A fábula de Midas, rei da Frigia, interrompe a longa série de lendas
trágicas, para contar-nos as desventuras ocorridas a um soberano, que
era poderoso, incomensuravelmente rico, mas néscio (individuo que não
sabe, estúpido, ignorante). A dele é a história de um homem, que por
haver desejado possuir muito mais do que tinha, correu o risco de morrer
de fome, e, por ter desejado criticar, sem ter uma precisa competência
do que criticava, recebeu como presente um par de orelhas de burro. Sua
primeira desventura aconteceu-lhe quando hospedou Sileno. Era, este, um
sátiro, fiel e inseparável amigo de Dionísio (o Baco dos Romanos), o
deus protetor do vinho e dos banquetes.
Durante uma festa, Sileno bebeu
um pouco mais do necessário e, embriagando-se, afastou-se dos
companheiros e foi parar no jardim do rei Midas. O Senhor da Frigia
reteve um sua suntuosa morada, durante dez dias, o velho sátiro e
tratou-o com todo o respeito, fornecendo-lhe ótimas iguarias. Passado
este período, o Rei entregou o sátiro a Dionísio, e o deus, para
recompensá-lo da ótima hospitabilidade dada ao seu amigo, disse-lhe que
lhe concederia o que ele lhe pedisse.
Ante semelhante promessa, um rei
inteligente teria pedido: ou tornar-se ainda mais poderoso e invencível
ou ficar sempre bem visto pelos deuses.
Midas, ao invés, demonstrou, que para ele, uma única coisa valia no
mundo: o ouro. E, na verdade, pediu a Dionísio o poder de transformar em
outro tudo quanto tocasse. Dionísio, provavelmente, ficou espantado com
esse pedido e, senão fosse o tipo bizarro que conhecemos, talvez
houvesse prevenido o incauto monarca para que refletisse bem antes de
fazer semelhante proposta.
Mas, justamente porque gostava de brincar,
não se recusou em atender ao pedido do seu anfitrião, e, desde aquele
momento, todo objeto, todo fruto, todo alimento que Midas tocava com a
mão transforma-se em ouro.
A princípio, uma estúpida alegria invadiu o coração do poderoso senhor
da Frigia. Ele, de fato, alegrou-se por haver gasto tanto dinheiro parra
tratar de maneira conveniente uma pessoa tão cara a Dionísio, porque,
certamente, ele se teria recompensado com fartura da despesa e, com
orgulho, pensava que se tornaria o rei mais rico de toda a terra.
Mal Midas tocava uma coxinha de cabrito, logo esta se tornava um belo
lingote de fulvo ouro, mesmo conservando a forma de coxa. Tomava na mão
uma taça repleta de vinho, e tanto a taça como o conteúdo
transformavam-se em ouro. Mandava trazer um prato de figos e estes, mal
tocados, transformavam-se no precioso metal. Isso acabou em que, dois ou
três dias depois, e outras tantas noites, Midas pudera enriquecer seu
tesouro com uma imensa quantidade de ouro, mas não conseguia engulir nem
um pedaço de torta e, pela grande fome que sentia, não mais se
agüentava de pé. Rogou, então, imediatamente, a Dionísio que ficasse com
o dom que lhe concedera, do contrário ele acabaria morrendo de inérdia!
Dionísio aconselhou o Rei a mergulhar no rio Pactolo, que corre nas
proximidades da cidade dos Sardos.
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