quarta-feira, 9 de março de 2011

O BARROCO


PANORAMA HISTÓRICO

Na Europa

O estilo barroco é de origem controvertida. Pode ter nascido na Itália, mas criou raízes na Espanha entre poetas e pintores do século XVIII. A literatura barroca chega a Portugal em um período marcado por grandes tensões e mudanças. Portugal e Espanha tinham um único rei. Com o desaparecimento de D. Sebastião (rei de Portugal), Felipe II torna-se herdeiro do trono e consolida a unificação da Península Ibérica.
Surge, então, o mito do Sebastianismo, crença segundo a qual os portugueses achavam que D. Sebastião não morrera na batalha de Alcácer-Quibir, na África, e voltaria em breve para retomar o trono português. Além disso, nessa época, Portugal atravessa uma série crise econômica. O comércio com as especiarias orientais decai e a economia portuguesa declina, uma vez que os lusos não contam com as riquezas das colônias conquistadas.
O século XVII apresenta a reação da Igreja contra as idéias do antropocentrismo difundidas pelo Renascimento e contra a Reforma Protestante, solidificada na Inglaterra, Holanda e regiões do Reno e do Báltico. Esta reação da Igreja, na tentativa de recuperar seu poder, chamou-se Contra-Reforma. Foi um movimento caracterizado pela censura de textos e idéias, com decisões elaboradas a partir do Concílio de Trento, ocorrido em 1545 a 1563.
A unificação da Península Ibérica dá condições à Companhia de Jesus de combater com mais vigor as idéias da reforma protestante. O ensino passa a ser atribuição dos jesuítas. Qualquer avanço no campo científico-cultural passa pela censura eclesiástica. Tudo isso fez com que a Península Ibérica não acompanhasse o progresso científico da Europa. Portugal manteve-se alheio às idéias de Galileu, Copérnico, Newton e Descartes.
Entre essas descobertas estão as leis da mecânica e o processo de circulação do sangue no corpo humano. Nesse clima de profundas transformações de ordem social, política, econômica é que se desenvolve a estética barroca. O Barroco reflete a tentativa de conciliar forças antagônicas: o bem e o mal, o espírito e a matéria, o céu e a terra, a pureza e o pecado, a razão e a fé.


No Brasil

Com a expansão do comércio, a economia mercantilista do Brasil-colônia, com toda a sua produção, volta-se para a Metrópole. A cana-de-açúcar, no Nordeste, atinge rapidamente seu apogeu, mas entra logo em declínio. Em Minas Gerais, a extração de minérios – outra fonte de riqueza – contribui para o desenvolvimento econômico. Após a expulsão definitiva dos franceses (1615), ocorrem as invasões holandesas (1624 e 1630), e o Conde Maurício de Nassau administra as regiões ocupadas pelos holandeses (1637 – 1644).
O Nordeste passa por rápidas mudanças culturais e econômicas, através do contato com os holandeses, até sua expulsão em 1654. É nesse contexto que a arte barroca surge, influenciada fortemente pelas tensões de sua época. As Artes Na pintura, é clara a influência do conflito entre razão e fé. As obras de arte demonstram essa dualidade através do uso de contrastes, como claro e escuro, luz e sombra, além da exploração das idéias de profundidade e de intensidade dramática.
Na arquitetura, o estilo é retorcido, cheio de detalhes, exagerado, refletindo o próprio conflito vivido pelo homem desta época. A arte renascentista, baseada no equilíbrio, dá lugar a uma arte mais intensa, emocional, envolvente, que expressa as emoções de forma passional.


O Barroco na Literatura

A designação de barroco chega a ser ambígua, quando se quer classificar esse estilo de época. Assim, barroco é sinônimo de bizarro. Esse termo, segundo a crítica das artes plásticas, é sinal de mau gosto, de coisa absurda.
Para efeitos didáticos, podemos dizer que o Barroco ou Seiscentismo – estilo literário do século XVII – inicia-se em Portugal em 1580 com a unificação da Península Ibérica e vai até 1756, com a fundação da Arcádia Lusitana. A literatura barroca é fruto do conflito característico de sua época. Pressionado pela Igreja e pelo racionalismo, o homem perde-se entre dois pólos opostos: Igreja X pensamento renascentista / salvação X pecado / céu X inferno / espírito X carne / fé X razão.
 

Autores Barroco

Dos escritores que manifestaram tendências barrocas em suas obras destacam-se Gregório de Matos e Padre Antônio Vieira. Gregório de Matos Guerra (Salvador-BA, 1633 – Recife-PE, 1696). Faz doutorado em Direito, em Coimbra, e permanece mais de trinta anos em Portugal. Vem, então, para o Brasil, passando a viver na Bahia.
Gregório de Matos é o autor mais representativo da poesia desse período da nossa história literária. É poeta lírico, satírico e religioso. Em seus poemas manifesta aspirações religiosas, expressa o amor carnal e satiriza a sociedade baiana da época. Com isso, ganha a antipatia de inúmeras pessoas de seu tempo e é obrigado a partir em exílio para Angola. Sua produção literária pode ser agrupada em três divisões temáticas:

a) poesia lírica: neste tipo de poema o poeta fala de suas fortes paixões e dos sofrimentos por amor. Os sonetos de Gregório de Matos são bem elaborados. Por se um bom conhecedor da arte de fazer poesias, expressa seus sentimentos amorosos com grande habilidade e maestria.

b) poesia satírica: nela critica as autoridades da época, as mulheres de costumes indecorosos, os ricos senhores de engenho, os padres e os comerciantes pouco honestos. Pelas suas sátiras, Gregório de Matos foi apelidado o Boca do Inferno, por sua habilidade em criticar personalidades e costumes de seu tempo.

c) poesia religiosa: o poeta, arrependido, pede perdão de seus pecados; sofre remorso por suas ações apaixonadas e insensatas; há sempre um conflito entre pecado e perdão.

