O TELEGRAFO
A ciência e a técnica tem largamente
satisfeito o vivo desejo do homem de comunicar-se com seus semelhantes mediante
aquela utilíssima instituição de progresso civil que se denomina: “Correios e
Telégrafos”. Ela, com o tempo, tem sido melhorada sempre mais, proporcionando
uma valiosa contribuição ao crescente e célebre tráfego do comércio e das
indústrias. A época remota deve-se o aparecimento dos primeiros sistemas de
comunicação adotados pelos povos antigos.
Eles consistiam em meios muitos simples:
no mar, de ilha em ilha, acendiam-se fogos; na terra, de monte em monte, ardiam
tochas; de aldeia em aldeia levantavam-se bandeiras, colunas de fumaça e, das
altas torres, faziam-se muitos e variados sinais. Servia-se também de correios,
situados em determinadas distâncias, mas o serviço não era muito eficiente,
para exprimir e transmitir pensamentos, e o homem, para tanto, devia escogitar
um meio que lhe permitisse substituir. Por sinais, a engenhosíssima invenção da
escrita. Aumentaram-se, por isso, as tochas e as bandeiras, dispostas em
posições e combinações múltiplas. Aquele que, por primeiro, inventou esta
linguagem de sinais, pode realmente ser considerado o inventor do telégrafo (do
grego: tele – distância e grapho – escrevo).
Dentre os primeiros sistemas de
telegrafia, devemos recordar um em uso entre os Cartagineses Ele consistia em
dispor, a distância preestabelecida, um do outro, vasos de bronze cilíndricos,
de igual capacidade, para que pudessem conter uma idêntica quantidade de água;
na parte inferior de cada um era feito um orifício, no qual era aplicada uma
torneira igual para todos. Na superfície da água, boiava uma cortiça, tendo,
verticalmente, uma haste de madeira, dividida em partes iguais, sobre cada uma
das quais estava assinalado um número ou desenho convencional, simbolizando um
determinado pensamento. Perto de cada recipiente estava, munido de uma bandeira
durante o dia ou de uma tocha durante a noite, um encarregado que, na estação
transmissora, assim que era dado o sinal, abria a torneira e deixava sair tanta
água quanto era preciso para que a haste descesse e permitisse que se lesse, na
orla do recipiente, o determinado sinal.
A repetição do sinal anunciava o fim
da comunicação. O incumbido da recepção, ao primeiro sinal, também abria a
torneira do seu vaso, e a fechava imediatamente, ao segundo sinal. Tais sinais
repetiam-se a distâncias iguais, por isso as notícias a eles correspondentes
eram, sucessivamente, conhecidas pelos respectivos encarregados. Esse foi o
chamado “telégrafo hidráulico”. Nos séculos seguintes, com o progresso dos
estudos científicos, vários físicos enfrentaram o problema das comunicações
velozes, a distância, adotando meios óticos, e, entre esses, merece uma citação
especial Giambattista Della Porta, inventor da câmara escura. Ele refletia
raios de luz com sinais convencionais, por meio de espelhos côncavos. Mas o seu
método não teve nunca uma aplicação prática.
Depois da invenção do binóculo, o físico francês Guilherme
Amontons (1663 – 1705) propôs colocar, a determinadas distâncias, homens
dotados de binóculos, para que os vários sinais convencionais fossem melhor
vistos. Cada um deles, depois, devia não só observar atentamente, mas também
reproduzir, com fidelidade, os sinais que lhe eram transmitidos pelo seu
vizinho; desta maneira, idêntico sinal era sucessivamente repetido por todos os
encarregados situados entre os dois pontos extremos. Infelizmente, Amontons
desanimava-se facilmente; perdia-se ante qualquer obstáculos e, por isso, seu
projeto foi abandonado.
