No Romantismo, o narrador-personagem expressa seu desejo, seu sonho;
idealiza para si mesmo um comportamento com base na simplicidade;
supervaloriza os bens adquiridos através de uma vida simples, longe dos
vícios da sociedade urbana. Essa fuga da realidade para um mundo de
sonhos, esse modo de ver e sentir o mundo exterior, esse modo de agir,
atendendo às solicitações de seu espírito, tudo isso são características
de um comportamento romântico.
Os sonhos, o amor à natureza, o
saudosismo, as emoções em geral sempre existiram em qualquer época. Se
voltarmos ao período anterior a este, vamos observar que nas composições
poéticas de Tomás Antônio Gonzaga e Gregório de Matos encontramos a
mesma nota sentimental e subjetivista dos românticos.
Mas, em dado momento, esse estado de espírito, esse temperamento
romântico acentuou-se, manifestando-se de forma mais exaltada,
apaixonada, emocional, vigorosa, configurando-se num estilo de época: o
Romantismo.
Origem e panorama histórico
Como vimos anteriormente, o Arcadismo ou Neoclassicismo representou,
literariamente, um retorno aos ideais grego-latinos de beleza,
equilíbrio e perfeição. Foi um movimento estético em que a razão
predominou, subjugando o sentimento, visto que o século XVIII foi
denominado o “Século das Luzes”, por orientar-se primordialmente pelo
uso da capacidade racional do homem.
A partir da segunda metade do século XVIII, porém, o panorama histórico
começa a sofrer modificações marcantes que influenciam, de forma
decisiva, a produção literária da época.
Com a Revolução Industrial e conseqüente alteração no modo de produção,
a sociedade divide-se em duas classes distintas: a burguesia
capitalista e o proletariado. Politicamente, o absolutismo monárquico dá
lugar ao liberalismo, através de movimentos que refletem a ascensão da
burguesia, como a Revolução Francesa (1789).
Os processos de
independência do Brasil e dos Estados Unidos geram lutas civis entre
liberais e conservadores, numa tentativa de consolidar as novas forças.
Com a industrialização, formam-se as grandes massas urbanas. O mercado
literário, antes restrito aos salões da aristocracia, amplia-se e
diversifica-se, atendendo aos interesses da nova classe dominante: a
burguesia, que passa a ser grande apreciadora dessa arte literária.
Os ideais de liberdade acentuam-se, politicamente, e é possível notar
seus reflexos na literatura, na frase do escritor francês Victor Hugo:
“Nada de regras, nem de modelos”.
Como os movimentos literários se formam em diversas regiões
simultaneamente, não se pode fixar com precisão o lugar onde o
Romantismo surgiu pela primeira vez.
Características do Romantiso
Entre a segunda metade do século XVIII e primeira do século XIX, com pequenas variações cronológicas de um país para outro, instala-se uma nova estética literária caracterizada basicamente por dois aspectos: a liberdade criadora do artista e a valorização de seu mundo pessoal, através do predomínio da emoção sobre a razão. Além de analisar estas duas características básicas, convém destacar, ainda, vários outros traços da obra romântica:
Anseio de liberdade criadora
Opondo-se aos ideais clássicos, revividos pelo Arcadismo, o artista romântico nega o princípio de mimesis (imitação) e busca expressar sua realidade interior, sem se preocupar com a forma. Não segue modelos, abandona as rígidas regras de métrica e rima; busca exteriorizar livremente o que lhe vai na alma: liberta seu inconsciente, foge da realidade para um mundo por ele idealizado, de acordo com as suas próprias emoções e desejos. Este anseio de liberdade relaciona-se às teorias de liberdade econômica, visto que as realizações e empreendimentos da burguesia ascendente encontravam apoio no liberalismo. Assim, a arte literária, reflexo de sua época, busca também afirmar-se em sua busca da liberdade criadora.
Subjetivismo
A realidade é vista através da atitude do escritor. Não existe a preocupação em fazer um retrato fiel e verídico da realidade, pois esta é oferecida ao leitor filtrada e mesmo distorcida pelas emoções do autor. O predomínio de verbos e pronomes possessivos em primeira pessoa ressalta o desejo de trazer à tona os sentimentos interiores, projetando-os sobre o mundo exterior.
