandiosos e heróicos da história de um povo. Um dos elementos da epopéia e o “maravilhoso”, isto é, a ação dos deuses se faz presente para a “grandeza e majestade” do poema. 
Dentre os poemas épicos destacam-se: 
_ Ilíada e Odisséia, de Homero; 
_ Eneida, de Virgilio; 
_ Paraíso Perdido, de Milton;
_ Orlando Furioso, de Ariosto;
_ Jerusalém Libertada, de Torquato Tasso;
_ Os Lusíadas, de Luís de Camões. No Brasil, as principais epopéias foram: _ Uruguai, de Basílio da Gama;
_ Caramuru, de Santa Rita Durão.
A partir de fins do século XVIII, este gênero começa a desaparecer para da lugar à narrativa em prosa, o romance (gênero oriundo da epopéia, muito utilizado no Romantismo). Gênero Dramático A palavra dramático vem de drama, que em grego significa ação. No gênero dramático não há narrador. Por isso, os textos são próprios para serem encenados.
A partir do momento em que o texto literário é representado no teatro por atores, passa a ser uma arte mista: literatura, coreografia e música conjugam-se. No palco, os atores representam as personagens que ora dialogam, ora monologam. A fala do narrador, neste caso, é substituída pela rubrica. Portanto, o enredo, neste gênero literário, é fundamental. No texto literário, quando encenado, a linguagem verbal combina-se com a não-verbal (gestos, expressões fisionômicas, etc.).
Existem vários tipos de textos pertencentes ao gênero dramático:
_ a tragédia: de origem clássica, seu objetivo principal era inspirar medo e compaixão aos que a assistiam, através da exposição de cenas de grandes feitos de virtude ou de crime, além de desgraças ou infortúnios, castigos e traições. Acreditava-se que, por meio da tragédia, se “purificavam” os sentimentos.
_ a comédia: tem sua origem nas festas em honra ao deus Dionísio; é voltada a provocar riso através de contrastes. Tem por objetivo criticar o comportamento humano através do ridículo;
_ a tragicomédia: mistura das duas anteriores, em que ocorrem acontecimentos tristes, mas o desfecho é feliz;
_ o drama: espécie de modernização da tragicomédia, em que se alternam momentos de alegria e dor;
_ a farsa: representação mais leve, em que se ridicularizam costumes ou elementos da sociedade, apelando para a caricatura;
_ o auto: composição dramática, com argumento geralmente bíblico, burlesco e também alegórico. O auto constitui uma das formas mais populares do antigo teatro português. Os mais notáveis autos pertencem a Gil Vicente.


Gênero Narrativo
     Na atualidade, passou-se a chamar de gênero narrativo ao conjunto de obras em que há narrador, personagens e uma seqüência de fatos. É uma variante do gênero épico. Abrange várias modalidades de textos em que aparecem os seguintes elementos:
a) foco narrativo: presença de um elemento que relata a história como participante (narrativa em primeira pessoa). Alguns autores observam, ainda, que o narrador pode ser também onisciente, quando apesar de não participar diretamente da história, conhece até mesmo o pensamento das personagens.
b) enredo: é a seqüência de fatos, podendo seguir a ordem cronológica em que eles ocorrem (sucessão temporal dos fatos), ou a ordem psicológica (sucessão de fatos, segundo as lembranças ou evoluções das personagens, apresentando, muitas vezes, flashbacks ou voltas ao passado).
c) personagens: seres criados pelo autor com características físicas e psicológicas determinadas.
d) tempo e espaço: o momento e o local em que os fatos são narrados e onde se desenrolam.
e) conflito: situação de tensão entre elementos da narrativa.
f) climax: a situação criada pelo narrador vai progressivamente aumentando sua dramaticidade, até que chega a um ponto máximo: o climax.
g) desfecho: momento que sucede o climax, no qual se finaliza a história e cada personagem se encaminha para seu “destino”.
     Ao gênero narrativo pertencem as seguintes modalidades de textos:

O Romance 
     Foi principalmente por influência francesa que em Portugal e no Brasil se passou a dar o nome de romance ao gênero que os escritores portugueses denominavam novela, antes do século XIX. Somente nas literaturas modernas é que o romance alcançou seu pleno desenvolvimento. O romance caracteriza-se por conter:
_ narrativa longa;
_ enredo complexo;
_ um ou vários conflitos das personagens.
     São tidos como romances:
_ Dom Casmurro, de Machado de Assis;
_ Canaã, de Graça Aranha;
_ O Ateneu, de Raul Pompéia (e muitos outros).
     Conforme o conteúdo, os romances classificam-se em históricos, policiais, regionais, de costumes, etc.

A Novela 
     A novela diferencia-se do romance não pelo número de páginas, mas pela técnica de composição. A novela nada mais é do que a condensação dos elementos que formam o romance:
_ diálogos breves;
_ sucessão de conflitos, vistos com mais superficialidade do que no romance;
_ o enredo não traz complexidade;
_ o tempo e o espaço estão conjugados dentro da estrutura novelesca;
_ as narrações e as descrições são condensadas, encaminhando-se logo para o desenlace da história; Camilo Castelo Branco foi considerado o criador da novela passional em Portugal; escreveu várias novelas passionais, entre elas: Amor de Perdição, A Doida do Candal, O Regicida.

O Conto 
     O conto, por ser breve e simples, é um gênero muito cultivado. Apresenta as seguintes características: 
_ tem mais brevidade dramática do que o romance e a novela; 
_ poucos personagens intervém na narrativa; 
_ cenários limitados, espaço restrito; 
_ espaço de tempo curto; 
_ diálogos sugestivos que permitem mostrar os conflitos entre as personagens; 
_ a ação é reduzida ao essencial, há um só conflito; 
_ a narrativa é objetiva: por vezes, a descrição não aparece. 
 
