O século XX passará, certamente, à história como “o século do átomo”,
porque, entre todas as grandes descobertas que espantaram a Humanidade,
nos últimos sessenta anos, a utilização da energia atômica, primeiro
para fins bélicos, e agora, como todos desejam, principalmente para fins
pacíficos, é, certamente, em muito, a mais encantadora e a mais
importante. Sim, encantadora, porque é realmente maravilhoso pensar que,
da íntima estrutura do átomo, dessa pequeníssima partícula, que é para
nós invisível, possa jorrar a mais forte energia que jamais foi
concebida ao homem explorar. Como se gera, de que maneira e com que
meios se pode utilizar essa energia?
Já sabemos que o átomo é um pequeno
mundo em miniatura, constituído por um núcleo, carregado de
eletricidade positiva, em torno do qual giram, como tantos minúsculos
planetas em volta do sol, os elétrons, partículas infinitamente
pequenas, carregadas de eletricidade negativa. O núcleo, por sua vez, é
formado por um certo número de outras partículas, os prótons (com carga
positiva) e os nêutrons que são, ao invés, privados de carga. Esta
estrutura se repete em cada átomo de qualquer substância que existe no
mundo: a única diferença é dada pelo número de elétrons que podem variar
nas diversas substâncias. Há, depois, alguns corpos que apresentam uma
particular característica, isto é, a de emitir radiações constituídas de
partículas de natureza corpuscular (denominada “alfa” e “beta”) e de
natureza eletromagnética (chamada “gama”).
São, estas, as substâncias
radioativas, como o rádio e o urânio: suas radiações propagam-se no lado
externo e vão ferir as substâncias adjacentes.
Se, num ambiente adequado, servido-nos de uma destas substâncias
radioativas, deixarmos cair as radiações emitidas sobre outra
substância, acontecerá que essas radiações irão ferir os átomos que
constituem a substância que expusemos aos raios: algumas delas passarão
através do “enxame” dos elétrons em movimento, mas outras irão ferir o
núcleo. Este, quando ferido por uma radiação, quebra-se, e produz, por
sua vez, duas novas radiações, que se transmitem no espaço circunvizinho
e podem ferir outros núcleos, abrindo-os e produzindo novas radiações.
Este, multiplica-se de radiações com o quebrar dos núcleos atômicos,
chama-se “reação em corrente”, e os aparelhos em que se faz processar a
reação são denominados “reatores”.
Devemos ter presente que a reação em
corrente se desenvolve com uma indescritível rapidez e, portanto, o
número dos núcleos que se abrem aumenta com extrema velocidade,
desdobrando-se continuamente. Desta série de cisões nucleares, surge o
espantoso desenvolvimento de energia, que caracteriza as explosões
atômicas, já que este trabalho das partículas nos átomos provoca um
enorme calor. Caso se consiga controlar a reação em corrente, ao invés
de deixá-la livre de desenvolver-se, como no caso da explosão atômica, a
energia produzida pode ser eficazmente explorada para fins pacíficos.
Os reatores empregados para realizar a cisão nuclear para fins
pacíficos podem ser de dois tipos: reatores geradores de energia e
reatores de pesquisa. Nos primeiros, a energia calorífica produzida pela reação atômica é
transformada em energia mecânica ou elétrica, por meio de turbinas e
outros aparelhamentos semelhantes. Um reator deste tipo, por exemplo, é o
que está instalado no submarino atômico americano “Nautilus”, tornado
célebre por haver realizado a travessia por baixo das geleiras do Pólo
Norte.
Reatores idênticos podem ser empregados para mover navios, trens e
aeroplanos, e já são utilizados para a produção de energia elétrica.
Os reatores de pesquisa, porém, não tem o objetivo de produzir energia,
mas servem aos cientistas para estudar o comportamento das substâncias
mais variadas, quando submetidas a bombardeios das partículas
radioativas. Nestes reatores, procura-se, ainda acelerar a velocidade de
tais partículas, de modo a que cheguem a feriros núcleos atômicos com
grande energia.
Como se disse, a potência desencadeada nos reatores pela cisão nuclear
pode ser controlada; isso ocorre introduzindo-se substâncias especiais,
que possuem a propriedade de absorver a radioatividade (“moradores” a
grafita, o boro, etc).
As substâncias que são atacadas pelo bombardeio
radioativo mudam-lhe a estrutura, e os átomos, que são passados através
deste desenvolvimento, são chamados “rádio-isótopos” (chamam-se
isótopos, de uma certa substância com um núcleo de peso diverso, ao
passo que o radio-isótopo é um isótopo radioativo). Os radio-isótopos
foram obtidos, pela primeira vez, por Enrico Fermi, com sua “pilha
atômica”, e, hoje, se os reatores geradores permitem obter-se os
melhores resultados, como o de fazer mover um navio com poucas gramas de
átomos em cisão, os resultados mais curiosos e inimagináveis obtêm-se,
ao invés, com os radio-isótopos medicinais, sobretudo, servem-se dos
radio-isótopos para combater a pior das doenças do nosso tempo: o
câncer.
A “bomba de cobalto” é justamente um aparelho que traz uma
pequena quantidade de cobalto radioativo, que desencadeia radiações, as
quais, através de um tubo, são levadas até à parte enferma. O iodo
radioativo é empregado para curar as afecções de tireóide, ao passo que o
sódio radioativo é proficuamente usado no estudo das doenças do coração
e dos defeitos de circulação. Os rádio-isótopos imitidos em um corpo
servem para explorar os mais recônditos segredos: injetando-os nos
bovinos, descobriu-se como os animais transformam em carne e leite sua
forragem; introduzindo-os num carvalho, estuda-se o meio de reprodução
de certos fungos parasitas das plantas.
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