segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O ROMANTISMO NO BRASIL

      No Romantismo, o narrador-personagem expressa seu desejo, seu sonho; idealiza para si mesmo um comportamento com base na simplicidade; supervaloriza os bens adquiridos através de uma vida simples, longe dos vícios da sociedade urbana. Essa fuga da realidade para um mundo de sonhos, esse modo de ver e sentir o mundo exterior, esse modo de agir, atendendo às solicitações de seu espírito, tudo isso são características de um comportamento romântico. 
     Os sonhos, o amor à natureza, o saudosismo, as emoções em geral sempre existiram em qualquer época. Se voltarmos ao período anterior a este, vamos observar que nas composições poéticas de Tomás Antônio Gonzaga e Gregório de Matos encontramos a mesma nota sentimental e subjetivista dos românticos. Mas, em dado momento, esse estado de espírito, esse temperamento romântico acentuou-se, manifestando-se de forma mais exaltada, apaixonada, emocional, vigorosa, configurando-se num estilo de época: o Romantismo. 

Origem e panorama histórico 
     Como vimos anteriormente, o Arcadismo ou Neoclassicismo representou, literariamente, um retorno aos ideais grego-latinos de beleza, equilíbrio e perfeição. Foi um movimento estético em que a razão predominou, subjugando o sentimento, visto que o século XVIII foi denominado o “Século das Luzes”, por orientar-se primordialmente pelo uso da capacidade racional do homem. A partir da segunda metade do século XVIII, porém, o panorama histórico começa a sofrer modificações marcantes que influenciam, de forma decisiva, a produção literária da época. Com a Revolução Industrial e conseqüente alteração no modo de produção, a sociedade divide-se em duas classes distintas: a burguesia capitalista e o proletariado. Politicamente, o absolutismo monárquico dá lugar ao liberalismo, através de movimentos que refletem a ascensão da burguesia, como a Revolução Francesa (1789). 
     Os processos de independência do Brasil e dos Estados Unidos geram lutas civis entre liberais e conservadores, numa tentativa de consolidar as novas forças. Com a industrialização, formam-se as grandes massas urbanas. O mercado literário, antes restrito aos salões da aristocracia, amplia-se e diversifica-se, atendendo aos interesses da nova classe dominante: a burguesia, que passa a ser grande apreciadora dessa arte literária. Os ideais de liberdade acentuam-se, politicamente, e é possível notar seus reflexos na literatura, na frase do escritor francês Victor Hugo: “Nada de regras, nem de modelos”. Como os movimentos literários se formam em diversas regiões simultaneamente, não se pode fixar com precisão o lugar onde o Romantismo surgiu pela primeira vez.
     Na Alemanha, Goethe publica, em 1774, Werther, e Schiller, em 1781, publica Os Salteadores, lançando as bases do sentimentalismo romântico. Na Inglaterra, nos primeiros anos do século XIX, o Romantismo se manifesta através da poesia ultra-romântica de Byron e do romance histórico de Walter Scott intitulado Ivanhoé. Desde 1724, na Escócia, Allan Ramsay, numa forma de reação contra a poesia clássica, cultiva a poesia espontânea, natural e de cor local (conjunto de circunstâncias que caracterizam, numa obra de arte, com maior ou menor fidelidade, um lugar, um ambiente ou uma época). Esta reação anticlássica é mais tarde reforçada e divulgada na França. 
     O Romantismo francês foi fortemente influenciado pelas idéias do filósofo Jean Jacques Rousseau que expôs a teoria de que o homem nasce puro e que a vida em sociedade o corrompe. Segundo Rosseau, só em contato com a natureza é que o homem retorna ao seu estado de pureza original; neste sentido, enfatiza-se a figura do “bom selvagem”, ser humano que não foi corrompido pela civilização. A publicação do poema Camões, de Almeida Garrett, em 1825, é considerada o marco inicial do Romantismo em Portugal, que se consolida a partir de 1836, com a publicação da revista Panorama. Nessa revista aparecem textos literários de Alexandre Herculano e dramas deAlmeida Garret. 
     No Brasil, o movimento romântico iniciar-se em 1836 com a publicação, em Paris, da revista brasiliense Niterói. Um dos seus diretores – Gonçalves de Magalhães – lança, no mesmo ano, Suspiros Poéticos e Saudades – livro de poesias. O Romantismo no Brasil coincide com os movimentos políticos de independência. De fato, a literatura dos princípios do século XIX reflete um profundo sentimento nacionalista. A literatura romântica expressa uma ligação com o movimento libertador de 1822, um desejo de construir uma pátria nova, de criar uma literatura nacional. Segundo Karl Mannheim, “o Romantismo expressa os sentimentos dos descontentes com as novas estruturas: a nobreza decadente e a pequena burguesia em ascensão”. Daí as atitudes saudosistas ou reivindicatórias que caracterizam o Romantismo.


