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sábado, 21 de janeiro de 2012

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS

     Com Memórias Póstumas de Brás Cubas, publicado em 1881, Machado de Assis inaugura o realismo nas letras brasileiras. A partir dessa obra ele se revela um arguto observador e analista psicológico dos personagens. O ritmo da obra é lento, com várias digressões e narrado de maneira irreverente e irônica por um "defunto autor" (e não um "autor defunto", como podem pensar). 
     Brás Cubas, por estar morto, se exime de qualquer compromisso com a sociedade, estando livre para critica-la e revelar as hipocrisias e vaidades das pessoas com quem conviveu. Brás Cubas vai contando a sua vida e contando os vários episódios que viveu. Conta sobre a prostituta de luxo espanhola Marcela, que o amou "durante quinze meses e onze contos de réis". Para livrar-se dela, os pais de Brás Cubas decidem manda-lo para a Europa. Volta doutor, em tempo de ver a mãe antes de morrer. 
     O seu amigo de escola Quincas Borba: "Uma flor, o Quincas Borba. Nunca em minha infância, nunca em toda a minha vida, achei um menino mais gracioso, inventivo e travesso" E quando ele o reencontra anos depois: "Aposto que me não conhece, Senhor Doutor Cubas? disse ele. Não me lembra... Sou o Borba, o Quincas Borba. (...) O Quincas Borba! Não; impossível; não pode ser. Não podia acabar de crer que essa figura esquálida, essa barba pintada de branco, esse maltrapilho avelhentado, que toda essa ruína fosse o Quincas Borba. E era." 
     Pouco depois Quincas Borba aparece rico e filósofo, herdeiro de uma grande fortuna e propagador do Humanitismo. O seu projeto político nunca alcançou, muito bem explicado no capítulo 139: O amor por Virgília, o caso extra-conjugal que teve com ela, e a alegria de ter um filho: "Lá me escapou a decifração do mistério, (...) quando Virgília me pareceu um pouco diferente do que era. Um filho! Um ser tirado do meu ser! Esta era a minha preocupação exclusiva daquele tempo. Olhos do mundo, zelos do marido, morte do Viegas, nada me interessava por então, nem conflitos políticos, nem revolu- ções, nem terromotos, nem nada.
     Eu só pensava naquele embrião anônimo, de obscura paternidade, e uma voz secreta me dizia: é teu filho. Meu filho! E repetia estas duas palavras, com certa voluptuosidade indefinível, e não sei que assomos de orgulho. Sentia-me homem." A criança morre antes de nascer, e os amantes se separam. A irmã arranja-lhe uma noiva, Eulália, que no entanto, morre vítima de uma epidemia. Sem conseguir ser político, Cubas em busca da celebridade tenta lançar o emplastro Brás Cubas, porem vêm a falecer de pneumonia antes de realizar o seu intento. 
     O último capítulo é bastante elucidativo: "Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. 
      Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que sai quite com a vida. E imagi- nará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria." O mais importante da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas certamente não é o enredo e sim a linguagem utilizada por Machado de Assis. A denúncia tácita da sociedade, por meio da leve ironia e humor.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

JOAQUIM MANUEL DE MACEDO

     Joaquim Manuel de Macedo, jornalista, professor, romancista, poeta, teatrólogo e memorialista, nasceu em Itaboraí, RJ, em 24 de junho de 1820, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 11 de abril de 1882. É o patrono da Cadeira n. 20, por escolha do fundador Salvador de Mendonça. Era filho do casal Severino de Macedo Carvalho e Benigna Catarina da Conceição. Formado em Medicina pela Faculdade do Rio de Janeiro, clinicou algum tempo no interior do estado do Rio. 
     No mesmo ano da formatura (1844), publicou A Moreninha, que lhe deu fama instantânea e constituiu uma pequena revolução literária, inaugurando a voga do romance nacional. Alguns estudiosos consideram que a heroína do livro é uma clara transposição da sua namorada, e futura mulher, Maria Catarina de Abreu Sodré, prima-irmã de Álvares de Azevedo. 
     Em 1849, fundou com Araújo Porto-Alegre e Gonçalves Dias a revista Guanabara, onde apareceu grande parte do seu poema-romance A Nebulosa, que alguns críticos consideram um dos melhores do Romantismo. Voltou ao Rio, abandonou a medicina e foi professor de História e Geografia do Brasil no Colégio Pedro II. Era muito ligado à Família Imperial, tendo sido professor dos filhos da princesa Isabel. Militou no Partido Liberal, servindo-o com lealdade e firmeza de princípios, como o provam seus discursos parlamentares. Foi deputado provincial (1850, 1853, 1854-59) e deputado geral (1864-68 e 1873-81). Membro muito ativo do Instituto Histórico (desde 1845) e do Conselho Diretor da Instrução Pública da Corte (1866).
      Nos últimos anos, sofreu de decadência das faculdades mentais, falecendo antes de completar 62 anos. Foi ativa e fecunda a sua carreira intelectual nas várias atividades que exerceu. Um dos fundadores do romance brasileiro, foi considerado em vida uma das maiores figuras da literatura contemporânea e, até o êxito de José de Alencar, o principal romancista. O memorialista ainda é lido com interesse nas Memórias da rua do Ouvidor e Um passeio pela cidade do Rio de Janeiro. 
     Foi no romance, entretanto, que Macedo conseguiu perdurar. Suas histórias evocam aspectos da vida carioca na segunda metade do século XIX, com simplicidade de estilo, senso de observação dos costumes e da vida familiar. Algumas obras: A Moreninha (1884); O moço louro (1845); Os dois amores (1848); Rosa (1849); Vicentina (1853); O forasteiro (1855); duas sátiras político-sociais: A carteira de meu tio (1855) e Memórias do sobrinho do meu tio (1867-68); As mulheres de mantilha (1870) e vários outros romances. Para o teatro, escreveu 16 peças, das quais 14 foram à cena em vida do autor, com aplauso da platéia. E a crítica, tanto a atual como a do século passado, é quase unânime em reconhecer que no teatro está a melhor parte de sua obra.

MACHADO DE ASSIS

     (Rio de Janeiro – RJ, 1839 – 1908) Joaquim Maria Machado de Assis, nasceu no Rio de Janeiro a 21 de junho de 1839 e aí morreu a 29 de setembro de 1908. Começa a vida como sacristão, aprendendo as primeiras letras com um padre. É obrigado a trabalhar desde a infância, como aprendiz de tipógrafo e mais tarde como revisor. Torna-se, mais tarde, ajudante de direção do Diário Oficial. Em 1873, entra para o Ministério da Agricultura, onde trabalha até a aposentadoria, poucos anos antes de sua morte. 
     Machado de Assis, descendente de família humilde, foi um autodidata, isto é, tudo o que aprendeu foi por si mesmo e pelo seu próprio esforço. Viveu numa época em que o Brasil estava sob o regime monárquico escravocrata. D. Pedro II era, então, o imperador do nosso país. Por esse monarca ser grande apreciador da arte literária e por reconhecer o valor intelectual do escritor, Machado de Assis consegue uma privilegiada posição social. Torna-se um grande e renomado romancista: pela originalidade e agudeza na concepção da vida; pela profunda análise dos sentimentos; pela extraordinária capacidade em caracterizar as personagens; pelo estilo sóbrio e conciso; pela linguagem adequada a cada gênero literário. 
     Machado de Assis, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras (1897), foi aclamado seu primeiro presidente, posição que ocupou até sua morte(1908). Cultivou quase todos os gêneros literários, mas destacou-se como ficcionista. Inicia sua fase realista, demonstrando um estilo perfeito, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Esse romance apareceu, inicialmente, em folhetins, na Revista Brasileira do Rio de Janeiro, em 1880. Didaticamente falando, essa obra é considerada o marco inicial do Realismo no Brasil. 

A poesia machadiana 
     A obra poética de Machado de Assis divide-se em duas fases: a romântica, que sofre forte influência de Gonçalves Dias, e a mais próxima ao Parnasianismo, que apresenta temas semelhantes aos de Raimundo Correia e Olavo Bilac. Na primeira fase, as poesias de Machado de Assis apresentam as seguintes características: subjetividade, emoção, lirismo, forte sentimento nacionalista. Pertencem a esta fase as seguintes obras: Crisálidas (1864), Falenas (1870) e Americanas (1875). 
     Na segunda fase, as poesias machadianas apresentam as seguintes tendências: a) preocupação formal com a métrica e a rima e apuro na linguagem; b) exaltação ao conceito de “arte pela arte”; Os temas são semelhantes aos de Raimundo Correia e Olavo Bilac: pessimismo e reflexão filosófica. Seu último livro de poesia, Ocidentais (1901), reúne alguns dos seus melhores poemas: Círculo vicioso, Mundo interior, Soneto de Natal, Uma criatura, Perguntas sem respostas. 

A prosa machadiana 
     Está dividida também em duas fases: 
1ª fase: Nesta primeira fase, Ressurreição, A Mão e a Luva, Helena, Iaiá Garcia são romances que ainda revelam características românticas, embora apresentem traços de estudo de caracteres. Machado de Assis coloca-se entre os romancistas que se preocuparam com o modus vivendi do carioca e com o cenário do Rio de Janeiro. É um mestre na arte de analisar profundamente o ser humano.

2ª fase: Pertencem à fase realista as obras Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó, Memorial de Aires. Estes romances têm as seguintes características: 
a) acentuada preocupação com o estudo dos caracteres; o gosto pela análise e investigação dos motivos do comportamento humano; suas fraquezas: egoísmo, falsidade, luxúria, vaidade, hipocrisia, orgulho; 
b) visão profunda da realidade interior e do seu aspecto moral; 
c) nessas obras, o autor deixa transparecer seu pessimismo, sua ironia amarga, certo humorismo; 
d) percebem-se algumas interrupções na ordem linear das narrativas. Nesta fase, acentua-se o gosto pelos monólogos interiores. 

