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terça-feira, 21 de junho de 2011

LUÍS VAZ DE CAMÕES

     (1524? - 1580) Luís de Camões é considerado o poeta máximo da língua portuguesa (épico e lírico). Desde muito cedo ganha fama de conquistador. Apaixona-se por Catarina de Ataíde, cujo nome é celebrado no poema Natércia. Fica cego da vista direita, quando luta pelas tropas portuguesas, na África.
     É preso por envolver-se em uma rixa durante uma procissão de Corpus Christi. No cárcere, inicia o poema épico Os Lusíadas. Livre, embarca para as Índias, onde exerce o cargo de Provedor dos Ausentes e Defuntos. Nas Índias, escreve mais seis cantos de sua obra. De volta à terra natal, é vitíma de um naufrágio; salva-se a nado com o seu manuscrito. Na cidade do Porto conclui Os Lusíadas. 
     Dedica-se a obra a D. Sebastião, que lhe concede uma pensão de quinze mil réis anuais. Camões escreve ainda: Anfitriões, El-Rei Seleuco e Filodemo; 286 sonetos, 122 elegias, algumas sátiras e poesias bucólicas. 
     A obra de Camões pode ser subdividida em dois gêneros: Lírico e Épico. 

     Camões Lírico 

     A lírica camoniana é bastante variada quanto à forma dos poemas, que foram produzidos tanto na medida velha quanto na nova. É importante notar que isso ocorreu simultaneamente, e não em fases sucessivas. Camões escreveu:
_ redondilhas (antigamente estrofes de quatro versos; mais tarde, passa a ser a composição de cinco ou sete sílabas (redondilha menor e maior)); 
_ sonetos; 
_ éclogas (poesia pastoril, em geral dialogada); 
_ odes (palavra grega que significa canto; composição lírica composta de estrofes simétricas); 
_ elegias (poema lírico cujo tom é quase sempre terno e triste, uma espécie de lamentação fúnebre); 
_ canções; 
_ vilancetes. 

     Destaca-se dos demais poetas lusos pela profundidade do pensamento e pela qualidade da linguagem, especialmente nas redondilhas e nas éclogas. Sem dúvida nenhuma, é no soneto que Camões atinge o máximo do lirismo português. Seus sonetos serviram, posteriormente, de inspiração a Bocage, a Olavo Bilac e a Vicente de Carvalho. 

Camões Épico 

     A obra épica de Camões é o poema Os Lusíadas, inspirado nas epopéias clássicas (Íliada, Odisséia, Eneida). Tendo como porta-voz o navegador Vasco da Gama, na realidade Os Lusíadas tem como personagem principal o próprio povo lusitano, cujos feitos corajosos são exaltados. Portugal, que atingira o máximo de glória durante o período das grandes navegações, começa a entrar em decadência e Camões tenta, com sua obra, reerguer o espírito português. A obra conta a viagem de Vasco da Gama às Índias, ressaltando a coragem dos portugueses e contando vários episódios da história de Portugal. Dividido em 10 cantos, este poema épico possui 1102 estrofes, num total de 8816 versos, todos decassílabos. Essa disposição das rimas recebe o nome de oitava rima ou oitava real. 

     A estrutura da obra é a seguinte, de acordo com o modelo clássico; 
a) proposição: o que o poeta pretende cantar; 
b) invocação: o poeta pede às Tágides (ninfas do Tejo) para ajudá-lo a compor num “estilo grandíloco e corrente”; 
c) dedicatória: o poeta oferece a obra ao rei D. Sebastião; 
d) narração: toma grande parte da obra: vai do verso 19 até o final do canto X. O poeta narra a viagem de Vasco da Gama às Índias, como pretexto para contar as peripécias dos lusos; 
e) epílogo: compreende um trecho do canto X. Nele, o poeta faz referência aos feitos futuros do povo português.