A Crônica 
     É um gênero literário antigo e muito cultivado atualmente. Rubem Braga, Luís Fernando Veríssimo, Lourenço Diaféria, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Stanislaw Ponte Preta são alguns dos mestres na arte de fazer crônicas. Este gênero trata de fatos do dia-a-dia. A ação é rápida, sintética. 
     Há vários tipos de crônicas: humorísticas ou melancólicas; outras primam pela crítica social; alguns apresentam profundos ensinamentos sobre o comportamento humano; 
 
Outros Gêneros 
     O apólogo e a fábula foram gêneros narrativos muito cultivados pelos clássicos. Vejamos as características desses gêneros: No apólogo: 
_ as personagens são seres inanimados; 
_ tem por objetivo um ensinamento moral. 
     Antes do Romantismo, a fábula era um gênero poético. 
     Na fábula: 
_ a história envolve a vida de animais; 
_ apresenta, como o apólogo, uma lição de moral.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O ROMANTISMO NO BRASIL

      No Romantismo, o narrador-personagem expressa seu desejo, seu sonho; idealiza para si mesmo um comportamento com base na simplicidade; supervaloriza os bens adquiridos através de uma vida simples, longe dos vícios da sociedade urbana. Essa fuga da realidade para um mundo de sonhos, esse modo de ver e sentir o mundo exterior, esse modo de agir, atendendo às solicitações de seu espírito, tudo isso são características de um comportamento romântico. 
     Os sonhos, o amor à natureza, o saudosismo, as emoções em geral sempre existiram em qualquer época. Se voltarmos ao período anterior a este, vamos observar que nas composições poéticas de Tomás Antônio Gonzaga e Gregório de Matos encontramos a mesma nota sentimental e subjetivista dos românticos. Mas, em dado momento, esse estado de espírito, esse temperamento romântico acentuou-se, manifestando-se de forma mais exaltada, apaixonada, emocional, vigorosa, configurando-se num estilo de época: o Romantismo. 

Origem e panorama histórico 
     Como vimos anteriormente, o Arcadismo ou Neoclassicismo representou, literariamente, um retorno aos ideais grego-latinos de beleza, equilíbrio e perfeição. Foi um movimento estético em que a razão predominou, subjugando o sentimento, visto que o século XVIII foi denominado o “Século das Luzes”, por orientar-se primordialmente pelo uso da capacidade racional do homem. A partir da segunda metade do século XVIII, porém, o panorama histórico começa a sofrer modificações marcantes que influenciam, de forma decisiva, a produção literária da época. Com a Revolução Industrial e conseqüente alteração no modo de produção, a sociedade divide-se em duas classes distintas: a burguesia capitalista e o proletariado. Politicamente, o absolutismo monárquico dá lugar ao liberalismo, através de movimentos que refletem a ascensão da burguesia, como a Revolução Francesa (1789). 
     Os processos de independência do Brasil e dos Estados Unidos geram lutas civis entre liberais e conservadores, numa tentativa de consolidar as novas forças. Com a industrialização, formam-se as grandes massas urbanas. O mercado literário, antes restrito aos salões da aristocracia, amplia-se e diversifica-se, atendendo aos interesses da nova classe dominante: a burguesia, que passa a ser grande apreciadora dessa arte literária. Os ideais de liberdade acentuam-se, politicamente, e é possível notar seus reflexos na literatura, na frase do escritor francês Victor Hugo: “Nada de regras, nem de modelos”. Como os movimentos literários se formam em diversas regiões simultaneamente, não se pode fixar com precisão o lugar onde o Romantismo surgiu pela primeira vez.
     Na Alemanha, Goethe publica, em 1774, Werther, e Schiller, em 1781, publica Os Salteadores, lançando as bases do sentimentalismo romântico. Na Inglaterra, nos primeiros anos do século XIX, o Romantismo se manifesta através da poesia ultra-romântica de Byron e do romance histórico de Walter Scott intitulado Ivanhoé. Desde 1724, na Escócia, Allan Ramsay, numa forma de reação contra a poesia clássica, cultiva a poesia espontânea, natural e de cor local (conjunto de circunstâncias que caracterizam, numa obra de arte, com maior ou menor fidelidade, um lugar, um ambiente ou uma época). Esta reação anticlássica é mais tarde reforçada e divulgada na França. 
     O Romantismo francês foi fortemente influenciado pelas idéias do filósofo Jean Jacques Rousseau que expôs a teoria de que o homem nasce puro e que a vida em sociedade o corrompe. Segundo Rosseau, só em contato com a natureza é que o homem retorna ao seu estado de pureza original; neste sentido, enfatiza-se a figura do “bom selvagem”, ser humano que não foi corrompido pela civilização. A publicação do poema Camões, de Almeida Garrett, em 1825, é considerada o marco inicial do Romantismo em Portugal, que se consolida a partir de 1836, com a publicação da revista Panorama. Nessa revista aparecem textos literários de Alexandre Herculano e dramas deAlmeida Garret. 
     No Brasil, o movimento romântico iniciar-se em 1836 com a publicação, em Paris, da revista brasiliense Niterói. Um dos seus diretores – Gonçalves de Magalhães – lança, no mesmo ano, Suspiros Poéticos e Saudades – livro de poesias. O Romantismo no Brasil coincide com os movimentos políticos de independência. De fato, a literatura dos princípios do século XIX reflete um profundo sentimento nacionalista. A literatura romântica expressa uma ligação com o movimento libertador de 1822, um desejo de construir uma pátria nova, de criar uma literatura nacional. Segundo Karl Mannheim, “o Romantismo expressa os sentimentos dos descontentes com as novas estruturas: a nobreza decadente e a pequena burguesia em ascensão”. Daí as atitudes saudosistas ou reivindicatórias que caracterizam o Romantismo.


Características do Romantiso

     Entre a segunda metade do século XVIII e primeira do século XIX, com pequenas variações cronológicas de um país para outro, instala-se uma nova estética literária caracterizada basicamente por dois aspectos: a liberdade criadora do artista e a valorização de seu mundo pessoal, através do predomínio da emoção sobre a razão. Além de analisar estas duas características básicas, convém destacar, ainda, vários outros traços da obra romântica:

Anseio de liberdade criadora
     Opondo-se aos ideais clássicos, revividos pelo Arcadismo, o artista romântico nega o princípio de mimesis (imitação) e busca expressar sua realidade interior, sem se preocupar com a forma. Não segue modelos, abandona as rígidas regras de métrica e rima; busca exteriorizar livremente o que lhe vai na alma: liberta seu inconsciente, foge da realidade para um mundo por ele idealizado, de acordo com as suas próprias emoções e desejos. Este anseio de liberdade relaciona-se às teorias de liberdade econômica, visto que as realizações e empreendimentos da burguesia ascendente encontravam apoio no liberalismo. Assim, a arte literária, reflexo de sua época, busca também afirmar-se em sua busca da liberdade criadora.