Principais obras da prosa realista machadiana
     Memórias Póstumas de Brás Cuba, obra inaugural do Realismo no Brasil, revolucionara a literatura da época por dois motivos básicos: quanto ao conteúdo, analisa o ser humano de forma profunda, mostrando-o em todos os seus aspectos, de forma real e crua; quanto à forma, rompe com a ordem cronológica tradicional, abandonando a linearidade. Nesta obra, Machado de Assis mostra a autobiografia de Brás Cuba, um “defunto-autor”, que evoca e repensa sua existência de além-túmulo, seus amores, seu egoísmo e suas ambições. 
     Outra obra-prima do romance realista é Dom Casmurro. Esta narrativa em primeira pessoa propõe-se a “atar as duas pontas da vida” de Bentinho, que é o próprio narrador. Retomando os fatos de sua vida, Bentinho analisa seu casamento com Capitu e a dúvida que corroeu o relacionamento: sua esposa tê-lo-ia traído com seu melhor amigo? 
     O romance Quincas Borbas, narrado em terceira pessoa, mostra a trajetória de Rubião, um professor mineiro que recebe uma herança, devendo, em troca, cuidar de um cão chamado Quincas Borba. Com o dinheiro, Rubião vai para o Rio de Janeiro, onde pensa ter ascendido socialmente, mas na verdade é aceito pela sociedade carioca com restrições e sarcasmo, apenas por causa de sua riqueza. Descontrolado, acaba gastando toda a fortuna, enlouquece e volta para sua terra, onde morre. Nesta obra, Machado de Assis expõe a teoria filosófica do Humanitismo, segundo a qual a guerra é um mecanismo de sobrevivência da raça humana. 
     Memorial de Aires é uma espécie de romance-diário, narrado em primeira pessoa. Nele, o autor relata fatos ligados à vida de pessoas de sua relação: o casal de velhos, Aguiar e Dona Carmo, Tristão, a viúva Fidélia e a mana Rita. A velhice é um dos temas desse romance; o autor sonda a alma dos velhos, no intuito de ver como encaram a vida e o casamento. 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O TEATRO ROMÂNTICO

Introdução 
     Além da poesia e da ficção, obras do gênero dramático também foram produzidas no Romantismo. O teatro romântico define-se apoiado na tradição clássica do teatro de Shakespeare, no drama burguês e no teatro tradicional de algumas literaturas. No Romantismo, há o rompimento da lei das três unidades do teatro clássico (tempo, espaço, ação); passa-se do verso à prosa. Com a transformação do teatro clássico, concebe-se um teatro moderno para os problemas humanos, morais, sociais da época. As peças apresentam multiplicidade de circunstâncias e de personagens. Com a vinda da família real para o Brasil (1808) é que nasce rigorosamente o teatro nacional. 
     Gonçalves de Magalhães e o ato João Caetano dos Santos são considerados os introdutores do teatro brasileiro. Gonçalves de Magalhães escreve, em 1838, a primeira peça romântica no Brasil: Antonio José ou o Poeta e a Inquisição. A peça Leonor de Mendonça, em três atos, escrita em prosa por Gonçalves Dias, revela a consciência do drama moderno. José de Alencar e Joaquim Manuel de Macedo são exemplos significativos da missão reformadora do teatro romântico. 
     Em 1855, o teatro brasileiro passa por uma renovação: “os dramalhões e as comédias são substituídos pelos chamados dramas de casaca, teatro da atualidade, de tese social e de análise psicológica, transição para o teatro realista”, conforme diz Soares Amora.

 
Principais Autores do Teatro Românticos 
 
LUÍS CARLOS MARTINS PENA (Rio de Janeiro-RJ, 1815 – Lisboa-Portugal, 1848) Martins Pena estuda comércio e artes, pintura e música. Dedica-se mais tarde, com êxito, ao estudo das línguas européias. Ingressa na carreira diplomática, indo servir junto à legação brasileira em Londres. Com a saúde abalada, tenta voltar para o Brasil, mas falece repentinamente em Lisboa com apenas trinta e três anos. 
     Martins Pena escreve apenas teatro, sua verdadeira paixão, deixando-nos vinte e oito peças; nem todas, porém, impressas durante a vida do autor. É o expoente máximo do teatro romântico brasileiro, o mais importante comediógrafo da época. Deixa várias comédias de costumes. Sua linguagem é simples; utiliza disfarces e caricaturas, retratando a sociedade brasileira dos meados do século XIX. A sua estréia se dá em 1838 com a peça O Juiz de Paz da Roça. Escreve ainda outras peças: A Família e a Festa da Roça (1842); O Judas em Sábado de Aleluia (1846); O Caixeiro da Taverna (1847); Quem Casa Quer Casa (1847); O Noviço (1853).


sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A PROSA ROMÂNTICA NO BRASIL

Os jornais e a literatura 
     
     O Romantismo é fruto de um complexo movimento de idéias políticas, sociais e artísticas. Esse movimento encontra, no Brasil, um clima propício ao seu desenvolvimento. O público leitor, representado por pessoas da aristocracia rural, encontra na literatura um meio de entretenimento.
     O objetivo dos primeiros jornais, no século XIX, é expandir a cultura entre os leitores médios. O jornalismo literário conta com vários adeptos. Os romances de folhetim, de crítica literária, de crônicas passam, então, a ser cultivados. Surgem cronistas importantes, entre eles José de Alencar. Dos seus folhetins, Ao Correr da Pena (1851-1855), sairão mais tarde romances urbanos como Senhora, Sonhos D'ouro, pautados em observações do autor sobre a sociedade do tempo. 
     França Junior – o mais prestigiado cronista da época – publica seus folhetins nos jornais O Globo Ilustrado, O País, O Correio Mercantil. É preciso frisar que a difusão, em livro ou em jornal, de traduções livres, resumos de romance e narrativas populares da cultura estrangeira contribuiu bastante para a divulgação e consolidação desse novo gênero literário.
     A prosa ficcional A ficção (romance, novela e contos) se inclui entre os gêneros literários preferidos pelo Romantismo. Com o estabelecimento da corte imperial no Brasil e com o crescente desenvolvimento de alguns núcleos urbanos, o público jovem começa a tomar um certo interesse pela literatura. É do agrado desse público leitor o romance que tenha uma história sentimental, com algum suspense e um desfecho feliz.
     O romance romântico no Brasil tem como características marcante o nacionalismo literário. Entende-se por nacionalismo a tendência em escrever sobre coisas locais: lugares, cenas, fotos, costumes brasileiros. Essa tendência contribuiu para a naturalização da literatura portuguesa no Brasil. O romance foi uma forma verdadeira de pesquisar, descobrir e valorizar um país novo.
     Nesse período do Romantismo brasileiro, a imaginação e a observação dos ficcionistas alargaram o horizonte da terra e do homem brasileiro. Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar, Visconde de Taunay, Bernardo Guimarães, Franklin Távora foram os expoentes máximos da ficção romântica no Brasil. A narrativa, no romance romântico, é feita em terceira pessoa. Tanto na poesia, como na ficção (exceto no teatro) a linguagem está impregnada de elementos plásticos e sonoros, de imagens e comparações; a linguagem é descritiva.
     O Romantismo no Brasil é considerado um marco importante na história da literatura brasileira, porque coincide com o momento decisivo de definição da nacionalidade, que visa a valorizar e reconhecer o passado histórico. Classificação do romance romântico brasileiro É possível agrupar os romances românticos do Brasil a partir da temática de cada um deles. Formam-se inicialmente dois grandes grupos, abordando diferentemente a corte e a província, a partir dos quais podem ser feitas algumas subdivisões:

a) Corte: urbano. Autores: Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar, Manuel Antônio de Almeida.
b) Província: Regionalista – autores: José de Alencar, Bernardo Guimarães, Visconde de Taunay, Franklin Távora. Histórico – autores: José de Alencar, Visconde de Taunay. Indianista – autores: José de Alencar.

Romance urbano

     Ambientado na corte, o romance urbano caracteriza-se pela crônica de costumes, retratando a vida social da época. A pequena burguesia é apresentada sem grande aprofundamento psicológico, visto que a sociedade brasileira, ainda pouco urbanizada, não propicia análises de suas relações sociais pouco variadas. Cenas de saraus, bailes, passeios ao campo, etc. alternam-se com complicações de caráter social e moral, como casamentos, namoros, bisbilhotices, etc.
     São romances urbanos: A Moreninha, O Moço Loiro, A Luneta Mágica, de Joaquim Manuel de Macedo; Memórias de umSargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida; Diva, Lucíola, Senhora, A Pata da Gazela, Cinco Minutos e A Viuvinha, de José de Alencar.

Romance regionalista

     O ambiente rústico, rural é focalizado. A atração pelo pitoresco leva o escrito romântico a pôr em evidência tipos humanos que vivem afastados do meio citadino. Isso observamos nos livros: O Cabeleira, de Franklin Távora; O Sertanejo, de José de Alencar; O Garimpeiro, A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães; Inocência, de Visconde de Taunay.

Romance histórico

     Está ligado, pelo assunto, ao romance de “capa e espada”; revela o gosto pelo suspense e a ênfase à vingança punitiva. Há uma volta ao passado histórico, medieval. Apesar da influência estrangeira, pouco a pouco o romancista volta-se para a reconstituição do clima nacional; procura ser fiel aos hábitos, instituições e modus vivendi.

Romance indianista

     O romancista procura valorizar as nossas origens. Há a transformação das personagens em heróis, que apresentam traços do caráter do bom selvagem: valentia, nobreza, brio. Essa tendência do romance romântico encontramos nas obras: O Guarani, Iracema e Ubirajara, de José de Alencar.

quarta-feira, 9 de março de 2011

GÊNEROS LITERÁRIOS

Gênero Lírico 

A poesia lírica nem sempre teve o mesmo sentido. Entre os gregos, essa composição poética era cantada e acompanhada pela lira (um dos instrumento s musicais mais antigos, muito estimada pelos gregos, tornou-se emblema de Apolo e dos poetas em geral), daí o seu nome. Posteriormente, a expressão poesia lírica generalizou-se e passou a ser toda a composição poética em que predominava o subjetivismo, que refletia o mundo interior do artista: os seus sentimentos e emoções, como o amor, a saudade, a tristeza, a melancolia, etc.      
O gênero lírico apresenta-se, de modo especial, em versos (soneto, ode, elegia, balada, madrigal, sátira, epitalâmio, etc). 
_ Ode: tem sua origem na poesia clássica grega. É uma poesia entusiástica, de exaltação. 
_ hino: ligada à estrutura da ode, é uma poesia de louvor à pátria ou às divindades. 
_ elegia: poema lírico de tom quase sempre terno e triste. 
_ madrigal: constitui um dos gêneros mais importantes da música profana italiana.
_ epitalâmio: canto ou poema nupcial. 


