quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

JULIO DINIS

     JULIO DINIS (Pseudônimo de Joaquim Guilherme Gomes Coelho) (Porto-Portugal, 1839-1871) Júlio Dinis foi escritor e médico. Nasceu no Porto em 1839 e aí faleceu em 1871, vítima da tuberculose. Passa os últimos anos de sua vida ora no campo, para tratar da saúde, ora na cidade, desenvolvendo suas atividades. Na curta existência de trinta e dois anos, produz muitas obras de gêneros diversos: teatro, poesia, contos e romances. 
     Seus romances constituem um valioso documento sobre Portugal, numa fase em que esse país sofre transições políticas e econômicas, promovidas pelo regime neoliberal. Registra em sua obra os resultados positivos das reformas econômicas e o estilo de vida da burguesia triunfante. A obra mais famosa de Júlio Dinis é As Pupilas do Senhor Reitor (1867). 
     Escreveu ainda: Os Fidalgos da Casa Mourisca (1872), A Morgadinha dos Canaviais (1868), Uma Família Inglesa (1868) e Serões da Província (1870), coletânea de contos. Júlio Dinis é um romancista de um período de transição entre o Romantismo e o Realismo. Filiado ao movimento romântico, mas realista pela preocupação da verdade em suas descrições, nos caracteres e na evolução da intriga, utiliza processos do romance realista inglês. Em As Pupilas do Senhor Reitor, Júlio Dinis preocupa-se com os aspectos morais na caracterização das personagens, como vemos no trecho a seguir: O reitor Ao deixar José das Dornas, na tenda do seu vizinho da esquina, o reitor, apoiado na grossa bengala de cana, companheira fiel das fadigas de muitos anos, foi seguindo pelos caminhos poucos cômodos da sua paróquia, e entrando nas casas mais pobres, onde levava a esmola e o conforto de doutrinas evangélicas que tão singelamente sabia pregar. Era esta, para ele, tarefa habitual.
     Sentava-se com familiaridade à cabeceira do jornaleiro doente, ele próprio lhe arrefecia os caldos, lhe temperava os remédios e lhos ajudava a tomar; guiava com os conselhos e ensinava com o exemplo dos enfermeiros que, entre a gente pobre dos campos, são quase sempre os mais pequenos da família, aqueles que, pela idade, representam ainda uma parte pouco produtiva de receita; porque os outros reclamam-nos as exigências imperiosas do trabalho. 
     No cumprimento desta obra de misericórdia, atravessou o reitor quase toda a aldeia, e com o coração apertado pelos infortúnios que vira, e desafogada a consciência pelo bem que fizera, continuava placidamente a sua tarefa abençoada. Depois de muito andar e de muito consolar misérias, parou algum tempo por debaixo das faias, que assombravam um largo terreiro, e sentou-se com o fim de ganhar forças para prosseguir. 
     Enquanto descansava foi dar balanço às algibeiras, que trouxera bem providas de casa. Este balanço foi desanimador para os projetos ulteriores do velho. A esmola, essa sublime gastadora, que nunca abandonava a direito do pároco nestas visitas pastorais, havia-lhe esgotado o capital, sem que ele desse por isso. O reitor mostrou-se mortificado; não que lamentasse o dinheiro gasto assim, mas porque estava longe de casa, e tinha ainda mais infelizes a socorrer. (DINIS, Júlio, As Pupilas do Senhor Reitor. 4ª ed. São Paulo, 1977, p, 69-70)


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