Evasão ou escapismo
A queda dos regimes absolutistas e a ascensão da burguesia provocam, inicialmente, uma fase de euforia, em que se acredita que os ideais de Liberdade – Igualdade – Fraternidade, pregados pela Revolução Francesa, irão se concretizar. Cedo, porém, percebe-se que nem todas as classes sociais terão o direito de atingir esses ideais, pois a distância entre a burguesia capitalista industrial e o proletariado se aprofunda cada vez mais. Assim, desiludidos com seu próprio tempo e insatisfeitos com a realidade que os cerca, muitos autores românticos mergulham no chamado “mal do século”, postura de frustração e imobilismo em face da realidade. Descontentes com a época em que vivem, buscam formas de fugir dela, através de evasões:
_ no tempo: voltando em pensamento a época de sua infância, em que se sentiam protegidos pela figura da mãe ou da irmã ou, ainda, escrevendo textos ambientados na Idade Média, em que a figura heróica dos cavaleiros permite sonhar com grandes feitos e atos marcados pela honra e pela nobreza. É o caso da obra Eurico, o Presbítero, de Alexandre Herculano, por exemplo.
_ na morte: que é vista como solução para as tristezas e a insatisfação. Neste sentido, convém destacar a obra Werther, de Goethe, na qual a idéia de suicídio aparece com intensidade, mostrando-o como a única possibilidade de escapar do sofrimento a que o ser humano se expõe a cada dia.
Senso de Mistério
Sem conseguir adaptar-se a seu mundo, valorizando a morte como a única saída, o artísta romântico sente atração por ambientes noturnos, misteriosos, como cemitérios, ruas desertas, etc.
Culto a natureza
Influenciados pelas idéias de Rousseau, os românticos vêem na natureza um refúgio seguro para sua dores, visto que os vícios da civilização não chegam até ela.
Além disso, é importante lembrar que, no Arcadismo, a paisagem bucólica era utilizada como cenário para os amores do poeta, mais permanecia impassível, indiferente às emoções que ele sentia. No Romantismo, porém, a natureza compartilha o sofrimento do poeta, tornando-se reflexo de seu mundo interior. A natureza passa a ser uma extensão do eu do poeta, mostrando-se triste ou alegre como ele, dependendo de seu estado de espírito.
Reformismo
Insatisfeitos com seu mundo, o poeta propõe-se a mudá-lo, influenciado pelas correntes libertárias da época.Ansiando por grandes feitos que lhe tragam a glória, o poeta romântico dedica-se a causa sociais, como a abolição da escravatura, a república, etc.
Fé
Em oposição ao paganismo próprio do estilo de época anterior, os românticos cultivam a fé cristã e os ideais religiosos.
Idealização da mulher
A mulher não é mais vista sob o prisma do platonismo. O artista romântico ressalta a figura da mulher angelical e inatingível para ele, que se julga indigno dela; além disso, a mulher surge como elemento capaz de alterar a vida do poeta, o qual, sem ela, só tera paz na morte.
A figura materna aparece em destaque, representando o abrigo para o sofrimento e a dolorosa lembrança de um “paraíso perdido”.
Vale lembrar que, no Romantismo, a sensualidade está presente nas descrições femininas, mas apenas em relação às mulheres por quem o poeta se apaixona e que são, muitas vezes, apresentadas como prostitutas. Assim, a figura feminina oscila entre a pureza e a ingenuidade de um anjo e a luxúria de uma prostituta.
Cronologia
O Romantismo, no Brasil, configura-se da seguinte maneira:
de 1808 a 1836 – Pré-romantismo;
de 1836 a 1856 – o Romantismo propriamente dito;
de 1856 a 1870 – período de transição para o Realismo e o Parnasianismo
Primeiras manifestações
A imprensa literária e política teve um papel importante na fase inicial do Romantismo brasileiro: O Correio Brasileiense (1808 – 1822); As Variedades e Ensaios de Literatura (1812) – primeira revista literária do Brasil, fundada na Bahia, por Diogo Soares; O Patriota (1813 – 1814) – jornal literário, político e mercantil, fundado no Rio de Janeiro. Foi por intermédio da imprensa que se divulgaram as primeiras manifestações reformadoras da época. O jornalismo contribuiu para a definição do ambiente propício ao desenvolvimento do Romantismo em nossas terras.
O cultivo da poesia, em edições de autores portugueses e brasileiros, em traduções em prosa e em verso datam de 1810.
Em 1836, Gonçalves de Magalhães publica, em Paris, a Niterói – Revista Brasiliense, dando o impulso inicial ao movimento romântico brasileiro.
Nesse mesmo ano e local, Gonçalves de Magalhães publica Suspiros Poéticos e Saudades, livro de poesias românticas.
Panorama histórico e cultural
Para se compreender bem o Romantismo no Brasil, é necessário não esquecer os movimentos políticos, que consolidaram a independência, que coincidiram com as manifestações românticas.