Gênero Épico 

A palavra epopéia vem do grego épos (verso) + poieô (faço). Constitui um dos grandes e mais antigos gêneros literários. Trata-se de uma narrativa feita, essencialmente, em versos; é sobretudo um canto, um poema de exaltação. A epopéia narra grandes feitos heróicos. Sua principal característica é ter um narrador que fala dos acontecimentos grandiosos e heróicos da história de um povo. Um dos elementos da epopéia e o “maravilhoso”, isto é, a ação dos deuses se faz presente para a “grandeza e majestade” do poema. 
Dentre os poemas épicos destacam-se: 
_ Ilíada e Odisséia, de Homero; 
_ Eneida, de Virgilio; 
_ Paraíso Perdido, de Milton;
_ Orlando Furioso, de Ariosto;
_ Jerusalém Libertada, de Torquato Tasso;
_ Os Lusíadas, de Luís de Camões. No Brasil, as principais epopéias foram: _ Uruguai, de Basílio da Gama;
_ Caramuru, de Santa Rita Durão.
A partir de fins do século XVIII, este gênero começa a desaparecer para da lugar à narrativa em prosa, o romance (gênero oriundo da epopéia, muito utilizado no Romantismo). Gênero Dramático A palavra dramático vem de drama, que em grego significa ação. No gênero dramático não há narrador. Por isso, os textos são próprios para serem encenados.
A partir do momento em que o texto literário é representado no teatro por atores, passa a ser uma arte mista: literatura, coreografia e música conjugam-se. No palco, os atores representam as personagens que ora dialogam, ora monologam. A fala do narrador, neste caso, é substituída pela rubrica. Portanto, o enredo, neste gênero literário, é fundamental. No texto literário, quando encenado, a linguagem verbal combina-se com a não-verbal (gestos, expressões fisionômicas, etc.).
Existem vários tipos de textos pertencentes ao gênero dramático:
_ a tragédia: de origem clássica, seu objetivo principal era inspirar medo e compaixão aos que a assistiam, através da exposição de cenas de grandes feitos de virtude ou de crime, além de desgraças ou infortúnios, castigos e traições. Acreditava-se que, por meio da tragédia, se “purificavam” os sentimentos.
_ a comédia: tem sua origem nas festas em honra ao deus Dionísio; é voltada a provocar riso através de contrastes. Tem por objetivo criticar o comportamento humano através do ridículo;
_ a tragicomédia: mistura das duas anteriores, em que ocorrem acontecimentos tristes, mas o desfecho é feliz;
_ o drama: espécie de modernização da tragicomédia, em que se alternam momentos de alegria e dor;
_ a farsa: representação mais leve, em que se ridicularizam costumes ou elementos da sociedade, apelando para a caricatura;
_ o auto: composição dramática, com argumento geralmente bíblico, burlesco e também alegórico. O auto constitui uma das formas mais populares do antigo teatro português. Os mais notáveis autos pertencem a Gil Vicente.


Gênero Narrativo
     Na atualidade, passou-se a chamar de gênero narrativo ao conjunto de obras em que há narrador, personagens e uma seqüência de fatos. É uma variante do gênero épico. Abrange várias modalidades de textos em que aparecem os seguintes elementos:
a) foco narrativo: presença de um elemento que relata a história como participante (narrativa em primeira pessoa). Alguns autores observam, ainda, que o narrador pode ser também onisciente, quando apesar de não participar diretamente da história, conhece até mesmo o pensamento das personagens.
b) enredo: é a seqüência de fatos, podendo seguir a ordem cronológica em que eles ocorrem (sucessão temporal dos fatos), ou a ordem psicológica (sucessão de fatos, segundo as lembranças ou evoluções das personagens, apresentando, muitas vezes, flashbacks ou voltas ao passado).
c) personagens: seres criados pelo autor com características físicas e psicológicas determinadas.
d) tempo e espaço: o momento e o local em que os fatos são narrados e onde se desenrolam.
e) conflito: situação de tensão entre elementos da narrativa.
f) climax: a situação criada pelo narrador vai progressivamente aumentando sua dramaticidade, até que chega a um ponto máximo: o climax.
g) desfecho: momento que sucede o climax, no qual se finaliza a história e cada personagem se encaminha para seu “destino”.
     Ao gênero narrativo pertencem as seguintes modalidades de textos:

O Romance 
     Foi principalmente por influência francesa que em Portugal e no Brasil se passou a dar o nome de romance ao gênero que os escritores portugueses denominavam novela, antes do século XIX. Somente nas literaturas modernas é que o romance alcançou seu pleno desenvolvimento. O romance caracteriza-se por conter:
_ narrativa longa;
_ enredo complexo;
_ um ou vários conflitos das personagens.
     São tidos como romances:
_ Dom Casmurro, de Machado de Assis;
_ Canaã, de Graça Aranha;
_ O Ateneu, de Raul Pompéia (e muitos outros).
     Conforme o conteúdo, os romances classificam-se em históricos, policiais, regionais, de costumes, etc.

A Novela 
     A novela diferencia-se do romance não pelo número de páginas, mas pela técnica de composição. A novela nada mais é do que a condensação dos elementos que formam o romance:
_ diálogos breves;
_ sucessão de conflitos, vistos com mais superficialidade do que no romance;
_ o enredo não traz complexidade;
_ o tempo e o espaço estão conjugados dentro da estrutura novelesca;
_ as narrações e as descrições são condensadas, encaminhando-se logo para o desenlace da história; Camilo Castelo Branco foi considerado o criador da novela passional em Portugal; escreveu várias novelas passionais, entre elas: Amor de Perdição, A Doida do Candal, O Regicida.

O Conto 
     O conto, por ser breve e simples, é um gênero muito cultivado. Apresenta as seguintes características: 
_ tem mais brevidade dramática do que o romance e a novela; 
_ poucos personagens intervém na narrativa; 
_ cenários limitados, espaço restrito; 
_ espaço de tempo curto; 
_ diálogos sugestivos que permitem mostrar os conflitos entre as personagens; 
_ a ação é reduzida ao essencial, há um só conflito; 
_ a narrativa é objetiva: por vezes, a descrição não aparece. 
 
A Crônica 
     É um gênero literário antigo e muito cultivado atualmente. Rubem Braga, Luís Fernando Veríssimo, Lourenço Diaféria, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Stanislaw Ponte Preta são alguns dos mestres na arte de fazer crônicas. Este gênero trata de fatos do dia-a-dia. A ação é rápida, sintética. 
     Há vários tipos de crônicas: humorísticas ou melancólicas; outras primam pela crítica social; alguns apresentam profundos ensinamentos sobre o comportamento humano; 
 
Outros Gêneros 
     O apólogo e a fábula foram gêneros narrativos muito cultivados pelos clássicos. Vejamos as características desses gêneros: No apólogo: 
_ as personagens são seres inanimados; 
_ tem por objetivo um ensinamento moral. 
     Antes do Romantismo, a fábula era um gênero poético. 
     Na fábula: 
_ a história envolve a vida de animais; 
_ apresenta, como o apólogo, uma lição de moral.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O ROMANTISMO NO BRASIL

      No Romantismo, o narrador-personagem expressa seu desejo, seu sonho; idealiza para si mesmo um comportamento com base na simplicidade; supervaloriza os bens adquiridos através de uma vida simples, longe dos vícios da sociedade urbana. Essa fuga da realidade para um mundo de sonhos, esse modo de ver e sentir o mundo exterior, esse modo de agir, atendendo às solicitações de seu espírito, tudo isso são características de um comportamento romântico. 
     Os sonhos, o amor à natureza, o saudosismo, as emoções em geral sempre existiram em qualquer época. Se voltarmos ao período anterior a este, vamos observar que nas composições poéticas de Tomás Antônio Gonzaga e Gregório de Matos encontramos a mesma nota sentimental e subjetivista dos românticos. Mas, em dado momento, esse estado de espírito, esse temperamento romântico acentuou-se, manifestando-se de forma mais exaltada, apaixonada, emocional, vigorosa, configurando-se num estilo de época: o Romantismo. 

Origem e panorama histórico 
     Como vimos anteriormente, o Arcadismo ou Neoclassicismo representou, literariamente, um retorno aos ideais grego-latinos de beleza, equilíbrio e perfeição. Foi um movimento estético em que a razão predominou, subjugando o sentimento, visto que o século XVIII foi denominado o “Século das Luzes”, por orientar-se primordialmente pelo uso da capacidade racional do homem. A partir da segunda metade do século XVIII, porém, o panorama histórico começa a sofrer modificações marcantes que influenciam, de forma decisiva, a produção literária da época. Com a Revolução Industrial e conseqüente alteração no modo de produção, a sociedade divide-se em duas classes distintas: a burguesia capitalista e o proletariado. Politicamente, o absolutismo monárquico dá lugar ao liberalismo, através de movimentos que refletem a ascensão da burguesia, como a Revolução Francesa (1789). 
     Os processos de independência do Brasil e dos Estados Unidos geram lutas civis entre liberais e conservadores, numa tentativa de consolidar as novas forças. Com a industrialização, formam-se as grandes massas urbanas. O mercado literário, antes restrito aos salões da aristocracia, amplia-se e diversifica-se, atendendo aos interesses da nova classe dominante: a burguesia, que passa a ser grande apreciadora dessa arte literária. Os ideais de liberdade acentuam-se, politicamente, e é possível notar seus reflexos na literatura, na frase do escritor francês Victor Hugo: “Nada de regras, nem de modelos”. Como os movimentos literários se formam em diversas regiões simultaneamente, não se pode fixar com precisão o lugar onde o Romantismo surgiu pela primeira vez.
     Na Alemanha, Goethe publica, em 1774, Werther, e Schiller, em 1781, publica Os Salteadores, lançando as bases do sentimentalismo romântico. Na Inglaterra, nos primeiros anos do século XIX, o Romantismo se manifesta através da poesia ultra-romântica de Byron e do romance histórico de Walter Scott intitulado Ivanhoé. Desde 1724, na Escócia, Allan Ramsay, numa forma de reação contra a poesia clássica, cultiva a poesia espontânea, natural e de cor local (conjunto de circunstâncias que caracterizam, numa obra de arte, com maior ou menor fidelidade, um lugar, um ambiente ou uma época). Esta reação anticlássica é mais tarde reforçada e divulgada na França. 
     O Romantismo francês foi fortemente influenciado pelas idéias do filósofo Jean Jacques Rousseau que expôs a teoria de que o homem nasce puro e que a vida em sociedade o corrompe. Segundo Rosseau, só em contato com a natureza é que o homem retorna ao seu estado de pureza original; neste sentido, enfatiza-se a figura do “bom selvagem”, ser humano que não foi corrompido pela civilização. A publicação do poema Camões, de Almeida Garrett, em 1825, é considerada o marco inicial do Romantismo em Portugal, que se consolida a partir de 1836, com a publicação da revista Panorama. Nessa revista aparecem textos literários de Alexandre Herculano e dramas deAlmeida Garret. 
     No Brasil, o movimento romântico iniciar-se em 1836 com a publicação, em Paris, da revista brasiliense Niterói. Um dos seus diretores – Gonçalves de Magalhães – lança, no mesmo ano, Suspiros Poéticos e Saudades – livro de poesias. O Romantismo no Brasil coincide com os movimentos políticos de independência. De fato, a literatura dos princípios do século XIX reflete um profundo sentimento nacionalista. A literatura romântica expressa uma ligação com o movimento libertador de 1822, um desejo de construir uma pátria nova, de criar uma literatura nacional. Segundo Karl Mannheim, “o Romantismo expressa os sentimentos dos descontentes com as novas estruturas: a nobreza decadente e a pequena burguesia em ascensão”. Daí as atitudes saudosistas ou reivindicatórias que caracterizam o Romantismo.