Subjetivismo
     A realidade é vista através da atitude do escritor. Não existe a preocupação em fazer um retrato fiel e verídico da realidade, pois esta é oferecida ao leitor filtrada e mesmo distorcida pelas emoções do autor. O predomínio de verbos e pronomes possessivos em primeira pessoa ressalta o desejo de trazer à tona os sentimentos interiores, projetando-os sobre o mundo exterior.

Evasão ou escapismo
     A queda dos regimes absolutistas e a ascensão da burguesia provocam, inicialmente, uma fase de euforia, em que se acredita que os ideais de Liberdade – Igualdade – Fraternidade, pregados pela Revolução Francesa, irão se concretizar. Cedo, porém, percebe-se que nem todas as classes sociais terão o direito de atingir esses ideais, pois a distância entre a burguesia capitalista industrial e o proletariado se aprofunda cada vez mais. Assim, desiludidos com seu próprio tempo e insatisfeitos com a realidade que os cerca, muitos autores românticos mergulham no chamado “mal do século”, postura de frustração e imobilismo em face da realidade. Descontentes com a época em que vivem, buscam formas de fugir dela, através de evasões:
_ no tempo: voltando em pensamento a época de sua infância, em que se sentiam protegidos pela figura da mãe ou da irmã ou, ainda, escrevendo textos ambientados na Idade Média, em que a figura heróica dos cavaleiros permite sonhar com grandes feitos e atos marcados pela honra e pela nobreza. É o caso da obra Eurico, o Presbítero, de Alexandre Herculano, por exemplo.
_ na morte: que é vista como solução para as tristezas e a insatisfação. Neste sentido, convém destacar a obra Werther, de Goethe, na qual a idéia de suicídio aparece com intensidade, mostrando-o como a única possibilidade de escapar do sofrimento a que o ser humano se expõe a cada dia.

Senso de Mistério
     Sem conseguir adaptar-se a seu mundo, valorizando a morte como a única saída, o artísta romântico sente atração por ambientes noturnos, misteriosos, como cemitérios, ruas desertas, etc.

Culto a natureza
     Influenciados pelas idéias de Rousseau, os românticos vêem na natureza um refúgio seguro para sua dores, visto que os vícios da civilização não chegam até ela.
     Além disso, é importante lembrar que, no Arcadismo, a paisagem bucólica era utilizada como cenário para os amores do poeta, mais permanecia impassível, indiferente às emoções que ele sentia. No Romantismo, porém, a natureza compartilha o sofrimento do poeta, tornando-se reflexo de seu mundo interior. A natureza passa a ser uma extensão do eu do poeta, mostrando-se triste ou alegre como ele, dependendo de seu estado de espírito.

Reformismo
     Insatisfeitos com seu mundo, o poeta propõe-se a mudá-lo, influenciado pelas correntes libertárias da época.Ansiando por grandes feitos que lhe tragam a glória, o poeta romântico dedica-se a causa sociais, como a abolição da escravatura, a república, etc.


     Em oposição ao paganismo próprio do estilo de época anterior, os românticos cultivam a fé cristã e os ideais religiosos.

Idealização da mulher
     A mulher não é mais vista sob o prisma do platonismo. O artista romântico ressalta a figura da mulher angelical e inatingível para ele, que se julga indigno dela; além disso, a mulher surge como elemento capaz de alterar a vida do poeta, o qual, sem ela, só tera paz na morte.
     A figura materna aparece em destaque, representando o abrigo para o sofrimento e a dolorosa lembrança de um “paraíso perdido”.
     Vale lembrar que, no Romantismo, a sensualidade está presente nas descrições femininas, mas apenas em relação às mulheres por quem o poeta se apaixona e que são, muitas vezes, apresentadas como prostitutas. Assim, a figura feminina oscila entre a pureza e a ingenuidade de um anjo e a luxúria de uma prostituta.


Cronologia


     O Romantismo, no Brasil, configura-se da seguinte maneira:
de 1808 a 1836 – Pré-romantismo;
de 1836 a 1856 – o Romantismo propriamente dito;
de 1856 a 1870 – período de transição para o Realismo e o Parnasianismo


Primeiras manifestações


     A imprensa literária e política teve um papel importante na fase inicial do Romantismo brasileiro: O Correio Brasileiense (1808 – 1822); As Variedades e Ensaios de Literatura (1812) – primeira revista literária do Brasil, fundada na Bahia, por Diogo Soares; O Patriota (1813 – 1814) – jornal literário, político e mercantil, fundado no Rio de Janeiro. Foi por intermédio da imprensa que se divulgaram as primeiras manifestações reformadoras da época. O jornalismo contribuiu para a definição do ambiente propício ao desenvolvimento do Romantismo em nossas terras.
     O cultivo da poesia, em edições de autores portugueses e brasileiros, em traduções em prosa e em verso datam de 1810.
     Em 1836, Gonçalves de Magalhães publica, em Paris, a Niterói – Revista Brasiliense, dando o impulso inicial ao movimento romântico brasileiro.
     Nesse mesmo ano e local, Gonçalves de Magalhães publica Suspiros Poéticos e Saudades, livro de poesias românticas.


Panorama histórico e cultural


     Para se compreender bem o Romantismo no Brasil, é necessário não esquecer os movimentos políticos, que consolidaram a independência, que coincidiram com as manifestações românticas.


