sábado, 21 de janeiro de 2012

HENRY FORD

     Mesmo para quem não se interessa ou não entende de motores e de máquinas, o nome de Henry Ford é sinônimo de automóvel, porque, na verdade, a vida deste homem se identifica com a história da grande indústria automobilística de que ele foi o grande criador. Em nossa época, em que a velocidade dos meios de transportes anulou as distâncias, é difícil convencer-nos de que, em apenas cinqüenta anos, o Homem venceu a batalha contra o tempo e a distância. 
     As estradas, os veículos, as velocidades dos primeiros anos deste século já nos parecem bastante remotas, coisas longínquas. Este extraordinário e rápido progresso tem sido possível porque homens audazes aplicaram engenho, experiência e esforços, com o objetivo de permitir uma permuta sempre mais rápida de mercadorias, de relações e, portanto, de conhecimentos. 
     Entre esses pioneiros, Henry Ford é, por certo, uma das figuras de maior relevo. Ele nasceu em 30 de julho de 1863, perto de Dearborn, em Michigan. O pai, William Ford, tinha chegado à América, vindo da nativa Irlanda, dezesseis anos antes, para ir ter com outros parentes, que se haviam estabelecido na região, onde, poucos anos antes, a floresta cedera terreno aos campos cultivados. Além da propriedade paterna, William trabalhara como carpinteiro junto a outros sitiantes. 
     Era inteligente, ativo, e logo estava em condições de adquirir um terreno por conta própria e constituir bem cedo uma família. Realmente, desposou uma jovem órfã, que tinha sido adotada por uma abastada família de imigrantes irlandeses, mas que, infelizmente, morreu muito moça. Mas sua lembrança e os seus ensinamentos deixaram traços bem profundos no caráter do filho. Henry cresceu no sereno e ativo ambiente campestre, junto a cinco irmãos e, desde criança, demonstrou grande interesse por tudo quanto era mecânico. Em verdade, o pai não era muito entusiasta por essa sua paixão, pois teria preferido que ele fosse um fazendeiro, mas não quis contrariar as tendências do filho. 
     Em sua autobiografia, Henry Ford contou-nos que dois foram os acontecimentos mais importantes dos seu primeiros anos: receber como presente um relógio e encontrar um carro não puxado a cavalos, mas movido a vapor. Enquanto ia para Detroit, com o pai, encontrou-se com aquele veículo. O cocheiro parou para deixar passar o carro e o rapaz encetou, imediatamente, uma animada conversa com o maquinista, bombardeando-o com perguntas sobre o funcionamento do engenho.
     Quanto aos relógios, tinha um fraco por eles. Quando, terminado seu curso, trabalhou,m como aprendiz, em várias oficinas mecânicas de Detroit, transcorreu o tempo livre em consertar relógios na loja de um relojoeiro. Terminado o período de aprendizado em Detroit, Henry Ford trabalhou em montar e desmontar máquinas agrícolas para a Companhia Westinghouse. Estas máquinas eram usadas como tratores, para transportar enormes pesos e para levar de uma fazenda a outra as debulhadoras. 
     O jovem Ford, já desde aquele tempo, notara que, nos campos, era necessário um excessivo trabalho, em um excessivo trabalho, em proporção dos resultados. E mais do que numa carroça sem cavalos, ele pensava, então, num meio para tornar menos penoso o insano trabalho dos camponeses, substituindo à dura fadiga do Homem o aço e os motores. Mais tarde, as circunstâncias levaram-no à construção de um veículo para viajar nas estradas. Já desde muitos anos falava-se em carros sem cavalos. 
      Na Europa, já haviam construído tais meios de transporte, acionados a princípio a vapor e depois a gás, e até em várias partes dos Estados Unidos outros moços faziam estudos e tentativas a esse respeito. Henry Ford estava convicto, através das próprias experiências, de que o vapor devia ser excluído como força motriz para a máquina que ele projetava construir. Por acaso, ele foi chamado a Detroit, para consertar uma das novas máquinas acionadas por gás de benzina, de fabricação alemã. Pôde, assim, estudar-lhe o funcionamento, e resolveuconstruir uma por conta própria. Ele voltara à fazenda paterna, onde podia dispor de uma oficina aparelhada para ali efetuar novas experiências, mas, durante alguns anos, sua carreira de mecânico ficou em suspenso, porque se verificara um fato novo, em sua vida. Ele conhecera a jovem filha do proprietário de uma vizinha fazenda, Clara Bryant, e agora pretendia desposá-la.
     Aceitou, por isso, a proposta do pai, que lhe oferecia dezesseis hectares de bosque, porque pensava que o corte da madeira lhe daria os meios suficientes para constituir família. Organizou, então, uma simples serraria e, com parte daquela madeira, construiu uma casa bem modesta. Ao lado da habitação, não faltava, naturalmente, uma oficina, onde Ford não se cansava de experimentar novos motores, encorajado, nas suas tentativas, pela mulher. Mas ele não nascera para a vida rústica e aceitou um lugar de engenheiro mecânico na Detroit Edison Company, transferindo-se, assim, novamente, de cidade. 