Características do Romantiso

     Entre a segunda metade do século XVIII e primeira do século XIX, com pequenas variações cronológicas de um país para outro, instala-se uma nova estética literária caracterizada basicamente por dois aspectos: a liberdade criadora do artista e a valorização de seu mundo pessoal, através do predomínio da emoção sobre a razão. Além de analisar estas duas características básicas, convém destacar, ainda, vários outros traços da obra romântica:

Anseio de liberdade criadora
     Opondo-se aos ideais clássicos, revividos pelo Arcadismo, o artista romântico nega o princípio de mimesis (imitação) e busca expressar sua realidade interior, sem se preocupar com a forma. Não segue modelos, abandona as rígidas regras de métrica e rima; busca exteriorizar livremente o que lhe vai na alma: liberta seu inconsciente, foge da realidade para um mundo por ele idealizado, de acordo com as suas próprias emoções e desejos. Este anseio de liberdade relaciona-se às teorias de liberdade econômica, visto que as realizações e empreendimentos da burguesia ascendente encontravam apoio no liberalismo. Assim, a arte literária, reflexo de sua época, busca também afirmar-se em sua busca da liberdade criadora.

Subjetivismo
     A realidade é vista através da atitude do escritor. Não existe a preocupação em fazer um retrato fiel e verídico da realidade, pois esta é oferecida ao leitor filtrada e mesmo distorcida pelas emoções do autor. O predomínio de verbos e pronomes possessivos em primeira pessoa ressalta o desejo de trazer à tona os sentimentos interiores, projetando-os sobre o mundo exterior.

Evasão ou escapismo
     A queda dos regimes absolutistas e a ascensão da burguesia provocam, inicialmente, uma fase de euforia, em que se acredita que os ideais de Liberdade – Igualdade – Fraternidade, pregados pela Revolução Francesa, irão se concretizar. Cedo, porém, percebe-se que nem todas as classes sociais terão o direito de atingir esses ideais, pois a distância entre a burguesia capitalista industrial e o proletariado se aprofunda cada vez mais. Assim, desiludidos com seu próprio tempo e insatisfeitos com a realidade que os cerca, muitos autores românticos mergulham no chamado “mal do século”, postura de frustração e imobilismo em face da realidade. Descontentes com a época em que vivem, buscam formas de fugir dela, através de evasões:
_ no tempo: voltando em pensamento a época de sua infância, em que se sentiam protegidos pela figura da mãe ou da irmã ou, ainda, escrevendo textos ambientados na Idade Média, em que a figura heróica dos cavaleiros permite sonhar com grandes feitos e atos marcados pela honra e pela nobreza. É o caso da obra Eurico, o Presbítero, de Alexandre Herculano, por exemplo.
_ na morte: que é vista como solução para as tristezas e a insatisfação. Neste sentido, convém destacar a obra Werther, de Goethe, na qual a idéia de suicídio aparece com intensidade, mostrando-o como a única possibilidade de escapar do sofrimento a que o ser humano se expõe a cada dia.

Senso de Mistério
     Sem conseguir adaptar-se a seu mundo, valorizando a morte como a única saída, o artísta romântico sente atração por ambientes noturnos, misteriosos, como cemitérios, ruas desertas, etc.

Culto a natureza
     Influenciados pelas idéias de Rousseau, os românticos vêem na natureza um refúgio seguro para sua dores, visto que os vícios da civilização não chegam até ela.
     Além disso, é importante lembrar que, no Arcadismo, a paisagem bucólica era utilizada como cenário para os amores do poeta, mais permanecia impassível, indiferente às emoções que ele sentia. No Romantismo, porém, a natureza compartilha o sofrimento do poeta, tornando-se reflexo de seu mundo interior. A natureza passa a ser uma extensão do eu do poeta, mostrando-se triste ou alegre como ele, dependendo de seu estado de espírito.

Reformismo
     Insatisfeitos com seu mundo, o poeta propõe-se a mudá-lo, influenciado pelas correntes libertárias da época.Ansiando por grandes feitos que lhe tragam a glória, o poeta romântico dedica-se a causa sociais, como a abolição da escravatura, a república, etc.


     Em oposição ao paganismo próprio do estilo de época anterior, os românticos cultivam a fé cristã e os ideais religiosos.

Idealização da mulher
     A mulher não é mais vista sob o prisma do platonismo. O artista romântico ressalta a figura da mulher angelical e inatingível para ele, que se julga indigno dela; além disso, a mulher surge como elemento capaz de alterar a vida do poeta, o qual, sem ela, só tera paz na morte.
     A figura materna aparece em destaque, representando o abrigo para o sofrimento e a dolorosa lembrança de um “paraíso perdido”.
     Vale lembrar que, no Romantismo, a sensualidade está presente nas descrições femininas, mas apenas em relação às mulheres por quem o poeta se apaixona e que são, muitas vezes, apresentadas como prostitutas. Assim, a figura feminina oscila entre a pureza e a ingenuidade de um anjo e a luxúria de uma prostituta.


Cronologia


     O Romantismo, no Brasil, configura-se da seguinte maneira:
de 1808 a 1836 – Pré-romantismo;
de 1836 a 1856 – o Romantismo propriamente dito;
de 1856 a 1870 – período de transição para o Realismo e o Parnasianismo


Primeiras manifestações


     A imprensa literária e política teve um papel importante na fase inicial do Romantismo brasileiro: O Correio Brasileiense (1808 – 1822); As Variedades e Ensaios de Literatura (1812) – primeira revista literária do Brasil, fundada na Bahia, por Diogo Soares; O Patriota (1813 – 1814) – jornal literário, político e mercantil, fundado no Rio de Janeiro. Foi por intermédio da imprensa que se divulgaram as primeiras manifestações reformadoras da época. O jornalismo contribuiu para a definição do ambiente propício ao desenvolvimento do Romantismo em nossas terras.
     O cultivo da poesia, em edições de autores portugueses e brasileiros, em traduções em prosa e em verso datam de 1810.
     Em 1836, Gonçalves de Magalhães publica, em Paris, a Niterói – Revista Brasiliense, dando o impulso inicial ao movimento romântico brasileiro.
     Nesse mesmo ano e local, Gonçalves de Magalhães publica Suspiros Poéticos e Saudades, livro de poesias românticas.


Panorama histórico e cultural


     Para se compreender bem o Romantismo no Brasil, é necessário não esquecer os movimentos políticos, que consolidaram a independência, que coincidiram com as manifestações românticas.


Fatos históricos


Revolução Industrial – Inglaterra (1760)
Revolução Francesa (1789)
A vinda da família real para o Brasil (1808)


Fatos literários
Movimento romântico



     O período histórico em que surge o Romantismo no Brasil é marcado pelo crescente sentimento de nacionalismo e pelo desejo de criar nossa independência política e econômica.
     Além disso, com a vinda da família real portuguesa, em 1808, o Rio de Janeiro destaca-se como centro urbano, para o qual convergem artistas e ao qual chegam as mais recentes tendências da Europa. Com a abertura dos portos e a criação de indústrias (até então proibidas) fortalece-se o comércio. O pólo de riquezas desloca-se de Minas Gerais, cujas cidades haviam florescido com a extração mineral, para o Rio de Janeiro e, posteriormente, para São Paulo, onde começa a se desenvolver a cultura cafeeira. O Romantismo brasileiro é um reflexo de outros fatos importantes:
     Em 1816, Jean Baptiste Debret bem para o Brasil com um grupo de artistas franceses, para formar aqui a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios. São apresentadas cerca de cinqüenta telas da pintura francesa e italiana. Nessa época, destacam-se ainda, outros artistas: na pintura, Pedro Américo e Vítor Meireles; na música, Carlos Gomes e Alberto Nepomuceno.
     Em 1822, o Brasil alcança a sua autonomia política. Escritores de renome tomam consciência de sua função dentro do panorama cultural brasileiro.
     Em 1833, a Sociedade Filomática, da Faculdade de Direito de São Paulo, comemora a independência do Brasil em um manifesto nacionalista e romântico: o abandono dos temas clássicos; a busca de temas nacionais e de uma “língua brasileira”.
     Esse movimento, entretanto, não teve a repercussão conseguida pelo grupo da revista Niterói.
Em 1837, Gonçalves de Magalhães e Araújo Porto Alegre iniciam a campanha em prol da fundação de um teatro nacional. 