Fatos históricos


Revolução Industrial – Inglaterra (1760)
Revolução Francesa (1789)
A vinda da família real para o Brasil (1808)


Fatos literários
Movimento romântico



     O período histórico em que surge o Romantismo no Brasil é marcado pelo crescente sentimento de nacionalismo e pelo desejo de criar nossa independência política e econômica.
     Além disso, com a vinda da família real portuguesa, em 1808, o Rio de Janeiro destaca-se como centro urbano, para o qual convergem artistas e ao qual chegam as mais recentes tendências da Europa. Com a abertura dos portos e a criação de indústrias (até então proibidas) fortalece-se o comércio. O pólo de riquezas desloca-se de Minas Gerais, cujas cidades haviam florescido com a extração mineral, para o Rio de Janeiro e, posteriormente, para São Paulo, onde começa a se desenvolver a cultura cafeeira. O Romantismo brasileiro é um reflexo de outros fatos importantes:
     Em 1816, Jean Baptiste Debret bem para o Brasil com um grupo de artistas franceses, para formar aqui a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios. São apresentadas cerca de cinqüenta telas da pintura francesa e italiana. Nessa época, destacam-se ainda, outros artistas: na pintura, Pedro Américo e Vítor Meireles; na música, Carlos Gomes e Alberto Nepomuceno.
     Em 1822, o Brasil alcança a sua autonomia política. Escritores de renome tomam consciência de sua função dentro do panorama cultural brasileiro.
     Em 1833, a Sociedade Filomática, da Faculdade de Direito de São Paulo, comemora a independência do Brasil em um manifesto nacionalista e romântico: o abandono dos temas clássicos; a busca de temas nacionais e de uma “língua brasileira”.
     Esse movimento, entretanto, não teve a repercussão conseguida pelo grupo da revista Niterói.
Em 1837, Gonçalves de Magalhães e Araújo Porto Alegre iniciam a campanha em prol da fundação de um teatro nacional. 


A Prosa Romantica no Brasil


     Os jornais e a literatura O Romantismo é fruto de um complexo movimento de idéias políticas, sociais e artísticas. Esse movimento encontra, no Brasil, um clima propício ao seu desenvolvimento. O público leitor, representado por pessoas da aristocracia rural, encontra na literatura um meio de entretenimento.
     O objetivo dos primeiros jornais, no século XIX, é expandir a cultura entre os leitores médios.  O jornalismo literário conta com vários adeptos. Os romances de folhetim, de crítica literária, de crônicas passam, então, a ser cultivados. Surgem cronistas importantes, entre eles José de Alencar. Dos seus folhetins, Ao Correr da Pena (1851-1855), sairão mais tarde romances urbanos como Senhora, Sonhos D'ouro, pautados em observações do autor sobre a sociedade do tempo. França Junior – o mais prestigiado cronista da época – publica seus folhetins nos jornais O Globo Ilustrado, O País, O Correio Mercantil. É preciso frisar que a difusão, em livro ou em jornal, de traduções livres, resumos de romance e narrativas populares da cultura estrangeira contribuiu bastante para a divulgação e consolidação desse novo gênero literário.
     A prosa ficcional A ficção (romance, novela e contos) se inclui entre os gêneros literários preferidos pelo Romantismo. Com o estabelecimento da corte imperial no Brasil e com o crescente desenvolvimento de alguns núcleos urbanos, o público jovem começa a tomar um certo interesse pela literatura. É do agrado desse público leitor o romance que tenha uma história sentimental, com algum suspense e um desfecho feliz.
     O romance romântico no Brasil tem como características marcante o nacionalismo literário. Entende-se por nacionalismo a tendência em escrever sobre coisas locais: lugares, cenas, fotos, costumes brasileiros. Essa tendência contribuiu para a naturalização da literatura portuguesa no Brasil. O romance foi uma forma verdadeira de pesquisar, descobrir e valorizar um país novo.
     Nesse período do Romantismo brasileiro, a imaginação e a observação dos ficcionistas alargaram o horizonte da terra e do homem brasileiro. Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar, Visconde de Taunay, Bernardo Guimarães, Franklin Távora foram os expoentes máximos da ficção romântica no Brasil. A narrativa, no romance romântico, é feita em terceira pessoa. Tanto na poesia, como na ficção (exceto no teatro) a linguagem está impregnada de elementos plásticos e sonoros, de imagens e comparações; a linguagem é descritiva.
     O Romantismo no Brasil é considerado um marco importante na história da literatura brasileira, porque coincide com o momento decisivo de definição da nacionalidade, que visa a valorizar e reconhecer o passado histórico. Classificação do romance romântico brasileiro É possível agrupar os romances românticos do Brasil a partir da temática de cada um deles. Formam-se inicialmente dois grandes grupos, abordando diferentemente a corte e a província, a partir dos quais podem ser feitas algumas subdivisões:
a) Corte: urbano. Autores: Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar, Manuel Antônio de Almeida.
b) Província: Regionalista – autores: José de Alencar, Bernardo Guimarães, Visconde de Taunay, Franklin Távora. Histórico – autores: José de Alencar, Visconde de Taunay. Indianista – autores: José de Alencar.

Romance urbano

     Ambientado na corte, o romance urbano caracteriza-se pela crônica de costumes, retratando a vida social da época. A pequena burguesia é apresentada sem grande aprofundamento psicológico, visto que a sociedade brasileira, ainda pouco urbanizada, não propicia análises de suas relações sociais pouco variadas. Cenas de saraus, bailes, passeios ao campo, etc. alternam-se com complicações de caráter social e moral, como casamentos, namoros, bisbilhotices, etc.
     São romances urbanos: A Moreninha, O Moço Loiro, A Luneta Mágica, de Joaquim Manuel de Macedo; Memórias de umSargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida; Diva, Lucíola, Senhora, A Pata da Gazela, Cinco Minutos e A Viuvinha, de José de Alencar.

Romance regionalista

     O ambiente rústico, rural é focalizado. A atração pelo pitoresco leva o escrito romântico a pôr em evidência tipos humanos que vivem afastados do meio citadino. Isso observamos nos livros: O Cabeleira, de Franklin Távora; O Sertanejo, de José de Alencar; O Garimpeiro, A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães; Inocência, de Visconde de Taunay.

Romance histórico

     Está ligado, pelo assunto, ao romance de “capa e espada”; revela o gosto pelo suspense e a ênfase à vingança punitiva. Há uma volta ao passado histórico, medieval. Apesar da influência estrangeira, pouco a pouco o romancista volta-se para a reconstituição do clima nacional; procura ser fiel aos hábitos, instituições e modus vivendi.

