Humanismo - Poesia e Teatro
A
poesia do Humanismo português está reunida no Cancioneiro Geral,
publicado em 1516. Essa coletânea deve-se ao poeta Garcia de Resende.
Contém cerca de 1.000 poesias de vários autores. Diferenciando-se da
poesia trovadoresca, a chamada poesia palaciana é feita para ser lida, e
não mais cantada, como eram as cantigas medievais.
Além
disso, apresenta uma visão menos idealista da mulher, visto que, sem a
rígida divisão entre classes sociais na Idade Média, o amor torna-se
possível entre pessoas de categorias sociais diferentes. Vejamos outras
diferenças entre a poesia trovadoresca e a palaciana:
Poesia trovadoresca
_ a música é essencial para a expressão da poesia; os versos vêm com um acompanhamento musical.
_ a poesia expressa “grave e profundo sentimento”: de tristeza e saudosismo. _ a poesia é feita para ser cantada.
_ tema: o fingimento de amor e o amor-cortês – a vassalagem amorosa.
_
nem sempre a paixão se reveste de caráter pecaminoso, adúltero, mas o
trovador consagra à sua dona um amor platônico, sem esperança, fingido,
produto da imaginação.
_ rigidez de forma.
_ via de regra, o namorado é tímido; não ousa manifestar o seu amor.
Poesia palaciana
_
a música dissocia-se da palavra: há ausência de acompanhamento musical.
A musicalidade é utilizada apenas como recurso de linguagem.
_ a poesia expressa “cousas de folgar e gentilezas”. (Garcia de Resende).
_ a poesia é feita para ser lida e declamada.
_ tema: amor-cortês, numa concepção diferente do Trovadorismo.
_ o amor platônico não é tão freqüente: os poetas palacianos são mais realistas.
_ maior artificialismo e opulência verbal na poesia palaciana.
_ são freqüentes as poesias de índole religiosa, especialmente as em louvor à Virgem Maria.
_ são muitas as formas usadas para o desenvolvimento dos mais variados temas.
Teatro
As
representações teatrais sempre foram muito apreciadas nas cortes
portuguesas. Nos palácios reais, os bobos e truões (atores cômicos) eram
encarregados de distrair a nobreza, fazendo mímicas ou representando
pequenas farsas, geralmente encerradas com um número musical. Além
disso, eram freqüentes as dramatizações de caráter religioso, nas quais
se representavam mistérios cristãos e cenas da vida dos santos. O
objetivo dessas peças era instruir e ensinar preceitos morais à
assistência.
Às
vezes, essas representações eram ambulantes, com atores percorrendo as
ruas das aldeias e cidades. Apesar disso, considera-se Gil Vicente o
fundador do teatro português. Este autor soube aproveitar os elementos
cênicos anteriores, de caráter profano ou religioso, dando-lhes forma
dramática e utilizando seu estilo característico. Observador atento de
seu tempo, Gil Vicente construiu uma verdadeira galeria de personagens
típicos da época. Em suas peças, são comuns as figuras do fidalgo
decadente, da moça que deseja se casar, da alcoviteira (espécie de
agenciadora de casamentos), do padre pouco interessado nas coisas
espirituais, etc.
Gil
Vicente evidencia em sua obra o preconceito existente contra os judeus,
por exemplo, vistos com desconfiança por representarem a burguesia em
ascensão. A obra vicentina é um reflexo da sociedade portuguesa dos
princípios do século XVI, com suas classes sociais, seus vícios, seus
costumes religiosos e suas atividades culturais.
O Humanismo na Literatura Portuguesa
O Humanismo
português vai desde a nomeação de Fernão Lopes para o cargo de
cronista-mor da Torre do Tombo, em 1434, até o retorno de Sá de Miranda
da Itália, em 1527, quando começou a introduzir em Portugal a nova
estética clássica.
Torre do Tombo: arquivo do
Reino, onde se guardavam os documentos oficiais. A Torre do Tombo foi
destruída por um terremoto em 1755, mas o arquivo conservou sempre o
mesmo nome.
O termo Humanismo literário é usado
comumente para designar o estudo das letras humanas em oposição à
Teologia. Na Idade Média, predomina a concepção teocêntrica, em que
tudo gira em torno dos valores religiosos. A partir do Humanismo
desenvolve-se uma nova concepção de vida: os eruditos defendem a
reforma total do homem; acentuam-se o valor do homem na terra, tudo o
que possa tornar conhecido o ser humano; preocupam-se com o
desenvolvimento da personalidade humana, das suas faculdades criadoras;
têm como objetivo atualizar, dinamizar e dar uma nova vida aos estudos
tradicionais; empenham-se em fazer a reforma educacional.
Nesse período da história literária, são cada vez mais lidos e
apreciados os autores gregos e latinos. A estética medieval – rude e
grosseira – é substituída pela grego-latina – harmoniosa e culta. O
latim passa a ser a língua de muitos humanistas, que se deixam tomar de
grande entusiasmo pelo saber, pelas artes clássicas.
A produção literária portuguesa desse período pode ser subdividida em:
_ Prosa: a) Crônicas de Fernão Lopes, b) Prosa doutrinária e c) Novela de cavalaria
_ Poesia: Poesia palaciana
_ Teatro: Obra de Gil Vicente
Prosa
Conhecido como o “Pai da Historiografia portuguesa”, Fernão Lopes foi
encarregado por D. Duarte de guardar os arquivos da Torre do Tombo, onde
se achavam os principais documentos sobre Portugal. Incumbido de
escrever relatos sobre os acontecimentos de diversos períodos históricos
(as chamadas crônicas), Fernão Lopes destacou-se como um prosador dono
de um estilo rico e movimentado. Não se limitando a tecer elogios a
reis, como a outros cronistas da época; fez descrições detalhadas não só
do ambiente da corte, mas também das aldeias, das festas populares e,
principalmente, do papel do povo nas guerras e rebeliões.
São de sua autoria:
_ A Crônica de El-Rei D. Pedro I: narrativa dos principais acontecimentos de seu reinado;
_
A Crônica de El-Rei D. Fernando: narrativa dos fatos que ocorreram
desde o casamento de D. Fernando com Leonor Telles até o início da
Revolução de Avis;
_ A Crônica de El-Rei D. João I: narrativa dos
acontecimentos relativos a seu reinado (1385-1411), quando é assinado a
paz com Castela.
Fernão Lopes é reconhecido como
historiador de inegável méritos e verdadeiro narrador-artista
preocupado não apenas com a verdade do conteúdo de suas narrativas, mas
também com a beleza da forma. É reconhecido também pela sua capacidade
de observar e analisar personagens históricas.
Fernão Lopes analisou com objetividade e justiça os documentos
históricos: foi cauteloso em determinar a verdade histórica, ao
confrontar textos e versões sobre um mesmo acontecimento.
Prosa Doutrinária
Estas obras destinavam-se ao aprendizado de determinadas artes, muito em moda na época:
_ Livro da montaria;
_ Livro da falcoaria;
_ Leal conselheiro (um verdadeiro guia sobre sentimentos humanos).
Novela de Cavalaria
Como já vimos no Trovadorismo, a novela de cavalaria relatava os
feitos históricos de um corajoso cavaleiro, em alguma nobre missão.
Neste período, é escrita a novela Amadis de Gaula, que conta a história
do cavaleiro Amadis, apaixonado por Oriana, por que se lança em
inúmeras aventuras.