Características do Romantiso

     Entre a segunda metade do século XVIII e primeira do século XIX, com pequenas variações cronológicas de um país para outro, instala-se uma nova estética literária caracterizada basicamente por dois aspectos: a liberdade criadora do artista e a valorização de seu mundo pessoal, através do predomínio da emoção sobre a razão. Além de analisar estas duas características básicas, convém destacar, ainda, vários outros traços da obra romântica:

Anseio de liberdade criadora
     Opondo-se aos ideais clássicos, revividos pelo Arcadismo, o artista romântico nega o princípio de mimesis (imitação) e busca expressar sua realidade interior, sem se preocupar com a forma. Não segue modelos, abandona as rígidas regras de métrica e rima; busca exteriorizar livremente o que lhe vai na alma: liberta seu inconsciente, foge da realidade para um mundo por ele idealizado, de acordo com as suas próprias emoções e desejos. Este anseio de liberdade relaciona-se às teorias de liberdade econômica, visto que as realizações e empreendimentos da burguesia ascendente encontravam apoio no liberalismo. Assim, a arte literária, reflexo de sua época, busca também afirmar-se em sua busca da liberdade criadora.

Subjetivismo
     A realidade é vista através da atitude do escritor. Não existe a preocupação em fazer um retrato fiel e verídico da realidade, pois esta é oferecida ao leitor filtrada e mesmo distorcida pelas emoções do autor. O predomínio de verbos e pronomes possessivos em primeira pessoa ressalta o desejo de trazer à tona os sentimentos interiores, projetando-os sobre o mundo exterior.

Evasão ou escapismo
     A queda dos regimes absolutistas e a ascensão da burguesia provocam, inicialmente, uma fase de euforia, em que se acredita que os ideais de Liberdade – Igualdade – Fraternidade, pregados pela Revolução Francesa, irão se concretizar. Cedo, porém, percebe-se que nem todas as classes sociais terão o direito de atingir esses ideais, pois a distância entre a burguesia capitalista industrial e o proletariado se aprofunda cada vez mais. Assim, desiludidos com seu próprio tempo e insatisfeitos com a realidade que os cerca, muitos autores românticos mergulham no chamado “mal do século”, postura de frustração e imobilismo em face da realidade. Descontentes com a época em que vivem, buscam formas de fugir dela, através de evasões:
_ no tempo: voltando em pensamento a época de sua infância, em que se sentiam protegidos pela figura da mãe ou da irmã ou, ainda, escrevendo textos ambientados na Idade Média, em que a figura heróica dos cavaleiros permite sonhar com grandes feitos e atos marcados pela honra e pela nobreza. É o caso da obra Eurico, o Presbítero, de Alexandre Herculano, por exemplo.
_ na morte: que é vista como solução para as tristezas e a insatisfação. Neste sentido, convém destacar a obra Werther, de Goethe, na qual a idéia de suicídio aparece com intensidade, mostrando-o como a única possibilidade de escapar do sofrimento a que o ser humano se expõe a cada dia.

Senso de Mistério
     Sem conseguir adaptar-se a seu mundo, valorizando a morte como a única saída, o artísta romântico sente atração por ambientes noturnos, misteriosos, como cemitérios, ruas desertas, etc.

Culto a natureza
     Influenciados pelas idéias de Rousseau, os românticos vêem na natureza um refúgio seguro para sua dores, visto que os vícios da civilização não chegam até ela.
     Além disso, é importante lembrar que, no Arcadismo, a paisagem bucólica era utilizada como cenário para os amores do poeta, mais permanecia impassível, indiferente às emoções que ele sentia. No Romantismo, porém, a natureza compartilha o sofrimento do poeta, tornando-se reflexo de seu mundo interior. A natureza passa a ser uma extensão do eu do poeta, mostrando-se triste ou alegre como ele, dependendo de seu estado de espírito.

Reformismo
     Insatisfeitos com seu mundo, o poeta propõe-se a mudá-lo, influenciado pelas correntes libertárias da época.Ansiando por grandes feitos que lhe tragam a glória, o poeta romântico dedica-se a causa sociais, como a abolição da escravatura, a república, etc.


     Em oposição ao paganismo próprio do estilo de época anterior, os românticos cultivam a fé cristã e os ideais religiosos.

Idealização da mulher
     A mulher não é mais vista sob o prisma do platonismo. O artista romântico ressalta a figura da mulher angelical e inatingível para ele, que se julga indigno dela; além disso, a mulher surge como elemento capaz de alterar a vida do poeta, o qual, sem ela, só tera paz na morte.
     A figura materna aparece em destaque, representando o abrigo para o sofrimento e a dolorosa lembrança de um “paraíso perdido”.
     Vale lembrar que, no Romantismo, a sensualidade está presente nas descrições femininas, mas apenas em relação às mulheres por quem o poeta se apaixona e que são, muitas vezes, apresentadas como prostitutas. Assim, a figura feminina oscila entre a pureza e a ingenuidade de um anjo e a luxúria de uma prostituta.


Cronologia


     O Romantismo, no Brasil, configura-se da seguinte maneira:
de 1808 a 1836 – Pré-romantismo;
de 1836 a 1856 – o Romantismo propriamente dito;
de 1856 a 1870 – período de transição para o Realismo e o Parnasianismo


Primeiras manifestações


     A imprensa literária e política teve um papel importante na fase inicial do Romantismo brasileiro: O Correio Brasileiense (1808 – 1822); As Variedades e Ensaios de Literatura (1812) – primeira revista literária do Brasil, fundada na Bahia, por Diogo Soares; O Patriota (1813 – 1814) – jornal literário, político e mercantil, fundado no Rio de Janeiro. Foi por intermédio da imprensa que se divulgaram as primeiras manifestações reformadoras da época. O jornalismo contribuiu para a definição do ambiente propício ao desenvolvimento do Romantismo em nossas terras.
     O cultivo da poesia, em edições de autores portugueses e brasileiros, em traduções em prosa e em verso datam de 1810.
     Em 1836, Gonçalves de Magalhães publica, em Paris, a Niterói – Revista Brasiliense, dando o impulso inicial ao movimento romântico brasileiro.
     Nesse mesmo ano e local, Gonçalves de Magalhães publica Suspiros Poéticos e Saudades, livro de poesias românticas.