A Prosa Romantica no Brasil


     Os jornais e a literatura O Romantismo é fruto de um complexo movimento de idéias políticas, sociais e artísticas. Esse movimento encontra, no Brasil, um clima propício ao seu desenvolvimento. O público leitor, representado por pessoas da aristocracia rural, encontra na literatura um meio de entretenimento.
     O objetivo dos primeiros jornais, no século XIX, é expandir a cultura entre os leitores médios.  O jornalismo literário conta com vários adeptos. Os romances de folhetim, de crítica literária, de crônicas passam, então, a ser cultivados. Surgem cronistas importantes, entre eles José de Alencar. Dos seus folhetins, Ao Correr da Pena (1851-1855), sairão mais tarde romances urbanos como Senhora, Sonhos D'ouro, pautados em observações do autor sobre a sociedade do tempo. França Junior – o mais prestigiado cronista da época – publica seus folhetins nos jornais O Globo Ilustrado, O País, O Correio Mercantil. É preciso frisar que a difusão, em livro ou em jornal, de traduções livres, resumos de romance e narrativas populares da cultura estrangeira contribuiu bastante para a divulgação e consolidação desse novo gênero literário.
     A prosa ficcional A ficção (romance, novela e contos) se inclui entre os gêneros literários preferidos pelo Romantismo. Com o estabelecimento da corte imperial no Brasil e com o crescente desenvolvimento de alguns núcleos urbanos, o público jovem começa a tomar um certo interesse pela literatura. É do agrado desse público leitor o romance que tenha uma história sentimental, com algum suspense e um desfecho feliz.
     O romance romântico no Brasil tem como características marcante o nacionalismo literário. Entende-se por nacionalismo a tendência em escrever sobre coisas locais: lugares, cenas, fotos, costumes brasileiros. Essa tendência contribuiu para a naturalização da literatura portuguesa no Brasil. O romance foi uma forma verdadeira de pesquisar, descobrir e valorizar um país novo.
     Nesse período do Romantismo brasileiro, a imaginação e a observação dos ficcionistas alargaram o horizonte da terra e do homem brasileiro. Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar, Visconde de Taunay, Bernardo Guimarães, Franklin Távora foram os expoentes máximos da ficção romântica no Brasil. A narrativa, no romance romântico, é feita em terceira pessoa. Tanto na poesia, como na ficção (exceto no teatro) a linguagem está impregnada de elementos plásticos e sonoros, de imagens e comparações; a linguagem é descritiva.
     O Romantismo no Brasil é considerado um marco importante na história da literatura brasileira, porque coincide com o momento decisivo de definição da nacionalidade, que visa a valorizar e reconhecer o passado histórico. Classificação do romance romântico brasileiro É possível agrupar os romances românticos do Brasil a partir da temática de cada um deles. Formam-se inicialmente dois grandes grupos, abordando diferentemente a corte e a província, a partir dos quais podem ser feitas algumas subdivisões:
a) Corte: urbano. Autores: Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar, Manuel Antônio de Almeida.
b) Província: Regionalista – autores: José de Alencar, Bernardo Guimarães, Visconde de Taunay, Franklin Távora. Histórico – autores: José de Alencar, Visconde de Taunay. Indianista – autores: José de Alencar.

Romance urbano

     Ambientado na corte, o romance urbano caracteriza-se pela crônica de costumes, retratando a vida social da época. A pequena burguesia é apresentada sem grande aprofundamento psicológico, visto que a sociedade brasileira, ainda pouco urbanizada, não propicia análises de suas relações sociais pouco variadas. Cenas de saraus, bailes, passeios ao campo, etc. alternam-se com complicações de caráter social e moral, como casamentos, namoros, bisbilhotices, etc.
     São romances urbanos: A Moreninha, O Moço Loiro, A Luneta Mágica, de Joaquim Manuel de Macedo; Memórias de umSargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida; Diva, Lucíola, Senhora, A Pata da Gazela, Cinco Minutos e A Viuvinha, de José de Alencar.

Romance regionalista

     O ambiente rústico, rural é focalizado. A atração pelo pitoresco leva o escrito romântico a pôr em evidência tipos humanos que vivem afastados do meio citadino. Isso observamos nos livros: O Cabeleira, de Franklin Távora; O Sertanejo, de José de Alencar; O Garimpeiro, A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães; Inocência, de Visconde de Taunay.

Romance histórico

     Está ligado, pelo assunto, ao romance de “capa e espada”; revela o gosto pelo suspense e a ênfase à vingança punitiva. Há uma volta ao passado histórico, medieval. Apesar da influência estrangeira, pouco a pouco o romancista volta-se para a reconstituição do clima nacional; procura ser fiel aos hábitos, instituições e modus vivendi.

Romance indianista

     O romancista procura valorizar as nossas origens. Há a transformação das personagens em heróis, que apresentam traços do caráter do bom selvagem: valentia, nobreza, brio. Essa tendência do romance romântico encontramos nas obras: O Guarani, Iracema e Ubirajara, de José de Alencar.


Divisão do Romantismo no Brasil 
     Em relação à poesia, podemos agrupar a obra romântica em três gerações:
_ 1ª Geração: temática – nacionalista / indianista; autores: Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias, Araújo Porto Alegre
_ 2ª Geração: temática – “mal-do-século” / ultra-romantismo; autores: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela, Junqueira Freire
_ 3ª Geração: temática – social e libertária; autores: Castro Alves, Tobias Barreto, Sousândrade

     Quanto à prosa romântica, os autores que se destacaram foram:
_ Joaquim Manuel de Macedo;
_ José de Alencar;
_ Bernardo Guimarães;
_ Franklin Távora;
_ Alfredo Taunay;
_ Manuel Antônio de Almeida.

Primeira Geração Romântica (indianista / nacionalista)
     Esta geração é marcada intensamente pela busca de uma identidade nacional. Voltados para a recuperação das tradições brasileiras, por influência de autores europeus, os poetas desta primeira geração tentam resgatar, através da figura do índio, do herói que, na Europa, foi encontrado na Idade Média. O cenário tropical, retratado em toda a sua exuberância, é usado como motivo de orgulho e patriotismo. O poeta desta fase exalta a natureza brasileira, inserindo nela um indígena idealizado, nobre como um cavaleiro das Cruzadas, cheio de fidalguia e honra, corajoso e belo. É ele quem vai simbolizar nossas raízes, ao mesmo tempo em que enaltece as características próprias do povo brasileiro e ressalta a importância da independência.

Segunda Geração Romântica (ultra-romântica) 
     É chamada de geração byroniana devido a influência de Byron e de Musset – românticos europeus que levaram ao extremo a exacerbação dos sentimentos e fantasias mórbidas. Os principais temas das composições poéticas desse período giram em torno de: egocentrismo, dúvidas, tristezas, pessimismo, desenganos, tédio, amor insatisfeito, depressão, auto-ironia masoquista, obsessão pela morte como solução para os problemas emocionais. O tema predileto dos poetas ultra-românticos é a fuga da realidade.
     Como conseqüência dessa total insatisfação perante a realidade, há a morte prematura de um grande número de jovens (entre 20 e 30 anos), constituindo-se num verdadeiro “mal do século”. Os poetas brasileiros dessa fase do Romantismo dão grande ênfase à vida sentimental. A poesia, desse modo, é intimista e egocêntrica. As figuras mais representativas da segunda geração romântica são: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire. A geração byroniana caracteriza-se por:
a) pessimismo: reflexo de uma atitude de insatisfação perante a vida. A angústia, a tristeza, o desespero e o tédio são temas constantes na poesia individualista e subjetivista da geração do chamado “mal do século”;
b) morbidez: a morte é vista como saída para as crises de depressão. Os poetas vêem nela o único momento de paz que terão, já que, vivos, sentem-se atormentados pelo desespero de viver em um mundo que não lhes satisfaz;
c) satanismo: a presença do demônio, as cerimônias demoníacas e o inferno visto como um prolongamento das dores e das orgias da terra são freqüentes nos poetas ultra-românticos;
d) mistério: preferência por ambientes fúnebres, escuros, misteriosos, apropriados aos rituais satânicos e à reflexão sobre a morte e a depressão.

Terceira geração romântica (condoreira / hugoana ou social) 
     Entre 1860 e 1870, o Brasil atravessa um período de agitação político-social em decorrência do enfraquecimento do regime monárquico. Idéias liberais e democráticas fervilham e difundem-se entre a população esclarecida. Formam-se grupos defensores dos ideais abolicionistas; realizam-se freqüentes assembléias e comícios públicos. Entre os estudantes, são constantes as discussões políticas; as novas idéias agitam as faculdades de Direito de São Paulo e de Olinda.
     Tornam-se conhecidos no Brasil os textos inflamados e eloqüentes do poeta francês Victor Hugo, que exerce forte influência sobre a juventude da época. Sua poesia fala de liberdade, de igualdade social, de reformas que tornem o mundo melhor. É a chamada poesia condoneira, que têm ideais elevados e tenta alcançar as alturas, como o condor, ave que voa acima das cordilheiras dos Andes. É neste panorama histórico e cultural que surge a terceira geração romântica brasileira. Veja algumas de suas características:
a) poesia de fundo social, defensora da República, das revoluções e do Abolicionismo;
b) ênfase na função apelativa, por ser um tipo de poesia própria para ser declamado em praça pública; o objetivo é empolgar os ouvintes;
c) uso de apóstrofes, de grande efeito retórico;
d) presença constante de antíteses, hipérboles, metáforas, dando maior colorido ao texto.