quarta-feira, 9 de março de 2011

TROVADORISMO

     As origens da literatura portuguesa remontam ao século XII, quando Portugal se constituiu como um país independente. Nessa época, com a unificação da linguagem de Portugal e Galiza, passou-se a utilizar a língua galego-portuguesa. Dois traços marcantes devem ser lembrados para uma visão da sociedade da época: o teocentrismo, no plano religioso, e o feudalismo, no plano político-econômico.
     Com o teocentrismo, isto é, a centralização da vida humana em Deus, expressava-se a intensa religiosidade, que acompanhou toda a luta dos portugueses empenhados na expulsão dos mouros da Península Ibérica.
     Com o feudalismo, os nobres que possuíssem feudos exerciam os poderes do governo por meio de um sistema de vassalagem, que era baseado numa espécie de contrato que implicava obrigações mútuas entre o senhor e o vassalo. Os vassalos obedeciam ao senhor e o serviam pela proteção e ajuda econômica que dele recebiam. Esse sistema de vassalagem refletiu-se na poesia trovadoresca, principalmente nas cantigas de amor, em que o trovador se colocava normalmente na condição de vassalo diante da dama.
     É uma cantiga de amor o primeiro documento literário português, datado de 1189 (ou 1198). Trata-se da “Cantiga da Ribeirinha” (ou “da Guarvaia”), do poeta Paio Soares de Taveirós, dedicada a D. Maria Paes Ribeiro, a Ribeirinha. Esse poema assinala o início da época trovadoresca, que se estende até 1418, quando Fernão Lopes é nomeado arquivista oficial da Torre do Tombo. Os poetas dessa época eram chamados de trovadores.
     A palavra trovador vem do francês trouver, que significa “achar”, “encontrar”. Dizia-se que o poeta “achava” a música adequada ao poema e cantava acompanhado de instrumentos como a cítara, a viola, a lira ou a harpa. A poesia trovadoresca tem sua importância como documento da história de nossa língua, de costumes da época e como inspiradora do lirismo de poetas de escolas posteriores.
     As poesias trovadorescas estão reunidas em cancioneiros. Os mais importantes são:
_ O Cancioneiro da Ajuda, o mais antigo, com 310 cantigas;
_ O Cancioneiro da Vaticana, pertencente à Biblioteca do Vaticano, com 1205 cantigas;
_ O Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa, anteriormente chamado de Colocci-Brancutti, com 1647 cantigas.

Panorama Histórico

Na história da literatura portuguesa o Trovadorismo é a primeira escola literária. Esse movimento literário compreende o período que vai, aproximadamente, do século XII ao século XIV. A partir da segunda metade do século XII, Portugal começava a afirmar-se como reino independente, embora ainda mantivesse laços econômicos, sociais e culturais com o restante da Península Ibérica. Desses laços surgiu, próximo à Galícia (região do norte do rio Douro), uma língua particular, de traços próprios, chamada galego-português.
A produção literária dessa época foi feita nesta variação lingüística. A cultura trovadoresca refletia bem o panorama histórico desse período: as Cruzadas, a luta contra os mouros, o feudalismo, o poder espiritual do clero.
O período histórico em que surgiu o Trovadorismo foi marcado por um sistema econômico e político chamado feudalismo, que consistia numa hierarquia rígida entre senhores: um deles, o suserano, fazia a concessão de uma terra (feudo) a outro indivíduo, o vassalo. O suserano, no regime feudal, prometia proteção ao vassalo como recompensa por certos serviços prestados. Essa relação de dependência entre suserano e vassalo era chamada de vassalagem.
Assim, o senhor feudal ou suserano era quem detinha o poder, fazendo a concessão de uma porção de terra a um vassalo, encarregado de cultivá-la. Além da nobreza (classe a que pertenciam os senhores feudais) e a classe dos vassalos ou servos, havia ainda ‘outra classe social: o clero. Nessa época, o poder da Igreja era bastante forte, visto que o clero possuía grandes extensões de terra, além de dedicar-se também à política.
Os conventos eram verdadeiros centros difusores da cultura medieval, pois era neles que se escolhiam os textos filosóficos a serem divulgados, em função da moral cristã. A religiosidade foi um aspecto marcante da cultura medieval portuguesa. A vida do povo lusitano estava voltada para os valores espirituais e a salvação da alma.
Nessa época, eram freqüentes as procissões, as romarias, além das próprias Cruzadas – expedições realizadas durante a Idade Média, que tinham como principal objetivo a libertação dos lugares santos, situados na Palestina e venerados pelos cristãos. Essa época foi caracterizada por uma visão teocêntrica (Deus como o centro do Universo). Até mesmo as artes tiveram como tema motivos religiosos. Tanto a pintura quanta a escultura procurava retratar cenas da vida de santos ou episódios bíblicos. Quanto à arquitetura, o estilo gótico é o que predominava, através da construção de catedrais enormes e imponentes, projetadas para o alto, à semelhança de mãos em prece tentando tocar o céu.
Na literatura, desenvolveu-se em Portugal um movimento poético chamado Trovadorismo. Os poemas produzidos nessa época eram feitos para serem cantados por poetas e músicas (trovadores, menestréis, jograis e segréis). Recebiam o nome de cantigas, porque eram acompanhados por instrumentos de cora e de sopro. Mais tarde, essas cantigas foram reunidas em Cancioneiros: o da Ajuda, o da Biblioteca Nacional e o da Vaticana.
Trovador: poeta que compunha a letra e a música de canções; em geral era uma pessoa culta.
Jogral: cantor e tangedor ambulante, em geral de origem plebéia.
Menestrel: músico-poeta sedentário; vivia na casa de um fidalgo, enquanto o jogral andava de terra em terra.
Segrel: trovador profissional, fidalgo desqualificado que ia de corte em corte, acompanhado de um jogral. Continua...