Panorama histórico e cultural


     Para se compreender bem o Romantismo no Brasil, é necessário não esquecer os movimentos políticos, que consolidaram a independência, que coincidiram com as manifestações românticas.


Fatos históricos


Revolução Industrial – Inglaterra (1760)
Revolução Francesa (1789)
A vinda da família real para o Brasil (1808)


Fatos literários
Movimento romântico



     O período histórico em que surge o Romantismo no Brasil é marcado pelo crescente sentimento de nacionalismo e pelo desejo de criar nossa independência política e econômica.
     Além disso, com a vinda da família real portuguesa, em 1808, o Rio de Janeiro destaca-se como centro urbano, para o qual convergem artistas e ao qual chegam as mais recentes tendências da Europa. Com a abertura dos portos e a criação de indústrias (até então proibidas) fortalece-se o comércio. O pólo de riquezas desloca-se de Minas Gerais, cujas cidades haviam florescido com a extração mineral, para o Rio de Janeiro e, posteriormente, para São Paulo, onde começa a se desenvolver a cultura cafeeira. O Romantismo brasileiro é um reflexo de outros fatos importantes:
     Em 1816, Jean Baptiste Debret bem para o Brasil com um grupo de artistas franceses, para formar aqui a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios. São apresentadas cerca de cinqüenta telas da pintura francesa e italiana. Nessa época, destacam-se ainda, outros artistas: na pintura, Pedro Américo e Vítor Meireles; na música, Carlos Gomes e Alberto Nepomuceno.
     Em 1822, o Brasil alcança a sua autonomia política. Escritores de renome tomam consciência de sua função dentro do panorama cultural brasileiro.
     Em 1833, a Sociedade Filomática, da Faculdade de Direito de São Paulo, comemora a independência do Brasil em um manifesto nacionalista e romântico: o abandono dos temas clássicos; a busca de temas nacionais e de uma “língua brasileira”.
     Esse movimento, entretanto, não teve a repercussão conseguida pelo grupo da revista Niterói.
Em 1837, Gonçalves de Magalhães e Araújo Porto Alegre iniciam a campanha em prol da fundação de um teatro nacional. 


A Prosa Romantica no Brasil


     Os jornais e a literatura O Romantismo é fruto de um complexo movimento de idéias políticas, sociais e artísticas. Esse movimento encontra, no Brasil, um clima propício ao seu desenvolvimento. O público leitor, representado por pessoas da aristocracia rural, encontra na literatura um meio de entretenimento.
     O objetivo dos primeiros jornais, no século XIX, é expandir a cultura entre os leitores médios.  O jornalismo literário conta com vários adeptos. Os romances de folhetim, de crítica literária, de crônicas passam, então, a ser cultivados. Surgem cronistas importantes, entre eles José de Alencar. Dos seus folhetins, Ao Correr da Pena (1851-1855), sairão mais tarde romances urbanos como Senhora, Sonhos D'ouro, pautados em observações do autor sobre a sociedade do tempo. França Junior – o mais prestigiado cronista da época – publica seus folhetins nos jornais O Globo Ilustrado, O País, O Correio Mercantil. É preciso frisar que a difusão, em livro ou em jornal, de traduções livres, resumos de romance e narrativas populares da cultura estrangeira contribuiu bastante para a divulgação e consolidação desse novo gênero literário.
     A prosa ficcional A ficção (romance, novela e contos) se inclui entre os gêneros literários preferidos pelo Romantismo. Com o estabelecimento da corte imperial no Brasil e com o crescente desenvolvimento de alguns núcleos urbanos, o público jovem começa a tomar um certo interesse pela literatura. É do agrado desse público leitor o romance que tenha uma história sentimental, com algum suspense e um desfecho feliz.
     O romance romântico no Brasil tem como características marcante o nacionalismo literário. Entende-se por nacionalismo a tendência em escrever sobre coisas locais: lugares, cenas, fotos, costumes brasileiros. Essa tendência contribuiu para a naturalização da literatura portuguesa no Brasil. O romance foi uma forma verdadeira de pesquisar, descobrir e valorizar um país novo.
     Nesse período do Romantismo brasileiro, a imaginação e a observação dos ficcionistas alargaram o horizonte da terra e do homem brasileiro. Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar, Visconde de Taunay, Bernardo Guimarães, Franklin Távora foram os expoentes máximos da ficção romântica no Brasil. A narrativa, no romance romântico, é feita em terceira pessoa. Tanto na poesia, como na ficção (exceto no teatro) a linguagem está impregnada de elementos plásticos e sonoros, de imagens e comparações; a linguagem é descritiva.
     O Romantismo no Brasil é considerado um marco importante na história da literatura brasileira, porque coincide com o momento decisivo de definição da nacionalidade, que visa a valorizar e reconhecer o passado histórico. Classificação do romance romântico brasileiro É possível agrupar os romances românticos do Brasil a partir da temática de cada um deles. Formam-se inicialmente dois grandes grupos, abordando diferentemente a corte e a província, a partir dos quais podem ser feitas algumas subdivisões:
a) Corte: urbano. Autores: Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar, Manuel Antônio de Almeida.
b) Província: Regionalista – autores: José de Alencar, Bernardo Guimarães, Visconde de Taunay, Franklin Távora. Histórico – autores: José de Alencar, Visconde de Taunay. Indianista – autores: José de Alencar.