Romance indianista

     O romancista procura valorizar as nossas origens. Há a transformação das personagens em heróis, que apresentam traços do caráter do bom selvagem: valentia, nobreza, brio. Essa tendência do romance romântico encontramos nas obras: O Guarani, Iracema e Ubirajara, de José de Alencar.


Divisão do Romantismo no Brasil 
     Em relação à poesia, podemos agrupar a obra romântica em três gerações:
_ 1ª Geração: temática – nacionalista / indianista; autores: Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias, Araújo Porto Alegre
_ 2ª Geração: temática – “mal-do-século” / ultra-romantismo; autores: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela, Junqueira Freire
_ 3ª Geração: temática – social e libertária; autores: Castro Alves, Tobias Barreto, Sousândrade

     Quanto à prosa romântica, os autores que se destacaram foram:
_ Joaquim Manuel de Macedo;
_ José de Alencar;
_ Bernardo Guimarães;
_ Franklin Távora;
_ Alfredo Taunay;
_ Manuel Antônio de Almeida.

Primeira Geração Romântica (indianista / nacionalista)
     Esta geração é marcada intensamente pela busca de uma identidade nacional. Voltados para a recuperação das tradições brasileiras, por influência de autores europeus, os poetas desta primeira geração tentam resgatar, através da figura do índio, do herói que, na Europa, foi encontrado na Idade Média. O cenário tropical, retratado em toda a sua exuberância, é usado como motivo de orgulho e patriotismo. O poeta desta fase exalta a natureza brasileira, inserindo nela um indígena idealizado, nobre como um cavaleiro das Cruzadas, cheio de fidalguia e honra, corajoso e belo. É ele quem vai simbolizar nossas raízes, ao mesmo tempo em que enaltece as características próprias do povo brasileiro e ressalta a importância da independência.

Segunda Geração Romântica (ultra-romântica) 
     É chamada de geração byroniana devido a influência de Byron e de Musset – românticos europeus que levaram ao extremo a exacerbação dos sentimentos e fantasias mórbidas. Os principais temas das composições poéticas desse período giram em torno de: egocentrismo, dúvidas, tristezas, pessimismo, desenganos, tédio, amor insatisfeito, depressão, auto-ironia masoquista, obsessão pela morte como solução para os problemas emocionais. O tema predileto dos poetas ultra-românticos é a fuga da realidade.
     Como conseqüência dessa total insatisfação perante a realidade, há a morte prematura de um grande número de jovens (entre 20 e 30 anos), constituindo-se num verdadeiro “mal do século”. Os poetas brasileiros dessa fase do Romantismo dão grande ênfase à vida sentimental. A poesia, desse modo, é intimista e egocêntrica. As figuras mais representativas da segunda geração romântica são: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire. A geração byroniana caracteriza-se por:
a) pessimismo: reflexo de uma atitude de insatisfação perante a vida. A angústia, a tristeza, o desespero e o tédio são temas constantes na poesia individualista e subjetivista da geração do chamado “mal do século”;
b) morbidez: a morte é vista como saída para as crises de depressão. Os poetas vêem nela o único momento de paz que terão, já que, vivos, sentem-se atormentados pelo desespero de viver em um mundo que não lhes satisfaz;
c) satanismo: a presença do demônio, as cerimônias demoníacas e o inferno visto como um prolongamento das dores e das orgias da terra são freqüentes nos poetas ultra-românticos;
d) mistério: preferência por ambientes fúnebres, escuros, misteriosos, apropriados aos rituais satânicos e à reflexão sobre a morte e a depressão.

Terceira geração romântica (condoreira / hugoana ou social) 
     Entre 1860 e 1870, o Brasil atravessa um período de agitação político-social em decorrência do enfraquecimento do regime monárquico. Idéias liberais e democráticas fervilham e difundem-se entre a população esclarecida. Formam-se grupos defensores dos ideais abolicionistas; realizam-se freqüentes assembléias e comícios públicos. Entre os estudantes, são constantes as discussões políticas; as novas idéias agitam as faculdades de Direito de São Paulo e de Olinda.
     Tornam-se conhecidos no Brasil os textos inflamados e eloqüentes do poeta francês Victor Hugo, que exerce forte influência sobre a juventude da época. Sua poesia fala de liberdade, de igualdade social, de reformas que tornem o mundo melhor. É a chamada poesia condoneira, que têm ideais elevados e tenta alcançar as alturas, como o condor, ave que voa acima das cordilheiras dos Andes. É neste panorama histórico e cultural que surge a terceira geração romântica brasileira. Veja algumas de suas características:
a) poesia de fundo social, defensora da República, das revoluções e do Abolicionismo;
b) ênfase na função apelativa, por ser um tipo de poesia própria para ser declamado em praça pública; o objetivo é empolgar os ouvintes;
c) uso de apóstrofes, de grande efeito retórico;
d) presença constante de antíteses, hipérboles, metáforas, dando maior colorido ao texto.