Fatos históricos
Revolução Industrial – Inglaterra (1760)
Revolução Francesa (1789)
A vinda da família real para o Brasil (1808)
Fatos literários
Movimento romântico
O período histórico em que surge o Romantismo no Brasil é marcado pelo crescente sentimento de nacionalismo e pelo desejo de criar nossa independência política e econômica.
Além disso, com a vinda da família real portuguesa, em 1808, o Rio de Janeiro destaca-se como centro urbano, para o qual convergem artistas e ao qual chegam as mais recentes tendências da Europa. Com a abertura dos portos e a criação de indústrias (até então proibidas) fortalece-se o comércio. O pólo de riquezas desloca-se de Minas Gerais, cujas cidades haviam florescido com a extração mineral, para o Rio de Janeiro e, posteriormente, para São Paulo, onde começa a se desenvolver a cultura cafeeira. O Romantismo brasileiro é um reflexo de outros fatos importantes:
Em 1816, Jean Baptiste Debret bem para o Brasil com um grupo de artistas franceses, para formar aqui a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios. São apresentadas cerca de cinqüenta telas da pintura francesa e italiana. Nessa época, destacam-se ainda, outros artistas: na pintura, Pedro Américo e Vítor Meireles; na música, Carlos Gomes e Alberto Nepomuceno.
Em 1822, o Brasil alcança a sua autonomia política. Escritores de renome tomam consciência de sua função dentro do panorama cultural brasileiro.
Em 1833, a Sociedade Filomática, da Faculdade de Direito de São Paulo, comemora a independência do Brasil em um manifesto nacionalista e romântico: o abandono dos temas clássicos; a busca de temas nacionais e de uma “língua brasileira”.
Esse movimento, entretanto, não teve a repercussão conseguida pelo grupo da revista Niterói.
Em 1837, Gonçalves de Magalhães e Araújo Porto Alegre iniciam a campanha em prol da fundação de um teatro nacional.
A Prosa Romantica no Brasil
Os jornais e a literatura O Romantismo é
fruto de um complexo movimento de idéias políticas, sociais e
artísticas. Esse movimento encontra, no Brasil, um clima propício ao
seu desenvolvimento. O público leitor, representado por pessoas da
aristocracia rural, encontra na literatura um meio de entretenimento.
O objetivo dos primeiros jornais, no século XIX, é expandir a cultura entre os leitores médios. O jornalismo literário conta com vários adeptos. Os romances de folhetim, de crítica literária, de crônicas passam, então, a ser cultivados. Surgem cronistas importantes, entre eles José de Alencar. Dos seus folhetins, Ao Correr da Pena (1851-1855), sairão mais tarde romances urbanos como Senhora, Sonhos D'ouro, pautados em observações do autor sobre a sociedade do tempo. França Junior – o mais prestigiado cronista da época – publica seus folhetins nos jornais O Globo Ilustrado, O País, O Correio Mercantil. É preciso frisar que a difusão, em livro ou em jornal, de traduções livres, resumos de romance e narrativas populares da cultura estrangeira contribuiu bastante para a divulgação e consolidação desse novo gênero literário.
A prosa ficcional A ficção (romance, novela e contos) se inclui entre os gêneros literários preferidos pelo Romantismo. Com o estabelecimento da corte imperial no Brasil e com o crescente desenvolvimento de alguns núcleos urbanos, o público jovem começa a tomar um certo interesse pela literatura. É do agrado desse público leitor o romance que tenha uma história sentimental, com algum suspense e um desfecho feliz.
O romance romântico no Brasil tem como características marcante o nacionalismo literário. Entende-se por nacionalismo a tendência em escrever sobre coisas locais: lugares, cenas, fotos, costumes brasileiros. Essa tendência contribuiu para a naturalização da literatura portuguesa no Brasil. O romance foi uma forma verdadeira de pesquisar, descobrir e valorizar um país novo.
Nesse período do Romantismo brasileiro, a imaginação e a observação dos ficcionistas alargaram o horizonte da terra e do homem brasileiro. Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar, Visconde de Taunay, Bernardo Guimarães, Franklin Távora foram os expoentes máximos da ficção romântica no Brasil. A narrativa, no romance romântico, é feita em terceira pessoa. Tanto na poesia, como na ficção (exceto no teatro) a linguagem está impregnada de elementos plásticos e sonoros, de imagens e comparações; a linguagem é descritiva.
O Romantismo no Brasil é considerado um marco importante na história da literatura brasileira, porque coincide com o momento decisivo de definição da nacionalidade, que visa a valorizar e reconhecer o passado histórico. Classificação do romance romântico brasileiro É possível agrupar os romances românticos do Brasil a partir da temática de cada um deles. Formam-se inicialmente dois grandes grupos, abordando diferentemente a corte e a província, a partir dos quais podem ser feitas algumas subdivisões:
a) Corte: urbano. Autores: Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar, Manuel Antônio de Almeida.
b) Província: Regionalista – autores: José de Alencar, Bernardo Guimarães, Visconde de Taunay, Franklin Távora. Histórico – autores: José de Alencar, Visconde de Taunay. Indianista – autores: José de Alencar.