PRINCIPAIS AUTORES DA PROSA ROMÂNTICA BRASILEIRA

     José Martiniano de Alencar (Mecejana - CE, 1829 – Rio de Janeiro – RJ, 1877) Transfere-se com a família para o Rio de Janeiro, onde faz os primeiros estudos. Apaixona-se muito cedo pela literatura. Em 1843, leva para São Paulo esboços de romance. É nessa cidade que faz o curso de Direito. Fica conhecido sob o pseudônimo de Ig; critica o poema de Gonçalves de Magalhães, escrevendo, em 1856, Cartas sobre a Confederação dos Tamoios, o que motiva uma série polêmica. Esse fato desgosta o imperador D. Pedro II. Sofre terrível campanha da parte de José Feliciano de Castilho e de Franklin Távora, apoiados por D. Pedro II. Defendeu a autonomia do falar português no Brasil, e, por isso, foi acusado de fazer incorreções de linguagem.
     José de Alencar é o mais importante dos romancistas românticos, devido à diversidade e extensão de sua obra, à sua linguagem rica e poética, e aos temas de caráter nacional que utilizou. Segundo Raquel de Queirós, “Alencar é o verdadeiro pai do nosso romance”. O estilo alencariano é uma das grandes contribuições à literatura brasileira incipiente. Alencar preocupa-se com o problema da língua e do estilo. A sua obra traduz particularidades sintáticas e vocabulares do falar brasileiro. Enriquece a língua literária de inúmeros tupinismos e brasileirismos. Além disso, seu estilo é sonoro e brilhante, um tanto declamatório, ao gosto da época. Sua obra compreende romances urbanos, indianistas, regionalistas e históricos.
     Em seus Romances urbanos, Alencar retrata a vida do Rio de Janeiro, à época do Segundo Império, mostrando os costumes burgueses brasileiros. Seus romances revelam dramas sociais e morais como a hipocrisia, a corrupção da sociedade, o casamento por conveniência, o patriarcalismo. Defende os direitos da mulher ao amor e à liberdade, estudando perfis femininos complicados e profundos. São livros desta fase: A Viuvinha e Cinco Minutos, Diva, Senhora, A Pata da Gazela, Sonhos D'ouro, Lucíola, Encarnação.
     Os romances regionalistas de Alencar representam quadros de várias regiões brasileiras: o sul (O Gaúcho), a área rural fluminense (O Tronco do Ipê) e o nordeste (O Sertanejo). Através da exploração dessas características regionais do país, Alencar busca criar uma literatura verdadeiramente nacional, marcada pela exaltação dos diversos tipos e das diferentes paisagens brasileiras.
     Como criador de romances indianistas, Alencar tenta representar um selvagem que simbolize a autonomia americana e a afirmação nacional. Cria personagens indígenas marcados pelas qualidades morais, pela honra e pela pureza, influenciado pela teoria do “bom selvagem” de Rosseau. São índios, na verdade, que representam os valores da cristandade e da nobreza, idealizados ao extremo, muitas vezes perdendo, na obra de Alencar, as características próprias de sua cultura. Além disso, na tentativa de ressaltar valores nacionais, Alencar resvala no conflito simplista entre bem e mal, colonizador e colonizado, selvagem e civilizado. Suas principais obras são: O Guarani, Iracema e Ubirajara. Finalmente, os romances históricos de Alencar exploram as lutas pela posse da terra e pelas riquezas brasileiras, mostrando as aventuras dos bandeirantes, o povoamento dos sertões e os conflitos entre brasileiros e portugueses. Suas principais obras são: As Minas de Prata, O Garatuja e A Guerra dos Mascates.
     Joaquim Manuel de Macedo (Rio de Janeiro - RJ, 1820 – 1882) Médico, professor, deputado, historiógrafo, dramaturgo, poeta e romancista, Macedo foi uma figura popular de seu tempo. A literatura foi sua atividade principal. Foi freqüentador assíduo das rodas sociais e literárias do Rio de Janeiro, onde era conhecido como o Dr. Macedinho. Embora tivesse toda essa popularidade, morreu pobre e esquecido. 
     Foi membro do Instituto Histórico e patrono da cadeira número vinte da Academia Brasilea de Letras. Foi um dos iniciadores do romance brasileiro. Seu livro de estréia, A Moreninha, lhe deu grande sucesso e notável importância nacional. Escreveu, posteriormente, muitos outros livros, com temática parecida: histórias de amor, cheia de sentimentalismo e uma visão do mundo real e da vida familiar. 
     Macedo foi feliz na análise psicológica e moral de certos tipos humanos. Escreveu romances, novelas e contos: A Moreninha (1844), O Moço Loiro (1845), Os Dois Amores, Rosa, Vicentina, O Forasteiro, Os Romances da Semana, A Luneta Mágica, As Vítimas Algozes, As Mulheres de Mantilha, A Namoradeira, Um Noivo e Duas Noivas. Escreveu, ainda, peças de teatro: Cobé, O Cego, O Fantasma Branco, O Primo da Califórnia, Lusbela, Cincinato Quebra-louça, Vingança por Vingança e também o poema-romance: A Nebulosa (1857). 
     Visconde de Taunay (Rio de Janeiro - RJ, 1843 – 1899) Professor, engenheiro militar e político, pintor e romancista. Freqüentou o Colégio Pedro II onde se bacharelou em Letras, em 1858. Em 1862, iniciou o curso de engenharia militar. Participou da expedição enviada a Mato Grosso para invadir o Paraguai pelo norte. A coluna entrou em território paraguaio, mas foi forçada a empreender a Retirada da Laguna a Aquidauana. Narrou Taunay esse terrível fato no livro A Retirada da Laguna (1871). 
     O ambiente de Mato Grosso é retratado em Inocência – a obra mais importante de Taunay, considerado o melhor romance romântico regionalista. Esse romance tem valor: pelo estilo pitoresco; pelo emprego de termos e expressões típicas e regionais; pela descrição de aspectos da paisagem brasileira. Visconde de Taunay escreveu ainda: Lágrimas do Coração, Manuscrito de uma Mulher, No Declínio, Céus e Terras do Brasil e outras obras. No texto a seguir, o autor de Inocência descreve as impressões de Cirino quando, pela primeira vez, vê a moça.


AUTORES DA PRIMEIRA GERAÇÃO 
     Manuel Antônio Álvares de Azevedo (São Paulo, 1831 – Rio de Janeiro – RJ, 1852) Aos dezesseis anos recebe o diploma de bacharel em Letras. Na Faculdade de Direito de São Paulo, Álvares de Azevedo deixa-se contagiar pelos ideais românticos ali existentes; participa,então, da “Sociedade Epicuréia”, cujos sócios têm o nome das principais personagens de Byron e os imitam. Dotado de uma extraordinária cultura literária, Álvares de Azevedo torna-se um poeta original, abrindo novos horizontes à poesia brasileira. Foi o primeiro poeta vítima do implacável “mal do século”. A sua obra reflete tédio, autodestruição. O poeta busca refúgio no álcool, na vida boêmia, na morte. São temas constantes em seus livros: a idéia de morte e a fuga da vida real para um mundo de sonhos e fantasias. Segundo Jung, “Álvares de Azevedo pode ser alojado na família de Prometeu, acorrentado em suas próprias e íntimas cadeias. Essas cadeias se foram enrodilhando em sua alma ao aproximar-se dos vinte anos”.
     Outros temas freqüentes na obra de Álvares de Azevedo: o satanismo, o anticlericalismo, a dúvida, a descrença, a devoção filial. O poeta deixa-nos os poemas: Meu Sonho, Se eu Morresse Amanhã!, Lembrança de Morrer, Um Canto do Século, Adeus, nos quais se evidencia a obsessão pela morte, causada pela ânsia do amor. Lira dos Vinte Anos é o seu livro mais importante. Nele o autor revela forte influência de Byron. Nele há excesso de subjetivismo, de imaginação, de erotismo e também a presença da morbidez, do amor dividido entre o espírito e a matéria, da dúvida, morte, solidão, auto-ironia. Álvares de Azevedo morre antes de ter completado vinte e um anos. Por essa razão, sua obra apresenta algumas imperfeições próprias da imaturidade do poeta, que as escreve dente os dezesseis e os vinte anos.
     No entanto, é justo reconhecer qualidades da obra de Álvares de Azevedo: simplicidade formal, emprego parcimonioso de metáforas e imagens, inovação na construção de seus versos. Segundo Manuel Bandeira, “Álvares de Azevedo, em verdade, rapaz morigerado e estudioso, viveu pela imaginação a experiência amarga dos seus modelos da Europa”.

     Casimiro José Marques de Abreu (São João da Barra-RJ, 1837 – Nova Friburgo-RJ, 1860) Poeta lírico e melancólico; seus versos impressionam pela espontaneidade e pela simplicidade. Era intenção de seu pai que Casimiro de Abreu se dedicasse ao comércio, mas, muito cedo, sente forte inclinação para a poesia. Aos catorze anos parte para a Europa, onde escreve boa parte de suas poesias. Longe da pátria e atormentado pela nostalgia, pouco a pouco vai definhando, acometido de tuberculose que o levou à morte aos vinte e três anos. É pequena a obra poética de Casimiro de Abreu. Este escritor nunca “viveu o amor-tragédia, de Gonçalves Dias nem o amor sensual de Álvares de Azevedo” (Soares Amora). Seu amor é simples, puro como nos poemas: Cena Íntima, A Valsa, O Baile.

     No final de sua vida é dominado por uma crise pessimismo, de tristeza e escreve Livro Negro. Casimiro de Abreu deixou-nos, de forma marcante, a poesia da saudade: Canção do Exílio, Meus Oito Anos, Minha Terra – poemas escritos em Portugal, onde adquiriu sua educação literária. Luís Nicolau Fagundes Varela (Rio Claro-SP, 1841 – Niterói-RJ, 1875) .
     Aos dezenove anos vem para São Paulo e matricula-se na Faculdade de Direito, abandonando o curso dois anos mais tarde. Com a morte de seu filho primogênito, passa a ter uma vida boêmia. Mais tarde, transfere-se para a Faculdade de Direito de Recife. Com a morte da esposa, volta para São Paulo. Vive inquieto e torturado, sempre procurando refúgio na natureza. Leva uma vida errante, mas continua escrevendo. 
     Poeta de grande cultura e sensibilidade, mas de pouca originalidade, Fagundes Varela continua a obra dos primeiros grandes poetas românticos brasileiros edeles herda certas características. Daí a razão da diversidade de tendências em sua poesia: o indianismo, segundo Gonçalves Dias, o subjetivismo e o byronismo de Álvares de Azevedo e de Casimiro de Abreu. 
     Fagundes Varela é também um poeta elegíaco: escreveu o poema Cântico do Calvário, em versos decassílabos brancos, em memória de seu filho, que morrera aos três meses de idade. Escreveu, ainda, poemas de cunho social e patriótico, sendo, por isso, considerado um poeta de transição entre a segunda e a terceira fase romântica. 
     Deixa-nos várias obras: _ Noturnas (1861); O Estandarte Auriverde (1863); Vozes d'América (1864); Cantos e Fantasias (1865); Cantos Meridionais (1869); Cantos do Ermo e da Cidade (1869); Anchieta ou o Evangelho das Selvas (1875); Cantos Religiosos (1878). Luís José Junqueira Freire (Salvador-BA, 1832 – 1855).
     Em princípios de 1851, ingressa no Mosteiro de São Bento, mas, por motivo de doença, teve de afastar-se da vida claustral. Sua obra poética apresenta três aspectos: o social, o lírico e o religioso. Este último é um reflexo de seus problemas espirituais, das incertezas que lhe atormentavam a consciência e a vida. 
     A poética de Junqueira Freire, segue, no seu conjunto, os preceitos do Romantismo; apresenta particularidades referentes ao ritmo do poema e a preferência ao verso branco. Junqueira Freire deixou-nos: Inspiração do Claustro e Contradições Poéticas.