Padre Antônio Vieira (Lisboa-Portugal, 1608 – Salvador-BA, 1697). Passou grande parte de sua vida no Brasil. Aos quinze anos entrou para Companhia de Jesus. Escreveu 15 volumes de sermões e inúmeras cartas (mais de 500). Em 1640, notabilizou-se pelo Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda, em que o autor coloca Deus como árbitro na luta entre portugueses e holandeses.
Nesse sermão, Vieira mostra sua preocupação com os problemas sociais da colônia. Em 1652, Padre Vieira está em São Luís do Maranhão, onde se ocupa da catequese dos índios. Aí escreve o Sermão de Santo Antônio aos Peixes, no qual ridiculariza, por meio de alegorias e comparações, os vícios dos colonos. Perseguido pelo Tribunal Inquisitorial, por pregar tolerância religiosa e divulgar idéias do Quinto Império do Mundo, é encarcerado e impedido de pregar. Como orador foi notável; como clássico, primoroso; e como missionário, incomparável.
No Brasil, defendeu a liberdade dos nativos e em Portugal, a liberdade dos judeus. Foi um autêntico mestre da língua: pela firmeza e propriedade do léxico, pela musicalidade que dá aos seu sermões. A obra de Vieira divide-se em:
a) profecias: obra de cunho nacionalista, em que acredita nas futuras glórias de Portugal, baseando-se na Bíblia; nessa obra, Vieira afirma sua crença no Sebastianismo.

b) cartas: nelas Vieira defende os judeus convertidos ao cristianismo (cristãos-novos), vítimas de todo o tipo de perseguições através da Inquisição;

c) sermões (cerca de 200): sua obra máxima. Criticando o cultismo, Vieira utiliza-se de raciocínios claros e bem elaborados, abordando vários temas: a necessidade de pregar a palavra de Deus para que ela dê bons frutos; a escravização dos indígenas, devido à ambição dos senhores de engenho; as invasões holandesas e o desejo de vitória dos portugueses. Padre Vieira, grande clássico nos sermões e nas cartas, foi também gongórico (embora tenha criticado o Gongorismo), por abusar das antíteses, dos trocadilhos, das hipérboles.

Características do Barroco
      A literatura barroca é fruto do conflito característico de sua época. Pressionado pela Igreja e pelo racionalismo, o homem perde-se entre dois pólos opostos: Igreja X pensamento renascentista / salvação X pecado / céu X inferno / espírito X carne / fé X razão.
     Atormentado por este conflito, o homem produz textos literários com características bastante nítidas. São elas:
1 – uso de contrastes: as idéias opostas seduzem o barroco; os textos mostram choques entre amor e dor, vida e morte, religiosidade e erotismo, juventude e velhice, etc.
2 – pessimismo: conflito entre o eu e o mundo. A vida terrena é vista como triste, cheia de sofrimento, enquanto que a vida celestial é luminosa e tranqüila.
3 – presença de impressões sensoriais: usando seus sentidos, o homem busca captar todo o sentido da miséria humana, ressaltando seus aspectos dolorosos e cruéis.
4 – preocupação com a transitoriedade da vida: por ser curta, a vida não permite que o homem a viva intensamente, como seria seu desejo.
5 – intensidade: desejo de expressar as emoções fortes do amor, do desejo e da dor em profundidade, na tentativa de encontrar o sentido da existência humana.
6 – linguagem complicada, excessivamente trabalhada, através de:
expressões eruditas;
sintaxe rebuscada, com uso freqüente da ordem inversa;
repetições;
paralelismo;
uso abusivo de figuras de linguagem, principalmente antíteses, hipérboles, paradoxos, e metáforas;
uso freqüente de frases interrogativas.
7 – tentativa de conciliação entre a religiosidade e o racionalismo: há uma constante oscilação entre os dois opostos.
      Duas correntes se distinguem na literatura barroca: o cultismo e o conceptismo.


O cultismo


     Esse estilo é marcado pela erudição, pelo rebuscamento, pelo uso de inversões brutais e de numerosas figuras de linguagem. Trata-se de uma espécie de jogo de palavras, exageradamente trabalhado quanto à forma.


O conceptismo


     Desenvolve-se paralelamente ao cultismo. Definiu-se na primeira metade do século XVII nas obras de grandes escritores: Quevedo, Padre Vieira e Shakespeare. É um estilo fluente, pouco rebuscado, preocupado em expor, através do raciocínio lógico, idéias e conceitos.
     Num texto com características conceptistas, há o emprego da linguagem figurada: inversões, antíteses; há jogo de palavras e de idéias.


O Barroco no Brasil


     O Barroco é um estilo de época comum a quase toda a Europa. No Brasil, escritores do século XVII e primeira metade do século XVIII seguiram os modelos e padrões europeus.
     O estilo Barroco desenvolveu-se inicialmente nas artes plásticas, atingindo sua fase áurea, de modo especial, nos estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro.
     O Barroco brasileiro na literatura tem como marco inicial a publicação da obra Prosopopéia, de Bento Teixeira, em 1601. Essa obra é constituída de 94 oitavas. Nela o autor exalta as qualidades do governador de Pernambuco, Jorge Albuquerque Coelho, e de seu irmão Duarte.
     O término desse movimento no Brasil é assinalado com a publicação do livro Obras (1768), de Cláudio Manuel da Costa, introduzindo, assim, o Arcadismo no Brasil.

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