Romance urbano
Ambientado na corte, o romance urbano caracteriza-se pela crônica de costumes, retratando a vida social da época. A pequena burguesia é apresentada sem grande aprofundamento psicológico, visto que a sociedade brasileira, ainda pouco urbanizada, não propicia análises de suas relações sociais pouco variadas. Cenas de saraus, bailes, passeios ao campo, etc. alternam-se com complicações de caráter social e moral, como casamentos, namoros, bisbilhotices, etc.
São romances urbanos: A Moreninha, O Moço Loiro, A Luneta Mágica, de Joaquim Manuel de Macedo; Memórias de umSargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida; Diva, Lucíola, Senhora, A Pata da Gazela, Cinco Minutos e A Viuvinha, de José de Alencar.
Romance regionalista
O ambiente rústico, rural é focalizado. A atração pelo pitoresco leva o escrito romântico a pôr em evidência tipos humanos que vivem afastados do meio citadino. Isso observamos nos livros: O Cabeleira, de Franklin Távora; O Sertanejo, de José de Alencar; O Garimpeiro, A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães; Inocência, de Visconde de Taunay.
Romance histórico
Está ligado, pelo assunto, ao romance de “capa e espada”; revela o gosto pelo suspense e a ênfase à vingança punitiva. Há uma volta ao passado histórico, medieval. Apesar da influência estrangeira, pouco a pouco o romancista volta-se para a reconstituição do clima nacional; procura ser fiel aos hábitos, instituições e modus vivendi.
Romance indianista
O romancista procura valorizar as nossas origens. Há a transformação das personagens em heróis, que apresentam traços do caráter do bom selvagem: valentia, nobreza, brio. Essa tendência do romance romântico encontramos nas obras: O Guarani, Iracema e Ubirajara, de José de Alencar.
Divisão do Romantismo no Brasil
Em relação à poesia, podemos agrupar a obra romântica em três gerações:
_ 1ª Geração: temática – nacionalista / indianista; autores: Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias, Araújo Porto Alegre
_ 2ª Geração: temática – “mal-do-século” / ultra-romantismo; autores: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela, Junqueira Freire
_ 3ª Geração: temática – social e libertária; autores: Castro Alves, Tobias Barreto, Sousândrade
Quanto à prosa romântica, os autores que se destacaram foram:
_ Joaquim Manuel de Macedo;
_ José de Alencar;
_ Bernardo Guimarães;
_ Franklin Távora;
_ Alfredo Taunay;
_ Manuel Antônio de Almeida.
Primeira Geração Romântica (indianista / nacionalista)
Esta geração é marcada intensamente pela busca de uma identidade nacional. Voltados para a recuperação das tradições brasileiras, por influência de autores europeus, os poetas desta primeira geração tentam resgatar, através da figura do índio, do herói que, na Europa, foi encontrado na Idade Média. O cenário tropical, retratado em toda a sua exuberância, é usado como motivo de orgulho e patriotismo. O poeta desta fase exalta a natureza brasileira, inserindo nela um indígena idealizado, nobre como um cavaleiro das Cruzadas, cheio de fidalguia e honra, corajoso e belo. É ele quem vai simbolizar nossas raízes, ao mesmo tempo em que enaltece as características próprias do povo brasileiro e ressalta a importância da independência.
Segunda Geração Romântica (ultra-romântica)
É chamada de geração byroniana devido a influência de Byron e de Musset – românticos europeus que levaram ao extremo a exacerbação dos sentimentos e fantasias mórbidas. Os principais temas das composições poéticas desse período giram em torno de: egocentrismo, dúvidas, tristezas, pessimismo, desenganos, tédio, amor insatisfeito, depressão, auto-ironia masoquista, obsessão pela morte como solução para os problemas emocionais. O tema predileto dos poetas ultra-românticos é a fuga da realidade.