A POESIA MEDIEVAL PORTUGUESA

A produção poética medieval portuguesa pode ser agrupada em dois gêneros:
_ gênero lírico: em que o amor é a temática predominante; são as cantigas de amor e as cantigas de amigo;
_ gênero satírico: em que o objetivo é criticar alguém, ridicularizando esta pessoa de forma sutil ou grosseira; a este gênero pertencem as cantigas de escárnio e as cantigas de maldizer.

Gênero Lírico

Dentro do gênero lírico, o texto que dá início à literatura portuguesa chama-se Canção da Ribeirinha, escrita possivelmente em 1189, por Paio Soares de Taveirós. Segundo Dona Carolina Michaëlis de Vasconcelos, essa cantiga foi dedicada à ribeirinha (Maria Pais Ribeiro), favorita de D. Sancho I, segundo rei de Portugual. Há dois tipos de poemas pertencentes ao gênero lírico, no Trovadorismo:

a) Cantiga de amor: a cantiga de amor é de influência provençal (Provença – região do sul da França). Esse tipo de cantiga mostra o amor cortês da época; o poeta fala em seu próprio nome, exprimindo seus sentimentos amorosos pela dama cortejada. É um amor de realização impossível, pois sua amada é casada ou pertence a uma classe social superior à sua. Por não ser correspondido, o homem sofre (coita d'amor), exterioriza suas queixas, humilha-se aos pés da amada, como um servo (vassalagem amorosa).
Sempre respeitoso, o eu-lírico masculino jamais revela o nome de sua amada, enfatizando sempre que ela é superior a ele. A mulher é chamada de mia senhor e o eu-lírico tece elogios à sua beleza, ao mesmo tempo em que sofre por saber que jamais poderá tocá-la. Influenciado pela moral cristã, o poeta se dispõe a um afastamento casto de sua amada, desejando-a, respeitosamente, a distância.

b) Cantiga de Amigo: originou-se na Península Ibérica. Nas cantigas de amigo, o trovador expressa os sentimentos que ele supõe que a amada lhe dedique. A principal característica das cantigas de amigo é o sentimento do eu-lírico feminino, embora elas sejam escritas por um homem. A cantiga de amigo procura mostrar a mulher dialogando com sua mãe, com uma amiga ou com a natureza, sempre preocupada com sue amigo (namorado).
Outras vezes, o próprio amigo é o destinatário do texto, como se a mulher desejasse fazer-lhe confidências de seu amor. Mais populares, as cantigas de amigo não se ambientam em palácios, e sim em lugares mais simples, como o campo, as igrejas, etc. Mostram, muitas vezes, cenas do cotidiano, em que a moça vai lavar roupa, vai a uma romaria ou freqüenta uma festa.
As cantigas de amigo apresentam alguns aspectos que as diferenciam das cantigas de amor:
_ os temas são mais variados que nas cantigas de amor; _ por serem cantigas populares, a linguagem é menos rica e mais musical;
_ destinam-se ao canto e à dança;
_ nelas são configurados os problemas sociais e políticos.