PRINCIPAIS AUTORES DA PROSA ROMÂNTICA BRASILEIRA

     José Martiniano de Alencar (Mecejana - CE, 1829 – Rio de Janeiro – RJ, 1877) Transfere-se com a família para o Rio de Janeiro, onde faz os primeiros estudos. Apaixona-se muito cedo pela literatura. Em 1843, leva para São Paulo esboços de romance. É nessa cidade que faz o curso de Direito. Fica conhecido sob o pseudônimo de Ig; critica o poema de Gonçalves de Magalhães, escrevendo, em 1856, Cartas sobre a Confederação dos Tamoios, o que motiva uma série polêmica. Esse fato desgosta o imperador D. Pedro II. Sofre terrível campanha da parte de José Feliciano de Castilho e de Franklin Távora, apoiados por D. Pedro II. Defendeu a autonomia do falar português no Brasil, e, por isso, foi acusado de fazer incorreções de linguagem.
     José de Alencar é o mais importante dos romancistas românticos, devido à diversidade e extensão de sua obra, à sua linguagem rica e poética, e aos temas de caráter nacional que utilizou. Segundo Raquel de Queirós, “Alencar é o verdadeiro pai do nosso romance”. O estilo alencariano é uma das grandes contribuições à literatura brasileira incipiente. Alencar preocupa-se com o problema da língua e do estilo. A sua obra traduz particularidades sintáticas e vocabulares do falar brasileiro. Enriquece a língua literária de inúmeros tupinismos e brasileirismos. Além disso, seu estilo é sonoro e brilhante, um tanto declamatório, ao gosto da época. Sua obra compreende romances urbanos, indianistas, regionalistas e históricos.
     Em seus Romances urbanos, Alencar retrata a vida do Rio de Janeiro, à época do Segundo Império, mostrando os costumes burgueses brasileiros. Seus romances revelam dramas sociais e morais como a hipocrisia, a corrupção da sociedade, o casamento por conveniência, o patriarcalismo. Defende os direitos da mulher ao amor e à liberdade, estudando perfis femininos complicados e profundos. São livros desta fase: A Viuvinha e Cinco Minutos, Diva, Senhora, A Pata da Gazela, Sonhos D'ouro, Lucíola, Encarnação.
     Os romances regionalistas de Alencar representam quadros de várias regiões brasileiras: o sul (O Gaúcho), a área rural fluminense (O Tronco do Ipê) e o nordeste (O Sertanejo). Através da exploração dessas características regionais do país, Alencar busca criar uma literatura verdadeiramente nacional, marcada pela exaltação dos diversos tipos e das diferentes paisagens brasileiras.
     Como criador de romances indianistas, Alencar tenta representar um selvagem que simbolize a autonomia americana e a afirmação nacional. Cria personagens indígenas marcados pelas qualidades morais, pela honra e pela pureza, influenciado pela teoria do “bom selvagem” de Rosseau. São índios, na verdade, que representam os valores da cristandade e da nobreza, idealizados ao extremo, muitas vezes perdendo, na obra de Alencar, as características próprias de sua cultura. Além disso, na tentativa de ressaltar valores nacionais, Alencar resvala no conflito simplista entre bem e mal, colonizador e colonizado, selvagem e civilizado. Suas principais obras são: O Guarani, Iracema e Ubirajara. Finalmente, os romances históricos de Alencar exploram as lutas pela posse da terra e pelas riquezas brasileiras, mostrando as aventuras dos bandeirantes, o povoamento dos sertões e os conflitos entre brasileiros e portugueses. Suas principais obras são: As Minas de Prata, O Garatuja e A Guerra dos Mascates.
     Joaquim Manuel de Macedo (Rio de Janeiro - RJ, 1820 – 1882) Médico, professor, deputado, historiógrafo, dramaturgo, poeta e romancista, Macedo foi uma figura popular de seu tempo. A literatura foi sua atividade principal. Foi freqüentador assíduo das rodas sociais e literárias do Rio de Janeiro, onde era conhecido como o Dr. Macedinho. Embora tivesse toda essa popularidade, morreu pobre e esquecido. 
     Foi membro do Instituto Histórico e patrono da cadeira número vinte da Academia Brasilea de Letras. Foi um dos iniciadores do romance brasileiro. Seu livro de estréia, A Moreninha, lhe deu grande sucesso e notável importância nacional. Escreveu, posteriormente, muitos outros livros, com temática parecida: histórias de amor, cheia de sentimentalismo e uma visão do mundo real e da vida familiar. 
     Macedo foi feliz na análise psicológica e moral de certos tipos humanos. Escreveu romances, novelas e contos: A Moreninha (1844), O Moço Loiro (1845), Os Dois Amores, Rosa, Vicentina, O Forasteiro, Os Romances da Semana, A Luneta Mágica, As Vítimas Algozes, As Mulheres de Mantilha, A Namoradeira, Um Noivo e Duas Noivas. Escreveu, ainda, peças de teatro: Cobé, O Cego, O Fantasma Branco, O Primo da Califórnia, Lusbela, Cincinato Quebra-louça, Vingança por Vingança e também o poema-romance: A Nebulosa (1857). 
     Visconde de Taunay (Rio de Janeiro - RJ, 1843 – 1899) Professor, engenheiro militar e político, pintor e romancista. Freqüentou o Colégio Pedro II onde se bacharelou em Letras, em 1858. Em 1862, iniciou o curso de engenharia militar. Participou da expedição enviada a Mato Grosso para invadir o Paraguai pelo norte. A coluna entrou em território paraguaio, mas foi forçada a empreender a Retirada da Laguna a Aquidauana. Narrou Taunay esse terrível fato no livro A Retirada da Laguna (1871). 
     O ambiente de Mato Grosso é retratado em Inocência – a obra mais importante de Taunay, considerado o melhor romance romântico regionalista. Esse romance tem valor: pelo estilo pitoresco; pelo emprego de termos e expressões típicas e regionais; pela descrição de aspectos da paisagem brasileira. Visconde de Taunay escreveu ainda: Lágrimas do Coração, Manuscrito de uma Mulher, No Declínio, Céus e Terras do Brasil e outras obras. No texto a seguir, o autor de Inocência descreve as impressões de Cirino quando, pela primeira vez, vê a moça.