Quando, nos séculos seguintes, a eletrostática estava
em pleno apogeu, os físicos delas se aproveitaram para transmitir, com a máxima
presteza, qualquer notícia mesmo a grandes distâncias. O escocês Carlos
Marshall, pela metade do século XVIII, pensando na propriedade que possui um
fio metálico de conduzir rapidamente a eletricidade, amadureceu a idéia de
empregar tantos fios metálicos, completamente isolados, quantas são as letras
do alfabeto; e fixou até, junto à extremidade livre de cada fio, um pêndulo
elétrico, com uma letra do alfabeto. As extremidades opostas desses fios, que
traziam a mesma letra, estavam em comunicação direta com um aparelho
eletrostático. É claro que, eletrizando, por exemplo, o fio com a letra S, o
pêndulo correspondente, também se eletrizando, oscilava, indicando, assim, com
exatidão, a devida recepção.
Esta idéia foi posta em prática, em 1754, pelo
físico genebrino Luís Lesage, mas, como o isolamento dos fios não era sempre
completamente eficaz, o método foi abandonado, e novamente se recorreu à ótica,
para resolver o problema. Após longas tentativas, o francês Cláudio Chappe
construiu, em 1792, o primeiro telegrafo de sinais e binóculos. Sobre cada uma
delas, estava içada uma longa haste vertical, com três braços laterais, que
giravam de modo a poder dispor-se horizontalmente, ou voltadas para o alto ou
para baixo. As várias posições dos braços eram, oportunamente, manobradas por
meio de carretilhas e cordas.
A primeira linha funcionou, com resultado
satisfatório, em 1794, entre Paris e Lile. A telegrafia ótica, nascida assim
sob felizes auspícios, difundiu-se, bem depressa, por toda a França e pelo
exterior, todavia, nem ela escapou dos imprevistos retardamentos e dos
inconvenientes devidos aos fenômenos meteorológicos especialmente da neblina.
O aparelho foi aperfeiçoado pelos alemães Gauss
e Weber; o professor Steinhel, depois, acrescentou, até na ponta das agulhas,
uma ligeira ponta cheia de tinta que, deslizando sobre uma tira de papel que,
levada pelo movimento de um mecanismo do relógio, traçava pontos e sinais
convencionais. A telegrafia avançava sempre e mais clara e segura. Steinhel não
deve ser esquecido também devido a outra importante inovação: a ele cabe o
mérito de ter abolido o fio de retorno, explorando a ótima condutibilidade da
terra. Assim, construíram-se os telégrafos com um único fio em lugar de dois,
que antes, eram indispensável.
A seguir, conseguiu-se simplificar as
instalações, usando somente três galvanômetros para todas as letras do
alfabeto. Para tal objetivo, eram empregadas correntes fracas, médias e fortes,
que produziam desvios com amplitudes variáveis de cada agulha. Mais tarde, o
emprego da magnetização temporária do ferro doce e a conseqüente invenção do
eletroímã, que atrai e deixa em liberdades a própria âncora, inspirou o
americano Samuel Morse. Durante a travessia do oceano que o conduzia de volta
da Europa para a América, teve a idéia de aplicar, na telegrafia, o princípio
de atração da âncora aos pólos do eletroímã.
Quando terminou a viagem, Samuel
Morse dirigiu-se ao comandante do navio e disse-lhe: “Capitão, quando o mundo
inteiro admirar meu telegrafo, não se esqueça de que eu o inventei aqui, a
bordo do Sully, em 13 de outubro de 1832”. O fato, realmente, verificou-se
porque, após muitas peripécias e obstáculos, em 1844, inaugurava-se, com
explêndido êxito, a primeira linha telegráfica dos Estados Unidos, entre
Washington e Beltimore. As partes principais do telegrafo Morse são:
_ O
aparelho transmissor, constituído de um interruptor, por meio do qual,
baixando-se uma tecla, pode-se fechar o circuito da corrente.
_ O aparelho
receptor, constituído de um eletroímã, cujo enrolamento é percorrido pela
corrente elétrica, e de uma alavanca, que traz, numa das extremidades, uma
âncora, situada diante do núcleo do ímã, e na outra extremidade, uma ponta, sob
a qual corre uma tira de papel envolta num cilindro.