     Visconde de Araguaia (Rio de Janeiro – RJ, 1811 – Roma-Itália, 1882) Domingos José Gonçalves de Magalhães (Visconde de Araguai) exerceu função diplomática, foi historiador, dramaturgo e poeta. Formou-se em Medicina, foi professor de Filosofia no Colégio Pedro II e ministro em Washington e em Roma, junto à Santa Sé. Fundou, em Paris, a revista Niterói – Revista Brasiliense, com o propósito de divulgar a reforma romântica de nossas letras; era intenção de Gonçalves de Magalhães reformar a vida literária em nosso país, de acordo com os ideais românticos.
     Gonçalves de Magalhães publica, em Paris, em 1836, Suspiros Poéticos e Saudades, considerado o primeiro livro romântico brasileiro. Essa obra tem valor histórico uma vez que é de grande importância para o estudo da introdução do Romantismo no Brasil e da reforma nacionalista da nossa literatura. Gonçalves de Magalhães era também um poeta épico. Escreveu, em 1856, A Confederação dos Tamoios, poema em dez cantos, versos decassílabos, estrofação livre. Nele o poeta trata das lutas dos tamoios contra o povo colonizador, nas quais Anchieta e Nóbrega assumem um papel de grande importância. Tentou o cultivo de todos os gêneros:
_ novela: Amãncia (1844);
_ poesia lírica: Suspiros Poéticos e Saudades (1836);
_ poesia épica: A Confederação dos Tamoios (1856);
_ teatro (em verso): Antônio José ou o Poeta e a Inquisição (1839).

     Antonio Gonçalves Dias (Caxias – MA, 1823 – São Luis – MA, 1864). Descendente de três raças, pois era filho de português e cafusa (mestiça de negro e índio), Gonçalves Dias transmite em sua obra a marca dessa origem. Estudou na Europa, em Coimbra, onde concluiu o curso de Humanidades e se diplomou em Direito. Aí viveu catorze anos de sua curta existência.
     Poeta de fértil imaginação e acentuada sensibilidade, lança, em 1846, seu livro da estréia: Primeiros Cantos. O indianismo é nota marcante na obra de Gonçalves Dias. Embora não tenha sido ele o introdutor deste tema na poesia brasileira, é considerado o maior autor indianista brasileiro. O índio em seus poemas é interpretado como um herói dentro de um cenário vivo e exuberante. Gonçalves Dias defende-o da dominação dos brancos invasores. Deixou o que há de melhor na poesia indianista brasileira: 
I-Juca Pirama. Escreveu também Os Timbiras, poemas incompletos em versos brancos . Parte dele se perdeu no naufrágio do navio Vile de Boulogne, que levou à morte o poeta quando voltada da Europa. 
     Ao lado da poesia indianista, Gonçalves Dias escreveu belas páginas líricas. Muitos temas e formas de sua poesia servirão de modelos para autores de períodos posteriores ao Romantismo. A temática de Gonçalves Dias Poesia indianista O indianismo expressava o tipo ideal do homem brasileiro. Uma vez que na literatura brasileira não apreciam os heróis típicos da Idade Média, nossos escritores românticos exaltavam em suas obras a figura do índio, cultivavam o mito do “bom selvagem”, segundo Jean Jacques Rousseau. Este tema do índio, na literatura brasileira, em várias fases: na barroca, em certos autos de Anchieta; na fase arcádica, o índio é valorizado nas obras Uraguai e Caramuru; na fase romântica, com Gonçalves Dias, no poema I-Juca Pirama.


AUTORES DA TERCEIRA GERAÇÃO 

     Antônio Frederico de Castro Alves (Curralinho-BA, 1847 – Salvador – BA, 1871) Castro Alves fez os primeiros estudos na Bahia. Em 1864, conheceu a atriz Eugênia Câmara, sua amante. É ela quem o estimula na carreira literária. Em 1868, Castro Alves vem para São Paulo, onde trava conhecimento com José de Alencar e Machado de Assis. Matricula-se na Faculdade de Direito do Largo São Francisco e, juntamente com seus colegas, participa do movimento abolicionista. Em 1870, seu pé esquerdo é amputado, em conseqüência de um tiro acidental, numa caçada. Muito fraco e tuberculoso, volta para a Bahia, onde morre com apenas vinte e quatro anos.
     Castro Alves – o expoente máximo da terceira geração romântica – dá a seus versos um caráter social e revolucionário. É ele um romântico que não segue a linha de seus predecessores, presos às sugestões do passado. O cantor dos escravos volta-se para o futuro. Com um entusiasmo fervoroso, defende a causa dos humildes, dos escravos. Castro Alves é o porta-voz de uma mensagem cristã e humanitária para redenção dos negros. Antes dele nenhum poeta apresentou a paisagem e o homem nacionais na forma poética de modo tão brasileiro. As poesias castroalvinas, pelos seus temas, enquadram o autor numa fase de transição entre o Romantismo e o Realismo. Uma boa parte de sua obra ficou inacabada, em virtude de sua morte prematura. O único livro de versos que publicou foi Espumas Flutuantes, em 1870, em Salvador.
     A poesia de Castro Alves caracteriza-se por: grandiloqüência dos versos, predominantemente oratórios; temas sociais e políticos; ideais de igualdade. Seus versos contribuem, de foram decisiva, para a formação de nossa consciência liberal, abolicionista e republicana. Alguns aspectos merecem ser destacados na produção literária de Castro Alves:
a) a poesia social, abolicionista (gênero épico): O poeta, neste tipo de poesia, vale-se de metáforas, antíteses, hipérboles e apóstrofes. Os poemas mais expressivos são: O Navio Negreiro, Vozes d'África, A Cruz na Estrada.
b) a poesia amorosa (gênero lírico): Motivos constantes em seus versos: o perfume, os cabelos femininos, os seios. Grande é a importância dada ao sexo;
c) a poesia patriótica: Ode ao Dois de Julho, recitada no teatro de São Paulo, e Pedro Ivo;
d) a poesia da natureza: Castro Alves é o pintor da natureza bravia, virgem e trágica. Explora os elementos: mar, infinito, vastidão, além do vôo do condor e do albatroz. A poesia abolicionista é a melhor de sua obra; nela o poeta denuncia as injustiças sociais, clama pela liberdade, repudia a escravatura.
     Escreveu: Os Escravos, A Cachoeira de Paulo Afonso, O Livro e a América, Deusa Incruenta, A Imprensa, Mocidade e Morte, Hinos do Equador.

Joaquim de Souza Andrade (Sousândrade) (Guimarães-MA, 1833 – São Luis – MA, 1902) Este autor, pouco conhecido, vem ganhando importância na atualidade, visto que sua obra é inovadora em relação à sua época. Seus escritos começaram a ser alva de estudos literários após 1960, quando se descobre que Sousândrade produziu obras em que a linguagem tem papel de destaque. Há, em suas obras, neologismos e palavras de origens diversas (do tupi-guarani, inglês, português arcaico), criando textos revolucionários para sua época.
     É considerado, inclusive, um dos precursores do Concretismo, corrente literária surgida por volta de 1960. De sua obra, é conveniente destacar o poema narrativo Guesa Errante, que funde uma lenda latino-americana com a visão capitalista de Wall Street, explorando de uma maneira crítica a oposição entre os indígenas e os colonizadores. O indígena mostrado na obra de Sousândrade opõe-se ao selvagem idealizado por Gonçalves Dias, pois simboliza o índio descaracterizado pelo contato com o branco. Sousândrade não foi assimilado por sua época, por apresentar uma obra vanguardista, está distante dos demais autores românticos, e só mereceu atenção dos críticos literários na atualidade.



O REALISMO E O NATURALISMO NA LITERATURA

Introdução


     Torna-se mais fácil entender o termo, conhecendo-se os elementos que o compõem:
     Realismo = real ( do latim res), significa coisa, fato + o sufixo -ismo que denota partido, gênero, doutrina, profissão, crença, escola.
     A palavra realismo indica, pois, a preferência pelos fatos e a tendência a encará-los sob o prisma da realidade.
     Em literatura, o termo realismo opõe-se a idealismo, designado as obras literárias que retiram da vida real seus assuntos de forma objetiva, documental.
     O Romantismo foi o estilo de época anterior ao Realismo, voltado para o predomínio da emoção e da subjetividade. Entretanto, a substituição da estética romântica pela realista não ocorreu de repente e, em muitos momentos, estas duas manifestações literárias coexistiram. Diz Afrânio Coutinho que “o século XIX é uma grande encruzilhada de correntes literárias”.

Origem


     O Realismo é um fenômeno cultural típico do século XIX, embora sua existência seja tão antiga quanto a das artes. O artista, em seu processo de criação, parte da observação da realidade que o cerca e pode reproduzi-la fielmente em sua obra (atitude realista) ou recriá-la através de sua imaginação (atitude romântica ou idealizadora). Assim, ao longo dos tempos, a postura realista esteve sempre presente, em maior ou menor grau; só no século XIX, porém, essa postura é adotada como estética e se desenvolve intensamente, através do movimento denominado Realismo.
     Como movimento literário, o Realismo origina-se na França com Balzac e Flaubert. Esses escritores apresentam, em sua ficção, uma considerável tendência anti-romântica. Flaubert publica, em 1857, Madame Bovary, obra que define o Realismo na França.
     Em 1865, Claude Bernard publica uma tese sobre a hereditariedade: Introdução à Medicina Experimental. Entusiasmado com a leitura desse livro, Émile Zola, em Le Roman Experimental, estabelece um paralelo entre as teorias científicas de Bernard e a literatura, concluindo que entre elas não há distinção. Em 1876, Zola lança as bases do romance naturalista com o livro Thérese Raquin.
      Dentro do Realismo, surge uma outra corrente literária motivada pela intensificação de algumas de suas características: é o Naturalismo. Nele, exagera-se a tendência de observar a realidade de forma científica, buscando evidenciar seus aspectos mais doentios ou brutais. O Naturalismo é o Realismo levado ao extremo.