Como conseqüência dessa total insatisfação perante a realidade, há a morte prematura de um grande número de jovens (entre 20 e 30 anos), constituindo-se num verdadeiro “mal do século”. Os poetas brasileiros dessa fase do Romantismo dão grande ênfase à vida sentimental. A poesia, desse modo, é intimista e egocêntrica. As figuras mais representativas da segunda geração romântica são: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire. A geração byroniana caracteriza-se por:
a) pessimismo: reflexo de uma atitude de insatisfação perante a vida. A angústia, a tristeza, o desespero e o tédio são temas constantes na poesia individualista e subjetivista da geração do chamado “mal do século”;
b) morbidez: a morte é vista como saída para as crises de depressão. Os poetas vêem nela o único momento de paz que terão, já que, vivos, sentem-se atormentados pelo desespero de viver em um mundo que não lhes satisfaz;
c) satanismo: a presença do demônio, as cerimônias demoníacas e o inferno visto como um prolongamento das dores e das orgias da terra são freqüentes nos poetas ultra-românticos;
d) mistério: preferência por ambientes fúnebres, escuros, misteriosos, apropriados aos rituais satânicos e à reflexão sobre a morte e a depressão.
Terceira geração romântica (condoreira / hugoana ou social)
Entre 1860 e 1870, o Brasil atravessa um período de agitação político-social em decorrência do enfraquecimento do regime monárquico. Idéias liberais e democráticas fervilham e difundem-se entre a população esclarecida. Formam-se grupos defensores dos ideais abolicionistas; realizam-se freqüentes assembléias e comícios públicos. Entre os estudantes, são constantes as discussões políticas; as novas idéias agitam as faculdades de Direito de São Paulo e de Olinda.
Tornam-se conhecidos no Brasil os textos inflamados e eloqüentes do poeta francês Victor Hugo, que exerce forte influência sobre a juventude da época. Sua poesia fala de liberdade, de igualdade social, de reformas que tornem o mundo melhor. É a chamada poesia condoneira, que têm ideais elevados e tenta alcançar as alturas, como o condor, ave que voa acima das cordilheiras dos Andes. É neste panorama histórico e cultural que surge a terceira geração romântica brasileira. Veja algumas de suas características:
a) poesia de fundo social, defensora da República, das revoluções e do Abolicionismo;
b) ênfase na função apelativa, por ser um tipo de poesia própria para ser declamado em praça pública; o objetivo é empolgar os ouvintes;
c) uso de apóstrofes, de grande efeito retórico;
d) presença constante de antíteses, hipérboles, metáforas, dando maior colorido ao texto.
PRINCIPAIS AUTORES DA PROSA ROMÂNTICA BRASILEIRA
José Martiniano de Alencar (Mecejana - CE, 1829 – Rio de Janeiro – RJ, 1877) Transfere-se com a família para o Rio de Janeiro, onde faz os primeiros estudos. Apaixona-se muito cedo pela literatura. Em 1843, leva para São Paulo esboços de romance. É nessa cidade que faz o curso de Direito. Fica conhecido sob o pseudônimo de Ig; critica o poema de Gonçalves de Magalhães, escrevendo, em 1856, Cartas sobre a Confederação dos Tamoios, o que motiva uma série polêmica. Esse fato desgosta o imperador D. Pedro II. Sofre terrível campanha da parte de José Feliciano de Castilho e de Franklin Távora, apoiados por D. Pedro II. Defendeu a autonomia do falar português no Brasil, e, por isso, foi acusado de fazer incorreções de linguagem.
José de Alencar é o mais importante dos romancistas românticos, devido à diversidade e extensão de sua obra, à sua linguagem rica e poética, e aos temas de caráter nacional que utilizou. Segundo Raquel de Queirós, “Alencar é o verdadeiro pai do nosso romance”. O estilo alencariano é uma das grandes contribuições à literatura brasileira incipiente. Alencar preocupa-se com o problema da língua e do estilo. A sua obra traduz particularidades sintáticas e vocabulares do falar brasileiro. Enriquece a língua literária de inúmeros tupinismos e brasileirismos. Além disso, seu estilo é sonoro e brilhante, um tanto declamatório, ao gosto da época. Sua obra compreende romances urbanos, indianistas, regionalistas e históricos.
Em seus Romances urbanos, Alencar retrata a vida do Rio de Janeiro, à época do Segundo Império, mostrando os costumes burgueses brasileiros. Seus romances revelam dramas sociais e morais como a hipocrisia, a corrupção da sociedade, o casamento por conveniência, o patriarcalismo. Defende os direitos da mulher ao amor e à liberdade, estudando perfis femininos complicados e profundos. São livros desta fase: A Viuvinha e Cinco Minutos, Diva, Senhora, A Pata da Gazela, Sonhos D'ouro, Lucíola, Encarnação.
Os romances regionalistas de Alencar representam quadros de várias regiões brasileiras: o sul (O Gaúcho), a área rural fluminense (O Tronco do Ipê) e o nordeste (O Sertanejo). Através da exploração dessas características regionais do país, Alencar busca criar uma literatura verdadeiramente nacional, marcada pela exaltação dos diversos tipos e das diferentes paisagens brasileiras.
