O Arcadismo (termo derivado de Arcádia – região da
Grécia onde pastores e poetas se dedicavam ao pastoreio e à poesia; viviam em
perfeita harmonia com a natureza), também chamado de Neoclassicismo ou
Setecentrismo, foi o estilo de época que sucedeu ao Barroco, nos fins do século
XVIII. Por extensão, o Arcadismo passou a designar espécies de academias onde
se reuniam poetas, estudantes e eruditos. A primeira Arcádia de que se tem
notícia foi fundada em 1690, na Itália, por amigos da rainha Cristina, ex-soberana
da Suécia.
Essa rainha, que abdicara do trono sueco, costumava
reunir seus amigos para discutir problemas ou ler trabalhos literários e
científicos. Após sua morte, os freqüentadores de seus salões decidem fundar
uma Arcádia, para manterem as reuniões. Os integrantes da agremiação,
denominados pastores, adotavam pseudônimos de origem grega ou latina.
Panomara
histórico europeu
No século XVIII, o povo europeu encontra, na
França, o modelo de renovação cultural. O Iluminismo francês espalha-se por
toda a Europa e atinge Portugal, transformando o século XVIII no Século das
Luzes (período histórico-filosófico, nitidamente racionalista). O Iluminismo
caracteriza-se pela confiança no poder da razão e na possibilidade de se
reorganizar radicalmente a sociedade.
As idéias religiosas são combatidas por essa onda
de racionalismo. O Marquês de Pombal, ministro de D. José I, leva o bom termo a
renovação cultural e o progresso de Portugal. São expulsos do país os jesuítas,
e o ensino, até então religioso, passa a ser leigo. A cultura jesuítica dá
lugar ao Neoclassicismo.
Panorama
histórico brasileiro
A sociedade brasileira passa por grandes mudanças.
Com a crise da lavoura açucareira (no Nordeste) e com a descoberta de minas de
ouro e pedras preciosas, a economia do Brasil centraliza-se na região de Minas
Gerais (onde há a extração do minério) e no Rio de Janeiro, capital da Colônia.
É em Vila Rica que ocorrem acontecimentos de
significativa importância: a mineração, a Inconfidência Mineira. Por ocasião,
forma-se um grupo de escritores na região (o chamado grupo mineiro).
Os poetas, como Cláudio Manuel da Costa, Tomás
Antônio Gonzaga participam da Conjuração Mineira. Circulam, por essa época,
manuscritos anônimos das Cartas Chilenas – sátira violenta contra os desmandos
e prepotência da administração portuguesa no Brasil. Cada lugar possui uma
maneira particular de sentir e expressar a realidade.
A literatura é a manifestação real da cultura de um
povo. A simplicidade natural da poesia árcade européia encontra, no Brasil,
ambiente propício à exteriorização do sentimento do poeta: apego aos valores
nacionais. O nativismo é o nome dado a esse sentimento. O poeta árcade encontra
no tipo de vida em contato com natureza o ideal: a vida pastorial. Por isso, os
escritores têm pseudônimos: Cláudio Manuel da Costa é o Glauceste Satúrnio,
Tomás Antônio Gonzaga é o Dirceu. O “fingimento poético” é que dá
verossimilhança às poesias bucólicas dos árcades. Embora conservem as
características do Arcadismo europeu, os árcades mineiros utilizam aspectos da
natureza brasileira como tema de suas poesias.
CARACTERÍSTICAS DO ARCADISMO
O Arcadismo é um movimento de reação ao exagero barroco, que havia alcançado um ponto de saturação. Racionalmente, influenciados pelas idéias iluministas francesas, os poetas buscam a retomada da simplicidade e resgatam alguns princípios da Antiguidade, por considerarem ser este o período de maior equilíbrio e pureza.
Há três princípios latinos básicos para a compreensão desse estilo de época: a) Carpe diem (aproveita o dia): máxima proposta pelo poeta latino Horácio. Significa viver o presente, aproveitando-o ao extremo, visto que o tempo passa rapidamente.
b) Inutilia truncat (cortar o inútil): desejo de retirar dos textos tudo o que for excessivo, exagerado ou redundante.
c) Fugere urbem (fugir da cidade): princípios de
valorização da natureza, vista como lugar de perfeição e pureza, em oposição à
cidade, onde tudo é conflito.
