A arte do mosaico e, por excelência, uma arte de paciência:
trata-se, de fato, de juntar diminutos fragmentos coloridos, dos mais
variados materiais, de modo a reproduzir um desenho preestabelecido. A
composição adquire maior beleza se observada a distância.
Existem mosaicos formados por matérias das mais
dessemelhantes e das mais diversas aplicações: a arte asteca deixou-nos,
por exemplo, pequenas obras escultórias recobertas por mosaicos de
pedras duras; a arte popular da América do Sul retomou, das populações
pré-colombianas, a tradição do mosaico de plumas, que é, ainda hoje,
usada para ornamentar trajes, estandartes, ou para compor quadros; as
populações da Austrália e da Oceania, ainda agora, gostam de enfeitar
suas máscaras rituais e suas armas com incrustações de conchinhas de
madrepérolas.
Para recordar, enfim, um exemplo europeu, os artesãos
italianos dos séculos XVI e XVII tornaram-se muito conhecidos, no
exterior, pela sua maestria em compor mosaicos de mármore e de pedras
duras, para a decoração de mesas, de lareiras e de outros objetos de
mobília.
Em sua aplicação arquitetônica, a técnica do
mosaico foi conhecida já em tempos antiqüíssimos: os Sumerianos, os
Babilônicos, ou Egípcios e os Hebreus recorreram, realmente, a ela para
enfeitar seus templos: os
Babilônicos usavam cubos de terracota, em forma de cone, ao
passo que os Egípcios recorriam também, a cacos de vidro.
A grande tradição que a arte ocidental ostenta, no campo do
mosaico, não deriva, todavia, dessas antigas civilizações, mas sim da
grega, ou, mais precisamente, da helênica.
Se assistíssemos à execução de um mosaico, hoje, veríamos
repetir-se, com pequenas variações, a técnica dos mosaicistas gregos;
traçado o desenho sobre um superfície recoberta de cimento fresco, e
estabelecidas as cores para depositar, neste ou naquele ponto, o
mosaicista recobre-o com uma leve camada de gesso; sucessivamente,
remove o gesso nos pontos que pretende executar imediatamente e,
aqui, aplica outra camada de cimento ou (como já está em uso na segunda
metade do Quinhentos) uma cela especial.
Escolhidos os cubos de mármores
ou de pasta vidrada das “caixas de degradação”, onde estão guardadas, e
subdivididos segundo seus coloridos, o mosaicista examina-os um a um,
corrige-lhes, eventualmente, a forma, lascando-o com um martelinho (na
terminologia dos mosaicistas: a “martelina”) e polindo-os com uma mó (o
“rotino”); depois, quando já os corrigiu e poliu, coloca-os na cola e um
junto a outro, nivelando a superfície com um martelo de madeira. Para
poder executar o trabalho com mais
calma, o mosaicista poderia recorrer, também, à técnica
da “rivoltatura”: neste caso, ele procede como no modo
precedente, mas usando, ao invés de cola ou cimento, porcelana úmida,
que prende bem os cubos e permite julgar, no mesmo instante, o
resultado.
Concluído o mosaico, o artista cola-lhe pedaços de papel,
cortados segundo o motivo escolhido, e, sobre eles, põe, ainda, telas de
saco.
Quando o trabalhou e acabou de secar, ele corta as telas e
“transporta” o mosaico para a superfície onde deve ser efetivamente
aplicado, preventivamente recoberta de uma camada de cola; após haver
fixado o mosaico na cola, o mosaicista pode, agora, retirar as telas de
saco e nivelar os cubos, ultimando, assim,
seu trabalho.
Não se pode afirmar, com segurança, que esta fosse realmente a técnica
empregada pelos mosaicistas gregos, todavia, dada sua simplicidade,
compreende-se como, se variantes houve, elas foram bem poucas, mais do
que tudo respeitantes à forma de cubo, ao modo de dispô-los, sua maior
ou menorpenetração na liga, a qualidade do material empregado.
Talvez os
primitivos artesãos gregos, que cuidaram do mosaico, inspiraram-se na
vista de uma torrente, onde os pedregulhos arredondados, das mais
variadas cores, lambidos pelas águas, acumulam-se uns sobre os outros,
belos e alegres de ver, mesmo em sua pitoresca desordem. De fato, os
primeiros pavimentos onde foi experimentada esta técnica eram formados
por pedras arredondadas pelas águas, tal como se nota nos restos de
Júpiter em Olímpia e nos de algumas mansões romanas da era republicana:
este tipo de pavimento, que os Romanos batizaram de barbaricum, não teve
um caráter ornamental, dada a mínima possibilidade permitida pelo
material empregado na composição de desenhos ricos de coloridos.
Foi somente cerca do século III a. C. que, na Ásia Menor,
especialmente em Pérgamo e em Alexandria, que a arte do mosaico assumiu
uma forma mais complexa e mais requintada, de modo a estimular a pintura
sobre madeira e o afresco. A adoção de cacos cúbicos adrede
esquadrinhados e polidos, permitiu uma extraordinária atenção na
execução
de motivos ornamentais e de assuntos dos mais variados gêneros, que eram
desenhados e executados por artistas especializados.
A habilidade dos mosaicistas helênicos não nos é
desconhecida, porque, de sua vasta produção, permanecem
numerosos exemplares na Itália, especialmente em Roma, em
Herculano, em Pompéia, naquela que foi a Magna Grécia e, mais tarde, em
todas as regiões compreendidas no Império
Romano. Também pelo que diz respeito à arte do mosaico,
aconteceu, de fato, o que ocorrera em outros setores da arte e dos
trajes: chegados em contato com uma civilização muito mais refinada do
que a sua, os conquistadores romanos não tardaram em apaixonar-se por
essa arte florescente em Pérgamo e Alexandria, e chamaram, para
ornamentar-lhes as casas e os edifícios públicos, um numeroso grupo de
artistas helenísticos.