AUTORES DA PRIMEIRA GERAÇÃO 
     Manuel Antônio Álvares de Azevedo (São Paulo, 1831 – Rio de Janeiro – RJ, 1852) Aos dezesseis anos recebe o diploma de bacharel em Letras. Na Faculdade de Direito de São Paulo, Álvares de Azevedo deixa-se contagiar pelos ideais românticos ali existentes; participa,então, da “Sociedade Epicuréia”, cujos sócios têm o nome das principais personagens de Byron e os imitam. Dotado de uma extraordinária cultura literária, Álvares de Azevedo torna-se um poeta original, abrindo novos horizontes à poesia brasileira. Foi o primeiro poeta vítima do implacável “mal do século”. A sua obra reflete tédio, autodestruição. O poeta busca refúgio no álcool, na vida boêmia, na morte. São temas constantes em seus livros: a idéia de morte e a fuga da vida real para um mundo de sonhos e fantasias. Segundo Jung, “Álvares de Azevedo pode ser alojado na família de Prometeu, acorrentado em suas próprias e íntimas cadeias. Essas cadeias se foram enrodilhando em sua alma ao aproximar-se dos vinte anos”.
     Outros temas freqüentes na obra de Álvares de Azevedo: o satanismo, o anticlericalismo, a dúvida, a descrença, a devoção filial. O poeta deixa-nos os poemas: Meu Sonho, Se eu Morresse Amanhã!, Lembrança de Morrer, Um Canto do Século, Adeus, nos quais se evidencia a obsessão pela morte, causada pela ânsia do amor. Lira dos Vinte Anos é o seu livro mais importante. Nele o autor revela forte influência de Byron. Nele há excesso de subjetivismo, de imaginação, de erotismo e também a presença da morbidez, do amor dividido entre o espírito e a matéria, da dúvida, morte, solidão, auto-ironia. Álvares de Azevedo morre antes de ter completado vinte e um anos. Por essa razão, sua obra apresenta algumas imperfeições próprias da imaturidade do poeta, que as escreve dente os dezesseis e os vinte anos.
     No entanto, é justo reconhecer qualidades da obra de Álvares de Azevedo: simplicidade formal, emprego parcimonioso de metáforas e imagens, inovação na construção de seus versos. Segundo Manuel Bandeira, “Álvares de Azevedo, em verdade, rapaz morigerado e estudioso, viveu pela imaginação a experiência amarga dos seus modelos da Europa”.

     Casimiro José Marques de Abreu (São João da Barra-RJ, 1837 – Nova Friburgo-RJ, 1860) Poeta lírico e melancólico; seus versos impressionam pela espontaneidade e pela simplicidade. Era intenção de seu pai que Casimiro de Abreu se dedicasse ao comércio, mas, muito cedo, sente forte inclinação para a poesia. Aos catorze anos parte para a Europa, onde escreve boa parte de suas poesias. Longe da pátria e atormentado pela nostalgia, pouco a pouco vai definhando, acometido de tuberculose que o levou à morte aos vinte e três anos. É pequena a obra poética de Casimiro de Abreu. Este escritor nunca “viveu o amor-tragédia, de Gonçalves Dias nem o amor sensual de Álvares de Azevedo” (Soares Amora). Seu amor é simples, puro como nos poemas: Cena Íntima, A Valsa, O Baile.

     No final de sua vida é dominado por uma crise pessimismo, de tristeza e escreve Livro Negro. Casimiro de Abreu deixou-nos, de forma marcante, a poesia da saudade: Canção do Exílio, Meus Oito Anos, Minha Terra – poemas escritos em Portugal, onde adquiriu sua educação literária. Luís Nicolau Fagundes Varela (Rio Claro-SP, 1841 – Niterói-RJ, 1875) .
     Aos dezenove anos vem para São Paulo e matricula-se na Faculdade de Direito, abandonando o curso dois anos mais tarde. Com a morte de seu filho primogênito, passa a ter uma vida boêmia. Mais tarde, transfere-se para a Faculdade de Direito de Recife. Com a morte da esposa, volta para São Paulo. Vive inquieto e torturado, sempre procurando refúgio na natureza. Leva uma vida errante, mas continua escrevendo. 
     Poeta de grande cultura e sensibilidade, mas de pouca originalidade, Fagundes Varela continua a obra dos primeiros grandes poetas românticos brasileiros edeles herda certas características. Daí a razão da diversidade de tendências em sua poesia: o indianismo, segundo Gonçalves Dias, o subjetivismo e o byronismo de Álvares de Azevedo e de Casimiro de Abreu. 
     Fagundes Varela é também um poeta elegíaco: escreveu o poema Cântico do Calvário, em versos decassílabos brancos, em memória de seu filho, que morrera aos três meses de idade. Escreveu, ainda, poemas de cunho social e patriótico, sendo, por isso, considerado um poeta de transição entre a segunda e a terceira fase romântica. 
     Deixa-nos várias obras: _ Noturnas (1861); O Estandarte Auriverde (1863); Vozes d'América (1864); Cantos e Fantasias (1865); Cantos Meridionais (1869); Cantos do Ermo e da Cidade (1869); Anchieta ou o Evangelho das Selvas (1875); Cantos Religiosos (1878). Luís José Junqueira Freire (Salvador-BA, 1832 – 1855).
     Em princípios de 1851, ingressa no Mosteiro de São Bento, mas, por motivo de doença, teve de afastar-se da vida claustral. Sua obra poética apresenta três aspectos: o social, o lírico e o religioso. Este último é um reflexo de seus problemas espirituais, das incertezas que lhe atormentavam a consciência e a vida. 
     A poética de Junqueira Freire, segue, no seu conjunto, os preceitos do Romantismo; apresenta particularidades referentes ao ritmo do poema e a preferência ao verso branco. Junqueira Freire deixou-nos: Inspiração do Claustro e Contradições Poéticas.

     Visconde de Araguaia (Rio de Janeiro – RJ, 1811 – Roma-Itália, 1882) Domingos José Gonçalves de Magalhães (Visconde de Araguai) exerceu função diplomática, foi historiador, dramaturgo e poeta. Formou-se em Medicina, foi professor de Filosofia no Colégio Pedro II e ministro em Washington e em Roma, junto à Santa Sé. Fundou, em Paris, a revista Niterói – Revista Brasiliense, com o propósito de divulgar a reforma romântica de nossas letras; era intenção de Gonçalves de Magalhães reformar a vida literária em nosso país, de acordo com os ideais românticos.
     Gonçalves de Magalhães publica, em Paris, em 1836, Suspiros Poéticos e Saudades, considerado o primeiro livro romântico brasileiro. Essa obra tem valor histórico uma vez que é de grande importância para o estudo da introdução do Romantismo no Brasil e da reforma nacionalista da nossa literatura. Gonçalves de Magalhães era também um poeta épico. Escreveu, em 1856, A Confederação dos Tamoios, poema em dez cantos, versos decassílabos, estrofação livre. Nele o poeta trata das lutas dos tamoios contra o povo colonizador, nas quais Anchieta e Nóbrega assumem um papel de grande importância. Tentou o cultivo de todos os gêneros:
_ novela: Amãncia (1844);
_ poesia lírica: Suspiros Poéticos e Saudades (1836);
_ poesia épica: A Confederação dos Tamoios (1856);
_ teatro (em verso): Antônio José ou o Poeta e a Inquisição (1839).