Além disso, quanto à forma, é freqüente o uso do refrão (repetição de versos) e do paralelismo (construção que se repete com pequenas alterações a cada estrofe). Quando não apresenta refrão, a cantiga é considerada melhor elaborada, recebendo o nome de cantiga de maestria ou maestria.


OS CANCIONEIROS

Se hoje temos acesso a textos do trovadorismo é graças à compilação feita em três grandes cancioneiros:
a) Cancioneiro da Ajuda: assim designado por conservar-se na Biblioteca do Palácio da Ajuda, em Lisboa, no qual são agrupadas 310 cantigas de amor.
b) Cancioneiro da Vaticana: encontrado em Roma, na biblioteca do Vaticano, datado dos fins do século XV. Contém 1205 cantigas de todos os tipos.
c) Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa: o mais completo dos três, com 1647 poesias. Foi copiado na Itália, no século XVI; pertenceu a um humanista italiano, Ângelo Colocci, e, no século XIX, foi encontrado na biblioteca do Conde Brancutti. Por isso, às vezes, é também chamado de Cancioneiro Colocci-Brancutti.

TIPOS DE CANTIGA 
     Havia dois tipos de cantigas: 
1) a cantiga lírico-amorosa, que se subdividia em cantiga de amor e cantiga de amigo. 
2) a cantiga satírica, que podia ser de escárnio ou de maldizer. Veja, a seguir as principais características de cada uma.  

Cantigas de Amor 
     Quem fala no poema é um homem, que se dirige a uma mulher da nobreza, geralmente casada. Esse amor se torna impraticável pela situação da mulher. O homem sofre, coloca-se numa posição de vassalo, isto é, de servo da mulher amada. Ele cultiva esse amor sem segredo, sem revelar o nome da dama, que nem sabe dos sentimentos amorosos do trovador. Ele a coloca num plano elevadíssimo, ideal. Nesse tipo de cantiga há a presença de refrão que insiste na idéia central, exaltando um amor sem correspondência. Ex: A Ribeirinha, de Paio Soares de Taveirós.  

Cantiga de Amigo 
     O trovador coloca como personagem central uma mulher solteira, da classe popular. Pela boca do trovador, ela canta a ausência do amigo (amado, namorado) que está afastado a serviço do rei, em expedições ou em guerras. Nesse tipo de poema, a moça conversa e desabafa seus sentimentos de amor com a mãe, as amigas, as árvores, as fontes, o mar, os rios, etc. É de caráter narrativo e descritivo. 

Cantiga Satírica 
     Ora se chama cantiga de escárnio, ora de maldizer. Esse tipo de cantiga procurava satirizar (ridicularizar) pessoas e costumes da época. Alguns poetas, em seus ataques agressivos, chegavam a utilizar uma linguagem de baixo nível (chula).

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

VIDA E OBRA DE GIL VICENTE

     Gil Vicente (1465? – 1536): poeta e dramaturgo português. De sua vida pouco se sabe. Foi famoso como ourives, atraindo com suas obras de ourivesaria a atenção da rainha Leonor que se tornou sua protetora.