Romance urbano

     Ambientado na corte, o romance urbano caracteriza-se pela crônica de costumes, retratando a vida social da época. A pequena burguesia é apresentada sem grande aprofundamento psicológico, visto que a sociedade brasileira, ainda pouco urbanizada, não propicia análises de suas relações sociais pouco variadas. Cenas de saraus, bailes, passeios ao campo, etc. alternam-se com complicações de caráter social e moral, como casamentos, namoros, bisbilhotices, etc.
     São romances urbanos: A Moreninha, O Moço Loiro, A Luneta Mágica, de Joaquim Manuel de Macedo; Memórias de umSargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida; Diva, Lucíola, Senhora, A Pata da Gazela, Cinco Minutos e A Viuvinha, de José de Alencar.

Romance regionalista

     O ambiente rústico, rural é focalizado. A atração pelo pitoresco leva o escrito romântico a pôr em evidência tipos humanos que vivem afastados do meio citadino. Isso observamos nos livros: O Cabeleira, de Franklin Távora; O Sertanejo, de José de Alencar; O Garimpeiro, A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães; Inocência, de Visconde de Taunay.

Romance histórico

     Está ligado, pelo assunto, ao romance de “capa e espada”; revela o gosto pelo suspense e a ênfase à vingança punitiva. Há uma volta ao passado histórico, medieval. Apesar da influência estrangeira, pouco a pouco o romancista volta-se para a reconstituição do clima nacional; procura ser fiel aos hábitos, instituições e modus vivendi.

Romance indianista

     O romancista procura valorizar as nossas origens. Há a transformação das personagens em heróis, que apresentam traços do caráter do bom selvagem: valentia, nobreza, brio. Essa tendência do romance romântico encontramos nas obras: O Guarani, Iracema e Ubirajara, de José de Alencar.


Divisão do Romantismo no Brasil 
     Em relação à poesia, podemos agrupar a obra romântica em três gerações:
_ 1ª Geração: temática – nacionalista / indianista; autores: Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias, Araújo Porto Alegre
_ 2ª Geração: temática – “mal-do-século” / ultra-romantismo; autores: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela, Junqueira Freire
_ 3ª Geração: temática – social e libertária; autores: Castro Alves, Tobias Barreto, Sousândrade

     Quanto à prosa romântica, os autores que se destacaram foram:
_ Joaquim Manuel de Macedo;
_ José de Alencar;
_ Bernardo Guimarães;
_ Franklin Távora;
_ Alfredo Taunay;
_ Manuel Antônio de Almeida.

Primeira Geração Romântica (indianista / nacionalista)
     Esta geração é marcada intensamente pela busca de uma identidade nacional. Voltados para a recuperação das tradições brasileiras, por influência de autores europeus, os poetas desta primeira geração tentam resgatar, através da figura do índio, do herói que, na Europa, foi encontrado na Idade Média. O cenário tropical, retratado em toda a sua exuberância, é usado como motivo de orgulho e patriotismo. O poeta desta fase exalta a natureza brasileira, inserindo nela um indígena idealizado, nobre como um cavaleiro das Cruzadas, cheio de fidalguia e honra, corajoso e belo. É ele quem vai simbolizar nossas raízes, ao mesmo tempo em que enaltece as características próprias do povo brasileiro e ressalta a importância da independência.

Segunda Geração Romântica (ultra-romântica) 
     É chamada de geração byroniana devido a influência de Byron e de Musset – românticos europeus que levaram ao extremo a exacerbação dos sentimentos e fantasias mórbidas. Os principais temas das composições poéticas desse período giram em torno de: egocentrismo, dúvidas, tristezas, pessimismo, desenganos, tédio, amor insatisfeito, depressão, auto-ironia masoquista, obsessão pela morte como solução para os problemas emocionais. O tema predileto dos poetas ultra-românticos é a fuga da realidade.
     Como conseqüência dessa total insatisfação perante a realidade, há a morte prematura de um grande número de jovens (entre 20 e 30 anos), constituindo-se num verdadeiro “mal do século”. Os poetas brasileiros dessa fase do Romantismo dão grande ênfase à vida sentimental. A poesia, desse modo, é intimista e egocêntrica. As figuras mais representativas da segunda geração romântica são: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire. A geração byroniana caracteriza-se por:
a) pessimismo: reflexo de uma atitude de insatisfação perante a vida. A angústia, a tristeza, o desespero e o tédio são temas constantes na poesia individualista e subjetivista da geração do chamado “mal do século”;
b) morbidez: a morte é vista como saída para as crises de depressão. Os poetas vêem nela o único momento de paz que terão, já que, vivos, sentem-se atormentados pelo desespero de viver em um mundo que não lhes satisfaz;
c) satanismo: a presença do demônio, as cerimônias demoníacas e o inferno visto como um prolongamento das dores e das orgias da terra são freqüentes nos poetas ultra-românticos;
d) mistério: preferência por ambientes fúnebres, escuros, misteriosos, apropriados aos rituais satânicos e à reflexão sobre a morte e a depressão.