_ Uma bateria de pilhas
para fornecer a corrente.
_ O fio da linha sustentando por postes
telegráficos, nos quais está fixado, por meio de isoladores de porcelana ou de
vidro.
Para transmitir um telegrama, aperta-se a tecla do transmissor: a
corrente do circuito passa através do fio do eletroímã do receptor, que se
magnetiza, atrai a âncora e aproxima a ponta da alavanca da fita de papel que
corre debaixo dela. Esta ponta, premindo sobre o papel, assinala um ponto, se o
contato do transmissor é instantâneo, e uma linha, se o contato é prolongado.
Por meio de pontos e linhas, pode-se formar um alfabeto convencional.
Constatou-se também que como fio de retorno da corrente, pode servir,
simplesmente, a terra. Em tal caso, uma das extremidades do fio termina, em
cada uma das duas estações, como uma chapa metálica, que é enterrada em lugar
úmido. Outro inventor, Eduardo Hughes, douto físico da Universidade de Nova
York, e também habilíssimo mecânico, em seu novo telégrafo, substituiu ao
alfabeto convencional, diretamente, os caracteres tipográficos ordinários, de
modo a evitar a dupla tradução para a compilação do recado.
Graças a esta vantagem, o telégrafo Hughes, desde 1861, foi adotado pelo
Governo Italiano, e seu sucesso induziu outros países da Europa e adotá-lo. O
lado anterior da mesa é ocupado por um teclado semelhante ao de um piano,
constituindo o manipulador do aparelho; as teclas são vinte e oito,
alternadamente, brancas e negras. Sobre a mesma mesa, é constituído um castelo
de metal, que sustém um sistema e várias rodas e carretéis denteados, que
imprimem um movimento rotatório contínuo e uniforme aos diversos empenhos.
O
físico inglês Wheatstone, construía um novo tipo de telégrafo de agulhas que,
depois, aperfeiçoava, transformando-o em telégrafo eletromagnético, no qual, um
único fio transmite a corrente elétrica de uma a outra estação e guia uma agulha,
que corre sobre um quadrante, em cujo contorno estão assinaladas as letras do
alfabeto. A parada do indicador aponta, precisamente, a letra que se deseja
transmitir. A constância e o estudo incessante de tantos voluntariosos
conduziram à telegrafia submarina.
As moderníssimas e velozes telescreventes
assinalam um passo seguro nas telecomunicações, mas a mais fúlgida vitória cabe
ao telégrafo sem fio, glória de Marconi, mediante o qual a palavra do homem,
sem fio algum, pode levar o socorro a qual a palavra do homem, sem fio algum,
pode levar o socorro a qualquer parte. Em 1880, com a invenção da pilha
voltaica, a telegrafia ótica foi definitivamente abandonada e substituída pela
telegrafia elétrica.
O primeiro a empregar a corrente das pilhas voltaicas foi,
nos primeiros anos do século XIX, o cientista alemão Sömmering, que utilizou um
fio condutor para cada letra do alfabeto. Na estação de partida, as
extremidades dos fios mergulhavam numa pequena bacia de água acidulada, e se
desenvolviam, assim, as conhecidas pequenas bolhas gasosas de hidrogênio e de
oxigênio. Tal sistema, porém, apresentava-se muito complexo e inadequado a
linhas telegráficas muitos extensas.
Mais tarde, o físico dinamarquês Oersted
descobriu que uma agulha magnética desvia-se da direção normal nas proximidades
de um condutor percorrido por corrente, e os cientistas exploraram tal fenômeno
para aplicá-los logo na telegrafia. O grande Ampère substituiu o recipiente de
água acidulada (onde terminavam os fios condutores de Sömmering) por outros
tantos galvanômetros, cujas rotações de agulhas, nos dois sentidos, davam as
indicações de duas letras.
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