Como criador de romances indianistas, Alencar tenta representar um selvagem que simbolize a autonomia americana e a afirmação nacional. Cria personagens indígenas marcados pelas qualidades morais, pela honra e pela pureza, influenciado pela teoria do “bom selvagem” de Rosseau. São índios, na verdade, que representam os valores da cristandade e da nobreza, idealizados ao extremo, muitas vezes perdendo, na obra de Alencar, as características próprias de sua cultura. Além disso, na tentativa de ressaltar valores nacionais, Alencar resvala no conflito simplista entre bem e mal, colonizador e colonizado, selvagem e civilizado. Suas principais obras são: O Guarani, Iracema e Ubirajara. Finalmente, os romances históricos de Alencar exploram as lutas pela posse da terra e pelas riquezas brasileiras, mostrando as aventuras dos bandeirantes, o povoamento dos sertões e os conflitos entre brasileiros e portugueses. Suas principais obras são: As Minas de Prata, O Garatuja e A Guerra dos Mascates.
O objetivo dos primeiros jornais, no século XIX, é expandir a cultura entre os leitores médios. O jornalismo literário conta com vários adeptos. Os romances de folhetim, de crítica literária, de crônicas passam, então, a ser cultivados. Surgem cronistas importantes, entre eles José de Alencar. Dos seus folhetins, Ao Correr da Pena (1851-1855), sairão mais tarde romances urbanos como Senhora, Sonhos D'ouro, pautados em observações do autor sobre a sociedade do tempo. França Junior – o mais prestigiado cronista da época – publica seus folhetins nos jornais O Globo Ilustrado, O País, O Correio Mercantil. É preciso frisar que a difusão, em livro ou em jornal, de traduções livres, resumos de romance e narrativas populares da cultura estrangeira contribuiu bastante para a divulgação e consolidação desse novo gênero literário.
A prosa ficcional A ficção (romance, novela e contos) se inclui entre os gêneros literários preferidos pelo Romantismo. Com o estabelecimento da corte imperial no Brasil e com o crescente desenvolvimento de alguns núcleos urbanos, o público jovem começa a tomar um certo interesse pela literatura. É do agrado desse público leitor o romance que tenha uma história sentimental, com algum suspense e um desfecho feliz.
O romance romântico no Brasil tem como características marcante o nacionalismo literário. Entende-se por nacionalismo a tendência em escrever sobre coisas locais: lugares, cenas, fotos, costumes brasileiros. Essa tendência contribuiu para a naturalização da literatura portuguesa no Brasil. O romance foi uma forma verdadeira de pesquisar, descobrir e valorizar um país novo.
Nesse período do Romantismo brasileiro, a imaginação e a observação dos ficcionistas alargaram o horizonte da terra e do homem brasileiro. Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar, Visconde de Taunay, Bernardo Guimarães, Franklin Távora foram os expoentes máximos da ficção romântica no Brasil. A narrativa, no romance romântico, é feita em terceira pessoa. Tanto na poesia, como na ficção (exceto no teatro) a linguagem está impregnada de elementos plásticos e sonoros, de imagens e comparações; a linguagem é descritiva.
O Romantismo no Brasil é considerado um marco importante na história da literatura brasileira, porque coincide com o momento decisivo de definição da nacionalidade, que visa a valorizar e reconhecer o passado histórico. Classificação do romance romântico brasileiro É possível agrupar os romances românticos do Brasil a partir da temática de cada um deles. Formam-se inicialmente dois grandes grupos, abordando diferentemente a corte e a província, a partir dos quais podem ser feitas algumas subdivisões:
a) Corte: urbano. Autores: Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar, Manuel Antônio de Almeida.
b) Província: Regionalista – autores: José de Alencar, Bernardo Guimarães, Visconde de Taunay, Franklin Távora. Histórico – autores: José de Alencar, Visconde de Taunay. Indianista – autores: José de Alencar.
Romance urbano
Ambientado na corte, o romance urbano caracteriza-se pela crônica de costumes, retratando a vida social da época. A pequena burguesia é apresentada sem grande aprofundamento psicológico, visto que a sociedade brasileira, ainda pouco urbanizada, não propicia análises de suas relações sociais pouco variadas. Cenas de saraus, bailes, passeios ao campo, etc. alternam-se com complicações de caráter social e moral, como casamentos, namoros, bisbilhotices, etc.
São romances urbanos: A Moreninha, O Moço Loiro, A Luneta Mágica, de Joaquim Manuel de Macedo; Memórias de umSargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida; Diva, Lucíola, Senhora, A Pata da Gazela, Cinco Minutos e A Viuvinha, de José de Alencar.