     Todo seu tempo livre era dedicado a desenhar e a elaborar os pormenores do carro que ele desejava construir, e, de fato, na primavera de 1893, a máquina estava pronta, mas faltavam ainda alguns dispositivos. Naqueles anos de expansão e de desenvolvimento das indústrias de toda espécie, também Detroit se tornara um importante centro industrial, onde Ford encontrou o ambiente encorajador para seu trabalho, e também os homens que se juntariam a ele numa ativa colaboração. Estava-se, então, na véspera da era do automóvel, que se achava destinada a transformar completamente, profundamente, a indústria e a vida social, especialmente nos Estados Unidos, onde as grandes distâncias entre os centros habitados e a falta de uma eficiente rede rodoviária faziam fortemente sentir a necessidade de um meio de transporte rápido e independente de fios e trilhos. 
     Em França, em 1894, realizou-se a primeira competição entre “carros sem cavalos” e, no ano seguinte, uma competição idêntica foi efetuada também na América. Dessa maneira, inventores e técnicos tiveram oportunidade de encontrar-se e constatar quanto já tinha sido feito nesse campo. Ford seguia, com o máximo interesse, todos os progressos realizados na indústria automobilística, porque tinha idéia das possibilidades de aperfeiçoamento e do desenvolvimento do novo meio de locomoção. Tendo vendido seu primeiro automóvel, começou a construir outro, mirando, acima de tudo, obter maior velocidade. 
     Desde essa época, ele pensava na produção em larga escala, e quando alguns financiadores se demonstraram dispostos a ajudá-lo, deixou a Companhia de Eletricidade para dedicar-se completamente à construção dos seus modelos. Foi constituída uma primeira Sociedade, da qual Ford era o engenheiro-chefe, gozando de uma modesta participação nos lucros. Mas os critérios de negócios dos financiadores não satisfaziam ao jovem construtor, que pretendia basear sua indústria sobre sistemas de todo novos. Desligou-se, então, da Sociedade, alugou um barracão de tijolos e ali continuou seus estudos e aperfeiçoamento do motor e dos métodos de construção de um novo carro, que apresentou, depois, com êxito, numa corrida. 
     Logo após, foi fundada a Ford Motor, em 1903, o primeiro núcleo daquela que iria ser a maior fábrica de automóveis do mundo. A nova Sociedade iniciou logo boas vendas, que lhe permitiram progredir sem recorrer aos bancos. Mas, no início, teve que enfrentar as ameaças de uma associação de fabricantes de automóveis, que pretendiam ter assegurado para si a patente especial da fabricação de todos os tipos de automóveis.
     Henry Ford lutou com sucesso contra essa tentativa de monopólio, que faliu depois de um processo que se arrastou por anos. Entrementes, o número de fábricas de automóveis tinha aumentado bastante, e Detroit tornara-se um centro dominante da nova indústria, mas nenhuma fábrica estava então em condições de construir um carro inteiro, pois devia recorrer a firmas especializadas para a construção de várias partes do motor, rodas e carroçaria. A idéia de Ford era a de produzir um carro leve, simples e de baixo custo, porque agora, já, o automóvel não mais era considerado um capricho de ricos, mas uma necessidade para homens de negócios e profissionais. Resolveu, pois, construir ele próprio as peças para os seus carros, imitado nisto por outros fabricantes. 
     A medida que a empresa se desenvolvia, apresentavam-se problemas sempre mais complexos de produção e de organização, que Ford soube resolver, adotando um serviço que se tornou famoso e representou, realmente, um conceito novo no mundo da indústria. A produção em massa, a que soubera chegar, significava simplificar o desenho, uniformizar as peças de que a máquina é composta, estudar com a máxima precisão a velocidade do trabalho em conjunto, enfim, criar a produção em série, baseada em critérios científicos. Esse aspecto da atividade de Henry Ford fez dele um pioneiro dos modernos conceitos de produtividade. Uma outra grande inovação que se deve a Ford é a de ter levado o automóvel ao alcance de todos os bolsos, criando uma verdadeira revolução na vida econômica e social. 
     Antes de todos, Henry Ford adotou, em 1914, a jornada de 8 horas de trabalho e estabeleceu o salário mínimo, com a participação, porém, dos trabalhadores nos lucros da empresa, tornando-se, assim, uma espécie de herói popular para milhões de operários do mundo todo. Naturalmente, Ford foi coadjuvado, na criação de uma organização industrial tão complexa, por hábeis colaboradores, no campo organizativo e técnico. Entre eles, seu filho Edsel e, depois de sua morte, pelo neto, Henry Ford II. 
     Henry Ford morreu em Detroit, em 1947. Foi homem de inteligência original e poderosa, impulsivo, generoso, mas também alvo voluntarioso, especialmente nos últimos anos de sua vida. Granjeou lucros enormes, mas investiu-os quase todos na potencialidade de suas fábricas. Com o desenvolvimento da indústria automobilística no Brasil, sua companhia inverteu, em São Paulo, principalmente, grandes somas, estabelecendo poderosas oficinas em nossa terra, fabricando motores e tratores, que tem sido de grande proveito para a lavoura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Envie seu comentário sobre esta postagem...

Oportunidade

Adsense