     Gil Vicente encenou suas primeiras peça em 1502. Exerceu na corte a função de organizador das festas palacianas. Seu prestígio foi grande a ponto de sentir-se à vontade para criticar o clero. Em conseqüência, teve algumas de suas peças censuradas pela Inquisição, por serem consideradas ofensivas à Igreja.
     A obra de Gil Vicente apresenta dois aspectos: o religioso e o profano. No primeiro, destacam-se os autos de moralidade, em que são oferecidos ensinamentos relacionados à moral cristã. Quanto ao aspecto profano, suas obras enfatizam a sátira, a crítica social e refletem as marcas de seu tempo.
     A obra vicentina completa contém 44 peças (17 escritas em português, 11 em castelhano e 16 bilíngües).  Em ordem cronológica, vejamos as principais:
_ Monólogo do vaqueiro (ou Auto da Visitação) (1502);
_ Milagre de São Martinho (1504);
_ Auto da Índia (1509);
_ Écloga dos Reis Magos (1510);
_ Farsa O Velho da Horta (1512);
_ Moralidade da Sibila Cassandra (1514);
_ Farsa Quem tem farelos? (1515);
_ Auto de Mofina Mendes (151);
_ Primeiro Auto da Moralidade das Barcas (1517);
_ Moralidade da Alma (1518);
_ Segundo Auto da Moralidade das Barcas (1518);
_ Terceiro Auto da Moralidade das Barcas (1519);
_ Auto da Fama (1520);
_ Comédia de Rubena (1521);
_ Farsa de Inês Pereira (1522);
_ Comédia de Amadis de Gaula (1523).

A linguagem de Gil Vicente

      Gil Vicente emprega, em geral, a língua do povo, a língua de transição entre a arcaica e a clássica. Nas comédias, há passagens humorísticas e poéticas. Observa-se o uso freqüente de frases familiares, vocábulos populares como: guiolho, increu, somana, etc. No entanto, o vocabulário é rico e apropriado. As palavras pronunciadas por um clérigo ou um fidalgo não são as mesmas de um criado ou de uma feiticeira.
     Quanto à morfologia, observa-se na obra vicentina:
_ uso da primeira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo ser é som;
_ emprego de formas verbais como: arco (ardo), creçudo (crescido), ouvo (ouço), sodes (sois), etc;
_ palavras, atualmente masculinas, empregadas no feminino: a planeta, a clima, etc.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O SIMBOLISMO

Introdução 
     Na Europa, por volta de 1870, as ciências positivistas e materialistas vão perdendo terreno, vão se tornando impotentes. Surge, então, uma nova forma de encarar o mundo. Há uma conscientização de que o positivismo e o materialismo já não podem mais explicar os “mistérios” da realidade. Ao lado dos valores materiais retornam as verdades espirituais adormecidas: a Fé, as verdades do sentimento e do inconsciente. 
     A última década do século XIX caracteriza-se pelo triunfo do espiritualismo, do nacionalismo e do individualismo sobre o materialismo e o positivismo. O Simbolismo corresponde, na Arte, a este movimento de idéias que se opõe ao objetivismo realista. O Simbolismo, corrente literária (mais especificamente poética) que se afirma entre 1890 e 1915, define-se por um conjunto de aspectos variáveis de autor para autor. 
     Há quem defina o simbolismo como uma busca obstinada da verdade metafísica que tem como instrumento de descoberta o símbolo. Diz Mallarmé – mestre do Simbolismo francês – que os parnasianos buscam descrever as coisas, enquanto que o sonho está em sugeri-las. A visão simbolista consiste no envolvimento entre o eu e as coisas. Essa misteriosa relação entre o estado de espírito do poeta e o mundo não pode ser descrita, apenas sugerida. 

Origem 
     O Simbolismo nasceu na França e teve como os mais autênticos representantes Mallamé e Verlaine. Esses poetas abandonam os princípios da escola realista e parnasiana e dedicam-se ao “culto do etéreo, do subjetivo, do obscuro, do vago, do sugestivo”; rejeitam o mito da precisão descritiva; para eles, a palavra poética deve antes sugerir que dominar.  