Desde o
século II a. C., como nos atestam as fontes literárias
e as numerosas obras encontradas, o mosaico helenístico
tornou-se o constante ornamento das ricas mansões romanas, e
foi aplicado tanto nos pavimentos como nas paredes. Duas eram as
técnicas essencialmente em uso: a opus sectile, na qual
eram empregados cubos do mesmo tamanho, e o opus vermiculatum,
que era executado como cubos de tamanhos diferentes, segundo uma
disposição menos regular. A primeira técnica
era, sobretudo, usada para a execução dos motivos
ornamentais mais simples e mais rigidamente geométricos, que
se preferiram, habitualmente, para a decoração dos
pavimentos; entre estes tipos de decoração, o mais
antigo era, talvez, o opus alexandrinum, no qual, geralmente,
apareciam somente cubos marmóreos brancos ou negros.
O opus
verniculatam era, ao invés, empregado no mosaico oriental,
em que a exigência dos assuntos representados necessitava de
uma técnica mais minuciosa, mais adequada para tornar reais as
figuras.
Com o
requinte dos costumes romanos e o progresso dessa técnica, o
mosaico tornou-se sempre mais precioso e rico de colorido; os cubos
não eram mais somente de mármore, mas, também,
de pastas vidrosas e de pedras duras, tais como o alabastro, o ônix,
a ágata, que, com suas cores vibrantes – o azul intenso, o
amarelo vivo, o verde esmeralda, o vermelho sanguíneo –
conferiam aos salões, assim decorados, um aspecto luxuoso: o
mosaico mais adequado a essas características é,
naturalmente, o executado na era imperial.
Esta
arte, agora já tão rica e faustosa, que, no esplendor e
na preciosidade de sua matéria, bem revelava uma constate
influência do gosto oriental, tal herdada pela Igreja. Com a
decadência do Império Romano do Ocidente e a afirmação
do Cristianismo, não se verificou, como se poderia supor, dada
a origem pagã, sua decadência.
Em Roma,
ainda resta uma rica documentação de mosaicos da idade
paleocristã, na abóbada do Mausoléu de Santa
Constância (séc. IV), na abside da Igreja de Santa
Pudenciana (fins do século IV), nas naves e no arco triunfal
da Basílica de Santa Maria Maggiore (século IV e V) e
na abside da Igreja do SS. Cosme e Damião(séc. IV).
É
ainda perceptível, nos mais antigos deles, a lembrança
do mosaico do tipo helenístico-romano, todavia, ele se torna
sempre menos evidente, nos mosaicos mais recentes; a Igreja, na
verdade, dobra às suas exigências nessa arte, impõe-lhe
novas figurações, dela pretende uma tarefa que
ultrapassa aquela puramente decorativa; reevocados por mosaicos
resplentes de colorido, aparecem, agora, os símbolos do
Cristianismo.
Os
artistas ocidentais não encontraram, por si sós, esta
nova maneira de expressão: se, antes, hauriram inspiração
dos mosaicos helenísticos-romanos, em seguida, sofreram,
sempre mais, a influência dos mosaicos orientais.
E foi ainda a
Ásia Menor, com o centro de Antioquia e, a seguir, a de
Bizâncio, a capital do Império Romano do Oriente, quem
renovou o gosto do mosaico ocidental, quem forneceu artífices
magistrais nesta arte, que deram novas sugestões no campo da
técnica e do estilo. Esta influência, ainda pouco
perceptível nos mosaicos executados, no século VI, em
Ravena, nas igrejas de São Vidal, de Santo Apolinário
Novo e na de Santo Apolinário em Classe.
O preciosismo dos
mosaicos de Ravena e a concepção oriental de
interpretação as figuras símbolos, e não
como representações da realidade, conservaram-se por
longo tempo, influenciando a arte do mosaico que, porém, cerca
do século XI, degenerou numa espécie de academicismo,
na cópia mais ou menos ao pé da letra, mas sempre pior,
de mosaicos belíssimos, executados nos séculos
precedentes. Entrementes, no meio de tantas representações
simbólicas daqueles séculos, uma turma de artistas ia
renovando o mosaico, dando-lhe um novo cunho, realista e dramático,
que sob certos aspectos, se entrelaçava com a tradição
da arte helenística-romana.
Nos mosaicos que recobrem
inteiramente as abóbadas da Basílica de São
Marcos, executados do século do século XI ou XIII, ou
naquele que ornamentavam a abóbada do Batistério de
Florença, em outros coevos, é possível
perceber-se o gradual abandono da abstração bizantina
por uma arte mais humana, menos faustosa, certamente, de quanto havia
sido até então, porém mais próxima do
drama dos homens, de sua realidade: foram os germes espirituais
contidos em toda a arte dos séculos XI, XII e XIII, ou seja,
na arte romântica, que transformaram o estilo mosaico, mas em
certo sentido, aceleraram-lhe a decadência. Pietro Cavallini,
Iacopo Torriti, e Filippo Rusuti foram, quiçá, os
últimos grandes artistas que se prevaleceram do mosaico parra
exprimir sua íntima necessidade de arte, mas, já agora,
outras técnicas, como o afresco e pintura sobre madeira, eram
preferidas pelos artistas e pela Igreja, para difundir uma mensagem
de fé, de beleza e de poesia.
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