Terceira geração romântica (condoreira / hugoana ou social) 
     Entre 1860 e 1870, o Brasil atravessa um período de agitação político-social em decorrência do enfraquecimento do regime monárquico. Idéias liberais e democráticas fervilham e difundem-se entre a população esclarecida. Formam-se grupos defensores dos ideais abolicionistas; realizam-se freqüentes assembléias e comícios públicos. Entre os estudantes, são constantes as discussões políticas; as novas idéias agitam as faculdades de Direito de São Paulo e de Olinda.
     Tornam-se conhecidos no Brasil os textos inflamados e eloqüentes do poeta francês Victor Hugo, que exerce forte influência sobre a juventude da época. Sua poesia fala de liberdade, de igualdade social, de reformas que tornem o mundo melhor. É a chamada poesia condoneira, que têm ideais elevados e tenta alcançar as alturas, como o condor, ave que voa acima das cordilheiras dos Andes. É neste panorama histórico e cultural que surge a terceira geração romântica brasileira. Veja algumas de suas características:
a) poesia de fundo social, defensora da República, das revoluções e do Abolicionismo;
b) ênfase na função apelativa, por ser um tipo de poesia própria para ser declamado em praça pública; o objetivo é empolgar os ouvintes;
c) uso de apóstrofes, de grande efeito retórico;
d) presença constante de antíteses, hipérboles, metáforas, dando maior colorido ao texto.



PRINCIPAIS AUTORES DA PROSA ROMÂNTICA BRASILEIRA

     José Martiniano de Alencar (Mecejana - CE, 1829 – Rio de Janeiro – RJ, 1877) Transfere-se com a família para o Rio de Janeiro, onde faz os primeiros estudos. Apaixona-se muito cedo pela literatura. Em 1843, leva para São Paulo esboços de romance. É nessa cidade que faz o curso de Direito. Fica conhecido sob o pseudônimo de Ig; critica o poema de Gonçalves de Magalhães, escrevendo, em 1856, Cartas sobre a Confederação dos Tamoios, o que motiva uma série polêmica. Esse fato desgosta o imperador D. Pedro II. Sofre terrível campanha da parte de José Feliciano de Castilho e de Franklin Távora, apoiados por D. Pedro II. Defendeu a autonomia do falar português no Brasil, e, por isso, foi acusado de fazer incorreções de linguagem.
     José de Alencar é o mais importante dos romancistas românticos, devido à diversidade e extensão de sua obra, à sua linguagem rica e poética, e aos temas de caráter nacional que utilizou. Segundo Raquel de Queirós, “Alencar é o verdadeiro pai do nosso romance”. O estilo alencariano é uma das grandes contribuições à literatura brasileira incipiente. Alencar preocupa-se com o problema da língua e do estilo. A sua obra traduz particularidades sintáticas e vocabulares do falar brasileiro. Enriquece a língua literária de inúmeros tupinismos e brasileirismos. Além disso, seu estilo é sonoro e brilhante, um tanto declamatório, ao gosto da época. Sua obra compreende romances urbanos, indianistas, regionalistas e históricos.
     Em seus Romances urbanos, Alencar retrata a vida do Rio de Janeiro, à época do Segundo Império, mostrando os costumes burgueses brasileiros. Seus romances revelam dramas sociais e morais como a hipocrisia, a corrupção da sociedade, o casamento por conveniência, o patriarcalismo. Defende os direitos da mulher ao amor e à liberdade, estudando perfis femininos complicados e profundos. São livros desta fase: A Viuvinha e Cinco Minutos, Diva, Senhora, A Pata da Gazela, Sonhos D'ouro, Lucíola, Encarnação.
     Os romances regionalistas de Alencar representam quadros de várias regiões brasileiras: o sul (O Gaúcho), a área rural fluminense (O Tronco do Ipê) e o nordeste (O Sertanejo). Através da exploração dessas características regionais do país, Alencar busca criar uma literatura verdadeiramente nacional, marcada pela exaltação dos diversos tipos e das diferentes paisagens brasileiras.
     Como criador de romances indianistas, Alencar tenta representar um selvagem que simbolize a autonomia americana e a afirmação nacional. Cria personagens indígenas marcados pelas qualidades morais, pela honra e pela pureza, influenciado pela teoria do “bom selvagem” de Rosseau. São índios, na verdade, que representam os valores da cristandade e da nobreza, idealizados ao extremo, muitas vezes perdendo, na obra de Alencar, as características próprias de sua cultura. Além disso, na tentativa de ressaltar valores nacionais, Alencar resvala no conflito simplista entre bem e mal, colonizador e colonizado, selvagem e civilizado. Suas principais obras são: O Guarani, Iracema e Ubirajara. Finalmente, os romances históricos de Alencar exploram as lutas pela posse da terra e pelas riquezas brasileiras, mostrando as aventuras dos bandeirantes, o povoamento dos sertões e os conflitos entre brasileiros e portugueses. Suas principais obras são: As Minas de Prata, O Garatuja e A Guerra dos Mascates.
     Joaquim Manuel de Macedo (Rio de Janeiro - RJ, 1820 – 1882) Médico, professor, deputado, historiógrafo, dramaturgo, poeta e romancista, Macedo foi uma figura popular de seu tempo. A literatura foi sua atividade principal. Foi freqüentador assíduo das rodas sociais e literárias do Rio de Janeiro, onde era conhecido como o Dr. Macedinho. Embora tivesse toda essa popularidade, morreu pobre e esquecido. 
     Foi membro do Instituto Histórico e patrono da cadeira número vinte da Academia Brasilea de Letras. Foi um dos iniciadores do romance brasileiro. Seu livro de estréia, A Moreninha, lhe deu grande sucesso e notável importância nacional. Escreveu, posteriormente, muitos outros livros, com temática parecida: histórias de amor, cheia de sentimentalismo e uma visão do mundo real e da vida familiar. 
     Macedo foi feliz na análise psicológica e moral de certos tipos humanos. Escreveu romances, novelas e contos: A Moreninha (1844), O Moço Loiro (1845), Os Dois Amores, Rosa, Vicentina, O Forasteiro, Os Romances da Semana, A Luneta Mágica, As Vítimas Algozes, As Mulheres de Mantilha, A Namoradeira, Um Noivo e Duas Noivas. Escreveu, ainda, peças de teatro: Cobé, O Cego, O Fantasma Branco, O Primo da Califórnia, Lusbela, Cincinato Quebra-louça, Vingança por Vingança e também o poema-romance: A Nebulosa (1857). 
     Visconde de Taunay (Rio de Janeiro - RJ, 1843 – 1899) Professor, engenheiro militar e político, pintor e romancista. Freqüentou o Colégio Pedro II onde se bacharelou em Letras, em 1858. Em 1862, iniciou o curso de engenharia militar. Participou da expedição enviada a Mato Grosso para invadir o Paraguai pelo norte. A coluna entrou em território paraguaio, mas foi forçada a empreender a Retirada da Laguna a Aquidauana. Narrou Taunay esse terrível fato no livro A Retirada da Laguna (1871). 
     O ambiente de Mato Grosso é retratado em Inocência – a obra mais importante de Taunay, considerado o melhor romance romântico regionalista. Esse romance tem valor: pelo estilo pitoresco; pelo emprego de termos e expressões típicas e regionais; pela descrição de aspectos da paisagem brasileira. Visconde de Taunay escreveu ainda: Lágrimas do Coração, Manuscrito de uma Mulher, No Declínio, Céus e Terras do Brasil e outras obras. No texto a seguir, o autor de Inocência descreve as impressões de Cirino quando, pela primeira vez, vê a moça.