Panorama histórico 
     No último quartel do século XIX e princípios do século XX, a Europa vê-se atingida por uma série de crises de ordem política, social e econômica. O Simbolismo reflete esse momento histórico. O progresso industrial já não mais atende às necessidades das massas populares. Fala-se em “decadência”; as rivalidades entre monarquistas e republicanos intensificam-se. As desavenças entre a Áustria e a Rússia agravam-se. A Europa vive me constante sobressalto uma vez que a guerra é iminente. De um lado, a luta das nações mais poderosas por mercados consumidores e produtores da matéria-prima; por outro lado, as classes trabalhadoras, cientes da exploração dos capitalistas, reivindicam melhores salários e melhores condições de trabalho. 
     O Simbolismo e as primeiras manifestações modernistas são contemporâneas da Primeira Guerra Mundial (1914) e da Revolução Russa (1917). Embora Portugal não estivesse envolvido nesses dois conflitos, o Ultimato Inglês (1890), a sociedade lusa vive momentos de frustração e pessimismo. Acresce, anda, o fato de Portugal estar atravessando uma violenta crise econômica (1890-1891). Toda essa situação européia refletiu no desenvolvimento do Simbolismo português. No campo filosófico, Henry Bergson propõe a busca do eu-profundo, ou seja, das realidades interiores, verdadeira essência do ser humano. Este eu-profundo, porém, não pode ser “traduzido” em palavras, nem explicado, apenas evocado ou sugerido.
     Arthur Schopenhauer afirma que é impossível atingir a percepção profunda da realidade, pois só podemos observar sua representação. Assim, segundo ele, “a consciência é a mera superfície de nossa mente, da qual, como da terra, não conhecemos o interior, apenas a crosta”. Extremamente pessimista, Schopenhauer acredita estar a salvação do homem na fuga para o Nada e na renúncia ao mundo exterior. Além destas teorias filosóficas, os simbolistas influenciam-se também com as descobertas de Sigmund Freud, que afirma a existência do consciente e do subconsciente. Segundo ele, o subconsciente só seria revelado através do sonho, no qual todas as barreiras seriam derrubadas.
Características 
a) A poesia como mistério: idéias vagas e obscuras, ilogismo, hermetismo, imprecisão. 
b) A poesia como evocação: distanciamento do real, culto do etéreo, espiritualismo, misticismo, ânsia de superação. 
c) A poesia como fruto do inconsciente: evocação do mundo íntimo, incompreensível através de confissões indiretas (opostas ao lirismo romântico). 
d) A poesia como fruto do conflito eu versus mundo: tédio, desilusão, pessimismo, melancolia, consciência da efemeridade da vida. 
e) A poesia como símbolo: uso de alegorias, metáforas, comprações, sinestesias (relação subjetiva que se estabelece entre uma percepção e outra que pertença ao domínio de um sentido diferente: perfume que evoca uma cor; som que evoca uma imagem). 
f) A poesia como música: aliterações, assonâncias, harmonia entre as palavras, ritmo marcante. 
g) A poesia como manifestação do Belo: escolha cuidadosa de palavras que causem impressões sensíveis, neologismos, combinações novas entre vocábulos. 

Pré-simbolismo
     Sob a influência de Baudelaire, a partir de 1866, é possível falar de um pré-Simbolismo em Portugal: folhetins em prosa poética publicados por Eça de Queirós e depois reunidos sob o título Prosas Bárbaras; a poesia Responso (1874), de Cesário Verde; quatro sonetos de Gomes Leal, O visionário ou som e cor, no livro Claridades do Sul (1875); as Líricas e Bucólicas (1884), de Antonio Feijó. Coube a Eugênio de Castro a introdução do Simbolismo em Portugal, com o lançamento de Oaristos – coletânea de poemas, prefaciado pelo autor. As primeiras manifestações em favor dessa nova corrente em Portugal ligam-se a duas revistas coimbrãs rivais: Os Insubmissos e Boêmia Nova (1889). O movimento simbolista estendeu-se até 1915, ano que marca o ínicio do Modernismo em Portugal.


