quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A GUERRA DE SECESSÃO

     Depois da gloriosa insurreição do século XVIII, e a não feliz guerra contra os Ingleses, em 1812, os Estados Unidos usufruíram de um longo período de paz; decênios de imensos progressos, tanto em sentido territorial (os Estados Unidos abraçavam, já, todo o continente norte-americano, do Atlântico ao Pacífico e dos limites com o Canadá ao golfo do México), tanto em sentido civil. É preciso pensar que os imigrantes, que, durante os dois últimos séculos, povoaram a América pertenciam, mais ou menos, às mais ínfimas classes sociais européias, eram gente que nada tinham a perder; robusta, fisicamente, mas, culturalmente, atrasada; e que, além disso, a luta pela vida, num país quase completamente selvagem, contribuirá para reconduzir esses homens a um estado de barbárie profunda, moral, se não material. 
     Isto vale, naturalmente, para as populações do interior; os povos da costa atlântica, de menos recente estacionamento e em contato com a civilização européia, eram, evidentemente, bastante evoluídos, mesmo com todas as características e as ingenuidades dos povos jovens. Os longos decênios de paz e o rapidíssimo desenvolvimento de uma economia dotada de inexauríveis recursos materiais tinham conduzido a nova nação a um estado de invejável e sempre crescente prosperidade. A primeira fratura (e, até hoje, a única: mas a história americana é tão curta...) determinou-se não tanto por uma questão econômica quanto por problema marcadamente moral: o problema da escravatura. 
     Como todos sabem, desde o século XVII, tinham sido deportados para a América muitíssimos negros, preados ou “comprados”,na costa africana. Estes negros tinham-se tornado, lá pela metade do século XIX, milhões. Mas, se nos estados do Norte, haviam, praticamente, libertado os negros, nos primeiros decênios do século, nos estados do Sul, vigorava, ainda, um implacável, regime escravagista. Aqui, de fato, o principal recurso econômico era a agricultura, ao passo que, no setentrião, a indústria já era considerável, e, se é fácil sustentar um camponês inculto em estado de escravidão, não é tão fácil nem retribuitivo obrigar a permanecer no mesmo estado um operário.  
     Para os estados do Norte, pois, a abolição da escravatura se resolveu numa vantagem econômica, mas o mesmo não se pode dizer quanto aos proprietários rurais, os fazendeiros do Sul, e é, portanto, lógico, se não compreensível, que, ao anúncio dado por Abraão Lincoln – recém-eleito presidente dos Estados Unidos – de querer abolir a escravatura, os estados meridionais se rebelassem concordemente. Carolina do Sul, Alabama, Flórida, Mississipi, Luisiana, Geórgia, Texas, Virgínia e, depois, Arcansas e Tennessee proclamaram a secessão, ou seja, separaram-se da União e constituíram uma própria Confederação. Naturalmente, os estados do Norte tomaram, imediatamente, armas contra os secessionistas e conseguiram, com uma imediata política de força, evitar que a cisão se estendesse aos demais estados.
     A força, tanto numérica como em armamento e dinheiro, esta nitidamente do lado do Norte, mas impulso combativo que tinha o Sul levou as armas sulistas a colher os primeiros êxitos. Os encontros sucederam-se, durante todo o ano de 1862, em alternadas vicissitudes mas, como se disse, com prevalência dos Confederados, os quais encontraram, no general Lee, um chefe de primeira ordem. No verão, as forças Nortistas estavam em retirada, e os Sulistas, transpondo o rio Potomac, marchavam contra Filadélfia e Baltimore. 
     Os Nortistas, doutro lado, tinham o domínio do mar e, portanto, das costas. Somente este fato, decisivo e suficiente para conter qualquer iniciativa Sulista, bastava, desde o princípio, para fazer compreender de que lado se inclinaria a sorte do conflito. Realmente, no ano seguinte, as forças nortistas começaram a recuperar-se e, apesar das vitórias de Lee, os Confederados foram abandonando lentamente suas posições, no Kentucky e além do Potomac, sob a pressão dos Nortistas, comandados por Grant. Batidos perto de Chattanooga, após uma desesperada pontada ofensiva, que ameaçara até a própria Washington, os Sulistas fortificaram-se na Virgínia. 
     A marinha Nortista, a pouco e pouco, cerrava o bloqueio em torno dos portos confederados, os generais Sheridan e Sherman avançavam com um ritmo sempre mais insistente; a decisão do Congresso, de libertar os escravos das regiões ocupadas, permitiu aos exércitos Nortistas enriquecer-se com novos contingentes, os negros forros, que combatiam com vigor contra seus ex-patrões. Nos primeiros dias de abril do ano de 1865, Lee sofreu uma definitiva derrota, por parte do general Sheridan. 
     Bloqueado por terra e por mar, com o exército desorganizado, o grande comandante foi obrigado a entregar a espada ao adversário. Poucos dias depois, ocorria a rendição incondicional dos Confederados, que retornavam à União e aceitavam a abolição da escravatura. A obra de Lincoln estava terminada mas infelizmente, sua vida também. Em 14 de abril de 1865, quando ainda estava em curso a capitulação das armas sulistas, um fanático patriota do Sul matou, a tiros de revólver, o grande Presidente, que tanto lutara para libertar os Estados Unidos da horrenda mancha da escravatura.


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