AUTORES DA PRIMEIRA GERAÇÃO 
     Manuel Antônio Álvares de Azevedo (São Paulo, 1831 – Rio de Janeiro – RJ, 1852) Aos dezesseis anos recebe o diploma de bacharel em Letras. Na Faculdade de Direito de São Paulo, Álvares de Azevedo deixa-se contagiar pelos ideais românticos ali existentes; participa,então, da “Sociedade Epicuréia”, cujos sócios têm o nome das principais personagens de Byron e os imitam. Dotado de uma extraordinária cultura literária, Álvares de Azevedo torna-se um poeta original, abrindo novos horizontes à poesia brasileira. Foi o primeiro poeta vítima do implacável “mal do século”. A sua obra reflete tédio, autodestruição. O poeta busca refúgio no álcool, na vida boêmia, na morte. São temas constantes em seus livros: a idéia de morte e a fuga da vida real para um mundo de sonhos e fantasias. Segundo Jung, “Álvares de Azevedo pode ser alojado na família de Prometeu, acorrentado em suas próprias e íntimas cadeias. Essas cadeias se foram enrodilhando em sua alma ao aproximar-se dos vinte anos”.
     Outros temas freqüentes na obra de Álvares de Azevedo: o satanismo, o anticlericalismo, a dúvida, a descrença, a devoção filial. O poeta deixa-nos os poemas: Meu Sonho, Se eu Morresse Amanhã!, Lembrança de Morrer, Um Canto do Século, Adeus, nos quais se evidencia a obsessão pela morte, causada pela ânsia do amor. Lira dos Vinte Anos é o seu livro mais importante. Nele o autor revela forte influência de Byron. Nele há excesso de subjetivismo, de imaginação, de erotismo e também a presença da morbidez, do amor dividido entre o espírito e a matéria, da dúvida, morte, solidão, auto-ironia. Álvares de Azevedo morre antes de ter completado vinte e um anos. Por essa razão, sua obra apresenta algumas imperfeições próprias da imaturidade do poeta, que as escreve dente os dezesseis e os vinte anos.
     No entanto, é justo reconhecer qualidades da obra de Álvares de Azevedo: simplicidade formal, emprego parcimonioso de metáforas e imagens, inovação na construção de seus versos. Segundo Manuel Bandeira, “Álvares de Azevedo, em verdade, rapaz morigerado e estudioso, viveu pela imaginação a experiência amarga dos seus modelos da Europa”.

     Casimiro José Marques de Abreu (São João da Barra-RJ, 1837 – Nova Friburgo-RJ, 1860) Poeta lírico e melancólico; seus versos impressionam pela espontaneidade e pela simplicidade. Era intenção de seu pai que Casimiro de Abreu se dedicasse ao comércio, mas, muito cedo, sente forte inclinação para a poesia. Aos catorze anos parte para a Europa, onde escreve boa parte de suas poesias. Longe da pátria e atormentado pela nostalgia, pouco a pouco vai definhando, acometido de tuberculose que o levou à morte aos vinte e três anos. É pequena a obra poética de Casimiro de Abreu. Este escritor nunca “viveu o amor-tragédia, de Gonçalves Dias nem o amor sensual de Álvares de Azevedo” (Soares Amora). Seu amor é simples, puro como nos poemas: Cena Íntima, A Valsa, O Baile.