Romance regionalista
O ambiente rústico, rural é focalizado. A atração pelo pitoresco leva o escrito romântico a pôr em evidência tipos humanos que vivem afastados do meio citadino. Isso observamos nos livros: O Cabeleira, de Franklin Távora; O Sertanejo, de José de Alencar; O Garimpeiro, A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães; Inocência, de Visconde de Taunay.
Romance histórico
Está ligado, pelo assunto, ao romance de “capa e espada”; revela o gosto pelo suspense e a ênfase à vingança punitiva. Há uma volta ao passado histórico, medieval. Apesar da influência estrangeira, pouco a pouco o romancista volta-se para a reconstituição do clima nacional; procura ser fiel aos hábitos, instituições e modus vivendi.
Romance indianista
O romancista procura valorizar as nossas origens. Há a transformação das personagens em heróis, que apresentam traços do caráter do bom selvagem: valentia, nobreza, brio. Essa tendência do romance romântico encontramos nas obras: O Guarani, Iracema e Ubirajara, de José de Alencar.
Divisão do Romantismo no Brasil
Em relação à poesia, podemos agrupar a obra romântica em três gerações:
_ 1ª Geração: temática – nacionalista / indianista; autores: Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias, Araújo Porto Alegre
_ 2ª Geração: temática – “mal-do-século” / ultra-romantismo; autores: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela, Junqueira Freire
_ 3ª Geração: temática – social e libertária; autores: Castro Alves, Tobias Barreto, Sousândrade
Quanto à prosa romântica, os autores que se destacaram foram:
_ Joaquim Manuel de Macedo;
_ José de Alencar;
_ Bernardo Guimarães;
_ Franklin Távora;
_ Alfredo Taunay;
_ Manuel Antônio de Almeida.
Primeira Geração Romântica (indianista / nacionalista)
Esta geração é marcada intensamente pela busca de uma identidade nacional. Voltados para a recuperação das tradições brasileiras, por influência de autores europeus, os poetas desta primeira geração tentam resgatar, através da figura do índio, do herói que, na Europa, foi encontrado na Idade Média. O cenário tropical, retratado em toda a sua exuberância, é usado como motivo de orgulho e patriotismo. O poeta desta fase exalta a natureza brasileira, inserindo nela um indígena idealizado, nobre como um cavaleiro das Cruzadas, cheio de fidalguia e honra, corajoso e belo. É ele quem vai simbolizar nossas raízes, ao mesmo tempo em que enaltece as características próprias do povo brasileiro e ressalta a importância da independência.
Segunda Geração Romântica (ultra-romântica)
É chamada de geração byroniana devido a influência de Byron e de Musset – românticos europeus que levaram ao extremo a exacerbação dos sentimentos e fantasias mórbidas. Os principais temas das composições poéticas desse período giram em torno de: egocentrismo, dúvidas, tristezas, pessimismo, desenganos, tédio, amor insatisfeito, depressão, auto-ironia masoquista, obsessão pela morte como solução para os problemas emocionais. O tema predileto dos poetas ultra-românticos é a fuga da realidade.
Como conseqüência dessa total insatisfação perante a realidade, há a morte prematura de um grande número de jovens (entre 20 e 30 anos), constituindo-se num verdadeiro “mal do século”. Os poetas brasileiros dessa fase do Romantismo dão grande ênfase à vida sentimental. A poesia, desse modo, é intimista e egocêntrica. As figuras mais representativas da segunda geração romântica são: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire. A geração byroniana caracteriza-se por:
a) pessimismo: reflexo de uma atitude de insatisfação perante a vida. A angústia, a tristeza, o desespero e o tédio são temas constantes na poesia individualista e subjetivista da geração do chamado “mal do século”;
b) morbidez: a morte é vista como saída para as crises de depressão. Os poetas vêem nela o único momento de paz que terão, já que, vivos, sentem-se atormentados pelo desespero de viver em um mundo que não lhes satisfaz;
c) satanismo: a presença do demônio, as cerimônias demoníacas e o inferno visto como um prolongamento das dores e das orgias da terra são freqüentes nos poetas ultra-românticos;
d) mistério: preferência por ambientes fúnebres, escuros, misteriosos, apropriados aos rituais satânicos e à reflexão sobre a morte e a depressão.
Terceira geração romântica (condoreira / hugoana ou social)
Entre 1860 e 1870, o Brasil atravessa um período de agitação político-social em decorrência do enfraquecimento do regime monárquico. Idéias liberais e democráticas fervilham e difundem-se entre a população esclarecida. Formam-se grupos defensores dos ideais abolicionistas; realizam-se freqüentes assembléias e comícios públicos. Entre os estudantes, são constantes as discussões políticas; as novas idéias agitam as faculdades de Direito de São Paulo e de Olinda.