A partir destes três princípios fundamentais o Arcadismo, é possível compreender as demais características do período:
A partir destes três princípios fundamentais o Arcadismo, é possível compreender as demais características do período:
1 – retomada da teoria aristotélica da arte como imitação da natureza, usando a razão. O poeta apreende o sentido de perfeição expresso pela natureza e tenta reproduzi-lo ao escrever;
2 – respeito às teorias literárias dos antigos,
utilizando as normas poéticas da Antiguidade;
3 – simplicidade na forma e no conteúdo dos poemas; versos curtos; ausência de rimas em alguns versos;
3 – simplicidade na forma e no conteúdo dos poemas; versos curtos; ausência de rimas em alguns versos;
4 – bucolismo (exaltação da vida do campo, uso de
cenários pastoris);
5 – presença da mitologia, num retorno aos valores
clássicos;
6 – equilíbrio entre a razão e a fantasia, através
de uma “disciplina literária” a ser estabelecida pelas Arcádias e seguida por
seus membros;
7 – uso de palavras simples, de fácil entendimento,
sem serem vulgares;
8 – desejo de dar à literatura uma função social,
de caráter didático e doutrinário. A literatura deve ser acessível a todos;
9 – preocupação com a finalidade moral da
literatura;
10 – desejo de mostrar uma realidade onde nada seja
feio, idealizando-a.
O ARCADISMO EM PORTUGAL – BOCAGE
O Arcadismo português vai desde 1756 (fundação da Arcádia Lusitana) até 1825, data da publicação do poema Camões, de Almeida Garrett, que marca o início do estilo de época seguinte – o Romantismo. O principal autor do Arcadismo em Portugal é Bocage, que apresenta também uma fase mais próxima do Romantismo.
Manuel Maria Barbosa du Bocage, de origem francesa
pelo lado materno, nasce em Setúbal, 1765, e falece em Lisboa, 1805. Muito cedo
começa a escrever versos. Ingressa, em 1783, na Academia da Marinha, onde
mantém contato com poetas e boêmios da época. Fixou-se em Lisboa, em 1790, ano
que marca o início de sua atividade literária. Consegue renome, compondo uma
elegia sobre a morte do filho do Marquês de Marialba. Nos últimos meses de sua
vida, reconcilia-se com a religião e escreve os célebres sonetos: Meu ser
evaporei na lida insana e Já Bocage não sou.
Deixou-nos uma vasta obra – Rimas (1791 – 1804). Bocage
é considerado o maior e o melhor poeta árcade da literatura portuguesa.
Cultivou a poesia satírica, mas revelou-se um dos grandes sonetistas
portugueses em suas composições líricas. Bocage adotou o pseudônimo de Elmano
Sadino. Note que Elmano é o próprio nome Manuel, em forma de anagrama, e Sadino
refere-se ao rio Sado, da cidade de Setúbal, onde nasceu o poeta.
O ARCADISMO NO BRASIL
Dentre os autores que se dedicaram ao Arcadismo no Brasil, podemos citar Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Silva Alvarenga, Frei José de Santa Rita Durão, Basílio da Gama, entre outros. Vejamos os principais:
_ Cláudio Manuel da Costa (Mariana-MG, 1729 – Vila Rica-MG, 1789) Adotou o pseudônimo de Glauco Satúrnio. Formado em Direito pela Faculdade de Coimbra, foi um dos participantes da Inconfidência Mineira e condenado à forca, em 1789. Foi um dos fundadores da Arcádia Ultramarina e publicou o livro Obras, que reúne suas poesias líricas. A forma preferida por ele, em seus poemas, era o soneto. Escreveu também um poema épico – Vila Rica – de grande valor histórico por relatar a vida gerada em torno da atividade da mineração.
_ Tomás Antônio Gonzaga (Porto-Portugal, 1744 – Moçambique, 1810) Sob o pseudônimo de Dirceu, escreveu poesias líricas, nas quais fala de seus sentimentos amorosos por Marília – pseudônimo de Maria Dorotéia deSeixas. Também envolveu-se na conspiração mineira e, por isso, foi exilado; em Moçambique, casou-se com outra mulher.
_ Basílio da Gama (Tiradentes-MG, 1741 – Lisboa-Portugal, 1795) Basílio da Gama compôs poemas líricos, mas tornou-se famoso por O Uruguai, poema épico em cinco cantos. Nele encontramos as mesmas partes de Os Lusíadas, de Camões: proposição, invocação, dedicação, narração e epílogo, embora não haja uma seqüência rígida. Em O Uruguai, Basílio da Gama retrata a luta travada entre portugueses e espanhóis contra indígenas das missões dos Sete Povos do Uruguai, instigados pelos jesuítas.