     No final de sua vida é dominado por uma crise pessimismo, de tristeza e escreve Livro Negro. Casimiro de Abreu deixou-nos, de forma marcante, a poesia da saudade: Canção do Exílio, Meus Oito Anos, Minha Terra – poemas escritos em Portugal, onde adquiriu sua educação literária. Luís Nicolau Fagundes Varela (Rio Claro-SP, 1841 – Niterói-RJ, 1875) .
     Aos dezenove anos vem para São Paulo e matricula-se na Faculdade de Direito, abandonando o curso dois anos mais tarde. Com a morte de seu filho primogênito, passa a ter uma vida boêmia. Mais tarde, transfere-se para a Faculdade de Direito de Recife. Com a morte da esposa, volta para São Paulo. Vive inquieto e torturado, sempre procurando refúgio na natureza. Leva uma vida errante, mas continua escrevendo. 
     Poeta de grande cultura e sensibilidade, mas de pouca originalidade, Fagundes Varela continua a obra dos primeiros grandes poetas românticos brasileiros edeles herda certas características. Daí a razão da diversidade de tendências em sua poesia: o indianismo, segundo Gonçalves Dias, o subjetivismo e o byronismo de Álvares de Azevedo e de Casimiro de Abreu. 
     Fagundes Varela é também um poeta elegíaco: escreveu o poema Cântico do Calvário, em versos decassílabos brancos, em memória de seu filho, que morrera aos três meses de idade. Escreveu, ainda, poemas de cunho social e patriótico, sendo, por isso, considerado um poeta de transição entre a segunda e a terceira fase romântica. 
     Deixa-nos várias obras: _ Noturnas (1861); O Estandarte Auriverde (1863); Vozes d'América (1864); Cantos e Fantasias (1865); Cantos Meridionais (1869); Cantos do Ermo e da Cidade (1869); Anchieta ou o Evangelho das Selvas (1875); Cantos Religiosos (1878). Luís José Junqueira Freire (Salvador-BA, 1832 – 1855).
     Em princípios de 1851, ingressa no Mosteiro de São Bento, mas, por motivo de doença, teve de afastar-se da vida claustral. Sua obra poética apresenta três aspectos: o social, o lírico e o religioso. Este último é um reflexo de seus problemas espirituais, das incertezas que lhe atormentavam a consciência e a vida. 
     A poética de Junqueira Freire, segue, no seu conjunto, os preceitos do Romantismo; apresenta particularidades referentes ao ritmo do poema e a preferência ao verso branco. Junqueira Freire deixou-nos: Inspiração do Claustro e Contradições Poéticas.

     Visconde de Araguaia (Rio de Janeiro – RJ, 1811 – Roma-Itália, 1882) Domingos José Gonçalves de Magalhães (Visconde de Araguai) exerceu função diplomática, foi historiador, dramaturgo e poeta. Formou-se em Medicina, foi professor de Filosofia no Colégio Pedro II e ministro em Washington e em Roma, junto à Santa Sé. Fundou, em Paris, a revista Niterói – Revista Brasiliense, com o propósito de divulgar a reforma romântica de nossas letras; era intenção de Gonçalves de Magalhães reformar a vida literária em nosso país, de acordo com os ideais românticos.
     Gonçalves de Magalhães publica, em Paris, em 1836, Suspiros Poéticos e Saudades, considerado o primeiro livro romântico brasileiro. Essa obra tem valor histórico uma vez que é de grande importância para o estudo da introdução do Romantismo no Brasil e da reforma nacionalista da nossa literatura. Gonçalves de Magalhães era também um poeta épico. Escreveu, em 1856, A Confederação dos Tamoios, poema em dez cantos, versos decassílabos, estrofação livre. Nele o poeta trata das lutas dos tamoios contra o povo colonizador, nas quais Anchieta e Nóbrega assumem um papel de grande importância. Tentou o cultivo de todos os gêneros:
_ novela: Amãncia (1844);
_ poesia lírica: Suspiros Poéticos e Saudades (1836);
_ poesia épica: A Confederação dos Tamoios (1856);
_ teatro (em verso): Antônio José ou o Poeta e a Inquisição (1839).