PRINCIPAIS SIMBOLISTAS PORTUGUESES 
     EUGÊNIO DE CASTRO E ALMEIDA (Coimbra-Portugal, 1869-1944) Pertenceu a uma família nobre; ingressou na Diplomacia; vive algum tempo em Viena e depois em Paris, onde convive com alguns dos grandes simbolistas franceses. De volta a Portugal, lidera o grupo da revista Os Insubmissos e a seguir publica Oaristos. Depois de instalado o Simbolismo em Portugal, Eugênio de Castro continua a compor poesias, mas envereda por caminhos ortodoxos, mostrando inclinação por uma poesia clássica tradicional. Fazem parte da fase simbolista as seguintes obras: Oaristo, Horas (1891), Sagramor (1895), Salomé e Outros Poemas (1896). Estas obras acusam a influência de poetas franceses (Jean Moréas, Mallarmé, Flaubert e Banville). A obra de Eugênio de Castro serviu de estímulo a um pequeno grupo de poetas menores. Os Oaristos contribuem para uma mudança decisiva na poesia portuguesa.
     A técnica simbolista contida na obra cativa Antonio Nobre e o poeta, já consagrado, Guerra Junqueiro. O Simbolismo português não se confinou à poesia lírica; alguns autores tentaram o drama poético: D. João da Câmara, em O Pântano (1894) e Meia Noite (1899); Raul Brandão, em A Noite de Natal (1899).

     ANTONIO PEREIRA NOBRE (Porto – Portugal, 1867 – 1900) Depois de estudos básicos, Antonio Nobre vai para Coimbra estudar Direito. Contrariado com o ambiente estudantil, refugia-se em sua “Torre de Auto”. Ferido em sua sensibilidade procura alento em Paris, onde entra em contato com simbolistas franceses; esse falto torna-se decisivo para sua carreira poética. Antonio Nobre escreve Só, obra que reúne suas composições. Deixou ainda dois livros de poesias: Despedidas (1902) e Primeiros Versos (1921).

     CAMILO DE ALMEIDA PESSANHA (Coimbra – Portugal, 1867 – Macau – China, 1926) Fez o curso de Direito em sua cidade natal. Escreveu seu primeiro livro de versos em 1885. Em 1894, seguiu para o Oriente (Macau) onde exerceu a função de professor do Liceu. Deixou-se cativar pelo Oriente. Viciou-se em ópio, levou uma vida irregular, vindo a falecer em Macau em 1926. Camilo Pessanha publicou poemas em jornais da província, como Ave Azul (1899) e Centauro (1916). A maioria foi preparada e ditada a João de Castro Osório, coletadas em 1920, no volume Clepsidra.


O Simbolismo no Brasil
Introdução 
     No início da década de 1890, no Rio de Janeiro, um grupo de jovens, insatisfeitos com a extrema objetividade e materialismo da corrente literária dominante (Realismo / Naturalismo / Parnasianismo), resolve divulgar as novas idéias estéticas vindas da França. Eram conhecidos como os decadentistas. Esse grupo formado, principalmente, por Oscar Rosas, Cruz e Sousa e Emiliano Perneta lança no jornal Folha Popular o primeiro manifesto renovador. Além desse grupo do Rio de Janeiro, outros jovens, no Ceará, funda uma sociedade literária, dedicada ao culto das excentricidades da nova arte chamada Padaria Espiritual.
     O Simbolismo, no Brasil, representa uma das épocas mais importantes de nossa história literária e cultural. Este movimento penetrou em nosso país, por intermédio de Medeiros e Albuquerque, que, desde 1891, recebia livros dos decadentistas franceses. Em 1893, Cruz e Sousa publica Missal e Broquéis, obras que definem a história do Simbolismo brasileiro. 

Panorama histórico 
     Entre as últimas décadas do século XIX e princípios do século XX, os simbolistas conviveram num período em que o Brasil procurava conquistar sua maturidade mental e sua autonomia. Mesmo depois da independência de 1822, a Metrópole ainda continuava a exercer a sua ação colonialista. O comércio, as transações bancárias, a imprensa estavam sob o influxo da Metrópole. A primeira tentativa de autonomia deu-se com a Regência (1830-1841), mas só foi com a Proclamação da República que o Brasil separou-se definitivamente de Portugal. Esse fato levou os homens de letras do século XIX a explorar o tema do nacionalismo. A busca de “símbolos que traduzam a nossa vida social”, afirma Araripe Júnior.
     O início do movimento simbolista brasileiro é marcado por conflitos no sul do país (1893-1895): A Revolução Federalista, a Revolta da Armada. 


