DO DESENHO À LETRA
A necessidade de comunicação que o homem
sente não é coisa nova: vem de longe. Oito mil anos atrás, os trogloditas já
procuravam registrar para a posteridade os fatos mais significativos de sua
vida – os perigos que passavam e as suas façanhas de caça. Isto era feito por
meio de desenhos que o homem das cavernas gravava nas paredes. Em certas grutas
da França e da Espanha, ainda hoje se podem ver exemplos dessa “escrita”
figurativa – ou pictografia –, cujos caracteres eram as próprias imagens do
homem e dos animais comuns na época: bisões, ursos, veados, lobos, javalis,
etc. E essas narrativas murais demonstram que, embora os “escritores” da época
tivessem bem pouco talento literário (as histórias que contavam eram sempre
muito simples), dispunham de uma grande habilidade plástica, pois seus desenhos
reproduzem com muita fidelidade os modelos.
A arte de contar histórias por meio
de figuras, criadas pelo homem pré-histórico, preservou-se através dos tempos.
Vamos encontrá-la em pleno uso três mil anos depois, ocupados apenas em caça
para comer e fugir dos bichos que não conseguiam abater. Viviam numa sociedade
razoavelmente organizada, já bastante complexa, e sua escrita refletia isso.
empregava sinas capazes de exprimir as mais diversas situações e fatos. No
princípio, esses caracteres – os hieróglifos – designavam apenas os objetos com
os quais se pareciam.
Por exemplo: o desenho de um sol representava simplesmente “sol”.
Depois, adquiriram também um significado simbólico; a figura de um sol passou a
indicar tanto “sol” como “dia”. Evoluindo ainda mais, assumiram uma terceira
função: valor sonoro. Dessa forma, a figura de um sol indicava dois sons
diferentes: um correspondente a “sol “ e outro a “dia”. Enquanto, por um lado,
ocorria essa transformação no significado dos hieróglifos, por outro,
modificava-se também o seu formato. Os escribas, tendo que trabalhar depressa,
não podiam caprichar muito nos desenhos que faziam e, por isso, as figuras
foram simplificando-se gradualmente.
Em consequência, pouco a pouco a escrita
hieroglífica foi-se transformando numa outra – a hierática –,usada
principalmente pelos sacerdotes para inscrição em papiros e tecidos. Mesmo
esta, porém, era inacessível à maior parte das pessoas, de maneira que, com o
tempo, uma nova forma de escrita se originou – a demótica. Graças a ela, a arte
de escrever divulgou-se em maior escala entre os egípcios. Conhecer, nº 21,
Abril Cultural, p. 222).
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