     Antonio Gonçalves Dias (Caxias – MA, 1823 – São Luis – MA, 1864). Descendente de três raças, pois era filho de português e cafusa (mestiça de negro e índio), Gonçalves Dias transmite em sua obra a marca dessa origem. Estudou na Europa, em Coimbra, onde concluiu o curso de Humanidades e se diplomou em Direito. Aí viveu catorze anos de sua curta existência.
     Poeta de fértil imaginação e acentuada sensibilidade, lança, em 1846, seu livro da estréia: Primeiros Cantos. O indianismo é nota marcante na obra de Gonçalves Dias. Embora não tenha sido ele o introdutor deste tema na poesia brasileira, é considerado o maior autor indianista brasileiro. O índio em seus poemas é interpretado como um herói dentro de um cenário vivo e exuberante. Gonçalves Dias defende-o da dominação dos brancos invasores. Deixou o que há de melhor na poesia indianista brasileira: 
I-Juca Pirama. Escreveu também Os Timbiras, poemas incompletos em versos brancos . Parte dele se perdeu no naufrágio do navio Vile de Boulogne, que levou à morte o poeta quando voltada da Europa. 
     Ao lado da poesia indianista, Gonçalves Dias escreveu belas páginas líricas. Muitos temas e formas de sua poesia servirão de modelos para autores de períodos posteriores ao Romantismo. A temática de Gonçalves Dias Poesia indianista O indianismo expressava o tipo ideal do homem brasileiro. Uma vez que na literatura brasileira não apreciam os heróis típicos da Idade Média, nossos escritores românticos exaltavam em suas obras a figura do índio, cultivavam o mito do “bom selvagem”, segundo Jean Jacques Rousseau. Este tema do índio, na literatura brasileira, em várias fases: na barroca, em certos autos de Anchieta; na fase arcádica, o índio é valorizado nas obras Uraguai e Caramuru; na fase romântica, com Gonçalves Dias, no poema I-Juca Pirama.


AUTORES DA TERCEIRA GERAÇÃO 

     Antônio Frederico de Castro Alves (Curralinho-BA, 1847 – Salvador – BA, 1871) Castro Alves fez os primeiros estudos na Bahia. Em 1864, conheceu a atriz Eugênia Câmara, sua amante. É ela quem o estimula na carreira literária. Em 1868, Castro Alves vem para São Paulo, onde trava conhecimento com José de Alencar e Machado de Assis. Matricula-se na Faculdade de Direito do Largo São Francisco e, juntamente com seus colegas, participa do movimento abolicionista. Em 1870, seu pé esquerdo é amputado, em conseqüência de um tiro acidental, numa caçada. Muito fraco e tuberculoso, volta para a Bahia, onde morre com apenas vinte e quatro anos.
     Castro Alves – o expoente máximo da terceira geração romântica – dá a seus versos um caráter social e revolucionário. É ele um romântico que não segue a linha de seus predecessores, presos às sugestões do passado. O cantor dos escravos volta-se para o futuro. Com um entusiasmo fervoroso, defende a causa dos humildes, dos escravos. Castro Alves é o porta-voz de uma mensagem cristã e humanitária para redenção dos negros. Antes dele nenhum poeta apresentou a paisagem e o homem nacionais na forma poética de modo tão brasileiro. As poesias castroalvinas, pelos seus temas, enquadram o autor numa fase de transição entre o Romantismo e o Realismo. Uma boa parte de sua obra ficou inacabada, em virtude de sua morte prematura. O único livro de versos que publicou foi Espumas Flutuantes, em 1870, em Salvador.
     A poesia de Castro Alves caracteriza-se por: grandiloqüência dos versos, predominantemente oratórios; temas sociais e políticos; ideais de igualdade. Seus versos contribuem, de foram decisiva, para a formação de nossa consciência liberal, abolicionista e republicana. Alguns aspectos merecem ser destacados na produção literária de Castro Alves:
a) a poesia social, abolicionista (gênero épico): O poeta, neste tipo de poesia, vale-se de metáforas, antíteses, hipérboles e apóstrofes. Os poemas mais expressivos são: O Navio Negreiro, Vozes d'África, A Cruz na Estrada.
b) a poesia amorosa (gênero lírico): Motivos constantes em seus versos: o perfume, os cabelos femininos, os seios. Grande é a importância dada ao sexo;
c) a poesia patriótica: Ode ao Dois de Julho, recitada no teatro de São Paulo, e Pedro Ivo;
d) a poesia da natureza: Castro Alves é o pintor da natureza bravia, virgem e trágica. Explora os elementos: mar, infinito, vastidão, além do vôo do condor e do albatroz. A poesia abolicionista é a melhor de sua obra; nela o poeta denuncia as injustiças sociais, clama pela liberdade, repudia a escravatura.
     Escreveu: Os Escravos, A Cachoeira de Paulo Afonso, O Livro e a América, Deusa Incruenta, A Imprensa, Mocidade e Morte, Hinos do Equador.

Joaquim de Souza Andrade (Sousândrade) (Guimarães-MA, 1833 – São Luis – MA, 1902) Este autor, pouco conhecido, vem ganhando importância na atualidade, visto que sua obra é inovadora em relação à sua época. Seus escritos começaram a ser alva de estudos literários após 1960, quando se descobre que Sousândrade produziu obras em que a linguagem tem papel de destaque. Há, em suas obras, neologismos e palavras de origens diversas (do tupi-guarani, inglês, português arcaico), criando textos revolucionários para sua época.
     É considerado, inclusive, um dos precursores do Concretismo, corrente literária surgida por volta de 1960. De sua obra, é conveniente destacar o poema narrativo Guesa Errante, que funde uma lenda latino-americana com a visão capitalista de Wall Street, explorando de uma maneira crítica a oposição entre os indígenas e os colonizadores. O indígena mostrado na obra de Sousândrade opõe-se ao selvagem idealizado por Gonçalves Dias, pois simboliza o índio descaracterizado pelo contato com o branco. Sousândrade não foi assimilado por sua época, por apresentar uma obra vanguardista, está distante dos demais autores românticos, e só mereceu atenção dos críticos literários na atualidade.



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