Tornam-se conhecidos no Brasil os textos inflamados e eloqüentes do poeta francês Victor Hugo, que exerce forte influência sobre a juventude da época. Sua poesia fala de liberdade, de igualdade social, de reformas que tornem o mundo melhor. É a chamada poesia condoneira, que têm ideais elevados e tenta alcançar as alturas, como o condor, ave que voa acima das cordilheiras dos Andes. É neste panorama histórico e cultural que surge a terceira geração romântica brasileira. Veja algumas de suas características:
a) poesia de fundo social, defensora da República, das revoluções e do Abolicionismo;
b) ênfase na função apelativa, por ser um tipo de poesia própria para ser declamado em praça pública; o objetivo é empolgar os ouvintes;
c) uso de apóstrofes, de grande efeito retórico;
d) presença constante de antíteses, hipérboles, metáforas, dando maior colorido ao texto.
PRINCIPAIS AUTORES DA PROSA ROMÂNTICA BRASILEIRA
José Martiniano de Alencar (Mecejana - CE, 1829 – Rio de Janeiro – RJ, 1877) Transfere-se com a família para o Rio de Janeiro, onde faz os primeiros estudos. Apaixona-se muito cedo pela literatura. Em 1843, leva para São Paulo esboços de romance. É nessa cidade que faz o curso de Direito. Fica conhecido sob o pseudônimo de Ig; critica o poema de Gonçalves de Magalhães, escrevendo, em 1856, Cartas sobre a Confederação dos Tamoios, o que motiva uma série polêmica. Esse fato desgosta o imperador D. Pedro II. Sofre terrível campanha da parte de José Feliciano de Castilho e de Franklin Távora, apoiados por D. Pedro II. Defendeu a autonomia do falar português no Brasil, e, por isso, foi acusado de fazer incorreções de linguagem.
José de Alencar é o mais importante dos romancistas românticos, devido à diversidade e extensão de sua obra, à sua linguagem rica e poética, e aos temas de caráter nacional que utilizou. Segundo Raquel de Queirós, “Alencar é o verdadeiro pai do nosso romance”. O estilo alencariano é uma das grandes contribuições à literatura brasileira incipiente. Alencar preocupa-se com o problema da língua e do estilo. A sua obra traduz particularidades sintáticas e vocabulares do falar brasileiro. Enriquece a língua literária de inúmeros tupinismos e brasileirismos. Além disso, seu estilo é sonoro e brilhante, um tanto declamatório, ao gosto da época. Sua obra compreende romances urbanos, indianistas, regionalistas e históricos.
Em seus Romances urbanos, Alencar retrata a vida do Rio de Janeiro, à época do Segundo Império, mostrando os costumes burgueses brasileiros. Seus romances revelam dramas sociais e morais como a hipocrisia, a corrupção da sociedade, o casamento por conveniência, o patriarcalismo. Defende os direitos da mulher ao amor e à liberdade, estudando perfis femininos complicados e profundos. São livros desta fase: A Viuvinha e Cinco Minutos, Diva, Senhora, A Pata da Gazela, Sonhos D'ouro, Lucíola, Encarnação.
Os romances regionalistas de Alencar representam quadros de várias regiões brasileiras: o sul (O Gaúcho), a área rural fluminense (O Tronco do Ipê) e o nordeste (O Sertanejo). Através da exploração dessas características regionais do país, Alencar busca criar uma literatura verdadeiramente nacional, marcada pela exaltação dos diversos tipos e das diferentes paisagens brasileiras.
Como criador de romances indianistas, Alencar tenta representar um selvagem que simbolize a autonomia americana e a afirmação nacional. Cria personagens indígenas marcados pelas qualidades morais, pela honra e pela pureza, influenciado pela teoria do “bom selvagem” de Rosseau. São índios, na verdade, que representam os valores da cristandade e da nobreza, idealizados ao extremo, muitas vezes perdendo, na obra de Alencar, as características próprias de sua cultura. Além disso, na tentativa de ressaltar valores nacionais, Alencar resvala no conflito simplista entre bem e mal, colonizador e colonizado, selvagem e civilizado. Suas principais obras são: O Guarani, Iracema e Ubirajara. Finalmente, os romances históricos de Alencar exploram as lutas pela posse da terra e pelas riquezas brasileiras, mostrando as aventuras dos bandeirantes, o povoamento dos sertões e os conflitos entre brasileiros e portugueses. Suas principais obras são: As Minas de Prata, O Garatuja e A Guerra dos Mascates.
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