Características da poesia simbolista 
     Vejamos mais detalhadamente algumas características do Simbolismo:
a) O poeta simbolista volta-se para o mundo interior; guia-se pela subjetividade (característica da corrente romântica). O egocentrismo é um princípio fundamental do Romantismo. Enquanto os românticos pesquisavam o interior das pessoas, suas lutas, incertezas, num campo puramente sentimental, o simbolista penetra fundo no mundo invisível e impalpável do ser humano.
b) A poesia simbolista expressa o que há de mais profundo no poeta; por isso, ele se vale de adjetivos que despertem emoções vagas, sugestivas.
c) A descrição é essencialmente subjetiva; é uma espécie de pretexto para identificar o poeta com o íntimo das coisas.
d) Os versos são musicais, sonoros e expressivos. A poesia é separada da vida social, confunde-se com a música, explora o inconsciente através de símbolos e sugestões e dá preferência ao mundo invisível.
e) A linguagem é evocadora, plena de elementos sensoriais: som, luz, cor, formas; há o emprego de palavras raras; o vocabulário é litúrgico, obscuro, vago.
f) As palavras vêm ligadas ao tema da morte.
g) Emprego freqüente de metáforas, analogias sensoriais, sinestesias, aliterações repetição de palavras e de versos – tudo isso confere à poesia musicalidade e poder de sugestão.
h) Fusão da música, pintura e literatura.

POETAS SIMBOLISTAS BRASILEIROS 
     João da Cruz e Sousa (Desterro-SC, 1861 – Estação de Sítio-MG, 1898) Muito cedo, publicou Tropos e Fantasias em colaboração com Virgílio Várzea. Vítima de preconceitos raciais (era filho de antigos escravos), não conseguiu profissão certa. Viveu quase na miséria, contando apenas com pequenos empregos. Em 1893, publicou Missal, poemas em prosa, e Broquéis, livro de versos: marcos iniciais do movimento simbolista no Brasil. Cruz e Sousa é considerado o principal representante do Simbolismo no Brasil.
     Nos seus versos depreende-se uma linguagem muito rica, exuberante; neles, o poeta expressa seus dilemas, seus sofrimentos, sua humilhação. Os temas giram em torno da vida e da morte, da existência de Deus; volta-se para os marginalizados e miseráveis. Nos poemas longos, especialmente, Cruz e Sousa obtém efeitos sonoros e musicais.
     Escreveu ainda os poemas: Vida obscura, Triunfo supremo, Sorriso interior, Monja negra. Além dos citados, deixou-nos os livros: Evocações (1898), Faróis (1900) e Últimos Sonetos (1905). São características de sua obra: protesto contra sua condição de negro, desejo de ultrapassar as limitações que a sociedade lhe impõe por causa de sua cor; defesa dos miseráveis, dos negros e dos humilhados; obsessão pela cor branca, através do uso freqüente de adjetivos como: alvo, luminoso, claro, etc. e de substantivos como neve, névoa, lírio, marfim, etc.
     Alphonsus de Guimaraens (Ouro Preto-MG, 1870 – Mariana-MG, 1921) Afonso Henriques da Costa Guimarães (nome verdadeiro) estudou na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, e aí se formou em 1895.
     Foi promotor e depois juiz em seu Estado. Levou uma vida obscura e solitária. Participou do grupo simbolista de São Paulo. A obra poética da Alphonsus de Guimaraens é acentuadamente espiritualista, impregnada pela atmosfera de rituais religiosos, sonhos e fantasias. É um poeta místico pela forte devoção à Virgem Maria. Em suas obras aparece também a presença de Constança, sua noiva. 
     Sua linguagem é simples, envolvente. Em 1899, publicou Setenário das Dores de Nossa Senhora, Câmara Ardente e Dona Mística. Em 1902, Kiriale e, em 1923, Pastoral aos Crentes do Amor e da Morte, obra póstuma. Pedro Kilkerry Foi um dos grandes incentivadores e divulgadores do Simbolismo no norte do país. Sua obra só foi descoberta e valorizada a partir das pesquisas de Augusto de Campos, com o Concretismo. Usando uma musicalidade forte, dissonante, Kilkerry representa a face mais radical e hermética do Simbolismo brasileiro.

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