segunda-feira, 15 de julho de 2013

DO DESENHO À LETRA



DO DESENHO À LETRA 

     A necessidade de comunicação que o homem sente não é coisa nova: vem de longe. Oito mil anos atrás, os trogloditas já procuravam registrar para a posteridade os fatos mais significativos de sua vida – os perigos que passavam e as suas façanhas de caça. Isto era feito por meio de desenhos que o homem das cavernas gravava nas paredes. Em certas grutas da França e da Espanha, ainda hoje se podem ver exemplos dessa “escrita” figurativa – ou pictografia –, cujos caracteres eram as próprias imagens do homem e dos animais comuns na época: bisões, ursos, veados, lobos, javalis, etc. E essas narrativas murais demonstram que, embora os “escritores” da época tivessem bem pouco talento literário (as histórias que contavam eram sempre muito simples), dispunham de uma grande habilidade plástica, pois seus desenhos reproduzem com muita fidelidade os modelos. 
     A arte de contar histórias por meio de figuras, criadas pelo homem pré-histórico, preservou-se através dos tempos. Vamos encontrá-la em pleno uso três mil anos depois, ocupados apenas em caça para comer e fugir dos bichos que não conseguiam abater. Viviam numa sociedade razoavelmente organizada, já bastante complexa, e sua escrita refletia isso. empregava sinas capazes de exprimir as mais diversas situações e fatos. No princípio, esses caracteres – os hieróglifos – designavam apenas os objetos com os quais se pareciam.
      Por exemplo: o desenho de um sol representava simplesmente “sol”. Depois, adquiriram também um significado simbólico; a figura de um sol passou a indicar tanto “sol” como “dia”. Evoluindo ainda mais, assumiram uma terceira função: valor sonoro. Dessa forma, a figura de um sol indicava dois sons diferentes: um correspondente a “sol “ e outro a “dia”. Enquanto, por um lado, ocorria essa transformação no significado dos hieróglifos, por outro, modificava-se também o seu formato. Os escribas, tendo que trabalhar depressa, não podiam caprichar muito nos desenhos que faziam e, por isso, as figuras foram simplificando-se gradualmente. 
     Em consequência, pouco a pouco a escrita hieroglífica foi-se transformando numa outra – a hierática –,usada principalmente pelos sacerdotes para inscrição em papiros e tecidos. Mesmo esta, porém, era inacessível à maior parte das pessoas, de maneira que, com o tempo, uma nova forma de escrita se originou – a demótica. Graças a ela, a arte de escrever divulgou-se em maior escala entre os egípcios. Conhecer, nº 21, Abril Cultural, p. 222).

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