     Antonio Gonçalves Dias (Caxias – MA, 1823 – São Luis – MA, 1864). Descendente de três raças, pois era filho de português e cafusa (mestiça de negro e índio), Gonçalves Dias transmite em sua obra a marca dessa origem. Estudou na Europa, em Coimbra, onde concluiu o curso de Humanidades e se diplomou em Direito. Aí viveu catorze anos de sua curta existência.
     Poeta de fértil imaginação e acentuada sensibilidade, lança, em 1846, seu livro da estréia: Primeiros Cantos. O indianismo é nota marcante na obra de Gonçalves Dias. Embora não tenha sido ele o introdutor deste tema na poesia brasileira, é considerado o maior autor indianista brasileiro. O índio em seus poemas é interpretado como um herói dentro de um cenário vivo e exuberante. Gonçalves Dias defende-o da dominação dos brancos invasores. Deixou o que há de melhor na poesia indianista brasileira: 
I-Juca Pirama. Escreveu também Os Timbiras, poemas incompletos em versos brancos . Parte dele se perdeu no naufrágio do navio Vile de Boulogne, que levou à morte o poeta quando voltada da Europa. 
     Ao lado da poesia indianista, Gonçalves Dias escreveu belas páginas líricas. Muitos temas e formas de sua poesia servirão de modelos para autores de períodos posteriores ao Romantismo. A temática de Gonçalves Dias Poesia indianista O indianismo expressava o tipo ideal do homem brasileiro. Uma vez que na literatura brasileira não apreciam os heróis típicos da Idade Média, nossos escritores românticos exaltavam em suas obras a figura do índio, cultivavam o mito do “bom selvagem”, segundo Jean Jacques Rousseau. Este tema do índio, na literatura brasileira, em várias fases: na barroca, em certos autos de Anchieta; na fase arcádica, o índio é valorizado nas obras Uraguai e Caramuru; na fase romântica, com Gonçalves Dias, no poema I-Juca Pirama.


AUTORES DA TERCEIRA GERAÇÃO 

     Antônio Frederico de Castro Alves (Curralinho-BA, 1847 – Salvador – BA, 1871) Castro Alves fez os primeiros estudos na Bahia. Em 1864, conheceu a atriz Eugênia Câmara, sua amante. É ela quem o estimula na carreira literária. Em 1868, Castro Alves vem para São Paulo, onde trava conhecimento com José de Alencar e Machado de Assis. Matricula-se na Faculdade de Direito do Largo São Francisco e, juntamente com seus colegas, participa do movimento abolicionista. Em 1870, seu pé esquerdo é amputado, em conseqüência de um tiro acidental, numa caçada. Muito fraco e tuberculoso, volta para a Bahia, onde morre com apenas vinte e quatro anos.
     Castro Alves – o expoente máximo da terceira geração romântica – dá a seus versos um caráter social e revolucionário. É ele um romântico que não segue a linha de seus predecessores, presos às sugestões do passado. O cantor dos escravos volta-se para o futuro. Com um entusiasmo fervoroso, defende a causa dos humildes, dos escravos. Castro Alves é o porta-voz de uma mensagem cristã e humanitária para redenção dos negros. Antes dele nenhum poeta apresentou a paisagem e o homem nacionais na forma poética de modo tão brasileiro. As poesias castroalvinas, pelos seus temas, enquadram o autor numa fase de transição entre o Romantismo e o Realismo. Uma boa parte de sua obra ficou inacabada, em virtude de sua morte prematura. O único livro de versos que publicou foi Espumas Flutuantes, em 1870, em Salvador.
     A poesia de Castro Alves caracteriza-se por: grandiloqüência dos versos, predominantemente oratórios; temas sociais e políticos; ideais de igualdade. Seus versos contribuem, de foram decisiva, para a formação de nossa consciência liberal, abolicionista e republicana. Alguns aspectos merecem ser destacados na produção literária de Castro Alves:
a) a poesia social, abolicionista (gênero épico): O poeta, neste tipo de poesia, vale-se de metáforas, antíteses, hipérboles e apóstrofes. Os poemas mais expressivos são: O Navio Negreiro, Vozes d'África, A Cruz na Estrada.
b) a poesia amorosa (gênero lírico): Motivos constantes em seus versos: o perfume, os cabelos femininos, os seios. Grande é a importância dada ao sexo;
c) a poesia patriótica: Ode ao Dois de Julho, recitada no teatro de São Paulo, e Pedro Ivo;
d) a poesia da natureza: Castro Alves é o pintor da natureza bravia, virgem e trágica. Explora os elementos: mar, infinito, vastidão, além do vôo do condor e do albatroz. A poesia abolicionista é a melhor de sua obra; nela o poeta denuncia as injustiças sociais, clama pela liberdade, repudia a escravatura.
     Escreveu: Os Escravos, A Cachoeira de Paulo Afonso, O Livro e a América, Deusa Incruenta, A Imprensa, Mocidade e Morte, Hinos do Equador.

Joaquim de Souza Andrade (Sousândrade) (Guimarães-MA, 1833 – São Luis – MA, 1902) Este autor, pouco conhecido, vem ganhando importância na atualidade, visto que sua obra é inovadora em relação à sua época. Seus escritos começaram a ser alva de estudos literários após 1960, quando se descobre que Sousândrade produziu obras em que a linguagem tem papel de destaque. Há, em suas obras, neologismos e palavras de origens diversas (do tupi-guarani, inglês, português arcaico), criando textos revolucionários para sua época.
     É considerado, inclusive, um dos precursores do Concretismo, corrente literária surgida por volta de 1960. De sua obra, é conveniente destacar o poema narrativo Guesa Errante, que funde uma lenda latino-americana com a visão capitalista de Wall Street, explorando de uma maneira crítica a oposição entre os indígenas e os colonizadores. O indígena mostrado na obra de Sousândrade opõe-se ao selvagem idealizado por Gonçalves Dias, pois simboliza o índio descaracterizado pelo contato com o branco. Sousândrade não foi assimilado por sua época, por apresentar uma obra vanguardista, está distante dos demais autores românticos, e só mereceu atenção dos críticos literários na atualidade.



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