A permanência da família real no Brasil, de
interesse dos proprietários de escravos e de terras, comerciantes e burocratas
da região centro-sul, não satisfez aos habitantes das demais regiões do país,
fossem eles proprietários rurais, governadores ou funcionários. O primeiro
grupo tinha consciência de que os favores e privilégios concedidos pelo monarca
português eram os responsáveis pelo seu enriquecimento; o segundo vivia, desde
a instalação da Corte no Rio de Janeiro, uma situação paradoxal: afastado do
poder, tinha ao mesmo tempo, o ônus de sustentá-lo.
Outro grupo extremamente
descontente com a política de favorecimento de D. João era composto pelos
militares de origem brasileira. Para guarnecer as cidades e, também, ajudá-lo
em suas ações contra Caiena e a região do Prata, D. João trouxe tropas de
Portugal e com elas organizou as forças militares, reservando os melhores
postos para a nobreza portuguesa. Com isso, o peso dos impostos aumentou ainda
mais, pois agora a Colônia tinha que manter as despesas da Corte e os gastos
das campanhas militares.
Esse sentimento de
insatisfação era particularmente forte na região nordestina, a mais antiga área
de colonização do Brasil, afetada pela crise da produção açucareira e
algodoeira e pela seca de 1816. Aí, o desejo de independência definitiva de
Portugal era profundo. Em Recife, capital da província de Pernambuco e um dos
principais portos da região, o descontentamento era enorme. O sentimento
generalizado era de que os “portugueses da nova Lisboa” exploravam e oprimiam
os “patriotas pernambucanos”. Esses homens, descendentes da “nobreza da terra”
do período colonial, formada pela elite canavieira de Olinda, que tinha
participado da Guerra dos Mascates, consideravam justificado o crescente
anti-lusitanismo na Província.
As idéias liberais que
entravam no Brasil junto com os viajantes estrangeiros e, também, por meio de
livros e de outra publicações que chegavam, incentivavam o sentimento de
revolta entre os pernambucanos. Também há haviam chegado, desde o fim do século
XVIII, as sociedades secretas, como as lojas maçônicas. Em Pernambuco existiam
muitas delas, como Patriotismo, Restauração, e Pernambuco do Oriente, que
serviam como locais de discussão e difusão das “infames idéias francesas”.