Fernão Lopes (1380 — 1459) foi funcionário do paço e
notário, nomeado cronista pelo rei D. Duarte, e redigiu
uma história de Portugal desde as origens, até,
provavelmente à época em que viveu. Do ponto de vista da forma, o seu
estilo representa uma literatura de expressão oral e de raiz popular.
Ele próprio diz que nas suas páginas não se encontra a formosura das
palavras, mas a nudez da verdade. Era um autodidacta. Foi um dos
últimos representantes do saber popular, pois já no seu tempo um novo
tipo de saber começava a surgir: alatinado, imitador de clássicos.
Biografia
Ocupa, entre a série dos cronistas gerais do Reino, um lugar de
destaque, quer como artista quer pela sua maneira de interpretar os
factos sociais. Fernão Lopes deve ter nascido entre 1380 e 1390,
aproximadamente, visto que em
1418 já ocupava funções públicas de responsabilidade. Pertencia portanto
à geração seguinte à que se bateu no cerco de Lisboa e na batalha de
Aljubarrota.
A guerra com Castela acabou em 1411, pelo que Fernão Lopes
pôde ainda acompanhar a sua fase, e conhecer pessoalmente alguns dos
seus protagonistas, como D. João I, Nuno Álvares
Pereira, os cidadãos de Lisboa que se rebeliaram contra D. Leonor Teles e
elegeram o Mestre de Avis seu defensor em comício popular, alguns dos
procuradores às Cortes de Coimbra de 1385 que, apoiando o dr. João das
Regras
declararam o trono vago e, chamando a si a soberania, elegeram um novo
rei e fundaram uma nova dinastia.
Profissionalmente, Fernão Lopes era um tabelião, provavelmente de
origem viloa, mesteiral, porque contava um sapateiro na família de sua
mulher. Foi empregado da família real e da corte, escrivão de D. Duarte,
ainda
infante, do rei D. João I, e do infante D. Fernando, em cuja casa ocupou
o importante posto de «escrivão da puridade».
A partir de 1418 aparece a
desempenhar as
funções de guarda-mor da Torre do Tombo, ou seja de chefe dos arquivos
do Estado, lugar de confiança da corte. Como prémio dos seus serviços
recebeu o título de «vassalo de
El-rei», carta de nobreza atribuída então com certa liberalidade a
membros das classes não nobres. Em 1454 foi reformado do cargo de
guarda-mor da Torre do Tombo devido à sua idade. Ainda vivia em 1459.
Durante este longo período de actividade, Fernão Lopes atravessou
os reinados de D. João I, D. Duarte, o governo de D. Pedro, e parte do
reinado de D. Afonso V. Conheceu muitas alterações políticas e sociais.
Ao rei eleito e popular, D. João I, viu suceder um rei mais dominado
pela aristocracia, D. Duarte; viu crescer o poder feudal dos filhos de
D. João I, e com ele o predomínio da nobreza, que saíra gravemente abalada
da crise da independência.
Assistiu à guerra civil subsequente à morte de D. Duarte, à
insurreição de Lisboa contra a rainha viúva D. Leonor, e à eleição do
infante D. Pedro por esta cidade, e em seguida pelas cortes, para o
cargo de Defensor e Regedor do Reino, em circunstâncias muito parecidas
com as que tinham levado o mestre de Avis ao mesmo cargo e seguidamente
ao trono.
Assistiu depois à reacção do partida da nobreza, à queda do
infante D. Pedro, à sua morte na sangrenta batalha de Alfarrobeira, à
perseguição e dispersão dos seus partidários, ao triunfo definitivo da
nobreza, no reinado. Foi testemunha do início da expansão
ultramarina e teve a sua quota parte no desastre militar de Tânger, por
causa da morte de seu filho médico do infante D. Fernando que veio a
morrer em cativeiro, em Marrocos.
Fernão Lopes viveu uma das épocas mais perturbadas da história de
Portugal, cheia de ensinamentos para o historiador. A carreira de Fernão
Lopes como historiador é provavelmente a mais longa do que há pouco se
supôs,
pois é provavél que já em 1419 realizasse por encargo do
então infante D. Duarte a compilação e redacção de uma crónica geral do
reino de Portugal. Só em 1434, porém, aparece oficialmente
encarregadopelo rei D. Duarte de relatar as histórias dos reis
anteriores e os feitos do rei D. João I, pelo qual seria remunerado com
uma pagamento anual.
Após a morte deste rei o Regente D. Pedro, em nome
de D. Afonso V, confirma Fernão Lopes na mesma incumbência mantendo-lhe o
salário. Em 1449, pouco antes da batalha de Alfarrobeira, ainda recebe
um pagamento de D. Afonso V
pelos seus trabalhos literários, mas já nessa época entrara em
actividade um outro cronista, Gomes Eanes de Zurara. A última obra em
que Fernão Lopes trabalhou, a Crónica de D. João I, ficou incompleta e
foi continuada por Zurara.
Crónicas
Crónica de el-rei D. Pedro
Crónica de el-rei D. Fernando
Crónica de el-rei D. João I, 1ª e 2ª partes.
Crónicas dos reis de Portuga.
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