Panorama histórico-cultural



     O século XIX é marcado por grandes transformações econômicas e culturais. A Revolução Industrial, iniciada no século anterior, encaminha-se para uma fase nitidamente urbana, com o surgimento de indústrias que empregam boa parcela da população. Apesar de realizar jornadas de trabalho de até catorze horas diárias, o proletariado não tem acesso aos bens que produz. Em 1848, em seu Manifesto Comunista, Marx e Engels haviam discutido o problema, evidenciando a distinção entre capital e trabalho e mostrando o quanto o aspecto social está vinculado ao econômico.
     Além do socialismo marxista e do proudhoniano, marcados pelo materialismo, surge também o Positivismo, filosofia criada por Augusto Comte. Nela rejeitam-se todas as interpretações metafísicas sobre a realidade, mostrando que o estágio mais avançado do desenvolvimento do ser humano seria o estágio científico.
     Charles Darwin lança sua teoria sobre o evolucionismo das espécies, mostrando que há um processo de seleção natural, o que faz com que as teorias pregadas pela Igreja sejam questionadas.
     Essa nova filosofia de vida (cética e materialista) põe em evidência o fato do homem ser um produto do meio e do momento em que vive. Com o progresso da ciência, o homem passa a indagar sobre as razões dos fenômenos; não mais permanece impassível, inerte diante dos acontecimentos e, em decorrência disso, profundas alterações ocorrem na estrutura social e econômica dos grandes centros urbanos:
a) triunfo material e político da burguesia;
b)mecanização intensiva, principalmente pela aglomeração do proletariado nos grandes centros industriais;
c) com a evolução das idéias sociais, surge uma nova filosofia do proletariado;
d) o desnível entre a evolução social e econômica de um lado, e a política do outro, gerando grandes conflitos ideológicos;
e) melhoria e maior rapidez dos meios de transportes e de comunicação: construção de estradas de ferro, o telégrafo, a navegação a vapor, tudo isso colaborando para proporcionar um novo caráter de vida à humanidade.
     Todas essas novas idéias fazem com que se inicie uma reação anti-romântica, um verdadeiro processo de ruptura cultural, que se reflete na literatura.


Tendências


     O Realismo foi um movimento literário marcado por uma oposição ao idealismo romântico. Desdobrou-se em:
realismo e naturalismo, na prosa;
parnasianismo, na poesia;


     É possível salientar as seguintes tendências do Realismo:
a) em Portugal: inicia-se o Realismo em Portugal com a ruidosa polêmica Questão Coimbrã. A poesia realista tem como principais representantes: Antero de Quental, Guerra Junqueiro, Gomes Leal e Cesário Verde.
b) no Brasil: o romance realista surge, em 1881, com Machado de Assis que escreve Memórias Póstumas de Brás Cubas.
     O romance naturalista passa a ser cultivado pro Aluísio Azevedo nas obras: O Mulato, O Cortiço, Casa de Pensão; e por Júlio Ribeiro em A Carne.
     A poesia parnasiana tem como principais representantes: Olavo Bilac, Raimundo Correira, Alberto de Oliveira. 

Realismo - Naturalismo no Brasil


Introdução

     No final da década de 1860, as produções literárias de poetas e prosadores como Castro Alves, Manuel Antonio de Almeida, Franklin Távora, Visconde de Taunay denunciam o fim do Romantismo. Embora na forma elas sigam os moldes românticos, os temas já começam a voltar-se para a realidade político-social.
Na célebre Escola de Recife, Sílvio Romero e Tobias Barreto começam a formar o mais importante grupo do movimento realista brasileiro. Filiam-se a princípios e teorias européias ligadas ao Positivismo, ao Evolucionismo e ao Cientificismo e a dissolução da poesia romântica. Sílvio Romero sofre notável influência da filosofia alemã; mantém célebres polêmicas em defesa da obra de Tobias Barreto, contra a de Castro Alves.
Quanto á abordagem, o romance realista difere totalmente do romance romântico, pois neste é freqüente a idealização, enquanto que naquele predomina a objetividade. Já quanto à temática, pode-se dizer que alguns dos temas explorados pelos românticos se repetem no Realismo. É o caso, por exemplo, de certas descrições da moral burguesa e da vida urbana, freqüente em José de Alencar, ou na obra O Seminarista, de Bernardo Guimarães, que já desenvolve certos aspectos do determinismo biológico dos naturalistas.
     Por outro lado, o Realismo não se detém no século XIX; várias manifestações ocorridas no século XX levam-nos a considerá-las como um prolongamento do Realismo, como por exemplo, Raquel de Queiroz, José Lins do Rego, Érico Veríssimo. Estes escritores regionalistas do século XX manifestam em suas obras tendências realistas. A exploração do elemento regional é que, no Brasil, deu forças ao Realismo.
     A realidade político-social, está presente em autores de diferentes épocas.
     O romance, o conto, o teatro – gêneros explorados em menor escala pelos românticos – foram cultivados por Machado de Assis, Artur Azevedo, autores com tendências realistas. O tom expositivo e narrativo da maioria desses gêneros antecipou o regionalismo dos modernistas.

Panorama histórico-cultural

     Na segunda metade do século XIX, a sociedade brasileira sofre uma radical transformação. De sociedade agrária, latifundiária, escravocrata e aristocrática passa a ser uma civilização burguesa e urbana.
     Opera-se uma transformação semelhante no campo da psicologia e da antropologia sociais: ascensão da população mestiça e sua participação nas atividades social, política e intelectual do país.
     Com a fundação da Academia Brasileira de Letras (1897) e com o processo de oficialização da literatura, o escritor (antes marginalizado) passa a ser prestigiado e começa a participar da vida social; sua obra recebe um acatamento antes inexistente.
     De 1864 a 1870, desencadeia-se o maior conflito armado da América do Sul – a Guerra do Paraguai – com sérias conseqüências para os países nela envolvidos: Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. No ano em que termina essa guerra, é fundado o Partido Republicano e há o enfraquecimento da Monarquia.
     A partir de 1850, intensifica-se a campanha a favor da abolição dos escravos. É assinada a Lei Áurea (1888) e, então, a realidade brasileira, no setor econômico, sofre uma violenta mudança. A mão-de-obra do escravo é substituída por imigrantes europeus assalariados para o trabalho da lavoura cafeeira.

O REALISMO PORTUGUÊS 
Introdução 

     O Realismo na literatura portuguesa tem início, em 1865, com a ruidosa Questão Coimbrã ou do Bom Senso e Bom Gosto que, segundo Téofilo Braga, significa a dissolução do Romantismo. O Realismo prolonga-se até 1890, quando Eugênio de Castro publica Oaristos – livro com características da nova escola literária: o Simbolismo. A 18 de maio de 1871, no jornal a A Revolução de Setembro é publicado um manifesto que leva a assinatura de doze nomes, entre eles: Antero de Quental, Teófilo Braga e Eça de Queirós. Nesse manifesto são apontados os objetivos dos organizadores das chamadas Conferências Democráticas do Cassino: “
     Abrir uma tribuna onde tenham voz as idéias e os trabalhos que caracterizam esse movimento do século, preocupando-nos sobretudo com a transformação social, moral e política dos povos; Ligar Portugal com o movimento moderno, fazendo-o assim nutrir-se dos elementos vitais de que vive a humanidade civilizada; Procurar adquirir a consciência dos fatos que nos rodeiam na Europa; Agitar na opinião pública as grandes questões da Filosofia e da Ciência moderna; Estudar as condições da transformação política, econômica e religiosa da sociedade portuguesa; Tal é o fim das Conferências Democráticas.” Embora o Marquês de Ávila e Bolana tenha proibido as conferências e mandado fechar o Cassino Lisbonense, ficou consolidada a posição da nova geração e iniciou-se a época do Realismo em Portugal.

A Questão Coimbrã 
     A Questão Coimbrã foi um protesto da geração de intelectuais que, por volta de 1865, formou-se em Coimbra contra o exagero romântico. Com ela, inicia-se o espírito contemporâneo nas letras portuguesas. Com a Questão Coimbrã entram em conflito duas personalidades muito importante: de um lado, Antonio Feliciano de Castilho, representando o velho sentimentalismo romântico e, de outro lado, Antero de Quental, liderando os dissidentes de Coimbra, revoltados com a estagnação do Ultra-Romantismo. Em 1864, tomam vulto essas dissidências e são publicadas poesias revolucionárias: Visão dos Tempos e Tempestades Sonoras, de Teófilo Braga; Odes Modernas, de Antero Quental.
     Em 1865, Antero de Quental responde a Castilho com um folheto intitulado Bom Senso e Bom Gosto – as duas virtudes que Castilho negara aos acadêmicos de vanguarda do Realismo. Acende-se também a luta entre intelectuais brasileiros, na maioria a favor dos românticos. 
 
As Conferências Democráticas do Cassino 
      O mesmo grupo de jovens escritores e intelectuais de vanguarda que se insurgiu contra os ideais românticos de Castilho, participou, em 1871, das Conferências Democráticas do Cassino. A 22 de maio de 1871, Antero de Quental a primeira conferência intitulada 
 
O Espírito das Conferências
Na segunda, realizada dias depois, Causa da Decadência dos Povos Peninsulares, o mesmo conferencista aponta as três causas do atraso de Portugal: a religiosa, a política e a econômica. Em seguida, Augusto Soromenho, fala sobre a Literatura Portuguesa. O conferencista nega os valores literários portugueses. Na quarta conferência, chamada A Literatura Nova – o Realismo como Nova Expressão da Arte, Eça de Queirós ataca o Romantismo; ressalta a nova estética realista e enfatiza o caráter social da literatura. 
     Na quinta e última conferência – A Questão do Ensino – Adolfo Coelho propõe um ensino científico e o fim do ensino religioso. Consideradas no conjunto, as Conferências Democráticas do Cassino representam a afirmação de um movimento ideológico de intelectuais portugueses, inspirado em modelos vindos de outros países: a crítica positivista de Taine, o evolucionismo de Darwin, as teorias de Marx e de Proudhon.

Oportunidade

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