Nesse poema, percebe-se que a intenção do poeta é política; Basílio da Gama pretende criticar a ação dos jesuítas, elevar o aspecto humano dos silvícolas e agradar ao Marquês de Pombal. Entre os guerreiros indígenas estão Cepé e Cacambo, a feiticeira Tanajura e Lindóia. No cenário, destaca-se a paisagem brasileira. O episódio mais conhecido de O Uruguai é o que a heroína Lindóia, sabendo da morte de seu marido Cacambo e, para fugir à desonra de ter de casar-se com um inimigo, suicida-se, deixando-se picar por uma serpente venenosa.
_ Santa Rita Durão (Cata-Preta-MG, 1722 – Lisboa-Portugal, 1784) Frei José de Santa Rita Durão segue fielmente o modelo camoniano. Seu poema épico Caramuru, em dez cantos, apresenta as cinco partes da epopéia tradicional: proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo. Caramuru é publicado em 1781, na cidade de Lisboa. O assunto do poema gira em torno da lenda do náufrago português Diogo Álvares Correia, no Recôncavo baiano. Santa Rida Durão, tanto quanto Basílio da Gama, expressa no seu poema Caramuru apego à terra brasileira, simpatia pelo povo nativo. Moema morre por amor, como Lindóia.
O ARCADISMO NO BRASIL
Dentre os autores que se dedicaram ao Arcadismo no Brasil, podemos citar Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Silva Alvarenga, Frei José de Santa Rita Durão, Basílio da Gama, entre outros. Vejamos os principais:
_ Cláudio Manuel da Costa (Mariana-MG, 1729 – Vila Rica-MG, 1789) Adotou o pseudônimo de Glauco Satúrnio. Formado em Direito pela Faculdade de Coimbra, foi um dos participantes da Inconfidência Mineira e condenado à forca, em 1789. Foi um dos fundadores da Arcádia Ultramarina e publicou o livro Obras, que reúne suas poesias líricas. A forma preferida por ele, em seus poemas, era o soneto. Escreveu também um poema épico – Vila Rica – de grande valor histórico por relatar a vida gerada em torno da atividade da mineração.
_ Tomás Antônio Gonzaga (Porto-Portugal, 1744 – Moçambique, 1810) Sob o pseudônimo de Dirceu, escreveu poesias líricas, nas quais fala de seus sentimentos amorosos por Marília – pseudônimo de Maria Dorotéia deSeixas. Também envolveu-se na conspiração mineira e, por isso, foi exilado; em Moçambique, casou-se com outra mulher.
_ Basílio da Gama (Tiradentes-MG, 1741 – Lisboa-Portugal, 1795) Basílio da Gama compôs poemas líricos, mas tornou-se famoso por O Uruguai, poema épico em cinco cantos. Nele encontramos as mesmas partes de Os Lusíadas, de Camões: proposição, invocação, dedicação, narração e epílogo, embora não haja uma seqüência rígida. Em O Uruguai, Basílio da Gama retrata a luta travada entre portugueses e espanhóis contra indígenas das missões dos Sete Povos do Uruguai, instigados pelos jesuítas.
Nesse poema, percebe-se que a intenção do poeta é política; Basílio da Gama pretende criticar a ação dos jesuítas, elevar o aspecto humano dos silvícolas e agradar ao Marquês de Pombal. Entre os guerreiros indígenas estão Cepé e Cacambo, a feiticeira Tanajura e Lindóia. No cenário, destaca-se a paisagem brasileira. O episódio mais conhecido de O Uruguai é o que a heroína Lindóia, sabendo da morte de seu marido Cacambo e, para fugir à desonra de ter de casar-se com um inimigo, suicida-se, deixando-se picar por uma serpente venenosa.
_ Santa Rita Durão (Cata-Preta-MG, 1722 – Lisboa-Portugal, 1784) Frei José de Santa Rita Durão segue fielmente o modelo camoniano. Seu poema épico Caramuru, em dez cantos, apresenta as cinco partes da epopéia tradicional: proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo. Caramuru é publicado em 1781, na cidade de Lisboa. O assunto do poema gira em torno da lenda do náufrago português Diogo Álvares Correia, no Recôncavo baiano. Santa Rida Durão, tanto quanto Basílio da Gama, expressa no seu poema Caramuru apego à terra brasileira, simpatia pelo povo nativo. Moema morre por amor, como Lindóia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Envie seu comentário sobre esta postagem...